CLARISSA
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sábado, abril 30, 2005

Código do Chato, Comentado.

Pois é,

O CHATO, no uso das atribuições que lhe confere a milloriana frase "livre pensar é só pensar", RESOLVE:

Art. 1º - A ninguém é dado escusar-se alegando o desconhecimento desse código.

Comentários.

Vale, aqui, a regra geral prevista na lei. Mesmo que o post vá, um dia, para o arquivo, azar de quem não leu. Não poderá reclamar nos comentários. Até pode, que isso aqui é livre, mas será solenemente ignorado. E depois não reclame.

Art. 2º - Não existem generalizações.

Parágrafo único. Toda expressão de idéias que induza ao leitor a pensar que ali está contida uma generalização, não é uma generalização.

Comentários.

Vamos parar com esse negócio de que toda vez que alguém escreve algo sempre ter que avisar que "não estou generalizando". Sempre, mas sempre mesmo, existem exceções. Não existem generalizações. Gente que afirma "tu estás generalizando" nada mais é do que uma pessoa que "vestiu a carapuça" e tenta se defender alegando generalização. Quem lê e não se enquadra no que está sendo dito, sabe bem que não se trata de uma generalização. O resto que procure um professor de português, um psicólogo e vá se alimentar direito. Pode ser que consiga suprir a carência que atrofiou o cérebro e não o deixa ver que generalizações não existem.

Art. 3º - Clichês são clichês, nada mais que isso.

Parágrafo único. O uso eventual de clichês, nesse blog, não representa ofensa a quem quer que seja.

Comentários.

Exemplo. Quando alguém diz que "toda loira é burra", isso é um clichê e serve apenas como tal. Não significa que realmente toda pessoa que tenha uma cobertura loira na cabeça - e seja do sexo feminino - seja realmente burra. Aplica-se, ao caso, a regra do art. 2º.

Art. 4º - Toda afirmação feita nesse blog pressupõe que:

I - o Chato teve a idéia antes;

II - o Chato está produzindo uma idéia que é fruto, resultado, de um conjunto de milhares de leituras e experiências realizadas ao longo da sua vida;

III - o Chato está citando alguém.

§ 1º - Para os raros casos do inciso I, o Chato libera qualquer pessoa para fazer o uso que bem entender sem que seja necessário citar a fonte;

§ 2º - Para os casos previstos no inciso II, o Chato dispensa-se de ficar elencando os fundamentos teóricos do seu pensamento;

§ 3º - Para os casos previstos no inciso III, o Chato previamente desculpa-se por eventuais faltas. Nessas situações, fica o autor da idéia obrigado a fazer um comentário assumindo a autoria. Caso não o faça, entende-se tácita a concordância da citação sem a fonte. O Chato compromete-se, logo que for notificado da falha, a corrigí-la.

Comentários.

O Chato não acredita em "ser original". Ninguém é original. De original só tivemos a criação do mundo. Daí pra frente só vale a lavoisiana frase "na natureza nada se cria, nada se perde; tudo se transforma". O Chato também acredita que a única desgraça do ser humano é a propriedade. A alegoria bíblica da queda do paraíso, por terem comido da "Árvore do Conhecimento" é pura balela. Adão e Eva tentaram passar uma rasteira, puxar o tapete do criador para serem "donos" do paraíso. Daí que a segunda coisa criada no mundo (a primeira foram eles) foi a propriedade (e sua irmã, a posse, que, no fundo, é a mesma coisa. Por favor, sem discussões jurídicas). Depois disso só deu m...

Por essas e outras tantas razões é que o Chato não se utiliza de licenças de sites estangeiros e nem se preocupa em colocar avisos dizendo que ninguém pode copiar o que aqui está escrito. Primeiro, porque é só o que lhe faltava, com tanta coisa boa para fazer na vida; segundo, porque não é dono de nada: se nem das besteiras que escreve, o que dirá de alguma grande contribuição que possa dar para alguém que tenha lido algo que escreveu. Há de morrer, como todos, e as idéias continuam por aí. Qual a diferença entre ser de domínio (olha a palavrinha) público daqui a 50 anos ou agora? Absolutamente nenhuma, a não ser a propriedade, que pode render uns trocos pra quem acha isso mais importante que a própria produção de conhecimento. O Chato não leva nada para o outro mundo, se é que existe. E tenta educar as filhas (sim, uma já na barriga da mãe) para que se virem "aqui e agora por si mesmas. Não fiquem esperando pelo Chato para viverem depois de adultas".

Por outro lado, o Chato incorpora ao seu conjunto de conhecimentos o post escrito por Lucia Carvalho no seu blog frankamente: Embeiçamento teórico:


"Como teve a coragem de falar alguma coisa? É essa a semente da rolha que passa a tapar as nossas bocas adultas. Passamos a acreditar que sem embasamento teórico nada pode ser dito. A nossa intuição vai para a cucuia, que diabo de intuição é essa sem embasamento nenhum? Assim nos calamos. Melhor não falar nada."


Se é que pode ter valor algum uma recomendação do Chato, ele recomenda que leiam na íntegra o post.

Por fim, isso é um blog e não uma dissertação. A César o que é de César. Sem essa de ABNT por aqui. Sempre que pode, o Chato procura citar as fontes, mas ainda é humano e sujeito a erros e esquecimentos.

Art. 5º - O Chato é generalista.

§ 1º - O Chato, embora generalista, respeita os especialistas.

§ 2º - A manifestação dos especialistas, quando em contrário a alguma idéia aqui expressada, será devidamente considerada como acréscimo aos conhecimentos generalistas do Chato.

§ 3º - A todos, e em especial aos especialistas, em conformidade com o § 2º do artigo anterior, fica dispensada a fundamentação teórica das suas manifestações nos comentários realizados.

Comentários.

O Chato respeita quem dedica a vida a determinado assunto. Que seja feliz. Com toda certeza sabe mais do que o Chato sobre o tema. O que não impede que o Chato tenha suas opiniões e que possa expressá-las. Exemplo: quando o Chato diz que "o homem é mau por natureza", não adianta contrapor com toda uma teoria ontológica e citar quinhentos filósofos que já "determinaram" que isso não é verdade (ver art. 7º). Problema deles, assim como é problema do Chato.

O Chato já foi, por exemplo, especialista em estrelas. E daí? E daí que o Chato descobriu que ia morrer especialista em estrelas. Só! Bastava apontar para o céu que o Chato dizia a idade da estrela e sua composição química. E daí? E daí, que descobriu que a vida e a Terra são muito grandes para ser um especialista. Com muito orgulho prefere conhecer um pouco de tudo do que tudo de um pouco! Respeita, no entanto, quem prefere ser especialista.

Agora, outra coisa é mostrar ao Chato que existem outras "visões de mundo". Será lido com o maior prazer e incorporado ao conhecimento. Mas é só isso. O Chato não entra em discussões.

E muito importante salientar: o Chato não quer ser melhor do que ninguém seja lá em que ramo do conhecimento for. Até mesmo naquele que se considera um especialista (???): serviço público (vejam que até hoje nunca escreveu sobre isso).

Art. 6º - O Chato:

I- lê muito, mas não vai ficar fazendo listas de livros preferidos e nem análises literárias. Entende que para isso existem os especialistas;

II- vê filmes meramente como diversão e não vai ficar fazendo listas de filmes preferidos e análises. Entende que para isso existem os especialistas;

III - tem 850 LP's e mais de 300 CD's, mas não vai ficar fazendo listas de músicas e estilos preferidos e análises. Entende que para isso existem os especialistas;

IV - gosta muito de pintura e até pinta nas horas vagas, mas não vai ficar fazendo listas de pintores prediletos e análises. Entende que para isso existem os especialistas.

V - detesta e raramente vê televisão. Por isso não vai ficar fazendo análises de programas, seriados e novelas.

VI - se tivesse coragem jogaria várias bombas:

a) na CRT1;
b) na Globo e suas congêneres;
c) na RBS e suas congêneres;
d) no jornal Zero Hora e seus congêneres, país e mundo afora;
e) em gente que acredita em Papai Noel, Coelhinho da Páscoa e em homem quando diz que nunca traiu a mulher (atentar, nesse caso, ao disposto no art. 2º);
f) em todas as Câmaras, Assembléias Legislativas e no Congresso Nacional;
g) em todas as Igrejas, Sinagogas, Templos e Mesquitas;
h) VETADO. (vide razões do veto nos comentários)

Comentários.

Embora não goste de fazer, o Chato entende ser da maior importância a divulgação de opiniões/análises pessoais e as recomendações feitas pelas pessoas. Muito o Chato já incorporou ao seu conhecimento por recomendações feitas em blogs. Tanto de pessoas tidas como especialistas, quanto daquelas que apenas dizem "gostei".

A relação da alínea "g" é do tipo numerus clausus, isto é, exaustiva.

Razões do veto à alínea "h": A expressão "no chiqueiro da Pe. Cacique" não é unívoca. Sabemos que diversas instituições situam-se na conhecida avenida de Porto Alegre. A qual delas estaria se referindo a alínea? Ao Asilo de Mendicidade Padre Cacique? Ao depósito de adolescentes que costumam chamar de FEBEM? Ao estádio do time de futebol Internacional? Como a referência poderia induzir, erroneamente, aos dois primeiros citados, e não, como de fato é, ao terceiro, entende-se, por bem, vetar o dispositivo. O Chato reserva-se o direito, no entanto, de jogar a bomba.

Art. 7º - Não existe verdade.

Comentários.

Bobinho(a)s. "Hããããmmm, mas Chato, o que dizes parece que dizes como sendo uma verdade". Tá, vamos sair do primário, certo? (Putz, no tempo do Chato chamava-se primário. Hoje, de tanto mudar, o Chato já nem sabe mais como se chama!). Só existe um fato: a vida. O resto é babaquice! Foi escrito "um fato" e não "uma verdade". A vida não é uma verdade, é apenas um fato.

E mais: dizer que não existe verdade é o mesmo que dizer que existem tantas verdades quantas forem as pessoas vivas no mundo. O resto é filosofia: não enche barriga de ninguém, a não ser a do autor da filosofia, se conseguir vender os livros, e do monte de egos que andam soltos por aí.

Art. 8º - O Chato não vai fazer um decálogo.

Comentários.

O Chato sabe que existem outros sistemas numéricos, com bases diferentes da decimal, em uso: o binário, o hexadecimal, a dúzia, o octal e o escambau. Por que sempre fazem decálogos? O Chato não entende a razão das pessoas imitarem Deus.

Art. 9º - O Chato reserva-se o direito de alterar esse código a qualquer momento sem prévio aviso.

Art. 10 - VETADO.

Razões do veto.

A existência de um décimo artigo caracterizaria um decálogo e, conforme o disposto no artigo 8º, o Chato disse que não faria decálogos.

RPI.

Em Porto Alegre, aos 30 dias do mês de abril de 2005.

