CLARISSA
Lilypie Baby Ticker

quinta-feira, março 31, 2005

Cântaro.

Pois é,

Não sei como deve soar a palavra equivalente a cântaro em outras línguas. Não as conheço. No português eu sei. Em Porto Alegre chove a cântaros, hoje. Tudo o que não choveu nesses últimos seis meses no Rio Grande do Sul, causando um dos maiores estragos, desaba hoje sobre Porto Alegre. Todos os incômodos que esse temporal causa desaparecem, no entanto, quando a gente diz: chove a cântaros. A chuva ganha vida, fica colorida; os pingos ecoam como música.

Desligo o limpador de pára-brisa e fico olhando os pingos escorrendo pelo vidro. Dane-se o engarrafamento. Volto pra quando era criança e escutava essa expressão. Não sabia o que era, mas um sentimento de felicidade tomava conta, pois sabia que essa era a chamada para um grande banho de chuva. Talvez venha daí o gosto pela palavra. Banho de piscina com chuva? Pelada1 no campinho com chuva? Escorregar no barro formado pela chuva? Andar de bicicleta na chuva? Quem nunca namorou na chuva? Tudo isso é bom; mas é infinitamente melhor se estiver chovendo a cântaros.

A locução "a cântaros" é sonora, poética. Quero beber de ti a cântaros. Não sei se alguém já escreveu isso ou se acabou de sair da minha cabeça. Não importa, é poético. Pode ter vários significados, todos bons.

- Kaya?
- Sim?
- Vamos pra cama?
- Pô, mas que saco! Logo agora que vai sair o vencedor do BBB? Não dá pra esperar?
- É que quero beber de ti a cântaros.
Clic.


1 jogo de futebol

quarta-feira, março 30, 2005

Se eu morrer amanhã...

Pois é,

Se eu morrer amanhã... não, não é plágio, é só aproveitar o gancho. Se eu morrer amanhã, o que levo daqui?

O que leva da vida uma pessoa que há dez anos esqueceu da vida por causa do Alzheimer? Um artigo, da edição de março da Scientic American, relata os estudos realizados no sentido de explicar como a memória recente é transformada em memória permanente. Permanente enquanto estamos vivos, claro. A memória recente depende da "qualidade" das conexões realizadas no cérebro. A permanente, por outro lado, e é a isso que o artigo aponta, depende da atuação de certos genes. Mortos os genes, morta a memória?

Nunca aceitei de bom grado as explicações religiosas para o "pós vida", embora respeite quem tenha fé e as aceite. Por vezes até me pego pensando: não seria mais fácil simplesmente ter fé e parar de pensar no assunto? Vai fazer alguma diferença?

O problema é que há um momento, na vida, em que a morte se instala. Não a do corpo. A idéia. Da morte do corpo já estive próximo, quando quase morri afogado fazendo rafting nas corredeiras de Três Coroas. Algo como três minutos debaixo d'água, em meio ao turbilhão do ponto de vazão da barragem (detalhe irônico da história: foi filmado por um colega deficiente visual. Tenho o filme, por isso sei o tempo). Quando a gente escapa da morte do corpo, quase tudo volta ao normal. Após a idéia, nunca mais se é o mesmo.

Com a idéia se instala, definitivamente, a noção de finitude. E isso pode fazer mal, dependendo do nível de apego à vida que temos nesse momento. A humanidade vive da infinitude. As múmias, os super-homens, os highlanders, a herança e toda filosofia, religião e ciência buscam fazer do homem um ser infinito. Quando bem recebida, no entanto, a finitude é algo que melhora em muito a nossa vida. A compreensão da finitude nos remete aos limites do tempo e do espaço. Ao descobrir que o espaço é finito, que tem limites, percebemos que em algum lugar deve existir o equilíbrio. O lugar eqüidistante de todos os possíveis espaços pelos quais simplesmente somos. Quando percebemos que o tempo é finito, descobrimos o presente. E paramos de viver do passado e do futuro. O "agora" assume sua verdadeira dimensão: a de ser o único tempo que existe.

Que importância tem isso? Infelizmente, para muita gente nenhuma. Para outros, significa a diferença entre o dizer e o não dizer; entre o fazer e o não fazer. Significa, para quem não diz ou não faz, o arrependimento. E o arrepender-se é viver no passado. E o passado é o lugar do não dito e do não feito; e que acaba por virar futuro, pelo desejo de apagar a memória permanente.

O presente é de quem diz e de quem faz. É de quem sabe da finitude que a idéia traz. É de quem não ocupa o espaço dos outros; principalmente o espaço do ser, que é a pior espécie de ocupação. O passado é a ocupação do ser que causa as separações, que deprime. O futuro é a ocupação do ser que destrói, aniquila.

Se eu morrer amanhã, o que levo daqui? Poderei levar o equilíbrio e o presente. Caso contrário, levo o passado perdido na memória e toda ausência de futuro.

terça-feira, março 29, 2005

De tudo um pouco...

Pois é

Alegria? Acordar todos os dias. Trabalho. Lazer. Voltar pra casa. Dormir. Isso aí: a vidinha simples e diária. Houve um tempo em que pensava que ganhar o prêmio Nobel de Física me daria alegria. Hoje, quanto mais anônimo e na minha, maior a alegria. A mulher, a filha e, agora, o pimpolho que anda chutando a barriga da mãe. Alguns amigos, a cervejinha, uma musiquinha, não dispenso o cigarrinho, a chuva, o sol, o verão, regar as plantas. Simples. Quanto mais simples melhor, maior a alegria. Ah, e sem falar na lazanha da Kaya. Aliás, tudo o que ela faz.


Medo? Um único: a incapacidade física, principalmente a visual. Sou voyeur do mundo. Admiro por demais as pessoas que não podem ver o mundo. As cores, as tonalidades, a cor do ar na primavera ou no outono. O mar do Ceará e o verde dos pampas. Não poder sonhar em cores. Dizem que a natureza compensa; não gostaria, sinceramente, de saber por experiência própria que isso é verdade.


Nojo? De gente hipócrita. De gente que me tira a alegria que é trabalhar. De gente que pisa nos outros apenas por pisar, por inveja. De gente que faz do complicar o lema de vida, que não vê a simplicidade e o equilíbrio. De gente que dá choque em cachorro. De gente que faz da política um meio para fazer mal ao povo. E pra não dizer que só tenho nojo de gente, tenho nojo de espinafre, de bife de fígado e de beringela também.


Tristeza? Pelo Grêmio na segundona. Por não entender porque o Tsunami devastou a Indonésia e não a Casa Branca. Por não ter nascido na época das viagens interestelares; por não ter nascido hobbit. É tão grande a tristeza, quando olho pelo mundo...




As fotos foram escaneadas da revista National Geographic Brasil, edição de março de 2005.

segunda-feira, março 28, 2005

E num futuro, não muito distante...

Pois é,


Não se ofenda, Kaya, mas nós éramos amigos, parentes ou esposos?

Responde...

Pois é,



... Ainda falta muito pro sábado ?

A difícil arte de escolher um tema.

Pois é,

Recebi dois e-mails hoje que, a meu ver, merecem ser reproduzidos aqui. Queria, também, postar a terceira parte da história dos gatos. Postar os três seria perder os amigos que gentilmente me lêem. Já sou de escrever (e falar) muito. Tenho um amigo que reclama que meus posts são muito longos; que eu deveria colocar textos curtos, etc., etc. e tal e qual...

Não saberia fazer isso. Viram? Já estou enrolando. Bastaria colocar: recebi esse mail hoje, e copiar o tal aqui. Mas não. Gente como eu, que fala demais e junta letrinhas demais, tem dificuldade em selecionar apenas um tema, dentre tantos disponíveis (e apenas escrever um texto pequeno).

- Afonso?
- Quié, Chato?
- Fizeste esse blog para seres chato, não foi?
- Sim, e daí?
- Então, publica os três!
- Assim dicara? Logo agora que tem mais gente lendo?
- Quéqui tem? (ooops, essa fala assim é tua!)
- Sei lá, Chato. E se me acharem chato demais e não voltarem? (ooops, essa fala assim é tua!)
- Queres saber de uma coisa, Afonso?
- Uquê?
- Tu és muito chato mesmo!

Recebi esse mail e vou copiar aqui.

A VINGANÇA DO PARTO


Vinte anos. Ah, os vinte anos. De casados, claro! Casamos novos. Ela com 19 e eu com 20 anos de idade. Lua-de-mel, viagens, mobílias na casa alugada, prestações da casa própria e o primeiro bebê.

Anos oitenta e a moda era ter uma filmadora do Paraguai. Sempre tinha um vizinho ou amigo contrabandista disposto a trazer aquela muambazinha por um preço módico.

Ela tinha vergonha, mas eu desejava eternizar aquele momento.

Irrompi na sala de parto com a câmera no ombro e chorei enquanto filmava o parto do meu primeiro filho.

Todo mundo que chegava lá em casa era obrigado a assistir o filme. Perdi a conta das cópias que fiz do parto e distribuí entre amigos, parentes e parentes dos amigos. Meu filho e minha esposa eram o meu orgulho.

Três anos depois, novo parto, nova filmagem, nova crise de choro.
Como ela categoricamente disse que não queria que eu filmasse, invadi a sala de parto mais uma vez com a câmera ao ombro. As pessoas que me conhecem sabem que havia apenas amor de pai e marido naquele ato. O fato de fazer diversas cópias da fita era apenas uma demonstração de meu orgulho.

Nada que se comparasse ao fato de ela, essa semana, invadir a sala do meu proctologista, câmera ao ombro, filmando o meu exame de próstata. Eu lá, com as pernas naquelas malditas braçadeiras, o cara com um dedo (ele jura que era só um!) quase na minha garganta e a mulher gritando:

- Ah! Doutoor! Que maravilha! Vou fazer duas mil cópias dessa fita! Semana que vem estou enviando uma para o senhor!

Meus olhos saindo da órbita a fuzilaram, mas a dor era tanta que não conseguia falar. O miserável do médico girou o dedo e eu vi o teto a dois centímetros do meu nariz. A mulher continuou a gritar, como um diretor de cinema:

- Isso, doutor! Agora gire de novo, mais devagar. Vou dar um close agora...

Alcancei um sapato na mesa e joguei na maldita.

Agora, estou escrevendo este e-mail, pedindo aos amigos que receberem uma cópia do filme, que o enviem de volta para mim. Eu pago o reembolso.

domingo, março 27, 2005

Já fui drogada. Hoje sou mãe!

Pois é,

Natasha, Naná Magali, ou simplesmente Naná, entrou nesta casa às 18 horas de um domingo. Se bem recordam, no domingo anterior Joseph Afonso fizera a mesma coisa. Habitavam a mesma gaiolinha na pet shop, mas uma semana separados é muito tempo. Bastou eu colocar a Naná no chão e o felino, já se considerando latifundiário e pressentindo a reforma agrária que estava em curso, jogou-se literalmente com unhas e dentes sobre a pobre, duas vezes menor que ele. Covardia aqui não, berrei. Novamente aquele olhar de "tô nem aí" e saiu correndo pela casa, Naná entre os dentes.

Parece que há uma certa similaridade entre as fêmeas das espécies felis catus e homo sapiens. Ambas gostam de uma mordidinha no pescoço de vez em quando. Com carinho é claro. Sim, pois Naná, apesar da aparente violência, nem miou. E assim foi por dois dias. Naná levando o maior pau do Joseph Afonso. Parece que há uma certa similaridade entre as fêmeas das espécies felis catus e homo sapiens. Chega um momento em que ambas mostram, definitivamente, quem é que manda. Naná, diante de mais um ataque, e do alto de seus pouco mais de dois meses, desce a pata na cara do Joseph Afonso.

Parece que há uma certa similaridade entre os machos das espécies felis catus e homo sapiens. Ambos ficam mansinhos depois de apanhar. Acho que foi a partir daí que Joseph Afonso ficou meu amigo. Há dias, que ficamos sentados na sacada, eu fumando e bebendo minha cervejinha; ele ronronando no meu colo. Te entendo, meu filho. Bons tempos aqueles... e viveremos felizes para sempre. Eu e ele.

