CLARISSA
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terça-feira, maio 31, 2005

As origens do mundo, da humanidade e do Afonso - V / VII

Pois é,

"Deus disse: 'Fervilhem as águas um fervilhar de seres vivos e que as árvores voem acima da terra, sob o firmamento do céu' e assim se fez. Deus criou as grandes serpentes do mar e todos os seres vivos que rastejam e que fervilham nas águas segundo sua espécie, e as aves aladas segundo sua espécie, e Deus viu que isso era bom. Deus abençoou e disse: 'Sede fecundos, muluiplicai-vos, enchei a água dos mares, e que as aves se multipliquem sobre a terra'. Houve uma tarde e uma manhã: quinto dia".

Dizem que há males que vêm para bem. Sei lá, mas a quase cegueira fez com que eu passasse a usar óculos. Os mesmos óculos que, alguns anos mais tarde, viriam a salvar meus olhos de outra possível cegueira. Copa do Mundo de 1970. Jogo contra a Tchecoslováquia (ou será Tchecoeslováquia? Nem lembro mais!). Um amigo resolve jogar um foguete na hora do primeiro gol do Brasil. Advinhem onde foi parar? Pois é, no meu rosto. Salvei-me de ficar cego porque as lentes protegeram meus olhos. Os óculos ficaram queimados, além de parte do meu rosto. Mas os olhos não. Talvez por isso valorize tanto a visão. Se São Pedro me perguntar qual o dom da vida que eu mais valorizo, respondo sem pestanejar - e sem trocadilhos: a visão. Não saberia ser cego. Não saberia não ver as cores, as formas, a luz e a escuridão. Sim, mesmo a escuridão, pois ela só tem valor diante da luz que sabemos virá.

Depois desse fato, ocorrido numa pequena cidade do interior do Rio Grande do Sul onde estava morando, voltei para Brasília. Quatorze de novembro de 1972, véspera das eleições. Esse dia marca um nascimento. Nesse dia meu pai morreu.

Às dezenove horas toca a campainha da minha casa. Foram chamar minha mãe. Meu pai tinha passado mal fazendo exercícios na ginástica. Não havia porque se preocupar. Era um mal estar, mas seria bom que ela estivesse junto no hospital.

Meia hora depois, um amigo da família vai me buscar. Afinal, eu era o "homenzinho" da casa. Meus irmãos mais velhos tinham ficado em Porto Alegre. Minhã irmã tinha apenas 8 anos. Talvez ele não conhecesse a história do gato que subiu no telhado, ou talvez a dureza da vida militar o tenha ensinado que cabia aos homens "serem fortes" nessas horas. Sem mais nem menos, em meio ao caminho do estacionamento, foi logo contando: "teu pai já morreu. Não contamos ainda para tua mãe. E nem vais dizer nada para ela até que os médicos autorizem".

Não senti nada. O que poderia sentir um piá de quinze anos que nunca tinha visto a tal da morte de perto? Não sabia o que aquilo representava. Lembro-me de ter passado o tempo até chegar no hospital com um único sentimento: o que devo sentir? O que se sente nessas horas? Claro que, misturado a isso, haviam as "ordens": és o homenzinho da casa, homem não chora, mesmo que saibas, não podes contar para tua mãe (juro que até hoje não entendo o por quê disso).

Chegando no hospital vi minha mãe completamente dopada. Enfiaram um monte de calmantes nela e, literalmente, até às onze horas, foram matando meu pai aos poucos para ela. E eu já sabia de tudo e não podia fazer nada. Aliás, não sabia o que fazer. "Estamos tentando", diziam vez por outra. Ela queria vê-lo e não deixavam. E eu ali, sem saber o que fazer, sem saber o que pensar. Sentia apenas a angústia de ver minha mãe daquele jeito e não poder fazer nada. Eu era o homenzinho da casa mas não tinha os poderes correspondentes.

Finalmente, às onze horas resolveram contar. Lembro até hoje da cena: entramos numa das salas do hospital, sentaram minha mãe numa cadeira e eu fiquei em outra, ao lado. O médico contou aquilo que ela, por mais dopada que estivesse, já deveria saber. A reação foi de raiva por não terem falado desde o início. Ainda tentaram disfarçar, justificando que estavam fazendo de tudo para salvá-lo e as baboseiras todas. Foi aí que explodi e falei pra ela que era tudo mentira e que eu já sabia desde o início, mas que não me deixavam falar. Coração. Aos 46 anos.

Hora das formalidades: identificação do corpo. Tive que ir eu, pois minha mãe não tinha condições e, afinal, eu era o homenzinho da casa. Pela primeira vez vi um cadaver; pela primeira vez toquei num cadaver; pela primeira vez beijei um cadaver. E pelo que me lembro, foi uma das poucas vezes que beijei meu pai, nos quarenta e seis únicos anos da vida dele.

Voltamos pra casa e os deveres de homenzinho continuaram. Queriam contar para minha irmã. Não! Falei. Eu conto! Chegando em casa, sentei com ela no sofá e contei. Claro, se nem eu entendia, menos ainda uma criança de oito anos. Mas cumpri minha tarefa de homenzinho da casa. Depois fui telefonar para a família. Meus irmãos em Porto Alegre; meus tios em Livramento e todo o resto da família que morava lá. Meus tios contariam para meus avós, pais dele.

Não era hora de chorar. Preparativos para a viagem do dia seguinte. Meu pai seria enterrado em Livramento. O Exército fretou um aviãozinho de oito lugares. Tiraram quatro bancos e colocaram o caixão ali. Nós fomos com os pés encima do caixão, pois não havia espaço. Oito horas de viagem de Brasília até Livramento, com paradas. Eu, minha mãe, minhã irmã e o médico que a acompanhava.

Velório na casa dos meus avós. No dia seguinte não queriam me deixar ir ao enterro. Nessa hora já não era mais o "homenzinho". Claro que armei o maior barraco. Fui. Quem já viu sabe: enterro de militar é muito bonito. Minha família é tradicional na cidade e meu pai destacado na profissão. Cortejo em carro aberto com o caixão coberto pela bandeira do Brasil; salva de tiros, hino nacional, discurso do comandante da guarnição, etc. Finalmente, talvez pela emoção da cena, sei lá, pude chorar. Quieto, no meu canto, pois homem não chora.

Em dezembro voltamos, eu e minha mãe, para Brasília. Fazer a mudança e as providências necessárias. Desses dias, a única coisa que me lembro é que estávamos lá no Natal. Como já tínhamos entregue o apartamento, ficamos, na noite de 24 para 25, no apartamento daquele casal de amigos que nos avisou da morte. A viagem definitiva seria no dia seguinte.

Estávamos só nós no apartamento, pois a família tinha viajado. Ficamos no quarto dos filhos, dois amigos meus. Mamãe sentada numa das camas e eu na outra. A noite inteira aquele silêncio. Era véspera de Natal. Lá pelas onze horas, pedi uma única coisa para minha mãe: mãe, posso ao menos tomar um copo de coca-cola? E chorei pela segunda vez naquele ano.

Ali, no quinto dia, houve uma tarde, mas havia perdido minha manhã.

segunda-feira, maio 30, 2005

As origens do mundo, da humanidade e do Afonso - IV / VII

Pois é,

"Deus disse: 'Que haja luzeiros no firmamento do céu para separar o dia e a noite; que eles sirvam de sinais, tanto para as festas quanto para os dias e os anos; que sejam luzeiros no firmamento do céu para iluminar a terra' e assim se fez. Deus fez os dois luzeiros maiores: o grande luzeiro para governar o dia e o pequeno luzeiro para governar a noite, e as estrelas. Deus os colocou no firmamento do céu para iluminar a terra, para governarem o dia e a noite, para separarem a luz e as trevas, e Deus viu que isso era bom. Houve uma tarde e uma manhã: quarto dia".

E se vamos falar em luzeiros, de Brasília são as minhas primeiras memórias. Tudo era novo: a vida e a cidade. Ambas recém inauguradas. Crescemos, por alguns anos, juntos. Vi tanques e canhões apontando para o prédio onde morava e tive que me esconder nos fundos do apartamento. Sutil maneira que os "salvadores da pátria" inventaram para impedir que alguns oficiais do exército se colocassem contra o movimento: ameaçar as famílias. Vi meu pai ser preso na Revolta dos Sargentos, em 1963. Ouvi tiros e vi os buracos nas paredes. Aprendi a andar de bicicleta; a ler e a escrever; quebrei o braço; ganhei, por bravura (fui ao dentista e não chorei), um travesseiro que me acompanhou por trinta e cinco anos; tomei chocolate (Toddy) pela primeira vez; a primeira paixãozinha e aprendi a pintar. Olha eu aí causando inveja no Picasso.



Foi em Brasília, também, que deixei de ver os luzeiros. Estavam montando os brinquedos da pracinha. Passei a tarde inteira olhando, encantado, para as soldas que estavam fazendo. Resultado: fiquei por uma semana sem enxergar. Cego. E, segundo o médico que me tratou, foi um verdadeiro milagre que tenha podido voltar a ver o grande luzeiro para governar o dia e o pequeno luzeiro para governar a noite, e as estrelas. Eu tinha que vê-los, pois houve uma tarde e uma manhã no meu quarto dia.

domingo, maio 29, 2005

As origens do mundo, da humanidade e do Afonso - III / VII

Pois é,

"Deus disse: 'Que as águas que estão sob o céu se reúnam numa só massa e que apareça o continente' e assim se fez. Deus chamou ao continente 'terra' e à massa das águas 'mares', e Deus viu que isso era bom.
"Deus disse: 'Que a terra verdeje de verdura: ervas que dêem semente e árvores frutíferas que dêem sobre a terra, segundo sua espécie, frutos contendo sua semente' e assim se fez. A terra produziu verdura: ervas que dão semente segundo sua espécie, árvores que dão, segundo sua espécie, frutos contendo sua semente, e Deus viu que isso era bom. Houve uma tarde e uma manhã: terceiro dia
".

Daí se dizer que os frutos não caem longe do pé; que quem sai aos seus não degenera; filho de peixe, peixinho é.

Pois vivi mais de quarenta anos sem saber a história da árvore frutífera da qual sou fruto com sementes. Mais tabus familiares.

O vilarejo da foto é a origem da família por parte de pai. Saint Jean le Vieux. São João, o Velho (ou Donazaharre, em Euskara, a língua basca). Fica no País Basco, porção francesa (Também conhecido como Iparralde). Sim, sou basco de origem e de sangue. Terceira geração no Brasil. Só não me decidi, ainda, se entro pro ETA (Euskadi Ta Askatasuna, ou Pátria Basca e Liberdade) até porque, nesses tempos de antiterrorismo pode ser perigoso. Vá que algum americano resolva implicar comigo e dizer que algum antepassado, lá do sec. XVIII, já tinha tendências... (farrapo por parte de mãe e basco por parte de pai. Sempre achei a mistura explosiva...)

Saint Jean le Vieux fica a 4 Km de Saint Jean Pied du Port, porta de entrada do mais tradicional "Caminho de Santiago" (o site tem muitas fotos belíssimas). SJLV já foi acampamento de uma guarnição militar romana, do séc. I d. C. - Immus Pirenaeus - e até hoje possui as suas ruínas.

Pois se vocês notarem, bem à direita tem uma casa1 onde aparece um risco azul. É, essa casa foi terminada, em 1812, pela primeira pessoa neste mundo a carregar o sobrenome Escosteguy. Um fato interessante é como surgiu o nome. Naquela época era comum que as casas fossem referenciadas pelo nome do dono, ou pelo nome da profissão do dono, ou, ainda, por algum acidente geográfico. Teguy é a versão francesa do basco Tegi, que quer dizer "casa". Assim, Escosteguy significa a "casa do senhor de Escos". Jean de Escos deu ao seu primeiro filho, em 15 de setembro de 1772, o nome de Charles. Como Charles era da casa do senhor de Escos, foi registrado como Charles Escosteguy, nascendo, aí, o nome da família, até então apenas o nome da casa. A foto abaixo é da certidão de batismo desse Charles, tirada de um microfilme existente em Bayonne.


Pois se alguém permanceu até aqui sem tirar definitivamente o Chato dos "favoritos", ou da lista de blogs amigos, fique pasmo ao saber que em mais de 138 anos de história da família no Brasil (o primeiro Escosteguy - neto do Charles - chegou ao Brasil em 1867. Chamava-se Pierre Escosteguy, ou o Velho Pedro - Pierre le Vieux, como o chamamos) ninguém sabia disso. Coube a mim resgatar toda uma história abandonada em meio a quase cem anos de brigas que separaram a família. E num memorável encontro, realizado em 2001, onde buscamos superar todas as discórdias do passado. Mais do que dar a mim mesmo uma origem, trouxe a todos o sentido de que viemos de um só casal. O Adão e a Eva da minha família.