D. Afonso XX, o Chato.

1 CRT é o antigo nome da companhia telefônica que, segundo eles pensam, atende ao RS.

sexta-feira, abril 29, 2005

Exercício

Pois é,

Faz um exercício, vai. É simples: deita e fecha os olhos. Aos poucos vai entrando dentro de ti. Vai indo até chegar na casinha dela. Entra e senta. Se tiveres alguma dificuldade, lembra das imagens da eco. Lembra da mãozinha espalmada que ela nos mostrou. Põe teus dedos entre os dedos dela e aperta com todo carinho. Sente, mas não como sentes aqui de fora, quando ela se mexe. Coloca ela no teu colo. Passa o dedo no narizinho. Lembra do perfilzinho que vimos? Pois é, passa a mão no rostinho dela. Faz carinho; aperta; faz cosquinhas; beija. Brinca com ela, conversa. Parecia, na eco, que ela estava apertadinha ali, né? Pergunta se ela está confortável, então. Conta pra ela como é o quarto que a espera e os presentinhos que já ganhou. Coloca o teu ouvido no coraçãozinho e escuta as batidas. Sente, mas sente aí dentro. É possível até que ela abra os olhinhos para te ver. Aí, olha bem pra ela, deixa que ela te veja feliz. Veja que é um ser humano e não uma menina ou um menino. O sexo não importa; o que importa é que estás aí, sentada, com o teu sonho realizado no colo. Conta pra ela como é o mundo. Não o nosso, mas o que imaginamos possa ser o mundo dela. Sonha junto com ela.

Faz esse pequeno exercício a qualquer hora e em qualquer lugar. Não te preocupes com as pessoas em tua volta. Elas verão, no máximo, um piscar dos teus olhos. Mas esse rápido piscar, pra vocês aí dentro, será tempo suficiente pra tudo o que vocês quiserem fazer aí dentro. E aproveita pra dizer a ela o nome que escolhemos. Pergunta se ela gostou. Diz: Clarissa, minha filha. E vê como ela se sente.

Entra e senta ao lado dela. Pergunta o deves aprender com ela e depois canta uma musiquinha de ninar para ela dormir. E se estiveres em casa, dorme junto com ela.

Faz o que eu não posso fazer.

quinta-feira, abril 28, 2005

Amenidades

Pois é,

Depois de alguns dias com temas amenos, continuo na linha das amenidades. Faz-se até necessário, pois devo enfrentar o tema do "ser líquido".

Interessante como os orientadores conseguem enfiar um monte de dúvidas na cabeça da gente. Na hora de elaborar o projeto é tudo maravilhoso. Depois? Bom, depois elas, ou eles, mostram ao que vieram. Hoje tive um encontro com a minha orientadora, lá no pós (especialização). Começou a conversa com um "não parei de pensar nessa tua idéia, Afonso. Quem sabe tu não fazes assim, ou assado, ou patati, patatá e etc e tal?"; e eu ali sentindo o chão desaparecer.

- Percebes, Afonso, que quando elaborares o "mapa" as possibilidades que terás serão muito maiores do que essa que colocaste no projeto?
- Sei, sei. Mas não esquece que é só uma monografia. Não é uma dissertação e muito menos uma tese.
- Pois é isso mesmo! Já pensaste em fazer um mestrado depois? Daí que podes fazer essa monografia como se fosse um projeto para o mestrado.
- Mestrado? (tinha jurado pra mim mesmo que nunca mais voltaria a uma universidade)
- É, mestrado. A gente pega essa parte aqui, ó, e deixa para desenvolver no mestrado. (dito de uma forma incisiva, com quem diz: é pegar ou largar!) Não te preocupa que a parte da tabulação da pesquisa a gente faz pra ti. O pessoal daqui gosta de fazer isso; e isso eu consigo pra ti e tem esse livro que eu te empresto... (ofertas e mais ofertas de facilidades irresistíveis).

Acho que vou mandar um mail pra ela, começando com um "não parei de pensar nessa tua idéia, Tânia".

quarta-feira, abril 27, 2005

Premissa

Pois é,

É importante um esclarecimento que, propositadamente, deixei passar: a premissa que fundamenta tudo isso. Antes de descrever o líquido, no entanto, é necessário explicitá-la. Mesmo porque, pode ser má interpretada. Outro aviso: esse post não é um tratado de filosofia.

Já tratei dela por aqui, mesmo que superficialmente: o homem é mau por natureza. E por maldade entenda-se a potência para o agir primariamente destrutivo do homem. Se deixado no “estado de natureza”, o homem destrói a tudo e a todos. Teve e tem a oportunidade de construir com a natureza, mas a destrói constantemente. Há a corrente que defende o contrário, que o homem é bom por natureza. Respeito. Até porque são filósofos consagrados pela humanidade.

Algumas construções do homem objetivam colocar limites e estabelecer sanções para esse comportamento destrutivo. As religiões, a moral, o direito, a sociedade, o estado, tudo, no fim, serve para punir e conter a maldade do homem. Outras servem para potencializar, aumentar a capacidade destrutiva do homem. Assim a tecnologia, que primeiro mata, para depois ser aplicada com alguma finalidade boa. Alguém tem dúvida com relação a isso? Basta olhar em volta e veremos que o homem age primariamente levado pela maldade, pelo impulso de destruir.

Desnecessário fazer aqui uma lista das ações que justificam a premissa. Há que se olhar, no entanto, com olhos de líquido: sem hipocrisia. E sem generealizações, que não as estou fazendo (existem os líquidos que não se comportam assim, ao menos não sempre).

Olhar para dentro e admitir que, podendo, passamos o sinal vermelho; corremos para chegar na frente dos outros; gastamos duzentos reais com nossos bichinhos de estimação, mas somos incapazes de fazer alguma coisa - bem mais barata - por uma criança de rua e ainda inventamos, hipocritamente, que dar um real para uma criança é fomentar a vagabundagem do pai ou da mãe que pegam o dinheiro para beber - ou, o que é pior, dizemos que é dever do estado e não nosso; somos craques em jogar a culpa no estado. Afinal, pagamos impostos pra quê? Pra quê? Pra livrar nossa consciência da maldade que fazemos, pois hipocritamente esquecemos que estado não existe, que é uma abstração; o que existe são pessoas que trabalham e essas pessoas são más. São más porque colocam o interesse político acima do interesse comum e nós somos maus porque concordamos quando eles dizem que não há dinheiro para resolver o problema de 500 crianças de rua (POA), mas tem para fazer publicidade; tem para empregar seus parentes. Somos maus porque fingimos que não somos o estado.

Somos maus quando inventamos um Direito que diz que ao Judiciário não cabe interferir nas decisões do Executivo e, com base nisso, uma desembargadora lava as mãos dizendo que faz parte da discricionariedade da decisão administrativa não aplicar as verbas para construir abrigos para as crianças de rua. Querem mais maldade do que justificar a miséria com teorias jurídicas? (o caso é verídico). Lindo, mas as crianças continuam na rua. E ela e os políticos? Continuam faturando alto!!!

Já se fizeram a pergunta: porque, com milhares de ONG's, governos, iniciativas individuais e o escambau, a miséria ainda existe? É simples. É porque queremos apenas livrar nossa consciência.

Sou "sócio titular" de uma fundação que cuida de crianças. Recebi o balanço anual e dei uma olhada: nada menos que 70% da receita é gasta com pessoal. Ah, claro! A estrutura é importante. Paga-se um bom salário para alguém ajudar a manter uma criança na miséria, só que com mais educação e um pouco mais de comida. Mais tarde essa criança terá condições de "se virar" na vida; é o que dizem e depois dormem tranqüilos, pois o seu está garantido. Hipocrisia; maldade inerente ao ser humano. Descobri que ajudo um FDP a dormir tranqüilo e não crianças. Mas eu também durmo tranqüilo, fiz a minha parte.

Tá, deixa assim. Não preciso demonstrar que o homem é mau. Gostaria é que alguém me demonstrasse que o homem é bom. Mas por favor, sem filosofias e sem hipocrisia. A cada coisa boa que me apontarem, mostro outras cem que são más.

Repito só para não dar confusão: não estou generalizando o comportamento. Há pessoas que, como disse, conseguem equilibrar a natureza má com ações boas. E até superar.

É por essa razão que a “evolução” da humanidade dá-se sempre no sentido de superação dessa condição de maldade. Admitir que a natureza do homem seja má não impede que admitamos que seu agir possa ser bom, isto é, não destrutivo, pois significa o impulso em busca de se livrar dessa condição de mau. Não há porque confundir as duas coisas.

Isso é importante: há uma diferença entre a natureza má do homem e seu agir para o bem. É o que diferencia os sólidos e gasosos dos líquidos. É o que vai explicar o que chamo de equilíbrio, o saber transitar entre os três estados da vida.

É o que se segue.

Convite

Pois é,

"Ahaha. Eu discordo absolutamente de tudo. :D E, exatamente por isso, nem vou perder tempo aqui e sugiro que o debate seja em frente a algumas garrafas de cerveja". Gejfin, in Comentários ao post anterior.

D. Afonso XX, o Chato, foi gentilmente convidado para um debate etílico. Confesso que já esperava alguma discordância - afinal, devo lembrar-me de que já trouxeram a democracia de volta para esse país -, mas não um rotundo "discordo absolutamente de tudo".

Imediatamente pedi para a Kaya passar a minha armadura e dar uma polida na espada, que já andava meio enferrujada (fiquei bonito assim, né?). Sem esquecer, é claro, de passar na farmácia e reabastecer de Engov.

Escolhe as armas, ooops, a cerveja. Desde que seja SKOL, por mim pode ser qualquer uma. E não esqueça as testemunhas. Alguém deverá explicar para a Clarissa porque ela nasceu sem pai.

Ah! Muito importante: o campo. Deve ser próximo a alguma moita, pois é impossível uma luta dessas sem visitá-la com alguma freqüência.

gravura de: http://www.cahetmel.cjb.net/

segunda-feira, abril 25, 2005

III. Gasoso

Pois é,

Este é o terceiro post de uma série de seis:

I - Feira da Fruição, uma introdução.
II - Sólido, onde se explica o que são pessoas sólidas.
III - Gasoso, onde se explica o que são pessoas gasosas.
IV - Líquido, onde se explica o que são pessoas líquidas.
V - Equilíbrio, onde se explica como é possível ser equilibrado fluindo pelos três estados.
VI - Plasma, a morte.

Rola a tela e dá uma lida nos dois primeiros. Ajude um sólido/gasoso a tornar-se um líquido equilibrado, antes que vire plasma.

Ao contrário dos sólidos, o estado gasoso caracteriza-se por ter uma energia cinética maior que a energia potencial. É, também, um estado de desequilíbrio energético. Um gás expande-se num quase puro e incontrolável movimento, só parando se o colocarmos sob pressão em algum recipiente. E é isso que faz desse estado algo ruim, se aplicado como tipologia de ser humano.

Gasosos são aquelas pessoas que ocupam todo o espaço disponível, inclusive aquele que não é seu. Expandem-se sufocando os demais. As pessoas possessivas são gasosas. Tudo tem que ser delas. Os narcisistas são gasosos; os ciumentos também. Se o não é o símbolo do sólido, o dinheiro é o símbolo do estado gasoso. Tudo o dinheiro compra e quem tem dinheiro pensa que pode ter tudo, até as pessoas. Convenhamos, no entanto, que a pior espécie de gasoso é o gasoso pobre. Há uma espécie correlata, que é o gasoso novo rico: sonegou impostos ou superfaturou alguma obra pública (gasoso, dígno do nome, sabe bem que trabalhando ninguém fica rico). Anda sempre com um carro último ano (preferencialmente importado), mas está sendo processado porque não pagou as prestações (ou pior, entrou na Justiça questionando os juros e aí parou de pagar. Mas anda todo posudo nas ruas e vai à missa se confessar).

Gasosos são os jornalistas e os ligados aos meios de comunicação que pensam ser donos da verdade. Nem todos, é claro, mas parece ser um pré-requisito para ingresso em qualquer meio de comunicação de massa, a propriedade de ser gasoso. Dá um espaço no jornal, na televisão ou no rádio e pronto: qualquer idiota vira dono da verdade, se expande.