Naná foi crescendo e tornando-se viciada. Em loló, dizíamos. Era eu chegar em casa e tirar as meias, que ela se jogava por cima. Das meias. Depois vinha cheirar meus pés. E enfiava a cabeça dentro dos sapatos. Puro vício. Um sentimento de culpa começou a crescer. Afinal, eu era o fornecedor. Tive que tomar atitudes drásticas. Era preciso acabar com aquele vício. Como sou um excelente exemplar da espécie homo maritalis, sempre chego em casa e vou jogando tudo pelo meio do caminho: sapatos, meias, calças..., tinha que me curar do vício. Teria sido mais fácil largar o cigarro. Antes que a Kaya resolvesse esfregar a minha cara nas meias e depois no cesto de roupas sujas (parece que há uma certa similaridade entre as espécies...), resolvi encarar a realidade e, num esforço que por vezes ultrapassava minhas forças, comecei o tratamento. Hoje estou curado, a Naná também.

Um mês antes do nosso casamento, meu e da Kaya, saímos em viajem pelo interior do Estado, para entregar os convites para os familiares. Doutor, nós vamos viajar e estamos com medo de que o Joseph Afonso e a Naná aprontem. Quem sabe a gente castra ela antes? Fiquem tranqüilos. Essa raça só fica pronta pra cruzar por volta de 12 meses. Ela está com oito apenas, é muito cedo ainda.

Contratamos uma catsitter para ficar o tempo todo com eles. dormindo inclusive. Recomendações na alimentação, na limpeza, etc. etc. Na volta: Dona Kaya, acho que eles andaram transando. Como assim!!?? É, ontem eu ouvi uns miados da Naná. Fui olhar e o Joseph estava mordendo o pescoço dela. Não sei, não, Dona Kaya. Foi só uma recaída, eu disse. Casamos em dezembro e saímos em lua-de-mel para só retornar em meados de janeiro (Ceará, ah Ceará. Um dia ainda me mudo pra lá. Tá certo, podia poupar vocês dessa rima). Essa gata tá prenha! Prenha nada, tá é gorda de tanta comida que tu dá pra ela. Afonso, essa gata tá prenha! Tá, deixa assim.


Uma semana depois nascem cinco filhotes da gata "gorda". A Kaya fez o parto. Um morreu. De nada adiantou a ajuda. A natureza é sábia. Quando viu que o filhote não sobreviveria, Naná foi cuidar dos que ainda estavam nascendo. Naná retribuiu. Um dia subiu no colo da Kaya e começou a apertar as patinhas na barriga dela. Tu tá grávida, falei. Porque tu diz isso? A Naná acabou de dizer. No dia seguinte o exame mostrou. E até hoje segue a mãe por todos os cantos da casa. Afinal, o nenê é dela também.


Não percam! No próximo episódio: "Nunca dê nomes aos filhotes. Pode voltar-se contra você!"

Breve resenha: A fila de espera estava grande. Naná deveria ter parido uns quinze filhotes para contentar a todos que queriam um. Aí resolvemos dar nomes. Nunca dê nome aos filhotes se...

sábado, março 26, 2005

De como meu nome virou nome de família.

Aquí me pongo a cantar
Al compás de la vigüela,
Que el hombre que lo desvela
Una pena estrordinaria,
Como la ave solitaria
Con el cantar se consuela.

Pido a los Santos del Cielo
Que ayuden mi pensamiento;
Les pido en este momento
Que voy a cantar mi historia
Me refresquem la memoria
Y aclaren mi entendimiento.


Pois é,

É com a inspiração de Martin Fierro que inicio a contar de como meu nome tornou-se nome de família.

Passeando pelo shopping, entramos numa dessas lojas de animais. Há tempos vinha tentando convencer a Kaya a ter um gato. Desde criança tive gatos em casa. Ela também teve uma, a Bibita. Morreu com 17 anos, o que, para um gato, é muito tempo. E como tal, morreu velhinha, doente. Talvez por isso a Kaya não quisesse mais gatos. Sabia que o destino seria sempre o mesmo. Um dia eles morrem e a gente fica "no ar". Demora tanto pra passar como demora com a morte de qualquer ser humano querido. Querido, eu disse. Pois tem uns que já vão tarde e outros que já deveriam ter ido.

Tive que disfarçar, dizendo que queria olhar uns peixinhos. Algo no ar me dizia que o meu intento daria certo. Não deu outra. Já na entrada havia uma dessas jaulinhas com dois gatinhos. Na verdade, uma gatinha preta e um gatinho branco. De cara o gatinho se pendurou nas grades e ficou miando para a Kaya. Abri a portinha e peguei o gato no colo. Não adiantou. Assim que a Kaya chegou do meu lado ele se jogou no colo dela e dali não saiu mais. Pra me consolar, peguei a gatinha. E ela ficou comigo.

Topa levar os dois? Olha daqui, olha dali, fala, pensa, faz carinho no gato e resolve: vamos. Chamei a atendende e perguntei o preço: R$600,00. Os dois? Não, senhor, cada um. Devem ser de ouro, então, disse com aquela cara de babaca pobre que não sabe que entrou num restaurante caro. É que eles têm pedigree, disse a moça já mostrando o papel do registro. Ela é persa e ele himalaia. Olhei pra Kaya, olhei pro bolso, falo, penso, faço carinho na gata e resolvo: um só, escolhe! Claro que ela escolheu o gato. Amor a primeira vista. Destino, ela diria depois. Ele sabia que eu seria a melhor mãe do mundo pra ele. Tá, deixa assim.

Era um domingo. Chegamos em casa e literalmente me apossei do gato. Tentei de diversas maneiras brincar com o bichano. E ele só me olhava "Tô nem aí" como que dizendo: sou da mamãe. Perdi feio, pois na segunda fui viajar e só retornei na quinta. Irremediavelmente perdido. Quatro dias só com a Kaya. Ilusão minha pensar que ele faria qualquer tipo de "festa" no meu retorno. Olhei pra Kaya, olhei pro bolso, falei, pensei, olhei pro gato e resolvi: vamos lá buscar a gatinha. Ué, tu disse que ia ficar pesado comprar os dois. Azar, vamos lá.

E no domingo voltamos no shopping. Putz, a loja estava fechada. E agora, o que tu vai fazer? Tem uma filial lá no Country, vamos lá. Moça, tem uma gatinha lá na outra loja que eu queria comprar mas a loja tá fechada, como é que faço? Perguntas idiotas merecem resposta à altura. Já estava esperando pelo óbvio - moço, volte amanhã que vai estar aberta. Mas não. Ela simplesmente pegou o telefone e ligou pra alguém dizendo que fosse lá abrir a loja pra vender a gatinha. Voltem lá na loja, que daqui a meia hora o rapaz vai estar lá esperando vocês. Diante do inesperado, comecei a imaginar a gatinha dizendo: sou do papai. Se o gato era dela, a gatinha seria minha.

Segunda-feira e? Vou viajar. Retorno? Quinta à noite! Olho daqui, olho dali, chamo, chamo e estou irremediavelmente perdido. Quatro dias só com a Kaya.

Ah, já ia me esquecendo. Na tentativa de que o gato fosse meu amigo, dei a ele o nome de Joseph Afonso. Ela, Natasha. E assim começou a história da felina família Afonso.

Esse é o Joseph Afonso, patriarca da família em sua pose de "decifra-me ou te devoro". Como não consegui até hoje decifrá-lo, mantenho a distância regulamentar. É o despertador da casa. Religiosamente às seis da manhã nos acorda. E sabe quando estamos no horário de verão. Sobe na Kaya e começa a miar baixinho, mexendo as patinhas. Uma coisa ele aprendeu rapidinho: sábados e domingos não precisa nos chamar. Fica dormindo junto. Essa cara fechada deve-se a ter assumido o papel de esteio moral da casa. O pai fuma, bebe cerveja e come picanha quase crua. No fundo é uma mãe. Cuida dos guris como nenhum outro pai. É formado em Relações Públicas. Vive na casa dos vizinhos. Entra sem cerimônia, pois já descobriu que é querido na zona. Faz na casa dos outros tudo o que não deixamos fazer aqui. Até leite, descobrimos esses dias, ele toma nos vizinhos. E olha que, tirando subir no parapeito da sacada e tomar leite, ele pode fazer de tudo por aqui.

Não percam! No próximo episódio: "Já fui drogada. Hoje sou mãe!" A história de Natasha, vulgo Naná.

Breve resenha: Naná foi mãe adolescente. Deu aos oito meses e pariu cinco filhotes aos dez, contrariando todas as instruções do veterinário, que havia nos garantido: essa raça só está pronta ao doze meses. Podem viajar tranqüilos. Na volta vocês trazem ela aqui e fazemos a operação... não deu tempo...

sexta-feira, março 25, 2005

Culinária do Chato

Pois é,

Aproveitando a sexta-feira santa, algum cristo poderia me dizer porque o pimentão vermelho custa R$10,98 o quilo, enquanto que o verde custa apenas R$1,98 pelas mesmas mil gramas? [O com "C" não pode, pois, segundo relata a Bíblia, nesse exato momento em que escrevo, 3 da tarde, ele estava morrendo].

Os preços estão lá no Zaffari para qualquer portoalegrense que queira ver. Armei um barraco na área dos horti. Consegui até adesões ao movimento. Gente, como eu, que queria preparar alguma receita de bacalhau (A Kaya diz que tem uma que é daqui, ó). Só de ouví-la contar como se prepara fiquei imaginando que minha sexta-feira seria realmente santa.

Não sou dos que acham que comer carne vermelha é pecado. Já fiz muitos churrascos na data. E já estava pronto para assar um picanha com alho quando ela veio com essa receita. Põe uma roupinha de grávida e vamos lá no Zaffari. Saí correndo.

Fui direto na prateleira do bacalhau. O filé (lindo) estava a R$99,90 o quilo. Isso não me assusta. Sei que é importado, há dificuldades para pescar e o escambau, o que eleva o preço. Coisas que Adam Smith já havia explicado quatrocentos anos antes: a tal mão invisível do dono do boteco, que entra no teu bolso sem que saibas. Vá lá. Peguei um similar por R$58,90/Kg. E me toquei para os horti, não sem antes abastecer com duas caixas de SKOL. A sexta é santa, eu não. A receita levava o verde e o vermelho (não, não é à portuguesa). Olhar telescópico por sobre as frutas, as verduras, as mulheres, as batatas e, lá no fundo, tchan!, o pimentão vermelho. Ao lado do amarelo. O amarelo custa o mesmo que o vermelho. Como não sei pra que serve o pimentão amarelo, por mim pode custar mil reais a unidade que estou me lixando. Mas o vermelho não! Esse não poderia custar tanto.

Fui na balança e perguntei pra moça: moça, tem uma etiqueta que diz que esse pimentão custa R$10,98 o quilo. Não tá errado? Não, senhor. O preço é esse mesmo. Respirei fundo e gritei: é um roubo um pimentão custar isso só porque é vermelho. Nisso apareceu um colorado engraçadinho: tudo que é vermelho custa mais caro porque é melhor. A Kaya me segurou antes que eu enfiasse o pimentão na/no do colorado infeliz. Veio outra senhora e me entrega um pimentão enrrustido. Era verde, mas estava com uma parte avermelhada. Usa esse, o gosto é o mesmo e fica colorido igual. Muito obrigado, mas a senhora há de convir que... claro que ela sorriu e foi embora, já prevendo um discurso contra o governo. Afinal, a culpa de tudo é sempre do governo. Esses incompetentes que não fomentam a produção de pimentão vermelho.

Vai ver o problema é da Murcha. É, da Murcha Fitóftora. Fui no Google pesquisar, ver se achava uma explicação. Encontrei, em meio a milhares de receitas, uma tese de doutorado que explicava como fazer o controle da Murcha Fitóftora em pimentões através da Enxertia.

Taí o nome da receita: bacalhau à Fitóftora. Tô com água na boca só de escrever.

PS. Continuo esperando que alguém possa me explicar o preço. Porra, Pero Vaz que me perdoe, mas nessa terra em que se plantando tudo dá, o pimentão custar R$10,98/Kg só porque é vermelho?

quinta-feira, março 24, 2005

Mulher: a natureza é sábia!

Pois é,

Cá, de fora, fico imaginando a coragem que é carregar um filho na barriga durante nove meses. Uma angústia que começa bem antes e se faz sentir em cada um dos segundos desses nove meses. Nem mesmo dormindo há descanso.