A história da minha família era um tabu. Nunca ouvi meus pais falarem no assunto. Sabia apenas, à boca pequena, de histórias de brigas. Meu avô, então, falava menos ainda, pois ele participou da Segunda Grande Cisão. E da primeira também (se bem que nessa, era um adolescente e foi conduzido pelas mãos do irmão mais velho, com quem brigaria na IIGC). É, essa história é a história do século XX: duas grandes guerras. Para se ter uma idéia, meu avô teve que ir escondido ao enterro da própria mãe, minha bisavó. Um dos meus tios se recusa, até hoje, a andar na mesma calçada por onde esteja passando algum dos primos.

Cresci assim, sem história. Mas o post não é para contar a minha história. Essa história é apenas um pano de fundo. É para falar das "árvores que dão, segundo sua espécie, frutos contendo suas sementes". E de como é importante a gente saber que é fruto de um fruto de um fruto ...

Por vezes me pergunto: será que Charles Escosteguy imaginava que sua família duraria tanto tempo? Será que ele tinha noção de que colocar um filho no mundo é mais do que perpetuar a espécie? Que é dar aos seus descendentes uma raiz? Que quase duzentos e quarenta anos após, um tatataraneto viria a descobrí-lo? Eu imagino isso pra daqui a trezentos anos? Ainda hoje me pergunto por que fui eu a descobrir toda a história da família. Será que eu sei que sou, também, uma raiz?

Dei para minha filha aquilo que meus pais não me deram: uma raiz, uma manhã. E finalmente, no meu terceiro dia, eu tive uma tarde, e também tive uma manhã.

1A casa existe até hoje e tem, em cima da porta da frente, o nome Escosteguy esculpido e uma data: 1812.

sábado, maio 28, 2005

Promessa quebrada

Pois é,

Tinha prometido, a mim mesmo é claro, não quebrar a saga com outros posts, até que ela terminasse. Mas hoje é um dia especial.



Carrego essa foto na minha carteira há 24 anos. Troco de carteira mas a foto está sempre comigo. Essa menininha no meu colo está casando hoje. É filha de amigos de infância.

Já disse que o Chato é um bobalhão meloso, que acredita que essas coisas fazem a vida valer à pena ser vivida. Acho que ela gosta, pois sempre me pede para mostrar a foto para os amigos. Quem sabe daqui a pouco não estarei carregando a foto da "neta"?

Atenção: olhem pra menina!

As origens do mundo, da humanidade e do Afonso - II / VII

Pois é,

"Deus disse: 'Haja um firmamento no meio das águas e que ele separe as águas das águas', e assim se fez. Deus fez o firmamento, que separou as águas que estão sob o firmamento das águas que estão acima do firmamento, e Deus chamou ao firmamento 'céu'. Houve uma tarde e uma manhã: segundo dia".

E fui chamado Afonso. Luiz Afonso. Não sei donde tiraram. Se ainda hoje não é um nome comum, que dirá naquela época. Uma história e uma possibilidade. A história é de que seria o nome de algum "flerte" da juventude da minha mãe. Pouco provável. Seria muito difícil explicar a origem de um nome tão raro. A possibilidade está relacionada a um primo-irmão do meu pai que morava no Rio, na mesma época, e foi quem ajudou no caso da minha irmã. Esteve junto todo o tempo e souberam, ele e a esposa (que vim a conhecer o ano passado), dar todo o apoio necessário numa hora dessas. O nome? Ora, José Affonso. Deve vir daí o meu Afonso. Uma justa e bela homenagem a quem, embora as histórias familiares que bem poderiam tê-los afastado, dedicou-se de coração a amparar um jovem casal ante uma das piores perdas: a de um bebê de onze meses. Do Luiz não faço a mínima idéia, embora meu irmão mais velho chame-se Luiz. Luiz Felipe. Tenho, cá pra nós, que minha mãe era chegadinha na história dos reis europeus.

E por falar em mãe, dizem as lendas familiares que descendemos, por parte dela, de família nobre inglesa. John of Gaunt, Duque de Lancaster (a figurinha aí embaixo, à direita). Aquele mesmo da Guerra das Duas Rosas. Duas famílias reais: os Lancaster, que tinham uma rosa vermelha no brasão, e os York, que tinham uma rosa branca. Tudo farinha do mesmo saco brigando pelas terras inglesas. A confusão só acaba quando Henrique Tudor, que tinha no sangue ambas as rosas (York pelo pai e Lancaster pela mãe, além de casar-se com Elisabeth, da ala dos York) sobe ao trono com o nome de Henrique VII. É, ele foi o pai do putanheiro Henrique VIII (que causou o maior estrago na Igreja e nas mulheres do reino) e avô de Elisabeth I (aquela que virou filme, de tão branquinha que era, tadinha). Esses que estão por aí ainda são farinha do mesmo saco. Velha essa monarquia inglesa, eu hein?

Nesse meio tempo o Duque de Lancaster arranja um tempinho para ajudar seu coleguinha português, D. João I, a se livrar dos incômodos espanhois, ávidos por tomar alguns banhos nas lindas praias portuguesas. De quebra, como pagamento pela ajudinha, o nobre inglês, que já estava prevendo que sua nobreza iria pro bebeléu na Inglaterra, arranjou o casamento da sua querida filha, D. Felipa de Lancaster, com D. João I, o reunificador do Reino de Portugal. É de se salientar que D. João I era filho bastardo de D. Pedro I (o de Portugal, não o nosso, que virou D. Pedro IV, como todos sabemos). Nada fora do comum naquela época (bueno, dizem que o nosso D. Pedro I reconheceu... sei lá quantos bastardinhos antes de morrer. Sei sim, mas não vem ao caso!).

Do casamento de D. João I e D. Felipa de Lancaster, nasceram vários infantes, dentre eles D. Afonso, segundo filho do casal (não confundir com D. Afonso, 1º Duque de Bragança, filho de D. João I com a plebéia Inês Pires. Putz, esse meu nome...). Ainda segundo a lenda familiar (sim, porque a história jura de pés juntos que D. Felipa era uma santa mulher - mesmo porque ela não conhecia as pesquisas modernas, que apontam as inglesas como as mais infiéis do mundo!), D. Felipa deu uns pulinhos fora do cercadinho e fez um filhote, além dos oito que já havia feito com D. João I. Esse filhote teria, mais tarde, prestado uma homenagem à querida mamãe: aportuguesou seu nome para Alencastre. É bem provável, pois o gajo devia ser manso em inglês e não sabia pronunciar direito Lancaster.

Se é pelas lendas, vou para Londres exigir minha parte do Castelo de Buckingham. Já imaginaram o The Sun noticiando "Brasileiro descendente da família real Lancaster exige sentar-se ao lado de Elisabeth II"? Acho que não teria estômago para ficar olhando Charles e Camila a toda hora.

Minhas (a bem da verdade, pelo lado materno, muito mais do meu irmão do que minhas) pesquisas genealógicas, no entanto, não chegaram tão longe. Fui apenas até os idos de 1700, com o primeiro Alencastre aportado por essas bandas. E nessas idas e vindas de cemitérios, cartórios e internet, descobri-me descendente direto de Farrapos, ou Farroupilhas. Ôigale que não é cousa poca! Meu tataravó foi o autor do primeiro hino da então República Rio-Grandense (também conhecida como República do Piratini, uma das capitais). É até nome de rua aqui em Porto Alegre.

Talvez venha daí minha rebeldia com a Côrte. Quer dizer, não sei. Há um fato interessante aí: o pai do meu tataravô, meu tatataravô, era do exército imperialista. Pasmem, pai e filho lutando em lados opostos. Talvez por isso eu tenha votado pela volta da monarquia. E talvez por isso de quando em vez dá vontade de separar o Rio Grande do Brasil. E talvez por isso eu perca meu tempo vendo as aparições da minha família real inglesa.

Enfim, e por fim, conosco a família acaba: não existem mais descendentes homens com o sobrenome Alencastre que possam transmitir aos filhos. Se começou há 700 anos, acaba depois de 700 anos a saga brasileira de uma família real, segundo a lenda da família, é claro.

E assim, no meu segundo dia, tive um nome e um sobrenome. Houve uma tarde, mas não houve, ainda, uma manhã.

sexta-feira, maio 27, 2005

As origens do mundo, da humanidade e do Afonso - I / VII

Pois é,

"No princípio, Deus criou o céu e a terra. Ora, a terra estava vazia e vaga, as trevas cobriam o abismo, e um vento de Deus pairava sobre as águas.
Deus disse: 'Haja luz' e houve luz. Deus viu que a luz era boa, e Deus separou a luz das trevas. Deus chamou à luz 'dia' e às trevas 'noite'. Houve uma tarde e uma manhã: primeiro dia."

Não sei como fui separado das trevas. Naquele tempo os pais não costumavam comentar com os filhos essas coisas. Até hoje acredito piamente que tenha sido a cegonha a me trazer. Não falo do momento em si, mas do contexto no qual fui concebido, coisas do tipo "sabe, meu filho, aquele foi um dia muito especial". Nem isso. Não os estou culpando. Era o costume da época. Pais não falavam com os filhos. Crianças eram crianças e adultos, adultos. Não se misturavam os assuntos. Anos mais tarde tive a oportunidade de corrigir a falta: filmei o parto da minha primeira filha e, tão logo ela adquiriu consciência, passou a ver. Ela sabe que não foi a cegonha.

Tive uma irmã que morreu treze meses antes de eu nascer, com onze meses de idade. Algo me leva a crer que fui uma tentativa de suprir a falta. Outro tabu: nunca ouvi meus pais falarem dela. No ano passado estive no Rio de Janeiro e fui o único, em mais de quarenta anos, que visitou o túmulo dela. Também visitei o local onde espero ter sido concebido e onde passei os primeiros quatro anos da minha vida. Nada. Esperava que, estando ali, todas as memórias perdidas retornassem e me dissesem: "Afonso, a verdade é que não foi a cegonha que te trouxe". Percorri a pé os caminhos que penso ter percorrido num carrinho de bebê; sentei nas areias da praia (Praia Vermelha) onde penso ter sentado; corri da água imaginando que teria feito o mesmo quando era uma criança, que recém aprendeu a se equilibrar nas perninhas e se assusta com a imensidão do mar.

Nada. Apenas um vazio sufocante. Não me vi ali. Era um mar e uma areia que não me pertenciam. Não tinha meu nome escrito em nenhuma pedra. Chorei a minha falta. Fui em busca do Verbo e saí em meio às trevas. E assim, no meu primeiro dia não houve uma tarde e uma manhã.

quinta-feira, maio 26, 2005

Astrologia

Pois é,

Nos meus idos tempos dedicados à Astronomia/Astrofísica, também me dedicava à Astrologia. Não a essa deturpação advinhatória que grassa pelos jornais e revistas. A Astrologia, como qualquer outro ramo do conhecimento humano - e é, sim, um ramo do conhecimento humano - quando utilizada como um conjunto de saberes referencial, é muito útil. Pena que algumas pessoas insistem em dizer que a Astrologia é uma ciência, como se com isso dessem mais "verdade" aos seus argumentos ou "previsões". Não é ciência, por mais que hoje o conceito de ciência tenha sido alargado e reconfigurado, além de debatido.

Claro que arranjei muita confusão como meus colegas "cientistas". Imaginem em pleno Departamento de Astronomia, da Faculdade de Física da UFRGS, conceituadíssimo à epoca (hoje já não sei mais a quantas anda) alguém falar em Astrologia. O debate era por vezes acirrado.