Gasosos gostam de vitrines. De preferência que eles estejam por trás, à vista dos demais. Gasosos são imperialistas por natureza, desde Alexandre até o Bush, além de todos os severinos soltos por aí. As guerras, apesar dos efeitos sólidos que deixam, são feitas por gasosos, que precisam se expandir. O capitalismo é gasoso; e a economia, ciência criada e desenvolvida para dar-lhe suporte e que justifica a miséria com base na escassez dos recursos, só pode ser gasosa.

Já comentei antes, que os relacionamentos acabam, via de regra, porque uma das pessoas é gasosa. Literalmente ocupa todo o espaço, anulando a outra. Homens, em relacionamentos, pelo geral são gasosos. Não que mulheres também não possam ser, mas ainda há uma predominância masculina nesse aspecto. A humanidade é gasosa. Está destruindo a natureza com sua expansão.

A inveja é gasosa. Os pecados capitais foram inventados para conter os gasosos. A Igreja Católica foi e ainda é gasosa (tem um padre aqui perto de casa que resolveu colocar um alto-falante na torre da Igreja. Resultado: tenho que ouvir a missa dele dentro da minha casa), apesar de se utilizar da fé e dos dogmas, que são sólidos, com arma de expansão. Importante notar que os gasosos sempre se utilizam de meios sólidos (armas, físicas ou psicológicas, são sólidas) para atingir seus objetivos. Os gasosos precisam do potencial destrutivo dos sólidos. Onde há um gasoso há um sólido por perto, e vice-versa. Nas organizações, ao lado do poder (sólido) sempre há um puxa-saco (gasoso).

Gasosos são pessoas, como esse padre, que ignoram que as demais têm seus direitos e que eles devem ser respeitados. Invadem todos os espaços como se somente eles existissem no mundo. Gasosos são fundamentalistas de qualquer espécie.

É por isso que viver muito tempo com pessoas gasosas nos desequilibra, pois, além de gastamos nossa energia com eles, eles nos roubam a que resta.

Gasosos são suicidas. Expandem-se tanto que acabam perdendo a identidade. Aí se matam. Literalmente ou figurativamente, como diz o verso "quem passou a vida em brancas nuvens e não viveu...". Esses são os gasosos: não vivem.

Quem faliu primeiro?

Pois é,

Quem faliu primeiro?

a) O homem
b) A humanidade
c) A sociedade
d) O estado
e) Não há falência, "tudo está no seu lugar, graças a Deus".

domingo, abril 24, 2005

II. Sólidos

Pois é,

Este post é continuação do anterior.

O que é um sólido? Sólido é o estado da matéria que possui, grosso modo, pouca energia cinética (energia associada ao movimento). Os átomos de um sólido estão presos a estruturas (vide as pontes de hidrogênio da água) que não permitem, ou quase não permitem, o movimento. Se colocarmos a energia potencial (estática) ao lado da energia cinética (movimento), os sólidos caracterizam-se por possuir uma energia potencial maior que a energia cinética. Desequilíbrio energético. Os sólidos também se caracterizam por um volume e forma definidos e, via de regra, são resistentes à deformações.

Isso já nos diz tudo. Sólidos não são associados a movimento. Sólidos nos dão a idéia de estática. Uma estátua é sólida. Aos sólidos é mais fácil associar a idéia de massa, e massa, sob a ação da gravidade, vira peso. “Fulano é um pesado!”, não é o que se diz de alguém chato? (não como eu, claro). De alguém que não se move, que finca pé nas suas posições sem sequer admitir pensar em outras?

Sólidas são as pessoas que não conseguem “enxergar um palmo adiante do nariz!”. Claro, não conseguem se movimentar além desse palmo. Sólidas são as pessoas que têm fé, pois a fé é estática. A fé pressupõe dogmas e dogmas são contrários ao movimento. Os depressivos são sólidos, pois detestam movimento.

Nas organizações os sólidos são aquelas pessoas que sempre estão contra tudo, que acham que nada vai dar certo; que se opõem às propostas de mudanças. Sólidos adoram o poder e a hierarquia, pois são conceitos sinônimos de estática, de rigidez. Vivem em função disso. E são os piores tipos de sólidos nas organizações, pois ficam controlando todo mundo, verificando se não há gente se movimentando sem que eles saibam. Sólidos organizacionais são chefes que se preocupam com horário e não com a qualidade do trabalho. O trabalho acima do trabalhador.

A palavra não é a palavra sólida por excelência. É com ela que transformamos as crianças em seres sólidos: não faça isso, não faça aquilo; não pode isso, não pode aquilo. Pelo não impedimos o movimento, direcionamos as pessoas para o estático, para a rigidez, para serem sólidas.

A miséria do mundo deriva dos não’s ditos pelos sólidos: não é problema meu; não tenho culpa por isso; não ajudo. Apesar de palavras com a mesma origem, os sólidos não são solidários, pois ser solidário implica em movimentar-se em direção ao outro, coisa que os sólidos detestam.

Sólidos vivem no passado: “aprendi assim com minha mãe, que aprendeu com minha avó...”; “no meu tempo era melhor” e tantas outras expressões que vivemos escutando por aí. Sólidos são críticos. Criticam tudo, pois nada está de acordo com a sua rigidez. Sólidos adoram os pré-conceitos com os quais foram educados. Sólidos são contra; contra tudo que signifique o novo, o movimento.

A educação torna as pessoas sólidas e isso é o pior de tudo (vide Rubem Alves no post anterior). Depois de formados os sólidos, precisamos de muita força e energia para tirá-los dessa condição. Os sólidos nos fazem despender uma energia que bem poderia estar sendo aplicada em outras coisas. Os sólidos nos roubam essa energia. É por isso que viver muito tempo com pessoas sólidas nos desequilibra, pois gastamos nossa energia com eles.

Sólidos são hipertensos e morrem do coração.

sexta-feira, abril 22, 2005

I. Feira da Fruição

Pois é,

Não sei se faço bem em expandir um assunto, uma idéia que não é minha. Posso até estar atrapalhando sua gestação. Se esse for o caso, que me perdoe o Gejfin pela intromissão indevida. Caso contrário, receba estes últimos posts como um singela colaboração, com a garantia de que sempre assumirei que a idéia não foi minha e sim dele. (a bem da verdade, não sei o quanto o Tiagón está envolvido no nascimento da idéia. Sei que a Aninha debate o tema com o Gejfin. Por uma questão de economia, citarei apenas o Gejfin como autor. Sintam-se, no entanto, todos citados).

A Luma gentilmente nos aponta um texto do Rubem Alves, "Rubem Alves entrevista Marx numa Cervejaria", onde se lê:


"E em qual escola se gasta tempo na educação dos sentidos? Bobagem. Isso é coisa da " Feira da Fruição" - não circula no sistema. O que importa é a " Feira das Utilidades" - seus saberes úteis, transformáveis em mercadoria, passíveis de circular no mercado de trabalho. Por que gastar tempo no desenvolvimento das inúteis potencialidades do ser, na educação dos sentidos para os prazeres inúteis, insignificante do ponto de vista econômico, se os corpos podem ser transformados em unidades de produção. O que é um profissional? É um corpo, outrora portador de sentidos, que se transformou em ferramenta, utilidade. ' Quanto menos você for, mais você terá...'".

E,


"Esse jogo perverso nos tornou ' tão estúpidos e parciais que somente consideramos nosso um objeto quando o possuimos, quando ele é utilizado de alguma forma. Assim, todos os sentidos físicos e espirituais são substituidos pela simples alienação de todos esses sentidos, ou seja, pelo sentido da posse(...) Quanto menos você comer, beber, comprar livros, for ao teatro, aos bailes, às boates, quanto menos você pensar, amar, teorizar, cantar, pintar, tanto mais você será capaz de economizar e tanto maior será o seu tesouro. Quanto menos você for, tanto mais você terá...'"
É bom ler o texto todo, pois qualquer recorte sempre será subjetivo e poderá servir apenas aos interesses de quem recortou.

Alheio a todos os debates que estão rolando sobre o papa, o grafite, racismo, cotas, vou me dedicar a construir uma trilogia: o sólido, o líquido e o gasoso. Confesso que desde dezembro, quando o Gejfin, primeiro lá na especialização, depois no blog, desejou a todos que 2005 fosse um ano líquido, fiquei com esse negócio na cabeça. De lá pra cá ainda não havia encontrado um mote para tentar desenvolver o assunto e, mesmo, referências que pudessem levar às minhas idéias algo mais que serem somente minhas idéias. Até porque, minhas idéias poderiam ser fruto de alguma noite em que estivesse alcoolizado mais do que o normal. E, nesses casos, é sempre bom rasgar tudo depois.

Foi aí que, tentando ler pela nonagésima vez o sermão da Sexagéssima, do Padre Antonio Vieira (por quê? Ora, porque é famoso e é uma aula de argumentação, de retórica) e tendo desistido pela nonagésima vez (verdade seja dita, apesar de ser uma aula é um saco, mas um dia eu consigo terminar), resolvi folhear o restante do livro (vol I da coleção) e encontro o texto que utilizei no post anterior. Pronto. Aí estava o ponto de partida para tentar construir um pensamento que, no mínimo, pudesse receber esse nome.

Surge aí um outro problema: como começar e desenvolver o tema. Iniciar pelo líquido e exaltá-lo pela posterior contraposição ao sólido e ao gasoso? Iniciar com o sólido e com o gasoso para, então, por exclusão ou indução chegar ao líquido? Será que existe essa oposição ou, como defendeu o Gejfin num comentário ao post anterior, a questão é de evolução e não de oposição?

Incialmente penso que cabe um pequeno esclarecimento, em resposta a alguma provável pergunta do tipo "mas e pra que que serve essa droga toda?" Pois demorei a tratar do assunto exatamente tentando encontrar uma resposta para essa pergunta. E concordo, não é possível sequer pensar nisso sem que se tenha respondido/entendido antes o porquê de se pensar nisso num mundo tão conturbado de papas, grafites, severinos, cotas, etc. Afinal, soa como alienação.

Qual o conceito subjacente às palavras sólido, líquido e gasoso que pode ser utilizado para tentar associá-los a um sentido de evolução do homem?

É o que se segue.

Comentário aos comentários (sugiro a leitura destes antes).

Edu, pensa não num círculo, mas numa espiral tridimensional. Círculos são representações de sólidos (esferas) no plano. Claro que passamos diversas vezes, ao longo da vida, por pontos antes passados, mas numa espiral há sempre a terceira dimensão que os torna diferentes dos anteriores. É bem matemático mesmo: cada ponto de uma espiral tem dois referenciais, eixos x e y, iguais ao anterior; mas tem, também, um referencial no eixo z que é diferente, e é esse referencial que nos leva a evoluir, que leva a espiral a crescer no espaço e no tempo. E leva a que eu vá utilizar, já adiantando um pouco, a figura da espiral como representação do fluir, essência que é do ser líquido. Nossa vida deve ser uma espiral e não um círculo.

quinta-feira, abril 21, 2005

Morrer seis vezes

Pois é,

"Dito foi do grande philosopho Heraclito, allegado e celebrado por Socrates: Non posse quemquam bis in eumdem fluvium descendere: que nenhum homem podia entrar duas vezes em um rio; e porque? Porque quando entrasse a segunda vez, já o rio, que sempre corre e passa, é outro. E d'aqui infiro eu, que o mesmo succedera se não fôsse rio, senão lago ou tanque aquelle em que o homem entrasse; porque ainda que a agua do lago e do tanque não corre, nem se muda, corre porém, e sempre se está mudando o homem, que nunca permanece no mesmo estado: Et nunquam in eodem statu permanet. Assim o disse Job, e quem o não disser assim de todo o homem, e de si mesmo, não se conhece. Admira-se Philo Hebreu, de que perguntando Deus a Adão onde estava: Adam, ubi es? elle não respondesse. Mas logo escusa ao mesmo Adão, e a qualquer outro homem a quem Deus fizesse a mesma pergunta, por que como póde responder onde está, quem não está? Se dissera, estou aqui (como subtilmente argue Santo Agostinho) entre a primeira syllaba e a segunda já o estou não seria estou, nem o aqui seria o mesmo logar; porque como tudo está passando, tudo se teria mudado. Por isso conclue o mesmo Philo, que se Adão houvesse de responder propria e verdadeiramente onde estava, haveria de dizer: nusquam, em nenhuma parte; porque em nenhuma parte está aquillo que nunca está, mas sempre passa: eo quod humana res nunquam in ordem statu maneat.