Tudo começa com a expectativa da gravidez. Estou? Não estou? Qualquer movimento corporal é motivo de angústia. Hoje acordei com dor na perna, será? E a angústia vai até o fatídico dia da menstruação. É amanhã. Amanhã vamos saber se deu certo. Só que, depois de amanhã, ainda tem o depois-de-amanhã. Ih, atrasou. Vai ver é porque ando meio tensa. Amanhã vamos ver. E depois de depois-de-amanhã ainda tem o depois-de-depois-de-amanhã, e assim a angústia vai tomando corpo, o corpo da mulher.

E no quarto dia de atraso a angústia é total. Me leva no laboratório, não agüento mais. Não sinto a mesma angústia. Os homens não sentem a mesma angústia. Também desejamos, mas é diferente. É light. Filho é da mulher. É algo inexplicável. Só pode ser a natureza. Esse sentimento de completude que o filho dá para a mulher. Homem que não tem filho, traduz isso numa racionalidade qualquer. A mulher? Fica capenga, falta-lhe um pedaço. O homem procria, a mulher cria.

E vem o resultado do exame. Angústia. Será que deu? Deu. Começa - ou continua de outra forma - uma nova angústia. Será normal? Não adianta argumentar com estatísticas, dizendo que 99% dos filhotes humanos nascem normais. É diferente. Nesse momento tudo muda. Não sei como, mas percebo que muda. Não vi nada nesse mundo que se compare a expressão de uma mulher ao saber - definitivamente - que está grávida. Vejo apenas o que está por fora, a expressão. Imagino que deva ser algo parecido com poder enfiar a cara no paraíso e dar uma espiadinha.

Será que se eu respirar vai fazer mal pro nenê? Só falta dizerem isso. Dizem de tudo. O médico, a nutricionista, a colega que já teve filho, e o pior, quem não teve filho e fala mais ainda. E a angústia aumenta, na mesma medida que a felicidade. Não sei como são, já disse. O que será essa mistura de angústia e felicidade a todo momento? Ai! O que foi? Senti um estirão aqui na barriga, será alguma coisa? Deixa assim, teu corpo está se ajeitando. Até falo, mas da boca pra fora, pois não é na minha barriga. Não sou eu quem dorme preocupado com o lado certo para dormir. Fico com medo de apertar o nenê se dormir de barriga pra baixo. Deixa de ser boba, ele se acomoda aí. Viro pro lado e sigo dormindo. Ela? Segue acordada, meio feliz, meio angustiada. Não sei o que é isso.

Exames, cuidado com a alimentação, não pode fumar nem beber. Não sei o que é isso. Preciso de roupas novas. Não sei o que é isso, minhas calças continuam entrando normal.

- pinta os cabelos! Tem uns fios brancos aparecendo.
- Ainda bem que falaste nisso. Não agüento mais me olhar no espelho e não poder pintar. O Dr. P.... disse que eu não podia. Pode fazer mal pro bebê.

Não sei o que é isso. Abandonar as vaidades. Ver-se todo dia abrindo mão de toda ginástica praticada por anos pra manter "aquele corpinho". Talvez até deixar de ser chamada de gostosa na rua. Angústia. Mas a felicidade...

Será menino? Será menina? Não importa, basta que seja saudável. Claro, mas faz diferença pra mulher? Não sei. Que desejos, que sonhos terá para um menino? Que desejos, que sonhos terá para uma menina? Não sei. Imagino que cada segundo desses nove meses deve estar preenchido dessa angústia misturada com felicidade.

Mexeu, mexeu! Que legal, eu digo. Não sei o que é isso. Nunca alguém me chutou por dentro. Só imagino a angustia misturada com felicidade: será que se mexeu porque não está bem, ou porque está bem!?

Eu passo a mão na barriga e racionalizo que ali está meu filho(a). Ela passa a mão na barriga e imagino que milhões de coisas devem acontecer. Não sei o que é isso. Aqui de fora sinto uma coisa. Ela sente milhões. Angústia e felicidade entre elas.

E não sei se é angústia. Imagino. Talvez eu sinta angústia por não saber, ou não sentir, o que ela sente, o que ela sabe.

Mulher é algo mais do que aquilo que tem no meio das pernas. Cá, de fora, só me resta dar a mão. Acarinhar. Abraçar. Afagar. Escutar. Apoiar. Fazê-la sentir que mãe e mulher não são incompatíveis, mesmo porque, deve ser mais uma das angústias: será que ele deixou de ter tesão por mim? (talvez ela não saiba que mulher grávida dá tesão). E mais uma das felicidades: não importa, agora eu tenho ele.

Talvez um abraço bem apertado, aconchegante. Isso eu posso fazer. Isso eu sei o que é. Convidá-la pra chorar. E dizer...

desculpa, eu tô aqui fora. Não sei o que é isso.

Esse post é dedicado a Kaya. Por sentir coisas que eu não sinto. Por ser mulher.

quarta-feira, março 23, 2005

Feriadão, Páscoa e natureza humana.

Pois é,

Por conta de uma desrratização que será realizada amanhã, quinta-feira (ou hoje, se alguém estiver lendo na quinta) meu feriadão de Páscoa inicia agora. O post anterior era sobre a minha revolta contra os maus tratos que dois imbecis esféricos (pra quem nunca ouviu a expressão, imbecil esférico é aquela pessoa que, por qualquer ângulo que se olhe, será sempre um imbecil) estavam impondo a três filhotes de dog alemão, aqui no meu prédio. Pois o de hoje começa por falar de uma matança de animais que será realizada dentro dos mais regulares preceitos inventados pela humanidade.

A Páscoa cristã, pelo que me lembro das aulinhas de catequese preparatórias da primeira comunhão (sim, porque depois disso, só entro em igrejas por dois motivos: turismo cultural e missa de sétimo dia), tinha, ou tem ainda sei lá, um significado de sacrifício. Jesus teria morrido na cruz para carregar consigo, lá para o céu, os pecados do mundo.

A partir daí passei a entender o mundo e as pessoas como sendo naturalmente maus. Se assim não fosse, porque o sacrifício? Se não estou enganado, ocorre o mesmo em todas as religiões e filosofias religiosas do mundo: para atingir o céu, o nirvana, o ... devemos apenas nos livrar do pecado, do desejo, do ... Sendo como é, jamais o homem atingirá a perfeição.

Ora, se como sou não mereço o céu, a perfeição ou estar sentado ao lado direito de Deus é porque sou mau e devo me transformar para chegar lá. Expiar, reencarnar, tantas vezes - ou apenas uma - até que melhore; até que tire de mim o que resta da maldade original, com a qual nasci, cresci e vivo com ela.

Antes que alguém fale, um aviso: Não faço o gênero de discutir, com base em achologia, com gente que é especialista no assunto. Especialista é especialista. Respeito, fez por onde chegar onde chegou. O que aqui vai é mera achologia. Não pretendo estar embasado em conhecimentos de filosofia ou seja lá o que for. É apenas o que eu acho, observo, penso. Portanto, aos especialistas em todo e qualquer tipo de "logias": covardia não vale! Eu uso óculos e não se bate em gente que usa óculos!

Tivemos, a Aninha e alguns colegas da Especialização em Psicologia Organizacional, juntamente com a professora, um debate sobre a natureza humana. Eu cá, eles lá. Eu, defendendo que o homem é mau por natureza. Eles, o contrário. Não chegamos a um termo satisfatório, mesmo porque, por razões alheias a nossa vontade, fomos obrigados a interromper o debate. E, claro, jamais chegaríamos...

A idéia do "estado de natureza" não é nova. Hobbes já a havia utilizado para justificar o segundo exemplar de "contrato de adesão" da história, aquele que fazíamos com o soberano (o primeiro foi imposto por Iahweh na forma das "alianças": ou assina ou afogo todo mundo!). Os ventos soprados da "renascença", que acabaram embalando o iluminismo, fizeram com que alguns pensadores adaptassem o contrato ao tempo. De um contrato de adesão, passamos a assinar um "contrato social". Não mudou nada. Se antes jogávamos em Deus a culpa de sermos maus, passamos a culpar o soberano pelas nossas atitudes; não tendo o soberano resolvido a contento o problema - ao contrário, só piorou - passamos a jogar a culpa da nossa maldade nos semelhantes, encarnados, agora, nessa figura esquisita chamada Estado.

E por vezes confundimos o viver em sociedade com não sermos maus. Pensamos que atos de caridade e solidariedade - e mesmo o agir dentro da moral, com base na ética - são da natureza boa do ser humano e não da tentativa de deixar de ser mau. E aceitar que o homem é mau por natureza não implica em desconsiderar o agir pelo bem, que por vezes nos sucede. E esse é o ponto: ações pelo bem são exceções que podem nos levar a uma transformação. Mas o fato de praticarmos essas ações não nos torna bons por natureza.

O que é a ética, a moral, a religião, a própria sociedade, senão a imposição de normas para evitar qua a natureza má do homem prevaleça? E tem adiantado? Acabaram as guerras? Acabaram as mortes nas ruas e estradas brasileiras? Aquele cara que te sacaneia no trabalho desapareceu? Gente que dá choque em animais sequer nasce mais? Os Bushs; os Aiatolás; os terroristas; os milicos; os políticos; os que furam o sinal; os que resolvem se matar e andam a milhão com o automóvel e, via de regra, acabam matando os outros; gente que estupra crianças de dois anos; dois bilhões e trezentos milhões de pessoas que passam fome no mundo porque o resto "é bom" por natureza; as quatro milhões que morrem de fome, porque o resto "é bom" por natureza...

Ontem, vendo um programa numa rede americana, a "host" dizia: "quase dez bilhões de dolares foram doados para as vítimas do tsunami que atingiu a Indonésia. Desses, dois bilhões foram doados pelo povo e pelo governo americano. Pesquisa recente mostrou que a imagem dos EUA, para aquele povo, mudou." É, os homens são bons por natureza.

Se agir com maldade fosse a exceção, o mundo seria diferente.

terça-feira, março 22, 2005

Gente Burra!

Pois é,

- As condições que o senhor relata ainda permanecem? Pergunta o juiz, olhando para o autor da representação.

- Não, Meritíssimo. De fato, os animais não estão mais lá, embora toda a estrutura utilizada, casinha, pratos de comida e brinquedos ainda continuem. O que me faz pensar que poderão trazer novos animais.

- O que vocês fizeram com os animais? Pergunta o juiz, desta vez olhando para os autores dos fatos.

- Eles ficaram muito grandes e a gente levou para um sítio depois que eles participaram da exposição. Inclusive um deles ganhou um prêmio.

- E vocês pretendem levar novos animais para o local?

- Não, doutor.

- Nessas condições o senhor concorda em encerrar o caso por aqui? O juiz ao autor.

- Meritíssimo, não posso transigir com a dor dos animais. Essa gente dava choque e aplicava injeções para que eles parassem de latir, conforme o senhor pode verificar nos autos do inquérito.

- Doutor? Diz o juiz virando-se para o promotor de justiça.

- Nesse caso vamos fazer uma transação, inicia este, dirigindo-se aos autores do fato. O senhor tem renda? Moram juntos?

- Não, sou estudante e moro na casa do meu pai. Nós somos apenas namorados.

- E a senhora?

- Eu sou professora e ganho mil e quinhentos reais.

- Os fatos aqui relatados são graves. Vamos fazer o seguinte, prossegue o promotor de justiça: para o senhor eu estabeleço o pagamento de trezentos reais e para a senhora duzentos reais. Concordam?

- Não se esqueçam que vocês têm trinta dias para pagar. Aceitam? Pergunta o juiz.

Nisso o advogado que acompanhava os autores dos fatos entra na conversa recusando a transação.

- Com esses valores fica difícil de aceitar. Veja, os animais eram bem tratados, até dormiam no sofá...

- Doutor, agora é hora da transação e não de dar explicações. Não aceita, então!?

Vira-se para a secretária:

- Proposta a conciliação, esta restou inexitosa. O promotor de justiça ofereceu transação nas seguintes condições ... que não foi aceita. O autor da representação juntou rol de testemunhas. Designo dia ... para a audiência de instrução.

Chico Buarque fala em "Gente Humilde", eu falo em "Gente Burra".

Burrice desses dois. Diversas pessoas, dentre elas eu, viram, por várias vezes, eles dando choques e aplicando injeções em três enormes cachorros, parece que da raça dog alemão (?), além de mantê-los em um espaço de não mais que dois por dois, nas piores condições de higiene e muitas vezes sem comida. Tudo com o fim de educar os animais para competições.