Por essa época, também, apareceu o primeiro livro do Fritjof Capra, O Tao da Física, onde ele começava a introduzir, na Física, o conceito de holismo, mais tarde desenvolvido n'O Ponto de Mutação. Surgiam também, com força, a Teoria do Caos, a Ecologia (é dessa época a Conferência de Estocolmo, 1972, onde é proposto, pela primeira vez, o conceito de desenvolvimento sustentável, até hoje inalcançável) e tudo que estivesse ligado ao chamado "esoterismo". Publicam-se no Brasil os livros da Helena Blavatsky, ressurgem os Templários (com o livro O Papa Negro, Ernesto Mezzabotta), aparece a revista Planeta, etc. Como sabem os que viveram naquela época, o pobre do Capra passou de grande físico a persona non grata nos meios acadêmicos. Os anos 70 e 80 desencadeiam uma afronta à ciência. Pensadores consagram-se com o advento da internet. As redes, rizomas, desterritorializações e tantos outros conceitos aparecem. Confesso que também fiquei decepcionado com o Capra, mais tarde, quando esteve em POA no FSM. Como era meu ídolo e tinha lido todos os livros dele, achei que não poderia perder uma palestra "ao vivo". Tadinho, virou mais um "guru americano vendedor de livros". O inglês dele era tão primário que até eu entendi sem a tradução simultânea (péssima como todas, diga-se de passagem. Botam gente que não é da área para traduzir expressões características. Só pode dar m....). Saí no meio da palestra. Bueno, estou fugindo do tema.

Nos meus estudos de Astrologia descobri algo que guardo até hoje. É uma alegoria sobre a criação do mundo, do astrólogo inglês Martin Schulman (Karmic Astrology: the Moon's Nodes and Reincarnation, 1977). Mesmo pra quem acha Astrologia uma grande bobagem, é bonita:

"... e naquela manhã Deus compareceu ante suas doze crianças e em cada uma delas plantou a semente da vida humana. Uma por uma, cada criança deu um passo à frente para receber o dom e a função que lhe cabia.

"Para ti, Áries, dou a primeira semente, para que tenhas a honra de plantá-la. Para cada semente que plantares, mais outro milhão de sementes se multiplicará em suas mãos. Não terás tempo de ver a semente crescer, pois tudo o que plantares criará cada vez mais e mais para ser plantado. Tu serás o primeiro a penetrar o solo da mente humana levando Minha Idéia. Mas não cabe a ti alimentar e cuidar dessa idéia, nem questioná-la. Tua vida é ação, e a única ação que te atribuo é a de dar o passo inicial para tornar os homens conscientes da Criação. Por esse trabalho, Eu te concedo a virtude do Respeito por Si Mesmo". Silenciosamente, Áries retornou a seu lugar.

"Touro: a ti Eu dou o poder de transformar a semente em substância. Grande é a tua tarefa, e requer paciência; pois tens que terminar tudo o que foi começado, para que as sementes não sejam dispersadas pelo vento. Não deves, assim, questionar; também não deves mudar de idéia no meio do caminho, nem depender dos outros para a execução do que te peço. Para isso, Eu te concedo o dom da Força. Trata de usá-la sabiamente!". E Touro voltou a seu lugar.

"A ti Gêmeos, Eu dou as perguntas sem respostas, para que possas levar a todos um entendimento daquilo que o homem vê ao seu redor. Tu nunca saberás por que os homens falam ou escutam, mas em tua busca pela resposta encontrarás o Meu dom, reservado a ti: o Conhecimento". E Gêmeos voltou a seu lugar.

"A ti, Câncer, atribuo a tarefa de ensinar aos homens a emoção. Minha idéia é que provoques neles risos e lágrimas, de modo que tudo o que eles vejam e sintam desenvolva uma plenitude desde dentro. Eu te dou o dom da Família, para que tua plenitude possa se multiplicar". E Câncer voltou a seu lugar.

"A ti Leão, atribuo a tarefa de exibir ao mundo Minha Criação em todo o seu esplendor. Mas deves ter cuidado com o orgulho, e sempre lembrar que é Minha a Criação, e não tua. Se o esqueceres serás desprezado pelos homens. Há muita alegria em teu trabalho; basta fazê-lo bem. Para isso eu te concedo do dom da Honra". E Leão voltou ao seu lugar.

"A ti Virgem, peço que empreendas um exame de tudo o que os homens fizeram com Minha Criação. Terás que observar com perspicácia os caminhos que percorrem; e lembrá-los dos seus erros, de modo que através de ti Minha Criação possa ser aperfeiçoada. Para que assim o faças, Eu te concedo o dom da Pureza". E Virgem retornou ao seu lugar.

"A ti Libra, dou a missão de servir, para que o homem esteja ciente dos seus deveres para com os outros; para que ele possa aprender a cooperação, assim como a habilidade de refletir o outro lado de suas ações. Hei de te levar onde quer que haja discórdia, e por teus esforços te concederei o dom do Amor". E Libra voltou ao seu lugar.

"A ti, Escorpião, darei uma tarefa muito difícil. Terás a habilidade de conhecer a mente dos homens, mas não te darei a permissão de falar sobre o que aprenderes. Muitas vezes te sentirás ferido por aquilo que vês, e em tua dor te voltarás contra Mim, esquecendo que não sou Eu, mas a perversão da Minha Idéia, o que te faz sofrer. Verás tanto e tanto do homem enquanto animal, e lutarás tanto com os instintos em ti mesmo, que perderás o teu caminho; mas quando finalmente voltares, terei para ti o dom supremo da Finalidade". E Escorpião retornou ao seu lugar.

"A ti, Sagitário, Eu peço que faças aos homens rirem, pois entre as distorções da Minha Idéia eles se tornam amargos. Através do riso darás ao homem a esperança, e por ela voltarás seus olhos novamente para Mim. Chegarás a ter muitas vidas, ainda que só por um momento; e em cada vida que atingires, conhecerás a inquietação. A ti, Sagitário, darei o dom da Infinita Abundância, para que te possas expandir o bastante até atingir cada recanto onde haja escuridão, e levar aí a luz". E Sagitário voltou ao seu lugar.

"De ti, Capricórnio, quero o suor da tua fronte, para que possas ensinar aos homens o trabalho. Não é fácil a tua tarefa, pois sentirás todo o labor dos homens sobre os teus ombros; mas, pelo jugo da tua carga, te concedo o dom da Responsabilidade". E Capricórnio voltou ao seu lugar.

"A ti, Aquário, dou o conceito de futuro, para que através de ti o homem possa ver outras possibilidades. Terás a dor da solidão, pois não te permito personalizar o Meu Amor. Para que possas voltar os olhares humanos em direção a novas possibilidades, Eu te concedo o dom da Liberdade, de modo que, livre, possas continuar a servir a humanidade onde quer que ela esteja". E Aquário voltou ao seu lugar.

"A ti, Peixes, dou a mais difícil de todas as tarefas. Peço-te que reúnas todas as tristezas dos homens e as traga de volta para Mim. Tuas lágrimas serão, no fundo, Minhas lágrimas. A tristeza e o padecimento que terás que absorver são o efeito das distorções impostas pelo homem à Minha Idéia, mas cabe a ti levar até ele a compaixão, para que possa tentar de novo. Por esta tarefa, Eu te concedo o dom mais alto de todos: tu serás o único de Meus doze filhos que Me compreenderá. Mas esse dom do Entendimento é só para ti, Peixes, pois quando tentares difundí-lo entre os homens eles não te escutarão". E Peixes voltou ao seu lugar.

"... Então Deus completou: cada um de vós é perfeito, mas não compreendereis isso até que vós doze sejais Um. Agora vão! E as doze crianças foram embora executar sua tarefa da melhor maneira...".

quarta-feira, maio 25, 2005

Roberto Carlos e emoções

Pois é,

Eu gosto. Tenho a coleção em LPs. Dos Cds, infelizmente uma fase meio, meio..., não tenho nenhum a não ser o excelente Acústico MTv, disco que qualquer dia se acaba de tanto que escuto. Mas não é sobre ele que quero escrever. Um dia ainda faço um post - talvez um mínimo decente - sobre ele. Merece, mesmo que tenha gente muito mais competente para isso do que eu.

Mas é sobre algumas sensações (emoções) que a Luma - não sei se intencionalmente, acho que não - me fez sentir e que me lembrou da letra "se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu senti" do RC.

Num comentário ela fez uma conta, aparentemente de brincadeira, e "acertou" a minha idade. Até aí tudo bem. Afinal, tem gente que sabe dar chutes. Sensação n.º 1: surpresa. Surpresa por alguém chutar tão bem.

Hoje entrei no Haloscan para comentar alguns comentários e me deparo com vários comentários que eu não tinha lido. Sensação n.º 2: inexperiência. Inexperiência por não prever a possibilidade de que alguém possa comentar um post mais antigo.

Sensação n.º 3: transitoriedade. Desde que iniciei a ler blogs e a escrever neste, tenho a sensação de transitoriedade dos posts. Algo como "o que escrevi hoje ninguém vai ler amanhã", ou "ninguém perde tempo lendo posts anteriores a dois ou três dias". Eu não faço isso. Fico uma hora visitando todos os posts da minha lista todos os dias, no mínimo duas vezes: uma pela manha e outra à noite. Assim mantenho-me em dia e não preciso ficar rolando a tela.

Acontece que eu comentei o comentário da Luma dizendo que não havia entendido a conta que ela tinha feito mas que, de qualquer forma, ela havia acertado. Pois não é que ela foi lá e escreveu: "Afonso ... li seu blogo inteiro... rs".

Pronto. Foi o que bastou para que da quarta à decima sensações se misturassem todas.

Quarto, não supunha que alguém pudesse se dedicar a ler todo o blog (admirado); quinto, não me lembro de ter escrito algo sobre minha idade (amnésia, ou a sensação associada a não conseguir se lembrar de algo); sexto, parece que sou mais transparente do que imaginava (tem alguma sensação associada com isso. Não sei qual, mas que tem, tem. Estou sentindo, oras!); sétimo, o que será que ela ficou pensando (medo, apreensão)? Oitavo. Esse blog pode tomar forma, corpo e querer sair por aí sozinho, sem mim (perda) ? Nono, e agora (dúvida misturada com responsabilidade)? Décimo (VETADO. Dessa eu gosto, rs).

Mas a maior de todas é a sensação da perda do anonimato. Anonimato não de nome, mas de ser. É quando a gente se dá conta que existe porque outros viram que a gente existe. Sem querer (?) parece que fui me mostrando e agora parece que estou desnudo. É, assim mesmo, sem pele, sem músculos, sem órgãos e sem ossos. Vou ter que ler todo meu blog.

A Kaya tem razão quando diz que eu sou muito transparente. E eu achava que era só um problema no grau dos meus óculos, quando me olho no espelho e já quase não me enxergo.

Gracias

Pois é,

Gracias aos que vieram. A quem veio e deixou uma mensagem de carinho; a quem veio e apenas leu. Beijos.

Mas não pensem que tudo foi um mar de rosas, não ao menos pra mim. Ainda havia o que fazer à noite. Sacrifícios gastronômicos. Muito originalmente, levei a Kaya para jantar. E onde se leva uma mulher para jantar? Óbvio, onde tenha uma comida que ela gosta. E do que ela gosta e poderia considerar especial, especial por não ser todos os dias?

É isso mesmo, comer arroz disfarçado. Vamos e venhamos, essa tal de comida japonesa é muito bonita, mas é arroz. E eu detesto comida japonesa. Enfim, sacrifício é sacrifício. Peraí! Tá certo que ela merece qualquer sacrifício, mas até comer arroz sem feijão? Como não sou tão santo assim, não a levei num restaurante puramente japonês. Porto Alegre já é uma cidade moderna, tem restaurantes que oferecem comida como alternativa ao arroz. E uma bela seleção de carnes.

Enquanto ela se deliciava com arroz bonitinho eu comia uma bela picanha mal passada, filés e outras partes de alguma pobre vaquinha. O sacrifício, ao final das contas, além do da vaquinha, é claro, resumiu-se em passar a noite toda ouvindo expressões tipo hummm, hummm, uau, e alguns "grunhidos" que me deixaram com ciúmes.

- Ô Kaya?
- O quê?
- Essa expressão aí, foi de prazer?
- Claro, não sabes o que estás perdendo!
- E comigo não? Tá certo, tá certo, da próxima vez vou me enrolar em algas...

terça-feira, maio 24, 2005

Os olhos que brilham

Pois é,




Não posso te desejar feliz aniversário, Kaya, porque hoje eu sou feliz.

Sou feliz por ter olhos que podem olhar teus olhos. Por me alimentar diariamente desse brilho e por saber o que é estar chorando de felicidade. Se choro agora é porque aprendo a chorar a cada segundo que olho teus olhos brilhando.

Não posso te desejar feliz aniversário, Kaya. Como posso desejar algo que tens na plenitude e que me dás, segundo após segundo? Hoje, eu sou feliz.

Sou feliz por ter pernas que me permitem te acompanhar e que me permitiram caminhar ao teu lado até o momento do sim. Por teres permitido que fosse eu a estar ali e não outro.