Considerando este continuo passar do homem (não fóra de si, senão onde verdadeiramente parece que está e permanece, que é dentro de si mesmo) diziam os sábios da Grecia, como refere Eusebio Cesariense, que todo o homem que chega a ser velho, morre seis vezes. E como? Passando da infancia á puericia, morre a infancia; passando da puericia á adolescencia, morre a puericia; passando da adolescencia á juventude, morre a adolescencia; passando da juventude á edade de varão, morre a juventude; passando da edade de varão á velhice, morre a edade de varão; e, finalmente, acabando de viver por tanta continuação e sucessão de morte, com a ultima que só chamamos morte, morre a velhice."

Padre Antonio Vieira, Sermão da Primeira Dominga do Advento. Mantive a redação do original das Obras Completas do Padre Antonio Vieira, Livraria Lello & Irmão editores, PORTO, 1945.

E mesmo assim insistimos em querer que as pessoas não mudem. Acusamos, inclusive, quem muda: "não eras assim quando te conheci!", como se cometessem o maior pecado do mundo. É como disse Job: não nos conhecemos; que dirá conhecer algo que está em constante mutação. E nos arvoramos no direito de dizer "eu te conheço bem, sei como és!".

Talvez o Gejfin e a Aninha tenham razão quando pretendem ser líquidos e não sólidos ou gasosos. Talvez queiram aceitar, primeiro em si mesmos, depois nos outros, a mudança, a fluidez do rio.

Quando crianças, nos perguntam o que queremos ser quando crescermos. A partir daí inicia-se uma cobrança que só irá parar com a última das seis mortes. Educar é colocar limites, dizem os entendidos no assunto. É tornar sólido algo que nasceu líquido. E depois, na "edade de varão", gastamos fortunas buscando retornar ao estado de liquidez. Tudo que que fazemos se reduz a essa busca: trabalho, relacionamentos, amizades, lazer. E em tudo isso nos empurram para o lado sólido da existência. No trabalho temos de nos comportar sempre da mesma maneira; nos relacionamentos devemos ser tão previsíveis quanto um cubo de chumbo que, se solto, certamente irá ao chão; os amigos nos cobram pelo nosso jeito de ser: "fulano é assim, beltrano assado! O Afonso é assim mesmo, não dêem bola!". Definem. E o que é definir senão tornar sólido?

E é dessa tentativa de solidificar o que é líquido que nasce a crítica. Criticamos a tudo e a todos por não se enquadrarem nos rígidos (sólidos) padrões estabelecidos. Criticamos o papa que morreu e o que foi eleito; criticamos o presidente que se foi e o que foi eleito; criticamos a arte, a literatura, a opinião das pessoas, a música, os argentinos, é quase só o que tenho lido por aí: crítica e mais crítica, a tudo e a todos. Rótulos, limites, definições, enquadramentos. Eu não fujo à regra e isso tem me chateado.

E por não fugir à regra, devo me policiar constantemente, pois trabalho com pessoas nas organizações e só o que ouço é "fulano é um incompetente, faz tudo errado", "a culpa foi do betrano" e tantas outras. Por outro lado, uma das coisas mais difíceis do meu trabalho é mostrar para as pessoas que podem mudar, que podem fazer as coisas de forma diferente, sair da zona de conforto (sólido) e arriscar (líquido).

É o que dá feriado numa quinta-feira.



Comentário aos comentários (sugere-se a leitura destes, antes, para uma melhor compreensão)

23:15 - Certos comentários merecem um post.

Não costumo, Luma, utilizar a expressão “crítica construtiva” quando me refiro a alguma análise que seja construtiva para alguém. Na Administração usamos uma expressão que julgo mais adequada: feedback, cuja tradução não poderia ser mais feliz: retroalimentação. Alimentar, isso sim é construir. Quando queremos ajudar alguém a construir devemos dar a ela alimentos, realimentá-la. Crítica tem um significado, para mim é claro, sempre negativo. Segundo a teoria gejfiniana da liquidez (olha a cara de pau: já estou dando interpretações para algo ainda nem bem formulado, hehehehe) criticar significa solidificar; retroalimentar significa liquefazer, pois dá a pessoa a oportunidade de fluir para outra posição, coisa difícil de se fazer quando se é sólido.

E Gejfin, pensei bastante antes de colocar a palavra gasoso junto com sólido. Numa primeira versão, pensei ser muito fácil simplesmente associar o nível de desagregação das moléculas com um sentido de evolução. E sabe por quê? Porque o gasoso me lembra aquelas pessoas que costumam “ocupar todos os espaços disponíveis”, inclusive o espaço dos outros. E isso é ruim. Num relacionamento afetivo, então, nem se fala, deve ser a principal causa dos rompimentos: um sempre ocupa o espaço que deveria ser ocupado por dois. Coisas de gente gasosa (dá uma olhada nesse post do Pras Cabeças, um belo exemplo de ser gasoso). Por essa razão fiz, pensadamente, a oposição. De mais a mais, se pensarmos assim, chegaremos ao plasma e, logo, logo, seremos fantasmas... Mas é uma primeira versão, sujeita a revisões.

quarta-feira, abril 20, 2005

Seria triste, não fosse hilário

Pois é,

Ex-procurador do Estado do Amapá agrediu um Juiz Eleitoral. (aqui). Até aí tudo bem. Sabe-se que o Amapá é, fora as reservas indígenas, quase "terra de ninguém", além, é claro, terra de um senador da república que por lá se elegeu. Portanto, vale a lei do mais forte. Quem bate mais leva a melhor.

Teria sido mais uma briga de dois adolescentes não fosse o juiz ter ingressado com uma ação de indenização material e moral contra o ex-procurador. E aí começa a comédia.

O ex-procurador defendeu-se alegando "ilegitimidade passiva", imputando responsabilidade objetiva ao Estado. Como estaria no exercício de suas funções públicas, foi o Estado quem bateu no juiz, não ele.

Seria triste, não fosse hilário.

Muito inteligentemente, esqueceu-se, o ex-procurador, de mencionar que o juiz, no momento da tunda, também estava em pleno exercício de suas funções públicas, isto é, também era o Estado. Assim, o Estado bateu no Estado.

Seria triste, não fosse hilário.

Por que não fez isso? Porque ensejaria a extinção do processo por confusão entre autor e réu (art. 267,X, CPC). Mas a história continua.

O juiz, por sua vez, parece ter esquecido o mínimo das suas funções: todo aquele que alega em juízo algum fato, deve prová-lo, apresentar provas. Pois não é que não apresentou provas de que tenha sofrido danos materiais que justificassem a indenização pedida? (despesas médico-hospitalares, por exemplo). Não só não levou como ainda teve que pagar o advogado do procurador. Restou ao juiz apenas a indenização pelo dano moral. Mas a história continua.

O ex-procurador deixa mostras de que tenha comprado o diploma de bacharel em Direito: alegou que era procurador eleitoral. Fez prova? Não. Ainda vai levar um processo por ilícito eleitoral, pois o Tribunal enviou a representação para a Justiça Eleitoral. Sifu. Pagou ao juiz, ao advogado do juiz e tomou mais um processo nas costas.

E os advogados? Bom, esses, além da ignorância jurídica (pois deveriam saber que era necessário apresentar provas), levaram uns trocos pro leitinho das crianças. Médicos, quando erram, matam seus pacientes. Advogados, quando cometem erros banais e absurdos como esse, saem impunes e com dinheiro no bolso, pois parece que a OAB, além de corporativista, não age de ofício.

É nas mãos dessa gente que estamos. Quatro bestas do apocalípse jurídico que decidem a vida das pessoas. E nós pagamos a conta para que toda a estrutura de um Tribunal se movimente por causa deles.

É triste.

terça-feira, abril 19, 2005

É...

Pois é,

É ...
M
E
N
I
N
...
...
...
...
...
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!
É A
CLARISSA
QUE VEM
POR AÍ.

Negros, atitude e liberdade

Pois é,

Qual a única e real novidade nesse caso do jogador Grafite? O que aconteceu em campo sempre acontece, seja nos maiores estádios, seja nos campinhos de várzea. Com grandes craques ou com pernas-de-paus que mal sabem chutar uma bola de meia. O racismo também não é novidade e não constitui exclusividade dos argentinos. O clamor e a repercussão do caso também não. Afinal, quase que qualquer coisa, desde que se vislumbre a possibilidade de faturar em cima, é motivo para a imprensa transformar algo cotidiano em grande comoção nacional.

A real novidade do caso foi - na realidade duas novidades - a ATITUDE do Grafite. Isso sim fez a diferença. Quantos e quantos negros escutam por aí expressões como a que ele ouviu e ficam quietos, impassíveis, submissos a uma condição que suas próprias mentes aceitam como natural? Milhares. E quantos Delegados tem a ATITUDE de ouvir e respeitar o cidadão, seja de que cor for? Esse Delegado teve a ATITUDE de ouvir e respeitar o cidadão Grafite e tomar as providências legais. Outra grande novidade. Nada disso seria do conhecimento público não fosse a ATITUDE desses dois.

E o que fez Grafite ter essa atitude? O saber-se dígno enquanto ser humano que é. E dignidade é liberdade. Essa é a dignidade da pessoa humana escrita lá na Constituição. Dignidade que presupõe a liberdade de sentir e pensar e, principalmente, de agir, de ter ATITUDE.

Quando a liberdade e a dignidade se juntam com a atitude, acontece o que aconteceu. E não precisa ser negro para isso.

segunda-feira, abril 18, 2005

Censura, responsabilidade e liberdade

Pois é,

Desde sempre a imprensa, propositadamente, confunde (e tenta confundir as pessoas) os conceitos de censura e responsabilidade. Desenvolveram até o conceito de "censura prévia" para, assim, poderem utilizar o conceito de censura após o fato ocorrido (publicação de alguma matéria ou programa de televisão). E, a cada vez que algo - APÓS SUA VEICULAÇÃO - é mandado legalmente ser retirado do ar ou recolhido das bancas, saem aos berros alegando que existe censura no Brasil e que estariam violando o sagrado direito de liberdade de expressão dos veículos de comunicação.

O simples fato de terem publicado ou veiculado já significa a existência de liberdade. O que foi dito, foi dito; o que foi mostrado, foi mostrado. A liberdade foi exercida. O que acontece depois é responder pela responsabilidade do fato e não censura. Claro que, em regimes de exceção, a arbitrariedade na atribuição de responsabilidade, para retirar algo de circulação, pode ser erroneamente equiparada - poder ser erroneamente equiparada, repito - à censura, mas não é censura. É arbitrariedade e como tal deve ser combatida no local certo. Por óbvio que os meios de comunicação não ensinam isso. Convem-lhes defender a tese que lhes garanta estar acima de qualquer responsabilidade.