Cansado de tanta crueldade fui na polícia e "dei parte". Aconteceu algo raro: dificilmente as pessoas se dispõem a ir numa delegacia sabendo que isso pode ser "briga de vizinhos". A situação era tal, no entanto, que DEZ vizinhos, por livre e espontânea vontade, ao saberem que eu havia iniciado o inquérito, foram até a Delegacia prestar depoimento e contar o que haviam visto.

Isso, por si só, deveria fazer com que qualquer um, com um QI maior do que 10, desistisse de tentar provar que eu e os outros estávamos inventando tudo. Mas não, eles resolveram ir "pro pau". Pois vão levar pau. A pena prevista para o crime de maus-tratos a animais é de três meses a um ano de detenção E multa (art. 32 da Lei 9.605/98 - Lei dos Crimes Ambientais).

Por um segundo cheguei a pensar na possibilidade de sentir pena dos infelizes e pedir ao promotor de justiça que alterasse a proposta de transação. Mas o que poderia ser oferecido em troca do sofrimento dos animais? Talvez pedir que eles se submetessem a uma sessão de choques? Três para cada um? Interditar o banheiro da casa deles por uma semana e deixá-los ali, sem poder sair, convivendo com o resultado expelido pelos seus cérebros?

Me pergunto que tipo de cidadãos uma professora dessas deve estar formando.

segunda-feira, março 21, 2005

Sai fora, Severino de Maria

Pois é,

"— O meu nome é Severino,
como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.


Mais isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.

Como então dizer quem falo
ora a Vossas Senhorias?
Vejamos: é o Severino
da Maria do Zacarias,
lá da serra da Costela,
limites da Paraíba.

Mas isso ainda diz pouco:
se ao menos mais cinco havia
com nome de Severino
filhos de tantas Marias
mulheres de outros tantos,
já finados, Zacarias,
vivendo na mesma serra
magra e ossuda em que eu vivia.

Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas
e iguais também porque o sangue,
que usamos tem pouca tinta.

E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).

Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,

a de querer arrancar
alguns roçado da cinza.
Mas, para que me conheçam
melhor Vossas Senhorias
e melhor possam seguir
a história de minha vida,
passo a ser o Severino
que em vossa presença emigra"


(Trecho de "Morte e Vida Severina", de João Cabral de Melo Neto)

Enquanto isso, outro severino faz de tudo para escapar da sina, não esquecendo da família, é claro.

O que me admira é que todo mundo está quieto... Estivesse vivo, João Cabral teria rasgado o original da poesia, pois certamente não ficaria quieto. Será que a relativa tranqüilidade econômica amorteceu o povo?

Sai fora, Severino de Maria.

sábado, março 19, 2005

Annus Mirabilis

Pois é,

O ano de 1905 passou para a história como o Annus Mirabilis. Nesse ano, Einstein publica cinco artigos. Dentre eles, dois revolucionariam não apenas a física, mas o mundo. A internet deve sua existência a ele.

No primeiro, "Sobre um ponto de vista heurístico concernente à geração e transformação da luz" ("Über einen die Erzeugung und Umwandlung des Lichtes betreffenden heuristischen Standpunkt"), Einstein formula a lei do efeito fotoelétrico, que em 1921 lhe daria o prêmio Nobel. O próprio Einstein, numa carta ao amigo Conrad Habicht, admitia ser este um artigo revolucionário: "O artigo trata da radiação e das propriedades energéticas da luz e é muito revolucionário, como você verá (...)"

O segundo, "Sobre uma nova determinação das dimensões moleculares" ("Eine neue Bestimmung der Moleküldimensionen"), foi aceito como tese de doutoramento na Universidade de Zurich.

No terceiro, "Sobre o movimento de partículas suspensas em fluidos em repouso, como postulado pela teoria molecular do calor" ("Über die von der molekulartheoretischen Theorie der Wärme geforderte Bewegung von in ruhenden Flüssigkeiten suspendierten Teilchen"), Einstein explica o famoso Movimento Browniano.

É no quarto artigo que Einstein propõe a Teoria da Reslatividade Restrita. "Sobre a eletrodinâmica dos corpos em movimento" ("Zur Elektrodynamik bewegter Körper") era considerado, por ele mesmo, "apenas um esboço grosseiro". Quem diria que um esboço grosseiro poderia romper com o paradigma newtoniano.

No quinto e último artigo desse Annus Mirabilis - "A inércia de um corpo depende da sua energia?" ("Ist die Trägheit eines Körpers von seinem Energieinhalt abhängig?"), Einstein apresenta a equação mais conhecida de toda a história da humanidade. Não há, creio, quem não a conheça:

E = mc2


Posteriormente Einstein estenderia sua Teoria da Relatividade desenvolvendo o que se conhece como Teoria da Relatividade Geral, que trata de questões gravitacionais e cosmológicas.

Em 1543, Copérnico publica, 35 anos depois de escrita, a obra "Das Revoluções dos Corpos Celestes" ("De Revolutionibus Orbium Coelestium"), onde joga por terra, definitivamente, a concepção de que o homem, criado à imagem e semelhança de Deus, era o centro do universo. Em 1687, Newton publicaria sua obra "Princípios Matemáticos da Filosofia Natural" ("Philosophiae Naturalis Principia Mathematica"), onde expõe o que viria a ser conhecido como Mecânica Newtoniana, explicando a gravitação e a atração entre os corpos, além das leis do movimento.

Copérnico e Newton foram a base do mundo, até que Einstein os colocou como um caso particular da Teoria da Relatividade Geral. Passados cem anos do Annus Mirabilis, o mundo ainda não entende Einstein.

Einstein morreu um 1955 sem conseguir realizar um sonho: unificar as teorias da física que explicam as forças da natureza: nuclear, gavitacional e eletromagnética. Até hoje, passados cem anos, os físicos não conseguiram.

Em 1905, Einstein tinha apenas 26 anos.

Se não estava decidido, agora está!

Pois é,

Sábado intimista. Veja o post anterior.

Esse segue a mesma linha. Conversar com a minha mulher já não é mais suficiente, embora a lucidez das opiniões dela. Parece que escrever alivia um pouco. Aí o blog assume aquela característica que os "entendidos" tanto criticam: a de ser um diário de um adolescente. Não importa.

Nos últimos doze meses venho pensando profundamente em abandonar de vez o Direito. Prós e contras. Ora prós, ora contras. A cobrança é diária, mais em função da legitimação que o diploma dá, do que pelo conjunto de conhecimentos e experiências acumuladas. Afinal, tem-se por norma que um juiz, um promotor ou um advogado, por serem formados, são gente "que sabem das coisas", mesmo que não saibam nada.

Uma das constantes brigas com a Kaya (a esposa, advogada, secretária de juiz, atualmente) é a visão que temos do Direito. Ela, pragmática. Aqui e agora. Caso concreto. Ou dá, ou desce! Pagou, pagou; não pagou, créu! Sentença nele. Eu, teórico. Qual Don Quixote, sempre procurei isolar o Direito da sua prática cotidiana, no que ela sempre me critica, dizendo que nos livros e nas universidades tudo é possível. Ela, processo; eu, doutrina. E vivemos felizes.

Brinco com ela dizendo que, na realidade, ela é uma gari do Direito. Trata com o lixo da espécie humana que chega aos juizados e tribunais. Nisso concordamos, não há brigas.

Sou geminiano. Acredito ou desacredito da espécie humana conforme os acontecimentos. O tempo não é a minha medida; os acontecimentos sim. Por isso estranham que possa mudar a cada cinco minutos. Depende do que eu fico sabendo.

Pois agora fiquei sabendo de uma decisão do Superior Tribunal de Justiça que, segundo voto da ministra Laurita Vaz, considera que "a conduta praticada pelo réu deve objetivar a destruição ou o rompimento do óbice que dificulta a obtenção da coisa. Assim, se o réu pratica violência contra o próprio objeto do furto, sendo o obstáculo peculiar à coisa, não ocorre a incidência da referida qualificadora".

Traduzindo: o cara, para roubar o carro, foi obrigado, naturalmente, a quebrar o vidro. Como o vidro "É, PERTENCE", ao carro, não se caracteriza a qualificadora, isto é, é apenas um furto simples, que não merece pena maior.

O lado da balança do contra foi ao chão de tão pesado. Sigo lendo a notícia e vejo que outro ministro, Felix Fischer, segundo a minha visão de mundo, votou favoravelmente à qualificadora, in verbis:

"entendimento no sentido de que o rompimento ou a destruição de obstáculo – ainda que este seja inerente à própria coisa objeto da subtração – qualifica o delito de furto [qualificado]. [...] Em primeiro lugar, porque o legislador em momento algum restringiu o conceito de violência aos casos em que o rompimento ou destruição seja em relação a obstáculos exteriores à ‘res furtiva’."

"Em segundo lugar," continua o ministro, "se eventualmente aceitássemos a idéia de que a violência, para qualificar o furto, não pode ser exercida em detrimento do próprio objeto da subtração, mas sim em face de obstáculos exteriores à coisa, nos depararíamos com uma situação no mínimo curiosa, qual seja: o furto de uma bolsa, situada no interior de um veículo, com a destruição do vidro do motorista, p. ex., qualificaria o delito, mas, em contrapartida, se o objeto da subtração fosse o próprio veículo, estaríamos diante de um furto simples. E tem mais! E se o objeto do furto fosse o próprio veículo, mas com a bolsa em seu interior? O agente responderia por furto simples, como sustenta parte da doutrina? Claro que não! [...] Dessa maneira, percebe-se, até mesmo ‘à vol d’oiseau’, a inversão de valores no tratamento dessas situações, mencionadas a título ilustrativo, que ferem não só a lógica jurídico-penal, mas também o bom senso do ‘homo medius’. Afinal, não há razão para tal distinção, uma vez que a própria lei não faz qualquer ressalva."

"Em terceiro lugar, pergunta-se, ainda com base nas exemplificações supra, em qual das situações a ofensa ao bem jurídico tutelado pela norma legal foi maior? Evidentemente que na subtração do veículo (com ou sem a bolsa em seu interior). No entanto – consoante parte da doutrina e da jurisprudência –, mesmo a lesão tendo sido flagrantemente maior nesta situação, o agente responderia por furto simples, ao passo que, na primeira hipótese (furto da bolsa mediante a quebra do vidro do veículo), em que a lesão ao bem jurídico foi menor, o agente estaria incurso no delito de furto qualificado. Esta, evidentemente, não é a ‘mens legis’", segue o ministro.Conclui em seu voto, negando provimento ao recurso, que, "não se argumente, em uma visão extremamente liberal, ainda com base nos exemplos mencionados, que o furto, em todos os casos, seria simples, a fim de se evitarem desfechos discrepantes. Ora, esse entendimento, além de fazer uma equiparação não escudada em lei, resulta em uma interpretação, isso sim, ‘contra legem’. Afinal, [onde a lei não distingue, nós também não devemos distinguir]."

O STF (Supremo Tribunal Federal) "a despeito de ementa aparentemente contraditória, adotou o entendimento aqui defendido, i.e., de que pouco importa que o obstáculo ‘vilipendiado’ seja exterior à coisa objeto do furto", completa."
(http://ultimainstancia.ig.cob.br/noticias)



A ilustre ministra certamente nunca teve seu caro furtado, ou sequer ameaçado de furto. Vivem guardadas, ela e suas propriedades, por seguranças ou, no mínimo, motoristas. Aí fica fácil dizer que o vidro, por pertencer ao carro, não constitui obstáculo que justifique a aplicação da qualificadora. Um vidro custa R$ 53,00 (faz pouco tive que trocar o meu, exatamente por causa de um desses que a ministra acha não merecer pena maior). Que lindo. Será que a ilustríssima não sabe que mais vale a pena gastar R$53,00 para roubar um carro que custa mais de R$20.000,00?

Se já, intuitivamente, desconfiava que o Judiciário brasileiro vivia num mundo diferente do meu, agora tenho certeza. E que não se pense que foi apenas isso. É a velha gota d'água.

Quando será, por Deus, que essa gente vai descer do Olimpo e olhar para a vida? As defesas são um primor, como teses. Dígnas de papers em todas as revistas especializadas; cases para estudo em todas as faculdades de Direito.

