CLARISSA
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quarta-feira, fevereiro 23, 2005

A boa pulga e o mau rei

Pois é,

Acabo de arrumar na nova estante a coleção "Tesouro da Juventude", edição de 1953. Pego um volume, o XV, para dar uma descansadinha. Abro n' "O Livro dos Contos" e vejo o título aí em cima. Resolvo ler (a grafia é a da época):

"Era uma vez um rei muito mau que maltratava seus súditos, mas êstes não podiam destroná-lo, pois êle tinha um grande exército para sua defesa.

Todas as manhãs se levantava de pior humor que a noite antecedente, até que isso chegou aos ouvidos de uma pulga muito amável e de muito bons sentimentos. Nem tôdas as pulgas são assim, mas aquela tinha sido muito bem educada; pelo que só picava as pessoas quando tinha muita fome, e mesmo assim punha todo o seu cuidado em não lhes fazer grande mal.

- Vai ser difícil fazer entrar êste rei no bom caminho - disse para si a pulga. - Contudo vou tentá-lo.

Naquela noite, quando o rei começou a conciliar tranqüilamente o sono, sentiu qualquer coisa como a picada de um alfinête.

- Oh! que é isto? - gritou o rei.
- Uma pulga que quer castigar-te.
- Uma pulga? Vamos ver. Espera um pouco.

E levantando-se furioso da cama, o rei sacudiu lençóis e cobertores, mas sem poder encontrar a pulga, pela simples razão de que esta se havia escondido na barba do monarca.

Pensando tê-la afugentado, o iracundo rei tornou a deitar-se, mas assim que reclinou a cabeça na almofada, a pulga deu um salto e picou-o de novo.

- E, atreves-te a picar-me outra vez, abominável inseto? - exclamou.
- Não tens mais que o tamanho de um grãozinho de areia, e atacas os mais poderosos da terra?

A pulga, sem se incomodar sequer em responder, continuou a picar. Durante tôda a noite o rei não pôde pregar os olhos. No dia seguinte levantou-se de péssimo humor. Mandou fazer uma limpeza extraordinária e vinte sábios, armados com potentíssimos microscópios, examinaram cuidadosamente o quarto e tudo quanto nêle se encontrava."


Pra encurtar um pouco, lá pelas tantas o rei pergunta o que a pulga quer:

"- Que é isto? - gritou, ao sentir uma terrível picada.
- A pulga.
- Que queres?
- Que me obedeças e faças feliz o teu povo."


Depois de vários dias na mesma lenga-lenga, o rei resolve se entregar:

"- Entrego-me, disse em tom lastimoso o grande monarca, quando a pulga tornou a mordê-lo. - Farei tudo quanto quiseres. Fala.
- Precisas tornar feliz teu povo - exigiu a pulga.
- Que hei de fazer para conseguir? - perguntou o rei.
- Tens que abandonar imediatamente êste país.
- Posso levar comigo ao menos uma parte dos meus tesouros?
- Não! - exclamou a pulga.

Mas não querendo ser demasiado severa, a pulga permitiu ao malvado rei encher os bolsos de ouro antes de se pôr a caminho.

Então o povo constituiu-se em república, governou-se a si mesmo e chegou a ser feliz, - concluiu Vitor Hugo, acariciando os netinhos."


Dois comentários apenas:

1. Sem dúvida alguma: hahahahahahahahahaha

2. Com toda certeza: hahahahahahahahahahaha