Pois soube que na semana passada um jornalista goiano foi condenado a doze anos de detenção por calúnia e difamação contra membros do Ministério Público e do Poder Judiciário. Publicou matéria ofensiva contra pessoas que exerciam suas funções públicas. Liberdade de expressão esse jornalista teve, pois pode publicar a matéria. O que está lhe acontecendo agora é ter que assumir a responsablidade pelo que disse no exercício da sua liberdade.

Espero que esse fato sirva de exemplo para a mídia em geral. Censura é uma coisa, responsabilidade é outra.

Ps.: O Idelber me avisa que esqueci de linkar a notícia. Erro de novato, perdoável, espero. hehehe. Pois aqui está:
http://ultimainstancia.ig.com.br/noticias/ler_noticia.php?idNoticia=14006

domingo, abril 17, 2005

Física, Budismo e liberdade

Pois é,

Enchi! O que quer que queiram (putz, quatro q's! Troquem os quatro por um 's', de saco!). Há dez anos me pergunto o que levaria um grande físico a trocar a Física pela religião, especialmente o Budismo.

Em 1978, no auge do programa nuclear brasileiro, quando Geisel resolveu assinar o tratado com a Alemanha, dispensando os americanos, estava no segundo ano do curso de Física, na UFRGS. Era momento de definir rumos: ou me enfiava no diretório acadêmico, ou estudava. Se optasse por estudar, deveria escolher, desde logo, alguma área de pesquisa. Já era monitor das disciplinas básicas (comecei cedo minha vida acadêmica: no terceiro semestre). Talvez por influência da questão nuclaer, optei pela Física Nuclear. Fiz todas as disciplinas possíveis e até as impossíveis para um estudante de segundo ano. Fiz um monte de cursos extracurriculares. Num deles fui aluno de Alfredo Aveline (eu era monitor da esposa dele, também professora da faculdade; fácil conseguir vaga). Aquelas coisas me fascinavam: a fissão e a ainda pouco falada fusão. Entremeado aos estudos das demais matérias.

Alfredo Aveline tornou-se, por um bom tempo, meu ídolo. Mas, como tudo nessa vida, terminou. E terminou quando, do microcosmo, parti para o macrocosmo. Descobri a Astronomia e, logo após, a Astrofísica. (Um pouco depois, descobri a sala do diretório acadêmico, o que me afastou por algum tempo de tudo, mas isso já é outro post).

Do infinitamente pequeno ao infinitamente grande. Entender a grandeza do Universo, naquela época, tornou-se mais importante do que entender a grandeza do Universo. Enveredei pela Astrofísica pensando que seria nas grandes dimensões que encontraria as explicações. Pode parecer simples pra quem olha de fora e não está envolvido na experiência do sentimento de poder. Sim, poder. A ciência é um poder. Não sei como andam as coisas hoje em dia, mas naquela época, ser estudante de Física e, especialmente, de Astrofísica, fazia da gente uma espécie diferente, reverenciada por familiares, amigos e desconhecidos. Todos babavam diante de explicações que, para mim, já eram banais.

Cheguei a publicar alguns papers em revistas internacionais antes de jogar tudo para o espaço, sem trocadilho. Nem o micro, nem o macro. Passei a achar que as explicações estavam nas pessoas. E fui procurá-las. Primeiro na noite, que é onde elas se mostram (descobri, que enquanto passava noites e noites pesquisando as estrelas no céu, meus amigos tratavam de comer as estrelas da Terra); depois no dia, que é onde elas se mostram. Enveredei para o caminho das organizações. Fiz Administração. Antes, ainda como um resquício de apego à ciência, fiz computação e trabalhei muitos anos como Analista de Sistemas. Mais tarde fui buscar no Direito alguma explicação. Grande decepção. O Direito, mais do que regular a vida em sociedade, é a arma opressora por excelência.

Foi quando fiquei sabendo que o Alfredo Aveline havia abandonado a Física (como objeto de trabalho) e dedicava-se ao Budismo, vindo a tornar-se o primeiro Lama brasileiro (com um templo em Viamão/RS). As velhas questões físicas e metafísicas voltaram. Mas como? Como é que uma rara inteligência abandona tudo e vai viver orando e tocando sininho pro resto da vida? Embutido nessa pergunta está, claro, a minha total ignorância do que seja o Budismo (ler sobre, eu leio, mas isso não me torna menos ignorante).

Confesso que, num primeiro momento fiquei decepcionado. Meu antigo ídolo havia pirado de vez. Pensei: ainda bem que saí dessa a tempo. Fiquei pensando um pouco mais para ver se a ficha dava um jeito de cair. E caiu.

Depois da viagem pelas três ordens de grandeza do universo, o micro, o macro e o universo das pessoas, penso ter descoberto o que levou o Aveline a mudar: a liberdade. Não a liberdade de fazer o que quiser, ou a liberdade formal do Direito, mas a liberdade que é a essência do ser humano. A liberdade de sentir e pensar. A liberdade de ser dentro de nós mesmos. As outras "liberdades" não são liberdades, são atributos derivados das relações humanas, portanto, não do homem. A única liberdade do homem é que que está em cada um.

É a essa liberdade que a mídia procura atingir quando tenta ignorantizar as pessoas, quando tenta tirar-lhes a capacidade de sentir ou pensar.

E é das outras liberdades que a Declaração Universal dos Direitos Humanos fala, quando diz, no preâmbulo, que "o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade". A liberdade não tem fundamento, ela É o fundamento de tudo o mais. É essa liberdade que está por trás do texto do art. 1º: "Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade" (os direitos já são derivados das relações humanas).

A internet é, até agora, a ferramenta da liberdade. Certamente nenhum outro meio de divulgação aceitaria publicar esse texto. E esse texto expressa a minha liberdade, pois é o meu pensamento. Seja lido ou não, sou eu. E é assim com o blog de cada um: é cada um e sua liberdade. Se antigamente já não era possível eliminar a liberdade de pensar e escrever (bem que a Igreja e os Estados tentaram e ainda tentam), pois os livros acabavam circulando, imaginem com a internett, onde sempre será possível encontrar uma forma rápida de burlar a vigilância. A força da internet está em ser inter net.

Por isso escrevi no post anterior que não penso em gastar meu tempo lutando contra "inimigos". Penso apenas em escrever cada vez mais, usar cada vez mais esse espaço, usar as energias para fortalecer esse espaço e não para derrubar o "inimigo". Deixa ele lá. Concentrar energias na liberdade e não em quem acha que pode me fazer parar de pensar e sentir.

O homem é livre e sempre será livre. Bueno, isso aqui é só um post, não uma tese sociofilosoficadeumchatometidoabesta...

Hoje, depois de muitos anos transitando pelo mundo dos mortais; por um mundo que depende de governos e de severinos para tentar levar uma vida com um pouco de dignidade, acordei com vontade de ser budista. Quem sabe o Aveline não volta a ser meu ídolo?

- Kaya?
- Sim?
- Vamos pra Três Corôas e virar budistas?
- Oba! Que legal, não vamos mais precisar de roupas. Nosso filho vai poder andar pelado.
- Kaya! Eu falei budista e não nudista. E é Três Corôas e não Taquara!

sábado, abril 16, 2005

Gerações, mídia e liberdade

Poie é,

Interessante. Já estava dando por acababa essa história de gerações. Cresci ouvindo dizer que as gerações contavam-se a cada 25 anos, que era quando o filho torna-se adulto e passava a conviver "de igual" com os pais. O que diferenciava as gerações era o fato de que os não-adultos só poderiam fazer certas coisas depois de se tornarem adultos. O mundo foi mudando, as revoluções culturais, e a informática/internet/comunicação/globalização acabou com o conceito de gerações. Minha filha adolescente tem acesso a todas as mesmas coisas que eu; faz as mesmas coisas que eu. Se eu tenho salário, ela tem pensão; o que lhe dá completa independência financeira, inclusive. Tem fotolog e escreve um monte por lá, tá certo que na língua dela (antigamente eram os filhos que lutavam para entender as palavras bonitas ditas pelos pais; hoje eu tenho que "me virar" para entender o que ela escreve).

Já tinha dado por acabada essa história de diferença entre gerações, quando descubro que ela ainda persiste. E persiste num ponto que também pensava já ultrapassado: o debate de certos temas.

A ditadura brasileira (não sei das outras, mas imagino que tenha sido o mesmo) precisava eliminar - como, de resto, qualquer ditadura precisa - a inteligência existente no país, que seria a única coisa capaz de opor-se consistentemente ao regime. Usando da força não conseguiu. Prender intelectuais, artistas, pensadores, compositores, e expulsar outros tantos, não estava resolvendo; censurar também não. As pessoas continuavam pensando fora do país. A metáfora tomou conta do país: "pai, afasta de mim este cálice... de vinho tinto de sangue".

Tornava-se urgente descobrir um modo de eliminar a inteligência. Como se faz? Ora, inteligência, via de regra, mas não necessariamente, pressupõe informação. O que se faz, então? Cria-se a ignorância, no bom sentido (?). Suprime-se a informação - ou, ao menos, a informação que seja capaz de ser processada contra a ditadura - e a inteligência tenderá ao zero. Foi o que fizeram. E como?

Duas vertentes básicas: reforma do ensino e comunicação de massa.

A reforma de 1972 foi feita com esse propósito. Claro que diziam que era necessária para modernizar o país, etc., etc... e muitos et coeteras mais. No entanto, eliminaram dos currículos escolares matérias como a Filosofia, a Lógica e introduziram, na Matemática, absurdos como a Teoria dos Conjuntos antes mesmo das crianças aprenderem quanto é dois mais dois. Sem falar nas línguas: eliminaram o latim e o francês (que era a língua opcional) e introduziram o inglês como língua obrigatória. Os livros de história, hoje, tem mais figuras do que textos (pega qualquer um numa livraria, vai. Vai lá e vê). Tudo exatamente feito para eliminar a capacidade de formar pensamentos. Numa época em que o Brasil tinha menos doutores e mestres do que os que existiam apenas nos laboratórios da IBM, inventaram a formação técnica especializante. Não foi à toa. Era preciso formar uma massa de trabalhadores não pensantes. Nas universidades inventaram o "básico", com cadeiras (até isso mudou, passou a ser disciplina, blerghhh, nunca me acostumei com isso, além, é claro, da conotação militarista que essa palavra tem) tipo EPB (Estudos de Problemas Brasileiros, pra quem possa não saber) onde se estudava de tudo, menos os problemas brasileiros. Enfim, o primeiro passo havia sido dado.

Quanto menos conhecimento se tem, menos conhecimento se produz e menos conhecimento se transmite. Básico.

O mais interessante vem agora: nos Colégios Militares o currículo não foi alterado (ao menos até 1975). Aprendi tudo, pois estudei num deles. Claro, era preciso, ao mesmo tempo, formar bons sucessores.

Entrei na universidade pública em 1976 e ainda não saí de lá. De lá para cá fiz quatro cursos. Portanto, acompanho de perto a involução do conhecimento dos estudantes brasileiros. Não falo por falar. Falo de acompanhar, de ser obrigado a fazer trabalhos em grupos. De ter que debater com eles. E vejo, também, a queda vertiginosa da qualidade dos professores. Vivencio isso diariamente há 29 anos. E não como professor; como aluno. Sei do que falo. Faço duas especializações, uma na PUCRS e outra na FGV. Há temas comuns. Percebe-se claramente a diferença de qualidade tanto dos professores quanto de conteúdo.