E daí? Desculpem a expressão, mas enquanto essa gente fica se masturbando com a teoria do Direito, tentando mostrar que é melhor que o colega, o cara do carro "si fudeu". E nem sequer a compensação de ver o bandido preso com qualificadora vai poder ter. E por quê? Porque uma ministra resolveu simplesmente - e chega por aí, antes que diga besteira - escrever uma tese de Direito para "aparecer" perante a comunidade jurídica, seus pares.

Esse foi um caso. Como disse, no último ano tenho colocado milhares na balança. Era de se esperar que algum entornasse o caldo.

Julgar

Pois é,

Julgar não é fácil, embora seja a coisa que mais fazemos. Julgamos a tudo e a todos a todo momento. Das profissões jurídicas, a que menos me atrai é a de juiz. Meu estômago não saberia ser imparcial. Não saberia “compulsar os autos” (expressão do juridiquês) apenas sob a ótica da lei. Ali há vida, há pessoas que dependeriam do meu discernimento, do meu julgamento.

Nos treinamentos que faço para os colegas novos, insisto sempre que a eficiência no serviço público é determinada não porque um chefe quer ou a lei manda, mas porque cada folha papel que entra na instituição traz a digital de alguém que precisa da nossa atuação. Demorar para despachar um procedimento significa causar uma demora na vida de alguém, um prejuízo qualquer. Processo e vida andam juntos. Não temos o direito de, pela nossa preguiça ou por qualquer razão que seja, fazer isso.

Pois essa semana tive minha estréia como “juiz” oficial. Fui convidado para ser membro da comissão que avalia os servidores em estágio probatório. Para quem não sabe, ou não lembra, uma breve explicação: a Constituição Federal determina que todo servidor seja avaliado, periodicamente, ao longo dos três primeiros anos de exercício, a fim de determinar se apresenta as condições exigidas para permanecer no cargo, isto é, tornar-se estável. Findo esse período, e com base nas avaliações, a comissão julga, emite um voto pela permanência ou não do servidor.

Aceitei, pois era uma experiência que faltava no meu currículo. De imediato sou “brindado” com um processo de 672 páginas. Evidentemente, não era normal. Problemas muito sérios deveriam estar relatados ali. Tremi. Julgaria, mas também estaria sendo julgado? Mal sabia que o pior, em termos de experiência, viria depois.

A técnica, em si, é bastante simples: leitura atenta e anotação dos fatos importantes. Quanto a isso não estava preocupado, pois estou acostumado a fazer análises e relatórios. Li tudo e formei meu juízo. Escrevi o voto e fui para a reunião da comissão.

Ao entrar na sala, percebi um clima tenso, ao qual contribuí com minha própria tensão de neófito. Inexperiente, pensei que simplesmente cada um leria seu voto e pronto. Nisso, o presidente da comissão manda chamar o servidor que estava sendo avaliado. Confesso que tive vontade de desistir ali mesmo. O servidor, no caso uma servidora, entrou acompanhada do seu advogado. Sentou-se ao meu lado. Seiscentas e setenta e duas páginas, naquele momento, tomaram forma de uma pessoa. Milhares de palavras passaram a respirar, a olhar, a esfregar as mãos, a suar.

E então – e só então - começou a luta. A minha luta. Não há como evitar. O relator inicia a leitura. Relatório e voto. Detalhe por detalhe. Boa aqui, ruim ali; incompetente nisto, mais ou menos naquilo. Apresenta bom relacionamento, mas é irresponsável. Erros de português; falta de conhecimento; incapaz de realizar um mínimo que seja, e por aí vai... Não estou escrevendo exatamente o que constava no processo. É muito pior. Começo a me sentir mal. Sinto como se as palavras estivessem sendo dirigidas a mim. Como alguém pode ficar escutando, impassível, tamanho derramamento de adjetivos simplesmente destrutivos?

Não sei o que faria se alguém me dissesse que sou um “profissional abaixo de qualquer crítica”. Gostar do que alguém escreve é uma coisa, outra é dizer que esse alguém não consegue expressar uma idéia em um parágrafo.

O advogado da defesa pede a palavra e, inteligentemente, ressalta apenas os aspectos positivos. Uma ode à cliente. Experiente e dono de uma oratória impar, convenceria qualquer um.

Cresce a sensação de que vou gaguejar na hora de ler o meu voto. Tanto por ser a primeira vez, e por me sentir também em julgamento, quanto por estar ao lado da pessoa. Respiro fundo, o mais discretamente possível para que os colegas não percebam. Sei que isso é impossível. Não nos vemos como os outros estão nos vendo. Assim como percebo os sinais nos outros, certamente eles perceberam os meus. Pouco antes da minha hora, peço licença e vou ao banheiro. Aí sim, respiro escandalosamente. Repito algumas vezes: técnica, meu caro. Profissionalismo. Estás aqui como uma entidade: servidor público. Teu dever é defender o contribuinte, que é quem, ao final das contas, paga o teu próprio salário.

E técnica significa não olhar nos olhos. Significa que tenho, ao meu lado, apenas 672 páginas de papel. Nada mais. E que um dia serão recicladas ou virar bloquinhos para rascunho. Espero que ela se recicle também. Após três horas de reunião, me reciclei.

sexta-feira, março 18, 2005

Bom é ser bandido!

Pois é,

Reproduzo, na íntegra, texto do Josué Maranhão, publicado hoje no "Última Instância" (http://ultimainstancia.ig.com.br/colunas/ler_noticia.php?idNoticia=12778)(1).


Bom é ser bandido!

Josué Maranhão

BOSTON - Aqueles que ainda tinham alguma dúvida, podem “tirar o cavalinho da chuva”.

A previdência social oficial no Brasil, o chamado INSS, sistematicamente, privilegia os bandidos em detrimento dos honestos.

Basta comparar. Veja-se o que divulgou, sob o título "Máquina de assaltos aos cofres do INSS no Rio", o jornal O Globo na semana passada:

“A máquina de fraudar a Previdência Social no Rio de Janeiro é como um vírus super-resistente que, mesmo submetido aos mais fortes antibióticos, consegue se manter ativo. Desde a criação de uma força-tarefa para combatê-la, em 2001, já foram presos mais de 200 fraudadores, abertos mais de 800 inquéritos e sustados benefícios irregulares que somam quase R$ 1 bilhão. A máquina, entretanto, não parou de funcionar, como ficou demonstrado na recente prisão de 11 auditores fiscais que agiam no setor de Arrecadação do INSS, incluindo o ex-gerente geral da unidade”.

Não é necessário explicar. Continuam as fraudes, continuam os “assaltos” como diz o jornal impropriamente.

Mas tudo está bem claro. Não há virus, como afirma o repórter e, muito menos, assalto. Triste é a situação dos assaltantes que precisam enfrentar perigo, empunhar armas, fugir da polícia, ter que escapar fazendo acrobacias com o carro e tudo o mais. O que existem, efetivamente, são fraudes, sem limites. E são cometidas por quem está lá dentro, sem correr quaisquer riscos, acomodados em confortáveis cadeiras e bem espaçosas mesas de trabalho. O que falta é controle.

E, por que não há controle? “Elementar meu caro Watson!”, como diria Sherlock Holmes, o meu detetive preferido. Não há controle, apesar de embolsarem dinheiro da previdência há anos, simplesmente porque os dirigentes do órgão não têm interesse em controlá-los.

Desde que me entendo como gente (e faz muito tempo, como todos sabem) que escuto falar em fraudes na previdência. E desde aquele tempo que sempre se descobre que existem funcionários do próprio serviço (hoje INSS, mas que já foram os IAPs, depois INPS) envolvidos no esquema. Aliás, na maioria das vezes, não são integrantes de quadrilhas com outras pessoas de fora. São a própria quadrilha. Geralmente não existem estranhos compartilhando o butim.

No entanto, como falei antes, é bom comparar, para concordar com o que eu disse: os bandidos são privilegiados e os honestos massacrados.

Enquanto a reportagem dá mais uma notícia a respeito de fraudes internas, naquela semana a imprensa também divulgou dois outros fatos: um segurado do INSS morreu na fila, depois de esperar muitas horas para ser atendido e um outro segurado também esperou na fila muito tempo, passou fome, andou a pé por não ter dinheiro para transporte, simplesmente porque precisou comparecer ao Posto do INSS para comprovar que estava vivo.

Naquela situação do segurado que morreu na fila, não há o que comentar. É simplesmente um absurdo, uma falta de respeito com uma pessoa, independentemente de sua condição de segurado ou não. “É uma vergonha”, como diz Boris Casoy.

Mas no caso do segurado que precisou comprovar que estava vivo, está a prova de que os honestos são as vítimas no INSS.

Tratava-se de um segurado que recebia pouco mais do que um salário mínimo por mês, como aposentadoria. É aposentado há mais de 20 anos e nunca cometeu qualquer fraude. Mas, simplesmente, teve o pagamento do seu “benefício” suspenso, porque o sistema descobriu uma diferença de datas de seu nascimento, entre dois de seus documentos. Ora, como ele esclareceu, aqueles documentos estavam arquivados no INSS há mais de 40 anos, têm mais de 60 anos desde quando emitidos. Não era nada que pudesse indicar uma fraude.

Mas, antes de qualquer coisa, o INSS de imediato suspendeu o pagamento da miserável aposentadoria, deixando o segurado, que teve sua contribuição descontada e recolhida durante a vida inteira, passando fome.

Precisou ir ao posto para comprovar que ele é ele mesmo; que está vivo; que o erro de datas não tem qualquer importância.

O que fica evidente é que o tal controle é calamitoso: suspende de imediato o pagamento de um benefício a um pobre miserável, por conta de um fato sem importância, mas não é capaz de suspender a prática de fraudes que ocorrem há anos, desde quando inventaram a previdência social no Brasil. Fraudes cometidas por gente lá de dentro, é bom não esquecer.


Grande contribuição para o Índice do Chato.

(1)Aos editores: não verifiquei a questão dos direitos autorais. Qualquer problema, basta postar um comentário solicitado a retirada deste. Será imediatamente retirado.

quinta-feira, março 17, 2005

Pequenos pensamentos ou, pensamentos de alguém ainda pequeno?

XVI


Tudo bem por aqui. Estou com 5 cm. Agora, vamos e venhamos, precisava ficar me apertando daquele jeito? Pô, já é pequeno o espaço que tenho e, além do mais, estava dormindo. Sabe o que eu fiz? Até aparece na ecografia: dei uns bons chutes na mamãe, hehehehe. Pode ser que assim, da próxima vez, ela me avise antes.

quarta-feira, março 16, 2005

Culinária do Chato.

Pois é,

Qual é o meu prato preferido? O purê. Simples assim. Tem a lazanha, mas essa é muito rebuscada, exige todo um cerimonial para comer. Lazanha precisa de convite. Pra comer purê, ninguém te convida. “Vamos fazer uma jantinha lá em casa no sábado?” O mínimo, que esperas, é uma lazanha. Ou qualquer outra coisa, menos purê. Ou, se tiver, fica ali como mero acompanhante.

Preparar uma lazanha é fácil. Difícil é dar o ponto no purê. Tem gente que mistura queijo ralado; outros, claras em neve. Alguns botam no forno; outros fazem recheado. Purê mesmo, aquele só com batata, leite e manteiga, esse é difícil. E por quê? Porque o purê é simples. E coisas e pessoas simples são difíceis. Somos educados para enfrentar desafios, não coisas simples. Achamos todo mundo difícil, a priori. Não acreditamos quando alguém é simples na sua maneira de ser ou de se expressar. Jogamos milhões de adjetivos por cima.

Quando quero recuperar o sentido da simplicidade, faço um purê. As batatas estão cozinhando... mais uma vez tento acertar o ponto. É difícil. E ele? Ele vai me encher de simplicidade por uns dois dias...

Licença que vou comer meu purê. Bom apetite!

terça-feira, março 15, 2005

Esse tal de "About Me" aí de cima...

Pois é,

Não sou da área da comunicação (jornalismo, publicidade, etc.); não sou advogado; não entendo de literatura, informática, música e artes em geral. Detesto ficar duas horas sentado olhando pra tela do cinema. Vejo os filmes em casa, deitado. A desvantagem é não poder participar das rodinhas que fazem comentários sobre os filmes. Mas não morro disso. Leio, escuto, vejo e, mal e porcamente, digito. Só! Não sei escrever. Isso já deu pra ver. Ah! Sem esquecer que falo pelos cotovelos. Digo o que tenho que dizer da maneira mais curta e direta. Sofro críticas por isso. Não faço rodeios pra chamar alguém de boçal, imbecil ou seja lá do que for, se é isso que penso. Também elogio sem rodeios. Defendo minhas idéias com unhas e dentes; e por isso, talvez, me chamem de chato.

