CLARISSA
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sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Seleções do Reader's Digest

Pois é,

Uma das principais características de um chato é nunca deixar de ser chato. Ou, poderia ter dito, deixar de sê-lo, mas aí seria mais que chato; e ainda sou apenas chato.

Consegui!!! repeti a mesma palavra quatro vezes num mesmo período!

Portanto, sigo com as pausas da arrumação, folheando os achados do dia. Rearranjo a coleção da Reader's Digest, vulgarmente conhecida em português como "Seleções" {uma pausa: até agora não entendi porque os blogueiros usam asteriscos no lugar das aspas. Um dia eu chego lá. Pode ser que alguma alma piedosa que leia o blog, crie coragem e coloque algum comentário explicando.).

A Seleções já teve sua importância.



Hoje em dia não passa de mais uma das tantas publicações existentes por aí. Mas bem que eles tentam. Seguidamente recebo promoções oferendo milhares de prêmios se fizer a assinatura. Nunca gostei muito. Tenho vinte volumes que os guardo como "históricos", pois são os primeiros a serem editados no Brasil. A primeira edição, de fevereiro de 1942, ainda não achei em meio à bagunça. Pode até que a tenha perdido em tantas e tantas andanças. Mas abri a edição número 2, de março de 1942 e vejo o seguinte artigo:



Jovens "Yankees" nos Lares Sul-Americanos

por Webb Waldron

"Mas êstes rapazes são muito ben educados" disse surpreendido um peruano, referindo-se a alguns jovens norte-americanos que passavam suas férias em casas de famílias da América latina, no verão passado. "Tiram o chapéu quando encontram uma senhora, cedem-lhe o lugar e dão-lhe a primazia ao entrar numa sala! O cinema e os turistas tinham-nos dado dos americanos idéia bem diferente. Mas", continuou o peruano, "êstes jovens não se interessam por cousas exóticas, nem pelas ruínas, nem por bebidas, por nada disso; interessam-se por nós!"

"O número de latino-americanos que tiveram surpresa idêntica, durante o último estio, eleva-se a milhares. Grupos de colegiais constando de moças e rapazes norte-americanos, modestos e despretenciosos, participando intimamente da vida das famílias, contribuiram grandemente para dar ao povo da América latina uma nova concepção do 'Colosso do Norte'."

Bueno, a essas alturas e em homenagem ao 'Colosso do Norte', quase rasgo a revista, não fosse ser rara.

Sigo adiante no índice e vejo:

Carta Aberta ao Povo Japonês

por Bradford Smith

"Os reponsáveis por vossa máquina militar acabaram de atirar-vos contra nós, americanos do Norte, em uma guerra que será o conflito mais devastador de todos os tempos. Esta guerra não é vossa; já vivi muitos anos entre vós, o povo do Japão, e sei que não querieis esta guerra. Ouví mesmo dizer que muitos de vós chorastes na rua ao ter a notícia do ataque."


E segue por aí.

Na edição de maio de 1944, uma chamada para o artigo "Japonismo contra Cristianismo" diz o seguinte:

"O japonês combate a religião cristã com a mesma ferocidade com que luta contra o soldado americano."


Lá pelas tantas,

"Hoje em dia já se tornou evidente que a guerra em que o Japão se empenha é tanto contra o Cristianismo quanto contra os Estados Unidos. A doutrina cristã não admite o conceito japonês de superioridade racial, e nega a 'divindade' do imperador; além do mais, o cristianismo clama por certas reformas sociais que tenderiam a tirar a massa do povo japonês do sistema de servidão feudal em que vive, e é uma religião de esperança que incute o desejo de liberdade em milhões de orientais que os japoneses pretendem manter em escravidão pelos tempos afora.

'Os chineses nunca poderão ser dominados enquanto os cristãos continuarem a pregar sua doutrina de fé e esperança', disse um dia Jan Tsuchiya, chefe da propaganda japonesa na China. 'Precisamos acabar com essa bobagem'.

"O plano de ação dos japoneses contra o Cristianismo de há muito se tornou claro: todas as missões cristãs da China Livre devem ser arrazadas
."


E termina, com o mais interessante:

"A versão que os japoneses dão do Cristianismo é a seguinte: Cristo, um oriental, nascido no Japão, era realmente um grande profeta, visto que recebera ensinamentos do deus-imperador. Fora ao Ocidente pregar aos bárbaros, mas estes não quiseram dar-lhe ouvidos, e crucificaram-no, para depois deturpar sua doutrina. Tendo ressurgido dentre os mortos, reapareceu no Japão, onde morreu de novo, e foi enterrado (Para este fim construiram uma espécie de sepulcro.)"


O pior de tudo é que a máquina de propaganda deles continua a mesma, com ou sem Seleções...