A segunda vertente era originária do velhos tempos franceses: ao povo, pão e circo. Pão havia, faltava o circo. Qualquer anuário do IBGE mostra que o item de infraestrutura que mais investimentos recebeu da ditadura foi o das telecomunicações. Não porque era preciso conectar o Brasil (e diziam que era por uma questão de "geopolítica"), mas porque precisavam "comunicar" a ideologia a todos os cantos do país. E precisavam ignorantizar o maior número de pessoas no menor espaço de tempo (pobre Einstein!) possível. O que fizeram? Entupiram um tal de Roberto Marinho de dinheiro para que fizesse, de forma que parecesse uma "iniciativa privada", aquilo que eles precisavam: dar o circo ao povo. Paralelo a isso, destruiram as grandes corporações existentes até então e que poderiam representar perigo. Despiciendo (palavrinha bonita utilizada pela corporação de ofício dos jurisapientes) citar quais.

É algo incrível a transformação da mídia brasileira nessa época. Jornais, rádios e televisão sofrem uma metamorfose: de centros de arte e informação, transformam-se em centros de propagação da ignorância. Concessões de jornais, rádios e televisões eram distribuídas para quem se propusesse a propagar a ignorância junto com as idéias do governo. Jornal Nacional, Fantástico, novelas e, o mais importante, programas infantis imbecilizantes.

Mas ainda faltava uma coisa: o marketing, que depois virou publicidade e propaganda (sem entrar, por favor, em discussões filosóficas sobre as diferenças entre uns e outros). De algo que servia para vender produtos, esse negócio acabou sendo a maior arma jamais criada pelo ser humano. Passou a vender o principal produto da ditadura: a ALIENAÇÃO.

Reforma do ensino e comunicação de massa aliada a publicidade, conseguiram o que eles queriam: uma geração ALIENADA.

Tá certo. Não disse até agora nehuma novidade. Espero que esteja tudo nos livros. A diferença existe entre viver e ler sobre viver. E aí vem a questão: naquela época esses temas que parecem "tão atuais", já eram debatidos, discutidos à exaustão. O que escrevi é tão velho quanto eu. A diferença está em que, passada uma geração ALIENADA, o tema ganha força como se fosse novo. Mudaram as moscas...

A mídia moderna FOI desenvolvida para isso. Foi desenvolvida para sentir-se a dona exclusiva da verdade. Era a única maneira de manter o povo na ignorância. Imaginem alguém passar vinte anos repetindo que diz a verdade. Se tiveste a formação dada por eles, vais acabar acreditando piamente nisso. E aí, quando eles te dizem que são o quarto poder; quando eles te dizem que isso ou aquilo é como eles querem, teu cérebro já deformado de tanto assistir ao Jornal Nacional e às novelas da Globo (ou o que é bem pior, as porcarias mexicanas do SBT) acaba acreditando. Perdeste a capacidade de análise, de crítica.

Vi nascer o Jornal Nacional, o Fantástico e a transformação das novelas.

Ei! Esperem. Só tenho 47 anos.

Isso é o que fizeram. Alienaram uma geração inteira. É por isso que esse debate sobre liberdade de imprensa, quarto poder, mídia alternativa, blogs, etc., volta com força. Uma nova geração, não mais no conceito antigo, retoma a capacidade de análise; retoma a capacidade de pensar. E quando retoma o que vê? Vê que a máquina alienante, montada há trinta anos, ainda funciona; e bem, pois reproduz-se para os filhos dos filhos...

Essa nova geração percebe, no entanto, que possui novas ferramentas. Só penso que não deveriam perder tempo:

1. com debates sobre o que seja liberdade de expressão, democracia e similares. Isso é velho e batido;

2. com debates sobre o que é tradicional e o que é alternativo (isso é coisa do tempo do Pasquim, lembram?). Isso é velho e batido;

3. escrevendo posts contra pensadores reacionários (outra palavrinha usada naquela época). Deixem o Sr. Olavo, e outros tantos, prá lá. Isso é velho e pode virar patrulhamento ideológico ( ih, isso também é velho...). Se querem liberdade de expressão, respeitem a deles. Um dia eles morrem.

4. entrando na deles, isto é, fazendo da internet uma arma para ignorantizar.

Traduzindo: correm o risco de ficar fazendo a mesma coisa que já se fazia há trinta anos. Só mudou a mídia. Agora é pela internet.

O espaço é novo; façamos algo novo e não debates velhos.

Ps.: A Globo e seus programas são citados apenas como paradigams. O que foi dito vale para qualquer outra.

quarta-feira, abril 13, 2005

Gravidez, viagem e liberdade

Pois é,

Essa gravidez já ta me enchendo o saco. Passei mal o dia todo, ontem. Quando cheguei em casa achei que o estômago ia sair junto pela boca, de tanto vom... É, eu sou parceiro. Só espero não sentir as tais das dores na hora.

Viajo agora, novamente para Passo Fundo. Retorno na sexta e aí faço minhas colocações sobre pontos importantes levantados pelo pessoal nos comentários ao post anterior sobre liberdade.

Adiantando um pouco, penso que devemos cuidar sob qual referencial tomamos a liberdade. "Liberdade é fundada em confiança", disse Darth. Colocas, aqui, a idéia de anterioridade da confiança em relação à liberdade. Será assim? Não será ao contrário? Qual será o valor fundamental de tudo isso? (sem falar na questão da posse como utopia, a que te referes. E isso remete à questão levantada pelo Tiagón).

E sim, Tiagón, hoje a prática é diferente. Não será exatamente isso que devemos mudar: a prática?

E, Edu, a questão da liberdade passa, sim, pela questão da sexualidade. Sexo é propriedade, posse, quando visto sob a ótica da tua frase, "quero comer todos(as)...".

Questões para a volta. Boa viagem pra mim, hehehehe.

segunda-feira, abril 11, 2005

Exercício de liberdade

Pois é,

Escrevo muito. Relatórios e projetos técnicos, além de algumas incursões na seara do Direito e, atualmente, duas monografias para duas especializações que faço. O blog, no entanto, é um verdadeiro exercício da arte de escrever. Certos temas merecem o desenvolvimento de verdadeiras teses, com mais de 500 páginas, o que é impossível nesse tipo de espaço: por mais bem escrito, pouquíssima gente teria tempo e saco para tanto. O exercício da concisão é pior que uma sessão dessas ginásticas modernas (no meu tempo era polichinelo, apoio, abdominais e meia dúzia de outros, tudo sem essa barulheira que chamam de música).

Outra dificuldade: escrever sem escrever aquilo que todo mundo já sabe, isto é, não ficar dando definições como se só a gente soubesse daquilo (no meu dicionário dá-se o nome, a isso, de "sujeitinho pretencioso e arrogante, não?"). Por outro lado, e se muita gente não sabe? O equilíbrio. Equilíbrio e concisão. Dizer algo de novo pra quem já sabe (difícil, né?) e algo de novo para quem não sabe (fácil, né?). Equilíbrio. Concisão sem perder de vista a amplitude.

Deveria parar por aqui, mas vamos lá. Exercício só se faz exercitando...

O tema que anda na vitrina da blogosfera, e magistralmente proposto pelo pessoal da Verbeat (clica e vai lá dar um olhada), merece um bom calhamaço.

Falar de liberdade é falar de propriedade, conceitos diametralmente opostos. A propriedade foi inventada para acabar com a liberdade (eis algo que todos já sabem. Ou não?). O Direito foi inventado para proteger a propriedade e não a liberdade (aqui, muita gente pode pensar diferente), embora, eufemisticamente, todas as constituições digam o contrário (a nossa, lá no caput do art. 5º, garante a liberdade junto com a propriedade como direitos fundamentais).

O direito autoral surgiu num mundo sem internet, como mais uma das tantas formas de proteger a propriedade. Mudou o mundo, surgiu a internet e as pessoas continuam querendo proteger suas propriedades. Mas querem, no entanto, liberdade.

A internet, salvo melhor juízo, foi desenvolvida como, e é, a expressão máxima da liberdade. Como querer que governos não tentem controlar a internet se as próprias pessoas que publicam na internet vigiam a sua propriedade? A primeira coisa que fazem é colocar o selo da Creative Commons e disclamers, como se fossem processar todos os que copiassem seus posts sem citá-los. Querem liberdade de escrever e publicar na internet, mas querem a propriedade dos seus escritos, num meio cuja essência é a liberdade. Querem lucrar com suas idéias. Propriedade na sua mais pura concepção.

Ora, frente a uma verdadedeira possibilidade de mudança de paradigma, o que fazem as pessoas que publicam seus escritos nos blogs? Agarram-se ao milinar conceito de propriedade: "Eu escrevi isso; a idéia foi minha!". E por aí vai. O que importa mais: a idéia em si, posta para a humanidade, ou a propriedade da idéia? Se não me falha a memória, 50 anos (ou algo parecido, não faz diferença) após a morte do autor é o tempo de reserva da propriedade dos direitos autorais. Qual a diferença entre hoje e daqui a 50 anos? Absolutamente nenhuma. E saem por aí a escrever posts sobre solidariedade, sobre como é ser ético, falando do Papa, do Bush, sem olhar para o prórpio rabo que está a cobrar os direitos autorais. Igualzinho a esses todos.

Já escrevi aqui que a hipocrisia é a pior espécie de manifestação do ser humano. Querer liberdade e propriedade ao mesmo tempo é a mais pura forma de hipocrisia.

Liberdade dá trabalho. Quem publica um blog tem o dever de ler, minuto a minuto o que escrevem nos comentários.

- Chato?
- Sim?
- E como é que vou comprar o leitinho das crianças se abrir mão dos meus direitos de propriedade?
- Seja criativo. Liberdade, meu caro!

Tenho visto inúmeros blogs avisando o óbvio: "se você escrever maldades, lembre-se, eu posso deletar". Medo, mais uma vez, de processos judiciais. Esquecem que é da natureza do blog vigiar o que é escrito nos comentários. Nada de mais. "ah, se eu tiver que ficar cuidando tudo o que escrevem, eu desisto!". Tá certo, deveria desistir. Quem dá uma folha em branco assinada para outrem, tem mais é que desistir se fica reclamando depois.

Mas vamos ao que interessa: o que devem querer mudar é o Direito existente sobre o assunto. Lutar para que sejam criadas novas regras para algo novo, e não ficar se debatendo em meio ao já existente, feito no tempo do Onça. Contratar bons advogados, que tenham visão de futuro, e não os que escrevem regras para defender a propriedade. Disso já temos muito. Precisamos de advogados que inovem, que criem nos tribunais. O Direito é vivo, feito pelas mãos dos que arriscam, não dos que acatam o que está posto. Não nas mãos daqueles que dizem "coloca um aviso no teu blog, ao menos conseguimos livrar um pouco a tua cara, se der processo!".

E também, e quase que principalmente, de escolher seus representates no parlamento. Quem vota em boçal que cria o Dia da Mandioca (e outros afins) só pode esperar que um dia proponha leis contra a liberdade de publicação na internet. Contra tudo aquilo que defendem os que se defendem na internet. Depois não vão reclamar.

Eu não defendo. Minhas idéias não são minhas. Eu morro, elas ficam! Sejam boas, sejam grandes obras literárias, ou sejam uma porcaria.

Querem liberdade de publicar na internet? Querem que ninguém vigie ou controle? Abram mão da propriedade!!! Difícil, né?

- Querem ter duzentos comentários? Querem que seus posts sejam copiados e colados?
- Sim, queremos. Mas também queremos que digam que fomos nós que escrevemos!
- Ora, pois!