Penso até que já passei da idade de ter blog. Mas dessa não tenho culpa. Afinal, blog é coisa recente. E não que exista idade para se ter um blog.

Não viajo pelo mundo e nem moro fora do país. Mal e mal vou sobrevivendo nesse clima desgraçado de Porto Alegre – mais até por falta de coragem de ir embora do que por gostar, embora goste.

Sou funcionário público, com formação em Administração de Empresas. Trabalho no ramo, o que é coisa rara na atividade pública de um país que tem gente PhD como “condutor de veículo de deslocamento vertical”.

Se escrever sobre administração e serviço público, perderei os poucos renitentes que ainda me oferecem a oportunidade de um comentário vez por outra. Por outro lado, não levo jeito pra guru de administração. Não nasci americano, não sou psicólogo e não sei vender.

Mas sou feliz. Num país miserável com os índices de analfabetismo e fome batendo recordes, tive e tenho de tudo o necessário; além de seis gatos, uma filha(15), um pimpolho(a) que já está com 4,8cm e, é claro, a mulher, que se não fosse o fato de estar pagando os seus pecados, já teria me deixado. Das duas uma: ou vou morrer cedo e ela já sabia disso, ou pelo jeito a dívida deve ser grande, pois prometeu “até que a morte nos separe”.

Duas coisas me fazem mal e me afastam das pessoas: injustiça e hipocrisia. Elas se alternam no primeiro lugar. Atualmente a hipocrisia está na frente. Até porque anda generalizada. E hipocrisia conduz, necessariamente, à injustiça. Pessoas hipócritas são injustas; o inverso nem sempre é verdadeiro.

Por isso criei o Índice do Chato. Para medir a injustiça e a hipocrisia.

No más, como se diz por aqui, vou levando. Minha cervejinha, meu cigarrinho e, agora, o blog.




Dois lados de duas moedas


Pois é,

O Direito tem dessas coisas. Notícia:

"O Conselho Federal da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) decidiu nesta segunda-feira pedir informações à Justiça e à Polícia Federal sobre a deportação para os Estados Unidos do americano Jesse James Hollywood, um dos fugitivos mais procurados pelo FBI. Hollywood foi preso há uma semana, no Rio.
Segundo os jornais O Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo, ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e conselheiros da OAB criticaram a ação e disseram que ele tinha o direito de responder a processo de extradição antes de ser entregue. Na sexta-feira, o Ministério da Justiça pediu informações à PF sobre a deportação.
"A PF agiu na mão grande. No arrepio da lei", afirmou o conselheiro da OAB Alberto Zacharias Toron, relator do caso. Chefe da Interpol no Rio, o delegado Wanderley Martins disse que agiu dentro da lei."


Dá pra imaginar um cidadão, trabalhador, pai de família com esse nome Jesse James Hollywood? Dá! O Brasil tá cheio de Maicon, Daiana, Severino, Donaldo, Afonso... e todos pais/mães de família.

O que não dá pra imaginar é que nossos causídicos e ministros percam tempo querendo aplicar a lei pra cima de bandido americano. E não em qualquer um, simplesmente num dos mais procurados pelo FBI. Aí fica mais fácil criticar a nossa PF. Bandido brasileiro, que é bom, esse continua solto, fazendo rebelião. Dos infantes aos adultos.

Será que esses putos, além de não fazerem nada de útil pelo país, não poderiam pelo menos calar a boca?

Sobe o índice pela hipocrisia da espécie homo iudice brasiliensis.

segunda-feira, março 14, 2005

Enquanto isso, lá na China...

Pois é,

As empresas aéreas brasileiras estão quebradas. Falta de mercado? Não. Embora complexo, o problema resume-se a três linhas:

(1) A cadeia alimentar da indústria brasileira de turismo é uma das mais predadoras. De cada mil reais (número redondo para efeitos de contas) de uma passagem, sobram para as companhias (que, efetivamente, é quem nos leva de cá pra lá e de lá pra cá) algo em torno de duzentos reais. O resto vai ficando pelo caminho: agência, operadora, integradora, receptoras e mais um monte de ATRAVESSADORES (não consigo encontrar outro termo)... um verdadeiro cartel que encarece qualquer coisa que toque. E tem mais, podemos comprar passagem diretamente na companhia. Não interessa, a companhia É OBRIGADA a vender pelo mesmo preço que vais pagar na agência. Não importa o motivo da viagem: se a negócios ou puro turismo. Quem viaja a negócios, viaja sem a MÍNIMA interferência dos predadores. Sai do avião, pega um taxi e vai pro hotel que foi reservado pela secretária. Mais ninguém se intromete no assunto. No entanto, o preço é o mesmo pago por quem entra numa agência e diz: "quero ir pra Fortaleza, te vira", e só aparece no dia do embarque. Claro que, no primeiro caso, a companhia fica com tudo. Mas se fica, bem poderia dar o desconto para o usuário, mas não pode (a associação e o próprio DAC não deixam).

(2) O governo é o segundo problema. Esquece que, se quer arrecadar 100, pode fazer das seguintes maneiras:

(1 x 100),(2 x 50),(4 x 25),(5 x 20),(8 x 12,5),(10 x 10),(12,5 x 8),(20 x 5),(25 x 4),(50 x 2),(100 x 1)

Prefere, no entanto, poucos passageiros com imposto alto, do que muitos passageiros com imposto baixo. Questão cultural a ser resolvida nos próximos cem anos...

(3) Administração das empresas. Esta, é feita com base na velha teoria de que "se dá lucro, é meu; se quebrar, é uma questão social, empurra pro governo." A Vasp quebrou e está sendo necessário que a Justiça mande pagar os empregados. Não fosse isso, danem-se! É um problema social. Cinco mil pessoas desempregadas - e suas famílias - quem tem que resolver é o governo. A Varig vai pro mesmo caminho. E pior, pois todos, nos governos (seja qual for) deste país, sempre consideraram a Varig como a menina dos olhos do Brasil. Temos que defendê-la.

A passagem brasileira, considerando um mesmo percurso aéreo, é uma das mais caras do mundo. Má administração, governo e atravessadores.

Enquanto isso, lá na China, abre-se o mercado aéreo para a exploração privada. Hoje começam a operar num mercado estimado de US$230 bilhões nos próximos 20 anos (Folha de São Paulo), beneficiando inclusive a Embraer.

Ainda bem que temos o ditado: "isso é um negócio da China".

domingo, março 13, 2005

Jogo dos 7 erros!

Pois é,

Sempre coloco as quatro patas para trás com qualquer coisa que recebo pela internet. Noventa por cento é bobagem; sete por cento é mentira ou é montagem, no caso de fotografias. É o caso das fotografias aí abaixo, que andam circulando por e-mail. O texto exorta as pessoas a admirarem o Brasil anoitecendo visto do espaço.



Está aberto o concurso para ver quem é que descobre o maior número de "efeitos" mentirosos nas imagens. Cliquem nas imagens para visualizá-las em tamanho grande. Quem mandar a maior lista ganha de presente, em homenagem ao meu amigo gejfin, o CD solo do Chorão.

Mas o pior é que as pessoas acabam acreditando, o que tem feito da internet uma arma mais poderosa que a mais poderosa: a televisão.

Aguardo as listas. Depois eu dou a minha.

Nunca mais leiam esse blog, se quiserem!

Pois é,

Sinto muito, mas se nunca mais quiserem ler o que escrevo, tudo bem! Tem coisas que até eu não resisto!

Notícia do Estadão:

"Presidente da Light-par é preso com menor em motel


Rio de Janeiro - O presidente da Light-par, subsidiária da Eletrobrás, ex-deputado José Eudes de Freitas, foi preso hoje à tarde, num motel de São Conrado, na zona sul, com um rapaz de 17 anos. Segundo a delegada Monique Vidal, que fez a prisão, o garoto entrou no carro dele em Copacabana, numa área que a polícia está vigiando para coibir a prostituição de menores de idade. O carro foi seguido até o motel, onde Eudes foi autuado por fraude processual e levado para a carceragem do Ponto Zero, na Polinter. O gerente do estabelecimento, José Antônio Barbosa Monteiro, também foi preso e levado para lá.

José Eudes foi deputado pelo extinto MDB e depois pelo PT. Em janeiro de 1985, foi expulso porque votou na eleição indireta do presidente Tancredo Neves. Desde então, ligou-se ao PSDB, mas não era filiado ao partido."


Está tudo errado nessa notícia. Primeiro, porque Copacabana está virada num antro de prostituição - de menores a maiores. Estive lá faz um ano. Certamente não mudou. Segundo, porque a notícia tenta, maliciosamente, associar o cara ao PT: técnica de redação. Sabe-se que as últimas coisas ditas ou escritas são as que ficam guardadas na memória. Como o PT está na vitrine, fica ele.

Referências diretas. Alguém até poderia escrever uma tese contra. Bobagem.

Alguns milhares de brasileiros vão para a cama com menores e maiores. Com homens ou com mulheres; com ambos; com um ou com outro. Às vezes com mais de um. Não importa. O que importa é que ninguém aparece na mídia. Se resolver dar o rabo, seja pra adulto ou pra adolescente, certamente não vou aparecer em nenhum jornal. E que não se imagine que ele ia comer o guri. Mas é o PRESIDENTE de uma companhia subsidiária da Embratel. A Light, que todos sabemos estar com sérios problemas. Aí se metem na vida particular do cara. Se é uma operação normal de "limpeza da área", por que anunciar o cargo dele? O zé também foi preso pelo mesmo motivo. Apareceu? Claro que não!

Terceiro: o que é que tem a ver a história política do indivíduo com a opção sexual dele? NADA, não fosse o fato de ser mais uma oportunidade de, aos pouquinhos, minar o governo. Hipocrisias que só fazem aumentar a nossa dívida.

sábado, março 12, 2005

Quem sai aos seus não degenera...

Pois é,

"A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) antecipou nesta sexta, dia 11, o ranking preliminar das operadoras de telefonia móvel com mais reclamações no órgão. O ranking definitivo será divulgado no site da agência na segunda-feira (www.anatel.gov.br)." [notícia do site www.clicrbs.com.br]

Eis a lista:

  • Brasil Telecom GSM
  • Claro
  • Oi, TIM e Vivo, praticamente empatadas
  • Telemig Celular, Amazônia Celular e CTBC, praticamente empatadas
  • Sercomtel


Não é de admirar que uma companhia que tem um serviço fixo abaixo de qualquer crítica também não se transforme em campeã de reclamações na filhote móvel. Mais pontos para o Índice do Chato. Pela Brasil Telecom, pela Anatel, que é outra porcaria que não serve pra nada (alguém já precisou dela? Desista, te dizem que não podem fazer nada, mas vão anotar a tua reclamação. Serve apenas pra isso: fazer ranking), pelo governo que fez e faz isso com seu povo.

Pago uma fortuna por uma conexão de 800Kbps (quase empresarial) e não tem semana em que não fique fora do ar. Por mim que se exploda. O problema é que, se explodir, volta pro governo. Não sei o que é o pior!

sexta-feira, março 11, 2005

Com que cara você se enxerga?

Pois é,

Não sei se é universal – por óbvio deve ser, pois ainda sou da espécie humana – o sentimento de que temos uma única cara com a qual nos vemos e nos apresentamos. Mas que cara é essa que a gente se vê pelo resto da vida e pensa que as pessoas também vêem a mesma coisa? Em que momento fixamos a imagem que nos torna bonitos, mesmo que as espinhas tenham retorcido nosso rosto?

Diariamente vejo, defronte ao espelho, alguém que não sou “eu”. Eu sou diferente desse babaca, chato, que fica me olhando quando faço a barba ou escovo os dentes.

Essa cara não tem culpa de nada do que a acusam. Faz brincadeiras que as pessoas levam a sério. “Pô”, digo, “vocês não viram a minha cara?” Ou, “tava na cara que era brincadeira!”. Não adianta, as pessoas não vêem a mesma cara que eu vejo.