Sou feliz por teres escolhido a mim para ser pai da tua completude. E por ter mãos que possam tocar e acariciar tua felicidade de mãe.

Sou mais feliz ainda, porque não poderia fazer tudo isso não fosse tu. Não fosse teres deixado que eu me aproximasse, que eu "te cantasse". Que ousadia! E pensar que até hoje penso que eu é que "te ganhei". Sou feliz por me deixares viver na ilusão boba de que ser homem é "ganhar".

Sou egoista, Kaya, não posso te desejar feliz aniversário. Meu presente é pedir a Deus que me mantenha vivo, o quanto puder, ao teu lado. E que me faça sábio para não cometer erros que deixem teus olhos chorar de tristeza. E que Ele te mantenha sábia, como és, para continuar a entender meus erros.

Não posso te desejar feliz aniversário, Kaya. Te quero feliz todos os dias. Te quero assim, como na foto, linda, brilhante. Te quero realizada, plena. Quero ver teus olhos brilhando nos olhos da Clarissa.

Não posso te desejar feliz aniversário, Kaya. Hoje, hoje eu sou feliz. E sou feliz porque tenho dedos que só saberiam escrever: obrigado por existir.



Por isso, Kaya, todos os dias, e não apenas hoje, serão todos lindos dias, das mais loucas alegrias que eu possa imaginar...

segunda-feira, maio 23, 2005

Quem disse...

Pois é,

Quem disse que bandido não é bom para o país?

Olha só trecho da reportagem publicada pela Módulo Security, "Raio-X de uma fraude pela internet", onde é relatada a condenação de dois criminosos internautas:

"Esse cenário se revela quando analisamos a evolução dos trojan horses. "Os primeiros programas desenvolvidos para a captura dos dados confidenciais somente gravavam o que era digitado no teclado da vítima. Diante disso, os bancos desenvolveram a questão do teclado virtual, passando a usar o clique do mouse para a digitação da senha. Os criminosos desenvolveram então um outro sistema, que - por coordenadas - captavam os cliques do mouse na exata coordenada em que ficava o número no teclado virtual. Para coibir essa prática, os bancos programaram os teclados de forma que os números alteravam, no qual o processo de captura das coordenadas não seria mais possível. Mesmo assim, os criminosos desenvolveram um novo sistema que, no clique do mouse, fotografava a tela. O Banco do Brasil, por exemplo, adaptou seu teclado virtual de forma que o número some por uma fração de segundos. Até o momento, não identificamos ainda nenhuma forma de captação dessa nova forma que funciona no Banco do Brasil".

Viu? Não fossem os bandidos e os bancos não teriam se preocupado em aperfeiçoar seus sistemas de segurança.

Amanhã

Pois é,

"Amanhã será um lindo dia, da mais louca alegria que se possa imaginar..."

domingo, maio 22, 2005

Campanha

Pois é,

Nessa época de fundamentalismo politicamente correto, resolvi lançar a campanha "Eu respeito quem fuma!". Algumas dicas:

1. Ao receber um fumante em sua casa, seja gentil. Ofereça a ele a sacada, a área. Diga que ele pode fumar ali tranqüilo. Lembre-se: enquanto você está confortável, ele está sofrendo por não poder fumar. E mesmo assim preza a sua companhia. Por que não retribuir?

2. Não trate fumantes como se fossem doentes. Lembre-se: eles têm um vício e não uma doença.

3. Seja solidário com os fumantes. Não os trate mal como se fossem pragas a serem exterminadas da face da Terra. Lembre-se: fumantes são seres humanos.

4. Tenha sempre um cinzeiro em casa. Não faça os fumantes passarem vergonha. Não os constranja. Lembre-se: ser fumante pode ser o único problema de um grande amigo seu. Vale à pena constrangê-lo?

5. Um cigarro leva, em média, cinco minutos para ser fumado. Será esse o tempo necessário para que você despreze um ser humano? Lembre-se: a vida deve ser maior que isso.

6. Com carinho e com jeitinho, fumantes podem passar horas sem fumar. E, nessas horas, podem beijar, falar e transar. Lembre-se: criatividade tira qualquer cheiro.

7. Se você é ex-fumante, seja original: não reclame dos fumantes. Lembre-se: um dia você poderá voltar a ser um.

8. Nunca, mas nunca mesmo, subestime a inteligência de um fumante dizendo a ele que o cigarro faz mal. Lembre-se: ele sabe disso melhor do que você, que não fuma.

9. Acima de tudo, não critique, ajude. Lembre-se: pode sair da sua boca a frase que poderá fazer de um fumante um ex-fumante.

10. VETADO. (art. 8º do Código do Chato).

Vamos parar com essa guerra contra os fumantes. Nós sabemos respeitar quem não fuma. Temos apenas um vício difícil de largar, não temos uma doença contagiante. Seja solidário, adote e divulgue o selo: "eu respeito quem fuma!" (só falta alguém fazer o selo pra mim, rsrsrsr).

Junho

Pois é,

Junho é um mês importante. Temos vários aniversários para come.bebe.morar: o meu e o do Chato. O do Gejfin e o da Aninha (pronto, falei. Só não vou dizer os dias, mas nem te conto: um deles faz junto comigo!). O Chato estará fazendo um aninho, quem diria. Eu? Não interessa, tá!!! Segundo a Kaya, minha idade mental é de quinze anos. Então, farei 16. rsrsrs.

E não discordo dela, pois se há uma coisa da qual me orgulho é nunca ter esquecido minha infância e minha juventude. Mas o Chato, tadinho, estou preocupado com ele. Tá lá, no dia 22 de junho de 2004, o primeiro post:

Acabei de criar. Ainda nem tenho idéia do que fazer com isso. Vamos ver...

Conduzido por uma pessoa maravilhosa, o Diego, resolvi entrar nessa tal blogosfera, mais fera que blogos. Fico preocupado, repito, porque até hoje acho que não tenho idéia do que fazer com isso.

Era um mundo novo. Bem poderia, se tivesse tido filhos aos vinte anos, ser pai dos citados. Conheci-os na pós. Mais a Ana, que também é colega por lá e também pessoa maravilhosa. Souberam me tratar com carinho. Talvez até tivessem vontade de me chamar de "tio". Acho que perceberam que golpe baixo não valia, rsrsrsr.

Confesso que fiquei surpreso ao ver uma juventude com conteúdo. Acostumado que estava com os anos 80 e 90 que, por mais que se espremesse, não saía muito suco, acabei me engalfinhando em ferrenhos debates. A começar pelo Gejfin que chamou meu primeiro escrito de "filminho". Fosse eu adolescente e teria dado uma cuspida no chão ali mesmo. Chamado pra briga. Quem esse piá pensa que é? Pois não é que esse piá dava várias voltas no véio!? Certo ele, quem nasceu pra ser Chato nunca vai chegar a Spielberg.

Pelas mãos dessa gente toda resolvi acreditar que blog não era coisa de adolescente, de menininha. Comecei a ler blogs. Grande erro! Tomei um susto ao descobrir que a coisa era séria. Mais séria do que eu poderia fazer. Mas sou geminiano e gaúcho. E como diz a poesia1:

Prezo muito a liberdade,
sou sacudido e mui macho!
Pra china nunca me agacho,
isso nunca aconteceu!
Fui assim desde menino:
- em mim quem manda é o destino,
e nelas quem manda sou eu!


Oigalê, Tchê! E resolvi não me michar pro negócio.

Despacito no más começaram a aparecer as visitas pro chimarrão. Gente de peso nessa tal de mais fera do que blogos. Com os primeiros eu apenas tinha insônia. Ainda conseguia dormir um pouco com a desculpa de que tinha avisado: era mais que um blog do Chato, era um blog chato. E a roda foi aumentando. Saí pra catar lenha, pois precisava manter a água sempre quente.

Começaram a aparecer as primeiras referências à esquerda (alguns à direita). Putz, onde é que estou me metendo?

- Afonso?
- Sim, Chato?
- Toma tento, bagual! Doze luas e ainda não sabes o que vais fazer com isso?
- Pois é... vamos ver...

1Gaudério, de Apparicio Silva Rillo.

sábado, maio 21, 2005

Imitação barata

Pois é,

Entrei num blog (não lembro qual) que o autor costuma postar colocando a hora entre colchetes. Vou fazer isso hoje, pra não ficar colocando vários posts. Um postão, na verdade. (PS tardio: descobri onde foi: no Nemo Nox, por um punhado de pixels)

[20:35] De cigarros e marcianos. Estão lá na Luma, ambos. O pior de ser fumante nos dias de hoje é ser considerado um extraterrestre, um alienígena malvado que deve ser exterminado, um marciano que invade a Terra tentando por fim na pureza de vida dos não fumantes.

Está virando moda sair por aí criticando os fumantes. Uma coisa é fazer um post informativo como o da Luma, outra é ficar rotulando os fumantes com adjetivos nada agradáveis de serem ouvidos. Isso faz tanto mal quanto ser fumante. Mais, o cigarro mata apenas quem fuma, o ser "politicamente correto" pode matar milhões de pessoas. É o fundamentalismo da "saúde", que pode virar facilmente qualquer outro tipo de fundamentalismo.

Está na hora de começar a respeitar quem fuma como seres humanos que são e não extraterrestres. Está na hora de respeitar a inteligência dos fumantes e parar de tratá-los como se não soubessem que cigarro faz mal. Parem de ser prepotentes achando que sabem mais que os próprios fumantes o quanto o cigarro faz mal.

Está na hora de tratar os fumantes como pessoas que precisam de ajuda e nao de críticas ou de serem tratados como párias. Faça algo de útil para um amigo seu que fuma. Não critique nem se afaste dele. Vá numa farmácia e compre uma cartela de Zyban, uma caixa de adesivos e dê a ele como presente. Não diga que o cigarro faz mal, ele sabe melhor que você sobre isso. Pergunte se ele tem vontade de parar. Se ele disser que sim, converse apenas. Quem sabe você não pode ser a ajuda psicológica de que tanto ele precisa e talvez nem saiba?

Seja amigo de um fumante e não mais um a escorraçá-lo.

x.x.x.x.x.x.x.x.x

[17:10] Vocês já comeram o talharim à Valenciana da Kaya? Não!!!???? Que pena. Eu comi. Até a Clarissa dava pulos na barriga dela de tão bão, hehehe.

[16:40] Uma das regras básicas do feedback diz que não se deve analisar as pessoas e, sim, suas ações ou idéias. O máximo cuidado. Deve-se mostrar que isso ou aquilo pode não ter sido a melhor coisa a ter sido feita ou que determinada idéia pode não ter sido adequada ao momento. Jamais criticar a pessoa. É difícil, principalmente porque estamos acostumados a levar tudo pro lado pessoal. Dar feedback é uma arte.

Já vi gente defendendo a idéia de que somos o que fazemos e o que pensamos; logo, se criticas o que faço ou penso, estás a me criticar. Nada mais falso. E é falso porque as pessoas que costumam criticar o fazem de forma a atingir as pessoas e não seus atos e idéias. Atos e idéias, no mais das vezes, são condicionados pelas circunstâncias. São contingenciais. Somos múltiplos; representamos papéis conforme a necessidade de sobrevivência; conforme o meio ambiente nos exige. Isso é básico. Mas se é tão básico, porque não lembramos disso ao "analisar" as pessoas?

Uma das técnicas (se é que se pode chamar isso de técnica) para lidar com pessoas é a empatia. Entrar na pessoa; ver como ela vê; sentir como ela sente; tentar vivenciar as experiências dela como se ela fossemos. Empatia não é o que costumeiramente vemos por aí, "se dar bem com alguém". É mais. É ver com os olhos da outra pessoa. É difícil. Por isso tanta confusão nas organizações humanas.

Por que falo disso? Primeiro, porque estou esperando o manjar. Segundo, porque me lembrei que, dentre tantos problemas que fui resolver, um deles dizia respeito a perceber como é que as outras pessoas sentem o mundo. Uma certa chefia reclamava que dava seu sangue para a instituição e que estava indignada pelo fato de que os servidores não faziam o mesmo. Terceiro, porque continuo cheio de coisas pra fazer e continuo fugindo delas (a Kaya até fez um listinha). Quarto, bom, a Kaya chamou... está pronto. Que surpresa será?

x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.