Na verdade, querem blogs que sejam livros; querem publicar aqui no Brasil e processar um japonês que copiou! Orgulhoso por ter sido copiado, ou indignado por não ter sido citado?

Vou contrapor meus amigos da Verbeat (fazer o quê?):

"Não há quem não conheça a palavra "liberdade". Mas, sozinha, ela quer dizer muito pouco; liberdade precisa de um objeto para o qual ser livre. Ela surge de algo que cerca, cerceia. Conquistamos nossas liberdades à medida em que conhecemos seus contrapontos; e é preciso reinventá-las todos os dias."


Liberdade não precisa de um objeto para o qual ser livre. Ao contrário: a liberdade é tão algo em si mesma, que foi necessário criar a propriedade para cerceá-la. A liberdade não suge de algo que cerca, cerceia; a propriedade é que surge após a liberdade para cerceá-la.

Liberdade ou propriedade? Que cada um faça a sua escolha.


clica e vai lá

domingo, abril 10, 2005

Nova York

Pois é,



Biblioteca Pública de Nova York. Tem de tudo, em meio a 275.000 imagens, inclusive esses ancestrais blogueiros egípcios ai da foto.

Vai dizer que não parece o Gejfin e o Tiagón redigindo o manifesto


Moscou

Pois é,



Para quem é pobre como eu e que só pode viajar pela internet, neste site pode-se fazer uma bela viagem pelas estações do Metrô de Moscou. No mapa das linhas, basta clicar onde houver a letra "M". Imagens do interior e galerias das obras de arte existentes.

sábado, abril 09, 2005

Rio de Janeiro

Pois é,


Foto baixada do site www.arquiweb.com.br

Nasci no Rio ponto Foi o que se chama de um acidente de percurso ponto Azar o meu ponto Não gosto do Rio ponto Nasci quando era Guanabara ponto Parece que querem fazer renascer a Guanabara (Rio Cidade-Estado) ponto Escolheram uma Capivara como símbolo da campanha ponto Ainda bem que deixei de ser carioca há quarenta e três anos ponto Jacaré não entrou no céu três pontos Podia não ter escrito isso três pontos

Uma coisa há que se reconhecer dois pontos a paisagem é belíssima ponto Mas é só ponto de exclamação Nesse site pode-se ver o Rio em 360 graus de diversos pontos ponto É muito bonito ponto

Finalmente virgula com esse post virgula até eu consegui me achar um chato ponto final

Confissões de um jovem de meia-idade

Pois é,

Tornei-me viciado na época que, talvez, pode ser a pior da vida para tornar-se viciado: a meia-idade. E não por culpa minha, mas por culpa da própria humanidade que não havia evoluído o suficiente ainda, ao tempo da minha juventude. Na minha juventude eu ainda não existia. Logo, não teria como tornar-me viciado em mim. É, é esse o meu vício. Descobri que estou viciado em mim. Na juventude os apelos são outros, os vícios são outros: cigarro, drogas, rock pauleira, dirigir em alta velocidade, os vícios da inconseqüência. Na minha juventude não existia internet e diário era diário mesmo: somente meninas consideradas bobinhas e tontas é que faziam o “meu querido diário”.

Na juventude o importante era a velocidade com que se ia de um lugar a outro; agora, o caminho tornou-se importante e, mais ainda, o chegar. Ando devagar, não corro mais. Afinal, só me resta mais meia-idade para aproveitar, seja lá o quanto isso possa significar, em termos de tempo.

O vício em mim tem seu lado difícil. É que ainda persiste um vício contra mim: o cigarro. É o elo que me resta da juventude, não a de espírito, que essa ainda possuo, mas a da inconseqüência.

A juventude de hoje pode viciar-se em si com tamanha facilidade que chega a espantar. E conta com a internet e os blogs para alimentar seu vício, coisa que eu não tinha. Milhares de blogs e fotologs transitam pela rede. Desde que comecei a escrever neste blog, entendi que o respeito ao autor, gostasse ou não gostasse do que havia lido, deveria ser a regra número um. São viciados em si, tanto quanto eu tornei-me viciado em mim. Não tenho o direito de criticá-los. Infelizmente parece não ser essa a regra geral para alguns. Não apenas por parte daqueles que escrevem nos comentários criticando os autores ou outros comentaristas, mas principalmente daqueles que sonham em ser eternos big brothers.

Enganam-se os que pensam que a raça humana é única e homogênea: há humanos e subumanos. E estes, por sua natureza peculiar, sempre tentarão destruir o que os humanos constroem. Nesse aspecto não fico preocupado. O vício em si sempre será mais forte. Depois que somos tomados pela necessidade diária de escrever ou de ler, não há quem nos impeça de saciar o vício, a não ser as CRTs1 espalhadas por aí, que, vez por outra, nos deixam sem comunicação (estas, sim, são as verdadeiras inimigas).

Tenho lido, nos blogs que costumo acompanhar, um crescente movimento pela manutenção da liberdade que os blogs realizam e simbolizam. Como disse, a mim não preocupa essa também crescente tentativa de cercear a livre manifestação. O vício será maior. A liberdade já demonstrou inúmeras vezes, ao longo da história, que sempre vence. E a cada vez que alguém tenta eliminar a liberdade de pessoas e povos, ela sempre volta mais forte. Não é necessário citar exemplos.

A liberdade é a essência da natureza. E se o homem regulou a liberdade, criando a responsabilidade, foi muito mais para punir quem da liberdade se utilizasse de maneira indevida. E a história sempre pune. Senão ela, a morte.

1 CRT, Companhia Riograndense de Telecomunicações, companhia estatal de telefonia do Rio Grande do Sul. Era uma merda e foi vendida para outra pior.

A foto é da obra Liberd, Pintura-objeto de Pedro Geraldo Escosteguy, col. Marília Escosteguy, Porto Alegre, sem data.

sexta-feira, abril 08, 2005

Arremedo

Pois é,

Antes não tivesse voltado. A Kaya acaba de chegar e me conta sobre uma notícia que veio escutando no taxi, sobre algo acontecido em Pelotas (casualmente, Pelotas em dobro hoje), sobre terem cometido algum crime contra animais. Fui na internet buscar.

"Uma cadela de rua foi amarrada por jovens no pára-choque de um veículo e arrastada por mais de cinco quadras. Pedaços do animal e dos filhotes que nasceriam em um mês ficaram espalhados pelo asfalto." (www.clicrbs.com.br)

Hoje, pelo jeito, foi um dia de Deus e do Diabo. Enterramos um dos representantes de Deus na Terra e o diabo não se fez de rogado: mandou ver!

Nem a guerra é tão cruel. Afinal, a guerra ainda tem explicações, aceite-se ou não. Já relatei aqui que ando envolvido com vizinhos que davam choques nos cachorros. Tapem os ouvidos que vou gritar:

PUTA QUE O PARIU! QUANDO É QUE ESSE TIPO DE GENTE VAI PARAR DE NASCER NO MUNDO?

O pior de tudo é que esses arremedos de seres humanos pegam no máximo 1 ano (art. 32 da Lei dos Crimes Ambientais, com aumento de 1/6 se ocorre a morte do animal).

Vou berrar de novo:

PUTA QUE O PARIU! QUANDO É QUE ESSE TIPO DE GENTE VAI PARAR DE NASCER NO MUNDO?

De acordo com a reportagem, a cadela era querida e cuidada por todos os vizinhos, inclusive pelos estudantes da Faculdade de Odontologia, que fica perto do local onde ela costumava ficar. Recebia, à noite, alimentação de um restaurante.

Às vezes me dá vontade de retornar ao tempo da pena de Talião. Pegar esses arremedos de seres humanos, amarrá-los num tanque e arrastá-los até que não sobre um único dente que possa identificá-los.

Vou berrar de novo!

Definhar

Pois é,

Não, não foi um sonho. Fui a Passo Fundo e acabo de retornar. O post anterior foi uma descrição real da viagem. A paisagem de quem segue por essa estrada é realmente uma das mais bonitas que esse estado possui. O que trago de lá? Saudade. Saudade disso daqui. De ler os blogs aí do lado. No hotel onde estava só havia um computador e, mesmo assim, conectado a uma linha discada e num desses provedores gratuitos. Há muitos anos não sei o que é isso. Nem tentei acessar. Fiquei com medo de ter um acesso de fúria e quebrar o computador. Coitado, nem culpa tinha e eu ainda teria um prejuízo.

Apesar de não ser vendedor, tenho viajado muito pelo interior do Rio Grande do Sul. Esses dias, lendo um post do Gejfin sobre Pelotas, lembrei-me das vezes em que lá estive e fico triste de ver como a nossa metade sul anda. Passo Fundo, por exemplo, é uma cidade em franco progresso, quase cosmopolita. É uma cidade cheia de juventude (e aí começam as minhas dúdivas: muitas outras cidades têm, também, universidades. Até mesmo Pelotas. Porque uma cidade progride e outra não?), muitos edifícios novos e outros tantos sendo construídos; trânsito intenso até altas horas da noite; bares, restaurentes, cinemas (coisa que a maioria das cidades do interior já não possui mais). Diversos eventos culturais agitam a cidade; alguns até nacionais/internacionais, como é o caso da Congresso de Literatura promovido pela Universidade de Passo Fundo (UPF). Por esses dias que estive lá, acontecia o Congresso Gaúcho da AGERT (Associação Riograndende de Emissoras de Rádio e Televisão). Enfim, uma cidade que se torna polo. Cresce e vive, ao contrário das cidades da metade sul.

Pelotas, Rio Grande, Bagé, Livramento, Uruguaiana, só para falar das maiores, estão simplesmente decadentes. Nos últimos doze meses fui, no minimo, duas vezes a cada uma delas. E a cada vez fico mais triste com a tristeza das cidades. É esse o sentimento que dá ao chegar. Não é o fato de os prédios estarem caindo aos pedaços por falta de cuidado pela municipalidade; é o povo que está triste. Os prédios e casas particulares também caem aos pedaços. Parece que as pessoas não sentem mais prazer em ao menos pintar suas casas. Tenho escrito sobre algumas palavras. E para esse caso só encontro uma: definhar. As cidades e pessoas da metade sul definham; se acabam, esvaem-se. E porquê?

Sem análises sociológicas (embora explique muita coisa) de que a pecuária os tornou assim e de que a metade norte, colonizado por italianos e alemães, fez da indústria (no sentido de produção, trabalho) o mote do seu progresso. Há algo mais entre a metade sul e a norte do que ousa sonhar a minha vã filosofia. E o que explica o descaso de décadas do governo do estado para com a metade sul? (Aqui podemos vislumbrar algo: a metade sul sempre achou que o governo deveria solucionar seus problemas, enquanto que a metade norte sempre foi a luta por suas próprias pernas e mãos).

A verdade, quer queiram alguns ou não, é só uma: hoje temos dois Rio Grande do Sul, o Rio Grande do Sul do Sul e o Rio Grande do Sul do Norte. Um miserável e decadente, onde apenas alguns poucos donos de terras ainda sobrevivem da pecuária e do arroz; outro, rico e progressista, onde muitos conseguem trabalho, outros são empreendedores. Vá explicar!

É triste ver a tristeza das gentes da metade sul.

quarta-feira, abril 06, 2005

Cartas

Pois é,

Amantíssima,

Espero que esta te encontre na mesma graça que havia quando parti: plena de saúde e de felicidade. Devo admitir, no entanto, que partilho da saudade que deves estar sentindo, pois o mesmo sentimento em mim se avoluma.