Talvez a cara com que a gente se vê, seja a última cara em que mostramos real felicidade por existir, mesmo sem ter consciência do que isso significa, pois em geral ela está lá na infância. E talvez por isso deteste tirar fotografias. Nenhuma delas jamais retratou a “minha verdadeira cara”, a cara que eu vejo quando me olho, não no espelho, mas no mais agudo dos olhares: quando me olho por dentro.

Nas poucas vezes em que me permiti aparecer em fotografias, foi mais por débito com as gerações futuras, do que propriamente por uma questão de gostar.

Aos psi de plantão: deixa assim, tá?

Como genealogistalóide que sou, sei bem a importância que tem uma fotografia ou um retrato. Muito ando a cata de fotos da família. Tenho uma coleção de quase duas mil fotografias. E a cada uma que olho, penso: esse não era ele. A foto mais antiga que tenho de um antepassado, é do meu bisavô, em 1901. Seis anos antes de morrer, ainda jovem, aos sessenta anos. Tem gente que só sei como era porque encontrei uma foto no túmulo. Benditos os fotologs.

Com que cara ele se enxergava? Terá sido essa foto, tirada com a minha bisa e seus dez filhos (da dúzia que tiveram, dentre eles meu avô ainda piá de sete anos) a cara dele? Ou será que ele se enxergava como era no País Basco, com vinte e poucos anos, antes de pegar o navio com os irmãos para a América? Que cara ele faria hoje para mim, seu bisneto? Que cara ele fez ao aportar na terra prometida?

Se não fosse essa cara que sabemos ter, ninguém teria coragem de abordar o sexo oposto. A natureza é sabia, nos faz ver e sentir que somos mais bonitos do que as pessoas realmente vêem. E acabamos por enganá-las, por incrível que pareça! Ou então elas são mais inteligentes que nós e logo percebem a nossa verdadeira cara. E gostam, o que é pior. Deve ser daí que Darwin desenvolveu a teoria dele: sobrevivem os que se vêem.

Acho que esse sentimento de identidade é o que nos mantém vivos, apesar da dificuldade que significa ter que provar, a cada segundo, que a cara era outra.

Por sorte, sei qual é a minha cara, independentemente do que as pessoas vêem. É essa. Tinha oito anos. Nunca mais me encontrei noutra. Digam qualquer coisa, não importa, eu sou assim. Eu me vejo assim. E até hoje tento mudar para parecer um homem maduro, sério, pai de família, trabalhador honesto e o escambau. Não importa.

Eu vou morrer assim. Com essa carinha linda!

E feliz com ela!

quinta-feira, março 10, 2005

Índice do Chato tem sua primeira alta!

Pois é,

O Índice do Chato subiu 32 pontos percentuais no seu primeiro dia.

Junte-se ao post anterior, a notícia de que a industria de alimentação está contra a determinação de colocar nos rótulos dos produtos que contenham transgênicos em percentual superior a 1% de sua composição, o símbolo criado para avisar os consumidores. Além disso, querem aumentar o percentual para 4%.

Mais uma marretada na nossa dívida com o povo. Qual o problema de dizer a verdade? O que querem? Que apenas apareça no fundo e em letras nanográficas? Há pouco necessitamos de um código para defender o consumidor contra os abusos praticados pela indústria brasileira (que, diga-se de passagem, mesmo assim continua fazendo de conta que a maioria dos brasileiros é trouxa de nascença - o velho problema da índole de devedores: devemos ser gratos aos fornecedores por fabricarem todas as coisas que nos dão uma vida dígna! Devemos a eles isso). E não se diga que são todos queridinhos e só querem o bem do povo. Quem não deve não teme. Por quererem mais uma vez ludibriar o povo, essa merece um 9.

E por falar em ludibriar o povo, acabo de saber que a Câmara aprovou, em votação simbólica, aumento de 15% para os servidores do Senado e do TCU, RETORATIVOS A NOVEMBRO DE 2004. Putz, eu ganhei só 8% pra esse ano. Nada no ano passado. Em duas vezes: uma parte agora em março e a outra em agosto. Retroativo? Retro ativos devem ser esses FDP que ignoram a miséria do povo. Puta aumento na nossa dívida: essa vale 9.

Pra compensar, os digníssimos aprovaram o projeto de lei da deputada Ideli Salvatti (PT-SC) “que dá à parturiente o direito a ter um acompanhante durante o período de trabalho de parto e pós-parto nos serviços de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS)”. Resgata uma dívida, mas em compensação a vergonha de demorar tanto tempo – além do fato de serem céleres para votar o aumento dos próprios salários – faz levar uma nota positiva como saldo: 2.

Esta já era esperada. Governo admite que não cumpriu a meta de assentar 175 mil famílias nos dois primeiros anos. Chegou em 117 mil. Tá certo, ainda assim é um número razoável, por isso leva apenas 4, que é proporcional ao que deixou de fazer, mantendo a dívida com o povo.

Uma boa que reduz nossa dívida: Romário foi condenado a pagar ao Zico uma indenização por ter feito uma caricatura deste na porta do banheiro de um bar. É boa, porque esse cara já devia ter sumido do mapa. Só fica na vitrine porque as porcarias de jornais precisam encher páginas e páginas das suas seções esportivas. Caso contrário, não vendem. Vale (-4). Também, verdade seja dita, a notícia não é lá essas coisas.

Outra boa. O Código Penal vige desde 1941, com alterações posteriores. Nele nunca esteve escrito que era necessário ir a uma Delegacia de Polícia registrar a ocorrência de estupro para depois poder praticar o chamado aborto legal. Pois bem, acabaram com isso. Não será mais necessário um BO para fazer aborto legal. Muitos pontos para reduzir a dívida que temos com as mulheres, que se viam constrangidas à declaração, perante estranhos, do que lhes havia acontecido. Basta, agora, assinar uma declaração perante a rede pública de saúde e retornamos ao ponto de onde nunca deveríamos ter saído: que cada um assuma a responsabilidade por aquilo que faz. Nota (-8), sem entrar em considerações sobre o aborto.

Pra terminar, por hoje, um portal como o Terra (o “similar” da internet) publica a seguinte notícia:

"Americano é baleado pelo próprio gato

A disputa para ver qual o melhor animal de estimação ganhou um novo argumento contra os gatos: eles podem atirar em você! Pelo menos foi o que aconteceu com Joseph Stanton, 29 anos, de Batest Township, no Estado norte-americano de Michigan.

Stanton estava cozinhando em sua casa quando foi atingido por um tiro de pistola. Este foi disparado por um de seus gatos que derrubou a pistola que estava sobre um armário.

Ele foi atingido na parte inferior do abdômen às 18h da última segunda-feira... “

Além de velha, no que interessa essa notícia? Pontos pra nossa dívida. De tão inútil que é ficar reproduzindo besteiras americanas para o nosso povo, essa é a notícia do dia que merece 10. Além do mais, tenho seis gatos em casa.

Somem os positivos (aumento da dívida) e diminuam os negativos (diminuição da dívida) e teremos como saldo (se ainda sei fazer contas), que nossa dívida com a humanidade, com a sociedade e o povo aumentou em 32%, passando para 132 logo no primeiro dia.

Férias, um minuto de silêncio e palavrões!

Pois é,

As férias estão acabando e as caixas com o entulho de anos também. Acabo de abrir a última. Dela salta uma edição de setembro de 1994 do "Porto e Vírgula", de número 18. A capa já diz porque a guardei: "Mário Quintana em três versões". Pequeno encarte com fotos, textos e poesias.

Abro, vou olhando e paro num título que chama a atenção: "Um minuto de silêncio". Como todo bom curioso, e onze anos após, começo a reler. Mordido pelo vício, penso: legal, vou colocar no blog. Cutuco o mouse para tirar a Terra vista do espaço, online, que tapa minhas vergonhas, e, por baixo, estava a página do MSN atualizada com uma notícia, cujo título também chama a atenção:

'Gasto social não é gasto. É investimento', diz Lula"

Peraí! Já estava consolado com o fato do "Índice do Chato" não apresentar variações nesta quinta-feira, seu primeiro dia de existência. Murphy mais uma vez atuaria. Crio o índice e nada acontece de importância que possa dar-lhe movimento, variação.

O nosso Presidente e seu querido Ministro, no entanto, salvam a pátria (em qualquer sentido). Leio a notícia e logo associo ao texto que acabara de ler. Aí vão os dois:

"Brasília - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante a reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), também defendeu os gastos do governo, a exemplo do que foi feito hoje pelo ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu.

Ele considerou um equívoco considerar despesas em saúde e em gastos sociais, como o Bolsa Família, como gasto e não como investimento. "É um erro sociológico no Brasil", disse. Segundo o presidente, "é preciso aprender que fazer coisas boas para a parte mais pobre é tão nobre quanto fazer outras coisas
". (José Ramos - Estadão)"


A pequena crônica, escrita pelo jornalista José Antônio Silva:

"Está morto, quase totalmente morto, o mundo das palavras. Sim, há muitas por aí - até em excesso. Mas são falsas. São clones, reproduzidas em série, publicitariamente, sem alma. Não têm personalidade própria. Usam máscaras (iguais e vazias, em sua variedade) para expressar a dor e a alegria, fingidas.

Há, é verdade, palavras-fantasmas; elas não aceitam o fato de que o seu tempo passou. Vagam melancolicamente por páginas corroídas, envoltas em refrulhos e segnícias (1).

Existem também os palavrões. Liberados - mas nem por isso mais gentis ou de bem com a vida. Nada: são agressivos, arrogantes. Sentem-se os donos do mundo de hoje, e talvez o sejam, de fato.

Pululam neologismos - tech-neo-logismos - que se encerram em si mesmos. São facilmente identificáveis. Não se comunicam, fora de sua confraria de exegetas cibernéticos.

Palavras mesmo, palavras, não há mais. Ou morrem à mingua. Não esquecer: a casa, a mão, a faca, o pão, a asa e o azul, o sangue e o sexo, o leite, o rio, o som, o suor, o riso e o vento, os passos - o grito.

Destas, e de outras assim, poucas sobram. Pois, próximas da natureza, vão morrendo com ela. Só saem à noite (quando todas as TVs cacarejam, ao mesmo tempo e em todos os espaços fechados). Então as palavras saem, para roubar comida, ar, um gole, uma idéia - para reaver um pouco da vida, que lhes negam. Mas estão em vias de extinção: não recebem pensão, embora os bons serviços prestados. E os ecologistas esqueceram-se de criar reservas naturais - fora o bolor das bibliotecas - para elas. As palavras-mães, basilares, não foram incluídas na lista dos seres condenados.

Um minuto de silêncio, em memória delas.
"


A associação entre a notícia e o texto é livre, mas, a quem eles pensam que estão enganando? Não bastasse o fato do ex ser sociólogo, lá vem o atual falar em "erro sociológico"? Por tudo, isso vale um oito! E sem palavrões!

(1) Também não sabia o que eram. Fui no Houaiss. Refrulho: sussuro, murmúrio. Segnícia: indolência, apatia, preguiça.

quarta-feira, março 09, 2005

Índice do Chato

Pois é,

Resolvi criar meu próprio índice. Esse aí do lado. Similar aos inúmeros existentes no mundo, esse também visa medir uma variação: a variação da nossa dívida com a humanidade, com a sociedade e o povo. Como disse nos recentes posts, somos um povo devedor por nascença. Nossa índole de devedores não nos permite colocar a cabeça pra fora da lata (pra quem conhece a piada).

O “índice do chato” será medido pelos fatos e notícias sobre:

1. tudo o que há de podre nesse país. Logo, aumentam a nossa dívida e,

2. tudo o que acontece de bom. Logo, diminuem a nossa dívida.

Um aumento no índice significa que houve um aumento na nossa dívida. Começo com cem, lógico, e somente a partir de amanhã, quinta-feira 10 de março (se tivesse começado hoje, o índice estaria na casa dos 150). Cada fato, notícia, etc, recebe uma nota, positiva ou negativa, conforme seja ruim ou boa, respectivamente, que pode variar de 1 a 10. A soma algébrica dará a variação diária do índice.

Como não vejo a Globo e suas congêneres, isso dá certa estabilidade científica para o índice. Caso contrário logo, logo teríamos uma hiperinflação. A fonte é a internet. Diariamente, ao final da noite, publico o índice e sua variação, com referências aos itens que foram avaliados e suas respectivas notas.

