De como fazer um dia ter 30 horas
Pois é,
Este texto não é de auto-ajuda. Menos ainda de ajudar os outros, que isso não dá dinheiro. É um texto pessoal e intransferível. É o relato de uma experiência que não serve para nada a não ser para quem o escreveu. Se alguém tentar utilizar as técnicas aqui descritas e se der mal, problema seu!
Bueno, isto posto, ou isso posto – às favas com o Kaspary, que adora ensinar a diferença -, vamos ao que interessa.
Interessante como são as coisas. Meus colegas de trabalho dizem que eu não durmo. Não é que não durma. Durmo pouco. De cinco a seis horas, no máximo, por dia. E acho que durmo muito. Já houve tempos em que dormia apenas quatro horas. Dormir 8 horas é invenção da modernidade. É mania do bicho homem de repartir tudo bonitinho: trabalha oito horas, dorme oito horas e nas outras oito? Te vira meu, faz o que puder. Vai levar e buscar as crianças na escola; se for mulher, vai fazer almoço e janta pro safado do marido imbecil que nem pra sua própria subsistência serve; vai fazer compras no super, porque se deixar a mulher ir sozinha ela gasta o dinheiro do mês e o do mês seguinte. Vai ficar preso no trânsito por duas horas. E por aí vamos.
Até o começo do século passado dormia-se muito pouco. Pudera, trabalhava-se de 14 a 16 horas por dia. E sempre tem um italiano para inventar que trabalhar é ruim. Vagabundagem agora virou chique: é “ócio criativo”. Criativo prá ele que fica sentado na frente do computador escrevendo besteiras que ele sabe que os outros vão comprar.
Pois é! Paramos de trabalhar dezesseis horas e passamos a trabalhar oito. E o que fizemos dos oito que ganhamos? Ah, eu vou ao cinema ver aquele “excelente” filme americano, profundo, cheio de boas mensagens – até chorei – e que invariavelmente termina com a bandeira americana tremulando, tremulando...que nem diria aquele narrador de futebol. Mais pros outros. Mais do meu tempo, mais do meu dinheiro, mais do meu cérebro, mais sangue, mais guerras, mais novelas, mais Gugus, mais Veja, Exame, Isto É, Capricho, mais e mais sempre para os outros.
Já repararam que passamos a vida dando pros outros (no bom sentido é claro, ô cabecinhas! Ou será a minha?) tudo o que é nosso?
Regrinha zero: EU SOU MAIS EU! ANTES DE DAR QUALQUER COISA PARA ALGUÉM, DOU PRIMEIRO PARA MIM.
Ah! A galera vibrou: EGOÍSTA, EGOÍSTA, O AFONSO É EGOÍSTA.
Antes de dar meu dinheiro pro fabricante da revista – e para que ele, com meu dinheiro, vá velejar – velejo EU! Antes de dar meu dinheiro pra quem quer que seja botar mais gasolina na sua BMW, boto mais gasolina no meu fusquinha! Pobre do Afonso. Não sabe o prazer que é pagar R$75,00 para comer 50 gramas daquele MARAVILHOSO filé que tem naquele FAMOSO restaurante, freqüentado por gente bonita, bem vestida, que sai no jornal, que é formadora da minha opinião. Aí, como pode alguém viver sem isso. E por aí vamos.
Sou EGOÍSTA. Não dou nada para os outros sem antes dar para mim.
Não dou meu tempo. Não dou meu dinheiro. Não dou! (até porque, agora seria tarde...).
Claro que há um pouco de exagero aqui. Mas é para frisar que A PESSOA MAIS IMPORTANTE DO MUNDO SOMOS NÓS MESMOS. Jesus e Madre Tereza é um a cada dois mil anos. Claro que devemos olhar o próximo e ajudá-lo na medida das nossas forças. Mas ajudar aquele próximo que realmente precisa de nós e não aquele que vai botar mais gasolina na sua BMW! Não aquele que vai tomar uísque importado com o dinheiro dos trouxas que tomaram coca-cola , a R$3,00 cada, no restaurante dele. Não aquele que fabrica revistas de fofocas sobre a Maria Clara (a Diniz, não a minha!).
E falo de restaurante e revistas. Mas vale pra qualquer coisa.
Sem que se aprenda essa regrinha zero, nenhuma outra vai valer.
É só parar de dar o tempo para os outros que vai sobrar muito tempo para si. E como fazer isso? Deixando de considerar os outros mais importantes que a gente mesmo. Só vou repetir pra não ficar dúvida: acho que entenderam de quais outros eu falo: daqueles que não precisam de nós. E que, infelizmente, são a maioria dos que damos.
E sobra tempo para os amigos. Se toda vez que eu deixar de ir ao cinema, visitar um amigo, estou pensando em mim. Além de não dar meu dinheiro pra eles, ganho pelo convívio com os amigos, com uma bela picanha mal passada. Mas, Afonso, o cinema é a sétima arte, eu adoro Kurosawa (é assim?)
É? Que bom pra ti. Eu adoro meus amigos. Não troco meus amigos por dez Angelinas Jolies (bah, nessa nem eu acredito. Em todos os casos, SPP).
Alguém já deu, ou dá, 10% do seu salário prá si mesmo?
Eu dou. Eu invisto tudo o que posso em mim. Prefiro eu tomar uísque que dar meu dinheiro para outro tomar.
E essa é a primeira escolha. Lembram da questão da escolha? Pois é. Eu escolho a mim. Sou radical nisso, e esse é um corolário da regrinha zero: seja radical consigo mesmo. Não dê nada para ninguém antes de dar para si mesmo.
Essa é a primeira e grande escolha que devemos fazer. É tão importante que se reflete em tudo o mais. Depois vou comentar, mais sabe aquela historinha de chegar em uma reunião e não poder falar porque não leu a revista tal? Pois é. Sabe o que eu penso: problema deles!
Existem dois tipos de pessoas: as que vão na frente e as que vão atrás. Eu vou na frente sempre que posso. Por quê? Porque sou mais importante para mim do que a opinião de quem leu revistas. Tenho que aprender a me dar conta de que não perco nada com isso.
Vocês não imaginam quanto tempo sobra... continua...