A viagem foi ótima. Como sabes, prefiro o caminho do meio, embora seja um pouco mais longo. Tem menos movimento, menos caminhões, sem falar que a paisagem é imensamente mais bonita. É uma estrada calma, tranqüila, o que torna a viagem segura, pois é impossível sentir vontade de correr. A subida da serra serpenteia o Vale do Taquari e lembro-me de ti a cada curva sinuosa, pois sei que enjoas em estradas com muitas curvas. Mas devo dizer-te, que, nesse aspecto, essa estrada é uma perfeita representação de como a engenhosidade humana pode se aliar a natureza: as curvas acabam por pertencer às montanhas; dão-nos a impressão de estarmos caminhando por trilhas feitas na mata.

Ao início passamos por uma linda ponte de pedra sobre o Rio Taquari, na pequena e graciosa Muçum, suporte que foi um dia dos trilhos que levavam os trens para as cidades do planalto central. Fico a lembrar das nossas viagens de Maria Fumaça para passeios no pequeno pedaço da Itália que temos aqui no Estado. Lembra das vezes em que colocavas, perigosamente, a cabeça para fora da janela, ignorando os avisos de que as pontes metálicas poderiam deixar-te sem cabeça? E que eu dizia aos guardas que não ficassem preocupados, pois nunca havia visto alguém perder aquilo que não possuía? Se pudesses ver-me agora, verias que estou rindo, tanto quanto ria ao ver o olhar de espanto que se traía na face dos guardas. É uma pena que hoje não se possa mais fazer passeios como aqueles. Asfalto, caminhões e loucos correndo, como se dez minutos a mais para chegar fosse torná-los mais felizes. Felizmente essa estrada ainda está livre disso. Dos loucos.

O viaduto 13, em Vespasiano Corrêa. Um dos mais antigos e lindos viadutos do Estado. Vale a pena desviar-se alguns quilômetros do caminho só para vê-lo. Próximo a Guaporé, um belvedere descortina o horizonte em meio à serra. Perde-se a vista diante de tanto verde. É parada obrigatória. Recarrega as baterias, como dizem hoje em dia. Faz-nos lembrar que há algo mais nessa vida do que o que vemos nos jornais e na televisão. Em noites claras, de céu aberto e límpido, é possível ver as luzes de todas as cidades da serra gaúcha, cintilando e fazendo coro com as estrelas. Impossível correr nessa estrada, como disse.

Nosso maldito inverno manda seus mensageiros avisar que está próximo. Faz frio por aqui. Talvez nem tanto, se olharmos para o termômetro, mas me conheces: qualquer valor abaixo de 25 graus provoca-me arrepios. Por sorte tenho seguido teus preciosos conselhos e trouxe o pullover que carinhosamente deixaste dobrado em cima da cama.

Já te disse, anjo, que de todas as cidades do interior do nosso Estado, a única pela qual trocaria nossa amada Porto Alegre, era Passo Fundo. E bem sabes que tenho conhecido inúmeras cidades, nessas minhas andanças. Confesso que nunca entendi a razão de tal sentimento. Pois não é que hoje, ao entrar na cidade pela quarta vez, descobri, assim por acaso, a razão? Talvez o outono tenha dado a ela um toque inigualável. É que, de todas as cidades, Passo Fundo é a que mais se parece com Porto Alegre. Chega a confundir-se com um bairro qualquer de Porto Alegre. É esse o sentimento que tenho, o de estar em casa. E só não é completo porque não estás aqui comigo.

Bom, minha querida, devo resguardar-me, pois amanhã, as razões que aqui me trouxeram deverão preencher meu dia.

E como estão nossos filhos? Joseph Afonso segue bem as instruções que deixei para que te cuide sem descanso? Naná tem dormido contigo? E os meninos? Aprontam muito ainda? Cuida bem do tesouro que carregas. E lembre-se: não te esforces mais do que o necessário. O que poupares hoje, será a energia do nosso filho amanhã.

Do sempre teu,


- Afonso!!!
- Hummmm.
- Afonso, acorda! Tá na hora!
- Hein? Que tu estás fazendo aqui?
- Como assim, o que estou fazendo aqui! Eu durmo nessa cama todos os dias. E levanta logo, que tens que viajar para Passo Fundo!
- Ãnnnhhhh???

terça-feira, abril 05, 2005

Tarda?

Pois é,

Tarda, mas parece que não falha. Decisão da Juíza Federal Ana Paula Vieira de Carvalho condena os envolvidos no escândalo do Banco Marka e FonteCindam. Francisco Lopes, à época presidente do Banco Central e economista de larga influência no pensamento econômico brasileiro, também foi condenado, juntamente com a ex-diretora de Fiscalização do BC Tereza Grossi.

Em baixa o Índice do Chato. O problema agora é achar essa gente. Cacciola (Marka), como se sabe, fugiu para a Itália após obter um providencial Habeas Corpus. É casado com uma gaúcha, aqui de Porto Alegre, e ambos aproveitam a vida com a fortuna roubada aos cofres públicos.

Outro condenado foi Nicolalau dos Santos Neto: 14 anos. Esse ainda foi beneficiado por ter mais de 70 anos. A pena original seria de 16 anos.

Parece que rendeu o trabalho da segunda-feira na Justiça Federal. Um dia esse país chega lá. Estaremos a caminho?

segunda-feira, abril 04, 2005

Panelas

Pois é,

Um dia ainda vou inventar panelas de alumínio que não façam barulho. Tampas de alumínio que não façam barulho. Vidro que não faça barulho. Um dia ainda vou ter uma cozinha tão grande, que não precise empilhar panelas e tampas de alumínio. E assim, quando precisar pegar uma, ela estará lá, ao lado das demais e não justamente embaixo de todas as outras, só pra fazer barulho. E quando uma tampa cair no chão - e as tampas sempre caem no chão - não há de fazer barulho.


- Afonso!!!
- Sim, Kaya!
- Dá pra parar de fazer barulho aí na cozinha que eu quero dormir?
- Não sou eu, são as panelas.
- É? E quem é que estava segurando a tampa que acabou de cair?

Já notaram como só as coisas do homem fazem barulho? A natureza não produz barulho.

domingo, abril 03, 2005

O Papa é gaúcho!

Pois é,

O terceiro segredo de Fátima, revelado em 2000, referia-se ao atentado contra o Papa, em 1981. Há quem não acredite, eu inclusive. Nossa Senhora deveria saber que se tratava apenas de um atentado e que isso não causaria profundas revoluções no mundo, a ponto de merecer ser guardado como segredo. O comportamento da Igreja também não ajuda. Somente em 2000, 19 anos após o atentado, teria autorizado Irmã Lúcia (recentemente falecida aos 97 anos)
a revelar de próprio punho o segredo para, então, mostrá-lo ao mundo.

Eu tenho cá minha teoria. Numa das visitas que o Papa fez ao Brasil, ele disse: "Deus é brasileiro. O Papa é brasileiro". Carinho da parte dele, é claro. Em Porto Alegre (tomando o chimarrão aí da foto), o refrão com que os gaúchos o receberam foi: "ucho, ucho, ucho, o Papa é gaúcho". E noutra demonstração de carinho, o Papa disse: "O Papa é gaúcho".

Pois bem, juntemos os fatos: Dom Cláudio Hummes, apontado como forte candidado a sucessor de João Paulo II no trono de Pedro, é brasileiro e gaúcho de Montenegro. Não estaria aí o terceiro segredo de Fátima? Não teria João Paulo II revelado aos poucos aquilo que, aí sim, poderá ser uma profunda transformação na Igreja Católica e, por isso, mesmo, matido em segredo até agora?

A América Latina possui algo em torno de 50% dos católicos do mundo. Vem perdendo terreno, no entanto, para seitas e igrejas fundadas por qualquer um que resolva espantar o demônio da vida dos fiéis. E por isso mesmo é que ganham cada vez mais fiéis. O demônio está perto, logo ali, no desemprego, na fome, nas drogas, na falta de moradia, na falta de esperança. O Deus católico, por outro lado, está longe. A Igreja sempre exorcisou o demônio; afasta-o da realidade das pessoas. As seitas não; elas admitem a sua proximidade e ajudam as pessoas a se afastarem dele. Talvez falte isso para a Igreja Católica: admitir que o demônio está logo ali e passar a ajudar as pessoas - aqui na Terra mesmo - e não ficar prometendo o paraíso para quem suportar as agruras até morrer.

A ala latino-americana da Igreja sabe bem disso, mas nunca teve voz ativa em Roma (Os Estados Unidos, país de tradição e maioria Protestante, tem 11 Cardeais no colégio eleitoral). Talvez um Papa brasileiro (ou latino-americano) seja a verdadeira revolução que tanto deve ter assustado o alto escalão do Vaticano. Vamos aguardar e torcer. Não deve demorar muito o anúncio do novo Papa.

A foto do Papa foi baixada do site www.clicrbs.com.br, a de Dom Cláudio do site www.terra.com.br e a do velório de Irmã Lúcia, na Catedral de Coimbra, do site www.catolicismo.com.br

sábado, abril 02, 2005

Velsos mau euscritos.

Pois é,

Cartaz
Pedro Geraldo Escosteguy, 1967
Col. Marília Escosteguy, Porto Alegre.



Todo mundo se mete de pato a ganso, por que eu não poderia também? Fiquei com a frase na cabeça: quero beber de ti a cântaros. Isso merece um poema. Maldita incompetência poética. Fosse outro e o poema teria saido completo. Comigo não. Até sei o que gostaria de dizer. Mas daí a colocar isso em forma de versos... dói. Admiro gente que tem essa capacidade. Eu tenho que escolher as palavras, compor os versos, ver se era exatamente o que queria dizer, ver se não ficou coisa de adolescente (nenhum preconceito), primária, bobinho, apagar, reescrever tantas vezes, que às vezes cansa. Sem falar na tentação da rima: com rima ou sem rima? E sem falar no pior de tudo: a crítica. A começar pela interna. Até sair algo que eu mesmo não critique, demora. O que dirá da crítica dos outros.

- Afonso?
- Quié, Chato?
- Desiste!
- Por quê?
- Poesia não é pra ti. Tu pensas que esses versinhos aí vão fazer de ti um poeta?
- Mas eu não quero ser poeta. Só quero escrever. Passar coisas pras pessoas. A forma não importa.
- Importa sim, Afonso. Poesia é coisa séria.
- Qué saber de uma coisa, Chato?
- O quê?
- Vai...

Quero beber de ti a cântaros,
da mesma forma
como bebes a vida.

- Uau! Viste, Chato? Devo ter começado bem. Gostei.

E ao te beber,
quero que te sintas
possuída,

- Uhhh! Supimpa!!! Fala agora, Chato, vai. Diz que eu não levo jeito, diz!

da mesma forma
como em ti,
te possui nosso filho.


Até vou repetir...

E ao te beber quero te sintas possuída,
da mesma forma como em ti, te possui nosso filho.

Quero beber de ti a cântaros,
mas aos poucos,
sabor por sabor.


- Olha, Chato, que linda contraposição: beber a cântaros aos poucos. Querer tudo, mas pouco a pouco, para poder saborear...

Tocar, na tempestade,
um pingo de cada vez.

- Queres prazer maior, Chato, do que conseguir tocar em apenas um pingo em meio a uma tempestade? Tentar entender, pingo a pingo, a essência da mulher?

Quero beber de ti a cântaros.
Quero ser egoísta,
não importa.

- Afonso!!!
- Sim, Kaya?
- Surtaste de vez, né?
- Surtei!