Exemplo de notícia que ganha nota negativa: algum inútil que tenha morrido e que, com isso, pare de prejudicar o país ou seja lá o que for. Certas mortes ajudam a não aumentar mais o índice. Portanto, é um fato positivo. A nota vai depender da inutilidade em vida da pessoa.

Exemplo de notícia que ganha nota positiva: deputado paulista que quer instituir o “dia do cachorro”. Um animal desses, não o cachorro, só faz aumentar nossa dívida com a humanidade. Esse leva nota 10 de cara.

Como sou tendencioso para ver apenas, ou quase apenas, o que há de ruim, solicito que os que me acompanham mandem fatos e notícias boas, para colaborar com o não crescimento vertiginoso do índice.

É por aí. Com o tempo a gente vai aperfeiçoando.

A galinha dos ovos de ouro!

Pois é,

Não devia estar lendo notícias hoje. Deveria estar contente com o post anterior. Mas não. Como estou de férias, posso ficar tranqüilamente ... e aí vejo a notícia:

"A alta nos preços dos ovos foi responsável por mais da metade da inflação medida pelo Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), que subiu de 0,33% em janeiro para 0,40% em fevereiro. Sem eles, o IGP-DI teria desacelerado no mês para 0,16%. Descontados os ovos, o índice mostra estabilidade ou desaceleração de preços, fenômeno que está ligado à queda do dólar. [...]

"Em fevereiro, os ovos ficaram 26,26% mais caros, a maior alta desde fevereiro de 1997 (29,01%). O aumento está relacionado ao ciclo biológico da galinha, que costuma pôr menos ovos nessa época do ano. “O ovo é o vilão, o grande azarão." (fonte).


A culpa é da galinha. Até porque já ficamos sabendo, em outra notícia quentinha ainda, que não é do galo. Pois se fosse do galo talvez não tivessem livrado a cara do senhor Duda Mendonça e de um vereador. Culpa da Polícia Federal, na abalizada manifestação do Desembargador que decidiu, com seu voto, o caso. Eles só fazem parte do Conselho Deliberativo do Clube Privé Cinco Estrelas. Mais nada. Só deliberam o que pode ou não pode acontecer dentro das dependências do clube, mas não têm nada a ver com a rinha de galos ou com a distribuição de panfletos. Afinal, já disse, a culpa é da galinha.

Não contente em livrar a cara do amigo do rei, o Desembargador acusa a Polícia Federal de agir com excesso (fonte). Legal.

Nossa índole de devedores atua mais uma vez. Agora devemos para as galinhas.

Um dia especial!

Pois é,

Hoje é um dia especial. Mais que ontem, dia da mulher. Afinal, desde Eva que o mundo é delas. Talvez algumas não soubessem disso e deixaram, por alguns períodos históricos, os homens pensarem que eram os donos do mundo. Mas hoje, 9 de março, tem início a derradeira história de uma dívida. Nesse dia, em 1500, Cabral parte do porto de Lisboa para dizer ao mundo aquilo que já era sabido: as índias ficavam mais pra esquerda do mundo, e peladas como era de se esperar.

Nesse dia oficializa-se a dívida do que viria a ser chamado Brasil. Até então era problema do Cabral. Cabral, como bom brasileiro que já demonstrava ser, inventou aquilo que hoje sabemos: se deves pouco, o problema é teu; se deves muito, o problema é do banco! O problema é que os banqueiros da época já conheciam o jeito português de fazer as coisas e exigiram a hipoteca das terras a serem descobertas.

Assim, nascemos e vivemos até hoje no vermelho, sem nunca ter experimentado um segundo sequer de saldo positivo. Não bastasse isso, inúmeras outras vazes a Corôa Portuguesa foi aos bancos para bancar suas maluquices. Em 1808 o cagalhão do D. João VI faz uma das maiores dívidas ao fugir dos franceses e ao transformar uma vila podre em capital do Reino Unido. Abre os portos. Bela palhaçada. Serviu só para beneficiar a ainda instável indústria inglesa, pois que a Inglaterra foi quem pagou a fuga do cagalhão. Nossa independência custou "os olhos da cara" do novo Império. Só a Biblioteca Nacional, que ficou com todo o patrimônio português, deve ter secado de vez as Minas Gerais.

Ah! Não podíamos nos deixar dominar por esses nativos metidos a espanhóis que iam fundando paisinhos vizinhos. E dele guerra! Todas financiadas novamente pela Inglaterra, dona das terras do Império. Mais dívida.

Um pouco mais adiante, decide-se de que lado devemos ficar, ou melhor, dever. Se pros alemães ou americanos. Não foi uma questão ideológica, ou de achar que Hitler era "um homem mau que matava judeus". Não, simplesmente leiloaram, mais uma vez, o Brasil. Venceram os americanos que colocaram, em troca da CSN, mais uma penca de $$$$ na nossa dívida.

Diversos estudiosos do Brasil, todos conhecidos, sempre buscaram uma explicação para a formação do Brasil (é até título, né?). É simples: nascemos devedores e devemos até hoje. Essa é a nossa índole: a de eternos devedores.

Assim agimos na vida. Parece que sempre tem alguém nos cobrando algo. O chefe, a mulher, o amigo, o professor, a polícia, os presidentes. Por isso parece tão difícil cobrar de quem comete crimes nesse país e colocá-los na cadeia. Por isso é fácil ficar quieto quando um deputado diz que não importa não terem conseguido o aumento/roubo que queriam; agora eles vão querer equiparação com os senadores: querem um carro igual, dado pelo povo. Tranqüilo, o povo nos deve, não há de reclamar, devem estar pensando.

Mais uma hilária da nossa índole de devedores: recentemente a Polícia Federal entrou na casa do dono do Banco Santos, tadinho, e apreendeu algo em torno de R$20 milhões em obras de arte no pequeno casebre do Morumbi. Não vou nem analisar como alguém consegue ter uma mansão de 8 mil metros quadradros (casa mais terreno), avaliada em R$40 milhões, mais R$20 milhões em obras de arte, TRABALHANDO!

O que importa é que, na aparente impossibilidade de levar para outro local as obras arroladas, PASMEM!, o próprio dono foi designado como FIEL DEPOSITÁRIO.

Hoje é um dia especial, inicia-se a história de um país chamado "devo, não nego. Pago quando puder!"

terça-feira, março 08, 2005

Palavrão!

Pois é,

Na mesma linha de um post anterior sobre palavrões, recibi este mail sobre os usos e significados de uma grande palavrinha do português:

"A palavra mais rica da língua Portuguesa é a palavra MERDA.
Esta versátil palavra pode mesmo ser considerada um curinga da língua portuguesa.

Exemplos:

1) Como indicação geográfica 1:
- Onde fica essa MERDA?

2) Como indicação geográfica 2:
- Vá a MERDA!

3) Como indicação geográfica 3:
- Vou embora dessa MERDA.

4) Como substantivo qualificativo:
- Você é um MERDA!

5) Como auxiliar quantitativo:
- Trabalho pra caramba e não ganho MERDA nenhuma!

6) Como indicador de especialização profissional:
- Ele só faz MERDA.

7) Como indicativo de MBA:
- Ele faz muita MERDA.

8) Como sinônimo de covarde:
- Seu MERDA!

9) Como questionamento dirigido:
- Fez MERDA, né?

10) Como indicador visual:
- Não enxerga MERDA nenhuma!!!

11) Como elemento de indicação do caminho a ser percorrido:
- Porque você não vai a MERDA?

12) Como especulação de conhecimento e surpresa:
- Que MERDA é essa?

13) Como constatação da situação financeira de um indivíduo:
- Ele está na MERDA...

14) Como indicador de ressentimento natalino:
- Não ganhei MERDA nenhuma de presente!

15) Como indicador de admiração:
- Puta MERDA!

16) Como indicador de rejeição:
- Puta MERDA!

17) Como indicador de espécie:
- O que esse MERDA pensa que é?

18) Como indicador de continuidade:
- Na mesma MERDA de sempre.

19) Como indicador de desordem:
- Está tudo uma MERDA!

20) Como constatação científica dos resultados da alquimia:
- Tudo o que ele toca vira MERDA!

21) Como resultado aplicativo:
- Deu MERDA.

22) Como indicador de performance esportiva:
- O Grêmio e o Colorado não tão jogando MERDA nenhuma!!!

23) Como constatação negativa:
- Que MERDA!

24) Como classificação literária:
- Êta textinho de MERDA!!!

Esta mensagem foi verificada pelo sistema de antivírus e acredita-se estar 'livre
de perigo de dar MERDA'
."

segunda-feira, março 07, 2005

Segunda-feira!

Pois é,

De um bons anos pra cá deixei de desgostar da segunda-feira. A fórmula? Não ver televisão no domingo. Fazer qualquer coisa menos ficar aplastado na frente da TV. A melhor maneira de começar uma segunda-feira é lembrar que o domingo foi cheio e curtir a expectativa do próximo domingo. Nem quando estava sozinho e sem carro. Porto Alegre é demais, como diz o título da música do Prefeito.

Pega o T2, em qualquer ponto, e vai até o fim da linha e depois volta. O T4? A volta é uma viagem fantástica. Saia lá da Termolar e serpenteie por lugares pelos quais nunca dantes navegaste. É algo demais. Para maiores emoções basta pegar o Tinga lá no Centro e parar no destino final. Conselho: não saia do ônibus e vá com uma roupa simples. A carteira de identidade e duas fichas de ônibus. Só.

Experimenta o T8. Experimenta! Experimenta!

Ah, o T6. Impagável. Vá até o fim. Lá no Parque dos Maias. Desça e caminhe. Parece uma cidadezinha do interior. Aproveite que está por essas bandas, se estiver de carro, e dê uma volta por Alvorada. Mas não fique só na rua principal. Entra à esquerda e depois vire à direita, siga reto e dobre. Pode se perder. É só perguntar onde fica a faixa que logo estás de volta. Um cuidado apenas: existem duas "faixas": a que vai dar na Baltazar e a Estrada do Trabalhador. Que, como o nome diz, dá mais trabalho pra chegar em Porto Alegre. Se anda não conhece a Manoel Elias tá na hora. Se estiver voltando pela Baltazar, faz o contorno à esquerda e vai embora. Ela acaba na Protásio. Aí não tem erro. Aproveita e dá uma passadinha na Vila Cefer II, ali na descida da Antônio de Carvalho.

Outro passeio espumante é pegar pros lados de Belém Velho. Dois domingos de aventura e turismo garantidos. Um, quando se vai pela Vilha Velha (Vicente Monteggia); no outro, vai-se pela Glória (Oscar Pereira). Não deixe de visitar uma igreja (santuário) que tem em cima do morrro (não lembro o nome). Tem até uma estrada que se chama Estrada Afonso. Lami. Vai de ônibus. Senta num daqueles botecos na beira da praia e fica vendo aquele povaréu tomando banho. Depois vai a Torres e me diz qual é a diferença. Tirando o mar, é claro!

Perca-se pelo Aberta dos Morros e Hípica. Tente passar além da Vila do Sargento. Se conseguir chegar ao topo do morro sem se cagar de medo das caras que os nativos irão fazer, garanto que a vista é maravilhosa.

Tá de carro? Pega a BR116 e depois a RS118 (ali perto de Sapucaia) e vai até Viamão. Passa por Cachoeirinha, cruza com a RS20 (Taquara), Gravataí e Alvorada antes de chegar em Viamão. Aliás, o trecho entre Alvorada e Viamão é lindo.

Já conhece a Igreja de Viamão? Não?!!! Pois dizem que foi da torre do sino que sugiu o nome da cidade. E é verdade. Dá pra ver os cinco rios que formam o Lago Guaíba (chique, agora é lago). Tá fazendo o que em casa vendo televisão a esses horas de um domingo ensolarado?

Experimenta sair do Bric e do Parcão uma vez ao menos na vida. Garanto que a segunda-feira será o segundo melhor dia da semana. O pôr-do-sol já tá manjado...

Sai das retas e entra nas pequenas ruas curvas da verdadeira Porto Alegre. Nunca mais a segunda-feira será a mesma.

Tenta descobrir e sentir por ti mesmo o que levou gente como Mário Quintana, Fogaça e o Bicca (e tantos outros) a escreverem e descreverem Porto Alegre.

"Há muito tempo que ando
Nas ruas de um Porto
não muito Alegre
E que no entanto"


me causa espanto...

... de ver tanta gente reclamando da segunda-feira...