[16:00] O que eu faço por aqui, num dos dias mais lindos que Porto Alegre já teve? Sol, temperatura de outono prenuciando o inverno? Tem gente que precisa ir para os parques para tomar sol. Eu não. Tenho sol dentro de casa e não é a Kaya, é o sol mesmo, se bem que ela me esquenta tanto quanto. Desde que nasce até o poente, o sol está aqui dentro. Pela manhã, na cozinha e na sala; a partir do meio-dia no quarto e no escritório. Agora mesmo escrevo sob o sol. E tenho minhas plantas e meus gatos. A natureza completa aqui e agora. Pra que sair? Putz, devo estar ficando velho, acomodado. Trocar a rua pra ficar em casa, eu e a Kaya, conversando, ouvindo música, tomando um vinhozinho, brincando com os gatos, et coeteras de quando em vez que ninguém aqui é padre, entre umas e outras escrever alguma bobagem por aqui. À noite, tenho vista para o caminho do sol e todas as constelações zodiacais desfilam na minha frente. A lua, em todas as suas fases, passa lentamente por nós. Vejo tudo daqui. E o que não vejo ao vivo, vejo por aqui. E, enquanto espero mais um manjar da Kaya, vou ficar aqui, debaixo do sol, tomando meu vinhozinho, esperando por mais alguma bobagem pra escrever. Devo estar ficando velho.

x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x

[14:45] Não me lembro se já comentei por aqui, mas sou Administrador, trabalho em uma instituição pública (podem falar mal do serviço público e dos servidores, não me importo. Porém, feedbacks sempre serão mais bem vindos. Não gosto apenas daquelas pessoas, infelizmente a maioria, que só sabem criticar e não apresentam alternativas, que não se propõem a ajudar com boas análises e soluções) na área de desenvolvimento organizacional. Sou dos que acreditam piamente que é possível termos uma administração pública que produza bons resultados e faço meu esforço exatamente por acreditar nisso. E por bons resultados entendo uma única coisa: vida digna e saudável para a sociedade brasileira.

Não é discurso político, não, pois é na prática diária que faço isso, através dos treinamentos que ministro para os servidores da instituição que trabalho; através da proposição de novas tecnologias/formas de realização do trabalho de cada um; por fazê-los descobrir qual é o sentido do trabalho de cada um.

Por essa razão, e por outras, é que me preocupa a questão da administração do tempo. Perde-se muito tempo no trabalho, o que o torna ineficiente. Por outro lado, tenho lido muita bobagem de gurus americanos e brasileiros sobre o assunto que, no fundo, no fundo, estão mais preocupados em “vender-se” do que qualquer outra coisa.

Administrar o tempo é coisa bem simples e já aproveito para fazer uma correção observada pela Ana: a regra n.º 3 é, na realidade, a regra n.º 2. Pulei uma sem querer.

As três regras traduzem, na prática quotidiana, o único princípio da administração do tempo. Vai parecer tão óbvio para quem estiver lendo, que irá exclamar: pôxa, esse Chato até pensa que eu não sei disso!

Entre saber e praticar vai uma grande diferença. Talvez quem me leia saiba disso, mas garanto que a maioria, ao menos das milhares com as quais convivo pessoalmente e no trabalho, não sabem e, se sabem, não praticam.

Aí vai:

SÓ EXISTE UMA ÚNICA MANEIRA DE TER TEMPO: NÃO PERDER TEMPO.

Ainda não comentei a regra n.º 2: faça escolhas. Selecione você mesmo o que precisa para viver.

Essa regrinha é fundamental. Significa não se jogar debaixo do bonde só porque os outros estão se jogando. Significa não preocupar-se em saber de tudo para não ficar “por fora”. Significa escolher entre formar sua própria opinião ou ir atrás dos “formadores de opinião”.

Todo mundo reclama da quantidade de informações existentes hoje em dia e que não consegue dar conta de todas. É a famosa “exclusão informacional” que anda pari passu com a exclusão digital.

Nos treinamentos que faço, sempre conto uma historinha. É dessas que anda circulando pela internet, tipo “moral”. Mas é muito boa quando a colocamos em prática.

Um professor de filosofia parou na frente da classe e sem dizer uma palavra, pegou um vidro de maionese vazio e encheu-o com pedras de uns 2 cm de diâmetro.

Então perguntou aos alunos se o vidro estava cheio. Eles concordaram que estava. Então o professor pegou uma caixa com pedregulhos bem pequenos jogou-os dentro do vidro agitando-o levemente. Os pedregulhos rolaram para os espaços entre as pedras. Ele então perguntou novamente se o vidro estava cheio. Os alunos concordaram: agora sim, estava cheio!
Então professor pegou uma caixa com areia e despejou-a dentro do vidro preenchendo o restante.

- Agora, - disse o Professor - eu quero que vocês entendam que isto simboliza a sua vida. As pedras são as coisas importantes: sua família, seus amigos, sua saúde, seus filhos, coisas que preenchem a sua vida. Os pedregulhos são as outras coisas que importam: o seu emprego, sua casa, seu carro... A areia representa o resto. As coisas pequenas. Se vocês colocarem a areia primeiro no vidro, não haverá mais espaço para os pedregulhos e as pedras. O mesmo vale para a sua vida. Cuidem das pedras primeiro. Das coisas que realmente importam. Estabeleçam suas prioridades. O resto é só areia!

Então um aluno pegou o vidro que todos concordaram que estava cheio e perguntou novamente se o vidro estava cheio. Os alunos concordaram: sim, estava cheio!

Então ele derramou uma lata de CERVEJA dentro do vidro. A areia ficou ensopada com a cerveja preenchendo todos os espaços restantes dentro do vidro e fazendo com que ele desta vez ficasse realmente cheio.

Moral da história:

NÃO IMPORTA O QUANTO SUA VIDA ESTEJA CHEIA DE COISAS E PROBLEMAS, SEMPRE SOBRA ESPAÇO PARA UMA CERVEJINHA!

Há uma outra moral, que não é de brincadeira, nessa história e tem a ver com a administração das escolhas:

Escolher, na vida ou no trabalho, é determinar quais são as ATIVIDADES REALMENTE IMPORTANTES (pedras grandes) e quais as NECESSÁRIAS (pedregulhos); quais as que ENCHEM NOSSO TEMPO (vidro), mas que não têm a menor importância (areia) e quais as que nos desviam dos REAIS OBJETIVOS (cerveja).

Juntas, as três regras:

1. seja egoísta. Pense sempre, mas sempre mesmo, primeiro em você;
2. desligue a TV e cancele as assinaturas de jornais.
3. faça escolhas. Selecione você mesmo o que precisa para viver.

nos ajudam a NÃO PERDER TEMPO.

Simples. Meu dia tem 30 horas.

x.x.x.x.x.x.x.x.x

[12:38] A janela do banheiro aqui de casa dá para o pátio de apartamento térreo (moro no 1º andar). Nesse ap mora um casal com um filinha de quase dois anos, a Júlia. Estava, há pouco, tomando banho quando ouço a mãe da Júlia:

- Já não te disse que não quero que coloques as mãos na terra? Olha a sujeira que está. Vamos ter que limpar.


E por aí foi brigando com a pobrezinha.


Outra pessoa ainda disse: - Meu anjo, tens que obedecer tua mãe.

O que há de errado com as pessoas? Que tipo de educação pensam estar dando para seus filhos? Será que o egoísmo - pensar apenas no "trabalho" que dá ter que lavar as mãos da criança - é tão grande que lhes impede de perceber que:

1. é bom e saudável que crianças brinquem com terra e, se quiserem, que a comam?
2. podem estar formando as piores espécies possíveis de adultos, cheios de preconceitos, medrosos, profissionais incompetentes, parceiros possessivos e toda espécie de doença imaginável?

Como pensar em um país melhor enquanto pais como esses existirem?

sexta-feira, maio 20, 2005

Lar doce lar

Pois é,

Estou de volta pro meu aconchego
trazendo na mala bastante saudade.
Querendo um sorriso sincero,
um abraço pra aliviar meu cansaço
e toda essa minha vontade.

Que bom poder estar contigo de novo,
roçando teu corpo e beijando você.
Pra mim tu és a estrela mais linda,
seus olhos me prendem, fascinam,
a paz que eu gosto de ter.

É duro ficar sem você vez em quando,
parece que falta um pedaço de mim.
Me alegro na hora de regressar,
parece que vou mergulhar
na felicidade sem fim.

Nada melhor que voltar e poder "cantar" essa música do Dominguinhos e Nando Cordel, conhecida na voz da Elba Ramalho. Tem vezes que a música É exatamente aquilo que sentimos.

Depois de quatro dias e de uma viagem de quatro horas embaixo d'água (choveu o tempo todo. Que saco descer a serra com chuva!) cá estamos nós. E muito bem obrigado. Sucesso na empreitada. Coisas boas alimentam coisas boas e, no fim, a gente vai levando a vida feliz e realizado.

É um prazer voltar pra casa com essa sensação de realização de um objetivo. A gente tem a mania de só contar as coisas ruins. Eu conto as boas, serve?

Milhões de leituras pra colocar em dia: trocentos blogs X trocentos posts = ai, ai, ai, como farei?

terça-feira, maio 17, 2005

De como fazer um dia ter trinta horas - IV

Pois é,

A viagem foi maravilhosa, como sempre. Vir para cá por essa estrada, ainda mais dessa vez que trouxe o cd dos filme "O Último dos Moicanos", é algo. Já escrevi sobre isso .
Como a ligação por aqui é discada e esse hotel não é uma espelunca das mais baratas, vou deixar apenas a regra número três sem as devidas explicações: Amanhã eu comento.

Regra n. 3: Faça escolhas. Selecione você mesmo o que você precisa para viver.

segunda-feira, maio 16, 2005

De como fazer um dia ter 30 horas - III

Pois é,

- Afonso?
- Sim, Kaya?
- Tá dando aqui na TV que amanhã vai chover em Sidney.
- PQP! Como é que eu vou fazer agora? Pra ir a Passo Fundo sempre passo por Sidney. E lá tem aquela maldita entrada que sempre alaga quando chove.
- Por que não vais por Paris, então? Aqui tá dizendo que lá só vai estar nublado.
- Putz, o caminho é um pouco maior, mas sem chuva até que dá pra correr um pouco mais.

Esta é uma seqüência de dois (na realidade um) post lá de julho do ano passado, onde comecei a descrever algo que as pessoas sempre me perguntavam (lá na pós, tb): "Afonso, como consegues fazer tantas coisas? Até parece que teu dia tem trinta horas!" Daí nasceu a promessa (principalmente para o Diego) de escrever sobre o assunto. Como bom geminiano e portador de TDHA, que sou, tenho o salutar hábito de começar e quase nunca terminar as coisas, ao menos quando as pessoas estão esperando.

Pois nesse momento tipo "cheguei no paraíso e ninguém me avisou" que ando, lembrei-me de como consegui chegar até aqui e de como meu dia ainda tem 30 horas. Se vale pra outros? Não sei. O Chato não é medico; logo, não prescreve.

A moral é simples: se conseguir economizar seis horas por dia, terei 30 ao final, certo? (24+6=30, se ainda me lembro!)

Recordando, para os que não leram e para os que estão com a justíssima preguiça de clicar lá no "atacado", a regra número zero dizia: seja egoísta. Pense sempre, mas sempre mesmo, primeiro em você. A regra zero nos diz, basicamente, que perdemos tempo demais com as pessoas. Temos que ser seletivos com as pessoas que nos ocupam. O egoísmo, aqui, assume um caráter positivo, de preservação. Economizamos muito tempo, durante o dia, se selecionarmos as pessoas para as quais daremos nossa atenção.

O corolário da regra zero é: diga não sempre que puder.

Agora vamos à regra número um: desligue a TV e cancele as assinaturas de jornais.

Jornais só falam daquilo que você já sabe. Não esqueça:

1. jornais são feitos de madrugada, com as notícias do dia anterior que eles vêem na TV;
2. quando se dão conta de algo "novo" e lançam uma edição extra, você já sabe de tudo;
3. jornais só servem para colocar gasolina nas BMW, Mercedes e outros brinquedinhos dos donos dos jornais. Enquanto você mora num barraco, eles moram em mansões e não estão nem aí pras notícias do mundo. Não dá tempo, estão circulando... e você, babaca, perdendo seu tempo. E salários para os jornalistas, reporteres e outras espécies que por lá gravitam;
4. jornais não te informam, apenas te formam como eles querem. (Ah, Afonso, pára com isso, vai. E como vou saber o que acontece no mundo? Pra eles, o que acontece no mundo é o que eles querem que seja o mundo e seus acontecimentos. Faça como eles: selecione.)

Não devia dar esse aviso, mas convém dar uma olhadinha no art. 2º e seu parágrafo único do Código do Chato.

Televisão. Livre-se dela. Há dezenove anos tomei a decisão de não mais ver televisão. Fiz com ela o que não faço com o cigarro: larguei. E essa é a causa principal da minha felicidade de lá pra cá.

Vocês não imaginam o quanto a gente fica feliz quando se torna um ignorante do mundo mostrado pelas redes de tv. E calculem quanto tempo sobra. Só na tv dá pra economizar umas duas horas e meia por dia.

TV é isso aí, te mostra o tempo em Sidney e Paris. Tá certo, tem gente que vai pra Sidney e ... faz alguma diferença saber qual o tempo que vai fazer? Faça chuva ou faça sol, o babaca vai estar lá de qualquer jeito. Mas não, precisa perder tempo vendo o tempo na televisão. Amanhã tenho que estar de qualquer jeito em Passo Fundo. Vai fazer alguma diferença eu perder meu tempo com a loira dizendo: "Afonso, amor querido, vai devagar, pois aqui no mapa mostra que vai chover no Vale do Taquari e te quero de volta na sexta-feira, inteirinho pra escrever nesse teu blog maravilhoso. Plim, plim." Tá certo, eu preciso dela pra me dizer como andar com chuva numa estrada que conheço de olhos fechados! (eu não disse que ando de olhos fechados nela, certo?)

Desculpe se alguém por aqui trabalha em/ou gosta de TV. Quer ganhar tempo na vida? Até pode continuar trabalhando lá, mas quando chegar em casa não liga a TV.

Ninguém em sã consciência precisa de jornais ou tv para saber o que anda acontecendo. Pensa bem, sempre tem aqueles colegas que passam o dia inteiro comentando sobre as novelas, as notícias e tudo o mais. E de graça.

Um causo verídico. Onze de setembro. Não precisa dizer o ano. Dormi pra mais da conta. Fui trabalhar só na parte da tarde. Quando chego no trabalho qual a primeira pergunta que me fazem? "Aí, Afonso, chegou o fim do mundo?" Como conheço os bois que eu lavo, nem dei bola. A conversa continuou e acabei sabendo, tim-tim por tim-tim, tudo sobre as TT. Mesmo que não quisesse ficaria sabendo.

A pergunta é: mudou minha vida ficar sabendo "online" o que estava acontecendo? Sou mais, ou menos, hoje, por ter sabido dos atentados três horas mais tarde que meus colegas e o resto do mundo? Milhões de outros exemplos poderiam ser citados, mas só teriam o efeito de tornar mais chato o assunto.

Isso nos leva ao corolário da regra número um:

A quantidade e a velocidade de propagação das informações é tão grande, hoje em dia, que não mais precisamos correr até elas; elas vêm sozinhas até nós.

Resumindo, por hoje:

Regra n.º 0: Seja egoísta. Selecione as pessoas para as quais você dará seu tempo;
Regra n.º 1: Desligue a TV e pare de ler jornais.

Bueno, só nessa duas primeiras regras já conseguimos algo com umas quatro horas por dia de economia.

Amanhã, de fato, viajo para Passo Fundo via Paris. Afinal, agora eu sei que está chovendo em Sidney. Se puder - e garanto que vou me esforçar - escrevo de lá.

(- Afonso?
- Sim, Chato?
- Nesse outro canal diz que numa cidadezinha americana um adolescente matou cinco coleguinhas de escola com uma bazuca!
- Fica tranqüilo, Chato, dessa vez não vou passar por lá!).

domingo, maio 15, 2005

Blog chato à beça esse, eu hein!?

Pois é,

Tá certo, eu sei que só ficar falando de felicidade é chato. Enfim, eu avisei lá no título que eu era chato.

O que fazer se é assim que estou. O futuro é daqui há um segundo. Pronto, já chegou, já estamos no futuro da frase anterior, da palavra anterior. Sinto muito, não posso reclamar de nada (fora o governo, o Congresso, o puto do governador do meu estado, o Grêmio que vai pra terceirona se continuar assim...).

Sabem o que está acontecendo? É a gente se dar conta do que está acontecendo quando está acontecendo. Antes seria desejo; depois é passado. Estamos sempre querendo atingir alguma coisa, que quando atingimos acabamos passando por cima, sem se dar conta de que chegamos lá.

Tenho um bom trabalho, onde posso exercitar minha criatividade e independência no meu pensar; mais, exercito diariamente minha capacidade de persuasão, pois estou rodeado de pessoas que representam desafios e, acima de tudo, aceitam ser desafiadas e são profissionais o suficiente para compartilhar projetos. Não são do tipo que querem te ver destruído porque representas uma sombra pra eles (o que é mais comum). Enfim, estou no melhor ambiente profissional que já estive até hoje. E ganho bem. Não posso reclamar. Nossa situação financeira é das melhores.

Estou aqui, tomando uma cervejinha, ouvindo uma musiquinha, os gatos dormindo, em meio ao verde enquanto aguardo mais um dos manjares que a Kaya deve estar preparando pra mim. Tenho uma filha maravilhosa e outra a caminho. Quer coisa melhor que curtir a chegada de um novo ser humano? Os sonhos? Ah, os sonhos. E os olhos, os olhos que olho a toda hora. Vivemos bem. Somos pessoas tranqüilas, ela e eu. Conversamos muito. Gostamos de muitas coisas juntos. Se eu digo, vamos? Ela diz, vamos. Quando ela diz, não vamos! Eu digo, também não queria ir. Só não podemos falar de Direito. Ela trabalha na lata de lixo do Direito (Fórum). Eu sou da doutrina (onde tudo é lindo, maravilhoso).

Tenho tudo que quero (vá lá, ainda faltam uma Ferrari, um iate e ganhar na mega-sena), simples assim: um bom trabalho, uma mulher maravilhosa e minhas filhas. Árvores já plantei aos montes. E tenho o blog que faz às vezes do livro.

E tenho os amigos que aqui vêm, com toda a paciência do mundo, e me dizem: Afonso, tu és chato, mas até dos chatos a gente aprende a gostar (rsrsrs).

Ontem à noite fui no aniversário de 77 anos do sogrão. O "véio" está de namorada nova. Parecem dois adolescentes: beijinhos a toda hora, sentam juntos e abraçados. E ele trabalha. E diz que está feliz.

Felicidade é a gente saber que está feliz. É o que basta. É trabalhar e ter gente pra gente gostar.

Felicidade é ser. É apenas se dar conta de que está sendo.

Precisava partilhar. E compartilhar com quem queira "com" comigo.

(- Afonso?
- Sim, Chato?
- Amanhã é segunda-feira?
- PQP, sempre tem alguém pra querer estragar tudo. Vai dormir, Chato!!)

Passando a régua

Pois é,

Troquei o sistema de comentário. Fui pro Haloscan. Beleza, assim eu posso comentar diretamente em cada comentário. O sistema anterior ou não tinha isso, ou eu não sabia como fazer. Esse daí pelo menos foi fácil de aprender como se faz.

Os comentários anteriores, por óbvio, não irão aparecer. Continuam, porém, guardados. Assim que, se alguém quiser relembrar algo, sinta-se à vontade. Aceito qualquer sugestão de melhorias e, qualquer problema que esteja acontecendo é só falar que eu tento dar um jeito. OK?

Mais tarde irei mudar novamente, pois estou tentando colocar no ar o meu pontocom. Baixei o tal de MovableType mas, como estou sozinho nessa empreitada e esqueci tudo o que sabia de informática, tô levando uma surra. Chego lá, ou mudo meu nome pra D. Afonso XX, Um Zero à Esquerda.

sábado, maio 14, 2005

Haloscan commenting and trackback have been added to this blog.

Poesia

Pois é,

No que diz respeito à cultura, o Rio Grande do Sul não difere dos demais estados brasileiros. Todos têm suas peculiaridades. A chamada "cultura gaúcha", ou gauchesca como preferem alguns (música, poesia e outras tradições), no entanto, é tão marcadamente centrada no homem gaúcho, nos seus feitos e petrechos, que se torna quase impalatável para o resto do Brasil. O mesmo se dá, por exemplo, com a cultura nordestina, também marcadamente centrada na saga do nordestino. E talvez por isso a cultura nordestina seja mais aceita no Brasil: ela é, no geral, o retrato de uma saga e não de indivíduos. É mais brasileira porque é a luta contra a miséria, a fome, a seca, contra a vida, a "vida severina". O Rio Grande do Sul foi forjado na luta também, mas foi uma luta sem fome; foi uma luta em campos de pastos verdejantes. Perdia-se a vida, mas não se lutava contra a vida. Aqui se morria de degola, a tiros e a espadadas. Não havia morrer por simplesmente estar vivo e não poder viver.

Há coisas boas por aqui e que não falam necessariamente da bravura gaúcha, tão mal vista por esse Brasil afora. Esse poema gauchesco, do Apparicio Silva Rillo, é um exemplo:

NO BOLICHO

Traga de vez a garrafa
bolicheiro! Me despacha,
que hoje no mais se emborracha
quem nunca se emborrachou.
Quero beber no gargalo
para esquecer o pialo
que o tal de amor me atirou.

Sou índio duro de queda
mas fui pegado de jeito.
Bateu-me a argola no peito
e ali no mais me planchei.
Sempre fui solto da pata
mas nessa volteada ingrata
num tacuru tropecei.

Sucede que eu não sabia
quanta manha se requer
pra se correr com mulher
na cancha reta do amor.
Desci confiado pra raia...
Perdi pro rabo de saia
sem sair do partidor!

Caí no tiro de laço
de um olhar de china atrevida,
que embuçalou minha vida
na armada negra das tranças,
pra depois de ter-me preso
marcar-me com seu desprezo
na picanha da esperança.

Desprezo não há quem cure,
não há remédio que impeça,
não há reza, nem promessa
que lhe conserte o estrago.
Por isso, seu bolicheiro,
pra aparceirar o primeiro
ponha no mais outro trago!

Duas cartas pra mesma pessoa

Pois é,

Pois é, mamãe. Viste? Nem nasci e já estou pegando a mania do “pois é” do papai. Sinto-te feliz hoje e sei a razão. E fico feliz também, pois em breve poderei beijar-te no rosto e não apenas te dar uns pontapés na barriga.

Sim eu sei. Bem sei que gostarias de ficar aqui comigo, tomando uma cervejinha, batendo papo... mas vai, vai descansar. Hoje é teu dia. Não queres? Então fica. Viste? Ela nem nasceu e já te chama de mamãe. Imagina quando puderes escutar isso. Só de pensar fico arrepiado. Desculpa, eu sei que é teu dia, mas eu vou ficar arrepiado quando ela disser “papai”.

Talvez não saibas, mamãe, mas te escolhi. Sim, aqui nós podemos escolher em qual família vamos nascer. E mais, escolhemos qual mãe queremos ter. Alguns decidem que ainda precisam resolver coisas pendentes; outros decidem que é hora de definitivamente abandonar a Terra e partir para outros mundos. Eu não. Eu sei que ainda preciso de ti. Ainda preciso aprender muitas coisas contigo antes de deixar essa Terra. Não para resolver, mas para aprender.

Sabes de uma coisa? Tem momentos em que a gente quase desiste. Aquele dia, lá no Bar do Beto, era um desses dias. Era o dia mais improvável pra nós. Não querias estar lá. Eu fui com o piloto automático. Foste pra ajudar uma amiga; fui simplesmente porque tinha que ir. Era parte do ser assim. Tinha que ser; se não fosse, seria mais uma noite a odiar o mundo. E fui. E estavas lá.

Esperei, mamãe. Tudo acontece na hora certa. Antes não estavas pronta para me receber. Haviam me perguntado se tinha certeza do que estava fazendo. Respondi que sim. Sim, tenho certeza, mamãe está pronta. Durmo contigo; acordo contigo e sinto contigo. Sofro contigo. Sei melhor que qualquer um que estás pronta. Por que eu te escolhi! E se te escolhi é porque, daqui, sabemos o que é ser mãe. E serás a melhor mãe, assim como as melhores mães de tantos quantos nascem na Terra.

Tudo conspirava contra nós. Eu pensando que estavas brigando com a tua namorada. Admite. Pra quem olhava de fora, ver uma mulher abraçada em ti e chorando no teu ombro, pensaria o quê? O que eu poderia pensar? Pensei o que qualquer besta pensaria: vou curar essa mulher. Como pode? Uma mulher tão linda e gostar de outra mulher. É, já te falei do meu lado machista: adoro ver duas mulheres juntas; desde que sejam as dos outros.

E te realizo assim como me realizas. É a vida, mamãe. E não vejo a hora de me sentir no teu colo; de me sentir no teu peito; de me sentir querida como só tu saberás fazer eu me sentir. Por isso és minha mãe.

E tu? E tu que estavas a pensar que minha amiga era minha mulher? Cafajeste, disseste-me depois. Safado sem vergonha! Fica paquerando na frente da mulher. Pobre de mim, não fosse a Clarissa.

Papai, essa parte é minha. Talvez vocês não soubessem, mas fui eu que arranjei tudo.

Opa, peraí! Que história é essa?

É papai. Nós estamos aqui por uma única razão: realizar a mamãe.

Tá, minha filha, mas assim até parece que eu não tenho nada a ver com isso. E tem mais, não eram cartas separadas?

Eram, mas estamos falando a mesma coisa. Mais do que a mesma coisa, estamos falando da minha mãe, a tua mulher.

Mudei de mesa, lembra? Se o perfil já era maravilhoso, o que dirá ficar te olhando de frente. Os olhos. Os olhos mais maravilhosos que já vi. Olhos que tenho até hoje com pano de fundo nos meus computadores (aqui em casa e no trabalho). A imagem mais bonita. Teus olhos no nosso casamento. Não há o que pague ficar te olhando a cada momento. Sou feliz por isso. Se hoje eu sei o que significa chorar de felicidade é por poder olhar a qualquer momento os teus olhos chorando, na foto do casamento.

Naquele dia no bar percebi, no entanto, que algo te incomodava. Deixaste de me olhar. Não me pergunta a razão, mas teu abandono pareceu ser o fim do mundo. Tinha que fazer algo. E fiz. Confessa: foi original, né? Eu sabia! Só algo original estaria a tua altura.

Eu sei, papai, que entendes. Entendes que és e serás meu pai querido. Eu também entendo que amas minha irmã. E venho pra dizer a ela que não vou dividir. Venho para multiplicar nosso pai.
Mais do que te multiplicar, papai, vimos, eu e tu, para multiplicar essa pessoa maravilhosa que é a mamãe. Sabes bem disso.

Sim, minha filha. Sei bem que vens para me ensinar o quanto essa pessoa que escolheste como mãe, e que me escolheu como teu pai, merece tudo. E estava justamente te esperando pra me ajudar. Sozinho não sei se seria capaz, mesmo tendo sido original quando a conheci.

- Papai?
- Sim, minha filha?
- Vamos separar o que escrevemos e mandar pra mamãe como se fossem duas cartas pra mesma pessoa?

A Kaya está de aniversário este mês. No dia certo vou republicar esse post. Pra variar, não será o que de melhor eu poderia fazer por ela. Quem sabe a Clarissa, nos próximos anos, me ensine como fazer.

sexta-feira, maio 13, 2005

Dessa vez eu...

Pois é,

Dessa vez eu não me agüentei e estou rindo até agora.

Pra quem não leu os posts muito anteriores, temos sete seres humanos felinos aqui em casa: uma fêmea, cinco machos e eu. Vá lá, vocês nunca me viram, mas a Kaya diz que eu sou um gato.

Há duas semanas levamos os bichaninhos pra tomar vacina e voltaram com pulgas da clínica veterinária (isso deve ser o equivalente ao que chamam de infecção hospitalar).

Temos uns vizinhos que também têm um gato. Eles costumam se visitar (os gatos). Os nossos vão lá no ap deles e o deles vem aqui. Coisa de bichos civilizados. Já fizemos de tudo pra acabar com as tais das pulgas. Estamos em meio ao tratamento. Por via das dúvidas, a Kaya resolveu avisar nossos vizinhos do problema, até porque, por uns dias, não deixaríamos que eles se encontrassem.

Estava eu aqui, quieto tentando escrever um post, quando ela chega:

- Afonso?
- Sim, Kaya?
- Estava conversando com o Marcelo e com o Jorge (nomes fictícios do casal, donos do gato), falando das pulgas e o Marcelo me disse que o Didó (nome verdadeiro do gato) já teve pulgas e que ele acabou com as pulgas passando cera Cachopa.
- No gato!???
- Sei lá! O que é cera Cachopa? Algum remédio especial?

Assim não há quem consiga escrever um post decente...

(perdoa, Kaya... mas como não tens lido meu blog, ahahahahahahahahaah)

Comentários aos comentários

Pois é,

Alguns comentários aos comentários ao post anterior.

Sempre achei, Viva, que devemos nos arrepender do que não fazemos. E se tenho o que tenho é por pensar assim. Vou mais longe. Quem tenta, tem 50% de acertar; quem sequer tenta, tem 100% de certeza de que nunca irá saber.

Não sei, não, Darth. A vida é como uma curva normal. Há um momento em que atingimos o ápice. Nesse exato momento é que se estabelece o "Ponto de Mutação". É nesse exato momento que podemos mudar a vida ou seguir pela descendente da curva. E isso não tem nada a ver com a idade. Veja o que diz o I Ching:

"Ao término de um período de decadência sobrevém o ponto de mutação. A luz poderosa que fora banida ressurge. Há movimento, mas este não é gerado pela força... O movimento é natural, surge espontaneamente. Por essa razão, a transformação do antigo torna-se fácil. O velho é descartado, e o novo é introduzido. Ambas as medidas se harmonizam com o tempo, não resultando daí, portanto, nenhum dano".

As medidas da vida se harmonizam no topo da curva normal.

E aí entra a zona de conforto, monica e Luma.

No meu caso seria trocar mil por dez. E a pequeninha que vem por aí? Criá-la com mil nesse mundo pós-moderno-maluco ou criá-la com dez na beira da praia? Seria justo com ela, tendo mil, dar a ela dez? Talvez seja melhor, com os mil, oferecer-lhe a melhor educação de modo que ela possa descobrir o mais cedo possível o seu ponto de mutação. E que tenha a coragem para mudar, que perceba e viva pelas palavras do Castañeda:

"Um caminho é somente um caminho.
E não há ofensa alguma, para si ou para outros, em abandoná-lo se é isto que nos manda o coração.
Olhe cada caminho com muito cuidado e atenção.
Tente-o muitas vezes, tantas quantas julgar necessário.
Só então pergunte a você mesmo - e só a você mesmo:
- Possui este caminho um coração?
Em caso afirmativo, o caminho é bom.
Caso contrário, não tenha medo de abandoná-lo
".

Embora meu caminho tenha um coração, eu acho que já passei do meu ponto de mutação. Não é uma questão de zona de conforto.

Por sorte algumas oportunidades ainda têm cabelo, Yvonne. Discordando um pouco, diria (já ouvi dizer que isso é do Schopenhauer) que não se agarra oportunidade; oportunidade a gente cria.

Edu, permita-me dizer, aproveitando o tema do coração: coração de mãe sente mais do que ousa sonhar tua vã razão. Não faça como muitos que conheço, que esperam a mãe morrer para viver. E quem sabe não estejas postergando para uma próxima encarnação aquilo que tua mãe poderia resolver nessa? Tu és um cara legal. Aprendi a gostar de ti e das tuas visitas. Vai fundo, meu, faz como a Ana: tenha "coragem pra mudar uns rumos e outros...". Sei bem Ana, ou melhor, não sei, imagino. E não há prazer melhor na vida do que poder dizer, depois de uma mudança: "só aprendi com tudo".

É, acho que a monica tem razão: "Acho que vc tbem engravidou". A gravidez tá me deixando muito sensível, apaixonado e confuso nos posts.

Esse blog precisa mudar. "Vou dar porrada". Massaranduba que se cuide!

quinta-feira, maio 12, 2005

Coragem

Pois é,

Se eu estivesse por morrer e no último minuto me perguntassem o que me faltou na vida, responderia: coragem.

Na infância, não gostava de brigar, essas coisas de guri. Talvez não fosse não gostar; já era a semente da falta de coragem.

Quando era adolescente, nas festas, deixei de ficar com muitas gatinhas por faltar coragem de tirá-las pra dançar. (uma obs. pertinente: naquele tempo não se chamava de gatinha, pois eram moças de família e muito menos ficar, era namorar). Foi um tempo de virgens e pra isso precisava-se de muita coragem (hoje eu sei que bastava cara-de-pau, mas... agora não adianta mais). A possibilidade de pegar na mão já fazia o estômago embrulhar, o coração disparar e a coragem sair voando.

Depois de adulto, deixei de fazer um mestrado na França por falta de coragem de abandonar, mesmo que por um curto tempo, tudo o que tinha por aqui. Deus dá nozes a quem não tem dentes, no caso, coragem.

Agora, por exemplo, me falta coragem pra chutar o balde, o pau da barraca, o chefe (tudo jxunto incluído) e me mandar pro Ceará. Cumbuco. Na verdade prefiro Lagoinha, mas a Kaya quer Cumbuco. Que seja, desde que esteja no pedaço remanescente do paraíso, a costa do Ceará.

quarta-feira, maio 11, 2005

O gosto do sabonete

Pois é,

Hoje, durante o banho, na hora de pegar o xampu, deparei-me com um frasco branco, diferente dos demais. Como uso óculos e os havia tirado, peguei-os para ver do que se tratava (sim, eu sou dos que tomam banho de olhos fechados. E mesmo que estivessem abertos, não iria enxergar nada mesmo, sem óculos): xampu para cabelos crespos e quimicamente tratados. Putz, meus cabelos são lisos.

Caiu a ficha: há quatro anos sou silenciosamente cuidado pela Kaya. Há quatro anos não compro xampu, pasta de dente, sabonete e até mesmo escovas de dente. Ela simplesmente vai lá e troca. A tolha está todos os dias me esperando na hora do banho. Roupa? Há quatro anos não sei o que é entrar numa loja. Ela sabe o que estou precisando e compra.

Dia desses saí do banho e comentei que o sabonete tinha um gosto ruim.

- Sabonete com gosto ruim???? Bem que eu já havia notado que os sabonetes andavam durando pouco ultimamente...
- Não é isso, Kaya. Claro que não como sabonete. É que ...

Não adiantou tentar explicar. Ficou mais de meia hora rindo. Justo. Poderia ter rido mais uma hora, se quisesse, e não teria compensado os quatro anos que, silenciosamente, ela cuida de mim.

terça-feira, maio 10, 2005

Quem é o Afonso?

Pois é,

Somos seis, é o que diz a Kaya. O Luiz, o Afonso, o EuMesmo, o ComigoMesmo, o Zumbi e o Universo.

Cada qual com suas manias. Tem um que só a física quântica consegue explicar, pois só sabemos da existência dele pelos efeitos que causa nos outros, particularmente no Luiz.

Luiz e ComigoMesmo passam o tempo inteiro conversando.Daí que conseguimos deduzir a existência de ComigoMesmo. "Tá falando com quem?!!", berra de lá a Kaya. ComigoMesmo, responde o Luiz. É sempre assim. Um a sombra do outro. Do Luiz ela diz que não gosta. É rigoroso, cheio de nove horas e não-me-toques. Tudo no seu lugar e na sua hora. Lei é lei, ordem é ordem e ambas foram feitas para serem cumpridas. É de pouca conversa, mas ComigoMesmo consegue arrancar verdadeiros discursos dele. Já os peguei, certa feita, numa cena hilária: um mandando o outro calar a boca. Só pararam quando EuMesmo interrompeu dizendo que assim acordariam o Zumbi.

O Zumbi é o embaixador plenipotenciário de todos os demais. É convocado quando a turma não quer saber de sair da cama. "Acorda Zumbi e vai trabalhar, que hoje não saimos daqui nem pra buscar uma SKOL na geladeira!!!", dizem os preguiçosos. Coitado, passa o dia como se estivesse em outro mundo. O que não deve ser boa coisa para os que são obrigados a passar o dia com ele. Por sorte não é muito comum ele aparecer, pois parece que os demais fazem uma escala. Assim, sempre tem um que acaba leventando e cumprindo com a vida.

Mas falei de EuMesmo, né? Pois EuMesmo é o mais maniático de todos. Egocêntrico, acha que tudo existe por causa dele. Quando a Kaya pergunta "quem fez isso?" EuMesmo, responde ele. Só fica quieto quando se apercebe, a tempo, de que o resultado do feito não foi bom. O que é muito raro - ele se aperceber - pois rapidinho em dar respostas como é, sempre acaba metendo as mãos pelos pés. Quem escreveu errado isso? EuMesmo.

Ah! Mas temos algo de bom! Isso mesmo. Temos o Universo, que pensa que é a encarnação da perfeição. Sempre tem razão, em tudo o que diz e faz. Os outros só existem por um descuido. O Universo é cheio de paciência, pois tem que aturar as coisas sem razão que os outros dizem. Onde chega, preenche todo o espaço. Também, não fora assim e não seria chamado de Universo pela Kaya.

Em meio a seus irmãos vive e convive o Afonso. É ate um bom sujeito. Cidadão, trabalhador, pai de família, esposo amantíssimo (essa foi soprada pelo Luiz, que dentre outras coisas adora expressões empoladas). Tem lá suas manias, algumas aprendidas com EuMesmo; de quando em vez escorrega e se aventura a achar que tem razão ("cala a boca, Luiz!". - Eu não tinha razão? Esses dois vivem brigando!! - Eu quem? Sei lá Zumbi, devem ser o Luiz e o Afonso discutindo de novo!) . O Universo tem muita influência sobre o Afonso. Mas o Afonso é esforçado e, por isso, não se dá muito bem com o Zumbi. Adora ajudar os outros. Sempre que pode, ou mesmo quando não pode.

Somos seis, diz a Kaya. Só não sei se fico com pena dela ou se a felicito. Afinal, não é todos os dias que se casa com o Afonso e leva-se mais cinco de brinde.

(originalmente publicado em 23 de janiero de 2005. Fiz algumas pequenas mudanças.
- Luiz?
- Quié, ComigoMesmo?
- Pára de dar explicações.
- Quietos os dois aí, que eu quero dormir!!!
- Quem tá reclamando? O blog é meu mesmo, faço o que quiser!
- MeuMesmo? Outro não! Outro, não! Kaya, socorro!!!)

segunda-feira, maio 09, 2005

Não sei nem que título colocar

Pois é,

Estava eu aqui correndo atrás da máquina (quem mandou não fazer nada no fim de semana?) e colocando em dia minhas tarefas que irão render o leitinho da Clarissa, quando resolvi dar uma espiadinha desterritorializada pela rede.

Vou lá, nela, que sempre é um prazer ir lá, e o que vejo?

Desculpem a referência "bagaceira", mas sabem aquele último cabelinho? Pois é, até ele ficou arrepiado.

Vi um post meu ser copiado no blog dela com referências as mais... as mais... sei lá. Confesso que não imaginava chegar a tal ponto com esse blog. Hoje foi um dia bom. Apresentei um trabalho que, para meu espanto também, foi muitíssimo elogiado pelos colegas. Até palmas bateram.

A Kaya que me desculpe, mas hoje vou dormir com meu ego. Será traição?

Beijos Luma.

PS. Outros já fizeram isso, não fiquem chateados, mas é diferente. Entendem?

sábado, maio 07, 2005

Nem li ainda...

Pois é,

mas deve ser interessante:

Dia das mães, as fases da vida e outros assuntos

Pois é,

Pra quem não sabe, estou no terceiro casamento. A primeira não queria ser mãe. A segunda foi, mas parece que não se convenceu muito no início (quiçá até hoje). Quem cuidou da Fernanda até a separação (quando a Fê tinha quatro anos) praticamente fui eu. Não falo pra me convencer, é apenas um fato. Sei bem o que é ser mãe no dia-a-dia. A terceira, a Kaya, por razões que fogem ao contexto do post, não tinha podido, até então, realizar o desejo de ser mãe. Conheço os três lados da moeda. Quem não queria (e pelo que sei até hoje não teve) ser mãe; quem foi, mas parece que não nasceu pra isso e quem, tendo nascido pra isso, não havia conseguido realizar. Essas são as fases da vida.

Dentre os "outros assuntos" do título, coloco a seguinte questão para análise: a Renata, do Kit Básico da Mulher Moderna, tem feito uma série sobre a "Mulher Moderna". Vários bloguistas/bloqueiros (não vou entrar na discussão) conhecidos e famosos na blogosfera foram convidados a escrever sobre o tema e escreveram. Legal. Mas, e o que é ser um homem moderno? Não vou convidar ninguém a escrever sobre isso, pois não me sinto com intimidade suficiente com a turma da blogosfera para tanto; e nem sou tão conhecido assim. Se alguém, no entanto, quiser escrever algo a respeito será bem-vindo.

A Kaya foi ao Centro comprar um "sortidinho" básico pra Clarissa. Sortidinho era o que eu imaginava. Voltou com mais da metade da loja dentro de cinco enormes sacolas. Tive que descer para ajudá-la a subir com as "necessidades básicas", nas palavras dela. A vida nos reserva surpresas.

Alguém já viu os olhos de uma mulher brilharem de felicidade? De pura realização? Quem já viu sabe. É algo que não se descreve com palavras.

Pra mim o dia das mães é hoje. Hoje eu vi o que é ser mãe. E me senti parte disso. Descobri uma das razões pelas quais encarnei nessa vida: ser veículo. Ser o veículo que transporta alguém para a realização.

Não sejamos rasos, por favor. Não é pelas compras. É mais que isso, óbvio. Enquanto escrevo esse post ela está lá, guardando tudo. Peça por peça. A cada uma ela me chama: "Afonso, olha que lindo isso aqui"; "Afonso, precisamos comprar mais cabides"; "Afonso, pega isso, sente a fofura"; e por aí vai. Coisas que só mãe sabe. Eu não sei, só vejo os olhos brilhando. É o que me basta para chegar no céu e, se São Pedro me perguntar o que fiz para merecer entrar no céu, responder: eu vi os olhos dela brilhando.

Pra quem já viu os olhos de uma mulher brilhando: feliz dia das mães.

Um grande problema

Pois é,

Vocês viram que no mês passado o papel higiênico Neve vinha em uma embalagem contendo uma lata de presente? Em quatro cores: vermelho, azul, amarelo e verde? Pois é, comprei todas.

- Afonso?
- O quê, Kaya?
- Pra quê ficar guardando esse monte de latas?
- Um dia eu acho alguma utilidade pra elas! "Quem tudo guarda, sempre tem quando precisa."

(obs. importante: acho que tenho TOC)

As quatro latas estão me olhando, o que significa que estou com um grande problema: o que guardar nas latas do Neve?

(continuo fugindo de arrumar o escritório)

A palavra mais poderosa

Pois é,

Qual a palavra mais poderosa que existe nas línguas humanas? Pra mim é a palavra NÃO.

Todas as outras palavras causam efeitos que podem apresentar nuances. Não, destrói ou constrói. Não tem meio termo.

O não é o desafio que faz crescer a liberdade, mas também faz crescer o medo. O não mobiliza, mas também imobiliza. O sim é dúbio; o sim traz implícito a possibilidade do não. O não, não. Não é não! E pronto. Diga não a uma criança e duas coisas podem resultar: um adulto livre ou uma eterna criança. Os Dez Mandamentos podem ser reduzidos a apenas um Não!

Para uns, a frase "não vais conseguir" significa um desafio a ser vencido, e dele nascem as descobertas, as invenções, a evolução da humanidade; para outros, significa o fim da existência, significa viver feito zubis pela eternidade.

Muito já se falou e escreveu sobre o poder. Muitos adjetivos são colocados após, na tentativa de explicá-lo: poder econômico, poder hierárquico, poder familiar, etc. Mas o verdadeiro poder só possui quem pode fazer valer um NÃO. O resto é ilusão de poder. Por isso as mulheres são poderosas: somente elas podem dizer "não quero". E esse não destrói ou contrói. Ou nos transformamos para entender o não, ou estupramos.

Recebi um milhão de nãos dos meus pais. Disse quinhentos mil nãos para minha primeira filha. Espero poder dizer alguns poucos apenas para a Clarissa. Somente aqueles que a façam ser um ser humano íntegro e que desafie a vida.

Primeira Lei do Chato

Pois é,

Primeira Lei do Chato:

Quanto maior o número de caixas disponíveis em um supermercado maior a probabilidade de você entrar naquela que mais vai demorar.

Comentário à Primeira Lei:

Não estou achando o livro, em meio à bagunça instalada no meu escritório, mas tenho quase certeza de que a Primeira Lei do Chato é um caso particular de uma Lei de Murphy. Não adianta ficar desfilando na frente dos caixas, olhando os carrinhos em busca do menos cheio para entrar na fila. Sempre vai ter alguém que, ou esqueceu de pesar alguma coisa, ou alguma velhinha (nada contra, mas...) contando as moedinhas, ou reclamando que o preço da prateleira está diferente, ou, como me aconteceu agora há pouco, o babaca não viu que o cartão estava vencido. O que naquela primeira olhada parecia levar dois minutos, transforma-se em meia hora.

O Chato também é babaca

Pois é,

Essa aconteceu comigo ontem. Quem disse que o cigarro não mata? Pois quase me matou ontem. Parei num posto (o Ipiranga da Silva Só, pra quem é de POA se localizar) para colocar duas merrecas de gasolina, suficiente para uns dois dias. Chamei o frentista, fiz o pedido, saí do carro e fui na lojinha comprar cigarro. Mui belo e faceiro. O frentista colocou a mangueira no tanque e foi atender outros fregueses. Até aí nada de mais, pois estou acostumado a fazer isso. O problema é que, quando saí da lojinha, meu carro estava andando sozinho (o posto fica num declive). Corri para a frente do carro e tentei segurá-lo. Nesse meio tempo, o frentista se deu conta do que estava ocorrendo e, mais preocupado com o posto do que comigo, começou a puxar a mangueira. E eu ali tentando segurar o carro e ele quase me atropelando. Finalmente os outros fregueses também viram o que estava ocorrrendo e vieram me ajudar. Conseguimos parar o carro antes que ele entrasse na lojinha, depois de passar por cima de mim. Na pressa de satisfazer o vício esqueci de puxar o freio de mão.

Moral da história: nunca confie num frentista.

sexta-feira, maio 06, 2005

Fim de semana

Pois é,

Findi por aeee, e eu aqui. Cheio de coisas para fazer:

1) duas monografias em andamento: livros e mais livros para ler. Fichas não, porque não faço fichas de leitura. Questão de princípio;

2) Setecentas páginas de dois processos para ler e preparar dois votos para terça-feira (uau, quem lê, assim, até pensa que sou desembargador. Não, apenas sou da comissão que avalia servidores em estágio probatório para votar pela permanência ou não no serviço público. É um "julgar administrativo", mas, como qualquer outro, envolve a vida das pessoas);

3) Três trabalhos da esp da FGV (lá eles chamam de MBA. Bonitinho, não?);

4) A patroa quer atenção (e desejos de grávidas a gente não recusa satisfazer. Tem aquela história de que a criança nasce com a cara do desejo insatisfeito. Já imaginou se a Clarissa sair com a minha cara? Tadinha, ela não merece!);

5) Arrumar o escritório que está virado de pernas pro ar. Não tenho o hábito de tirar as coisas (livros, revistas, papéis, etc.) do lugar e colocá-las de volta. Simplesmente vou empilhando tudo em cima da mesa. Como na mesa não há mais espaço, comecei a ocupar as cadeiras e, o que é pior, a mesa da Kaya. Resultado: estou espremido num cantinho pra escrever esse post e já levei umas dez broncas dela, só nessa semana. Prometi que arrumaria tudo no fim de semana. Como me julgo um pouco inteligente, minha promessa não especificou em qual fim de semana. Como ela sabe que é mais inteligente do que eu, já decretou: "desse fim de semana não passa!". Como ela foi tão genérica como eu, é melhor não facilitar e arrumar tudo. Vá que ela esteja se referindo ao casamento. (putz, cinco "como" num só parágrafo. Devo estar com fome... substituam quatro deles por "considerando");

6) Comer os dez bifes à milanesa que pedi para a Leo (cozinheira / empregada / secretária / vaiacabarfazendotudonessacasa/inclusivearrumandoaminhamesa) fazer. Tá, descobri porque escrevi tantos "como" no item 5;

7) Tomar as minhas Skol e fumar meus cigarrinhos enquanto não crio vergonha na cara e largo os dois (é, pretendo morrer cheio de saúde!);

8) Ficar lendo os blogs de quem costuma escrever posts no fim de semana (como - de novo! -, são poucos, vou procurar alguns novos);

9) Molhar a minha floresta pessoal (é uma floresta mesmo. São seis metros de sacada tapados de plantas). Depois de uma semana sem chuva as coitadinhas estão literalmente "pedindo água";

10) VETADO. (Razões do veto: artigo 8º do Código do Chato).

Sabem o que eu vou fazer? Ficar postando um monte de chatisses. Só isso e dar atenção pra patroa (assim ela esquece da arrumação do escritório, hehehehe).