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terça-feira, abril 19, 2005

Negros, atitude e liberdade

Pois é,

Qual a única e real novidade nesse caso do jogador Grafite? O que aconteceu em campo sempre acontece, seja nos maiores estádios, seja nos campinhos de várzea. Com grandes craques ou com pernas-de-paus que mal sabem chutar uma bola de meia. O racismo também não é novidade e não constitui exclusividade dos argentinos. O clamor e a repercussão do caso também não. Afinal, quase que qualquer coisa, desde que se vislumbre a possibilidade de faturar em cima, é motivo para a imprensa transformar algo cotidiano em grande comoção nacional.

A real novidade do caso foi - na realidade duas novidades - a ATITUDE do Grafite. Isso sim fez a diferença. Quantos e quantos negros escutam por aí expressões como a que ele ouviu e ficam quietos, impassíveis, submissos a uma condição que suas próprias mentes aceitam como natural? Milhares. E quantos Delegados tem a ATITUDE de ouvir e respeitar o cidadão, seja de que cor for? Esse Delegado teve a ATITUDE de ouvir e respeitar o cidadão Grafite e tomar as providências legais. Outra grande novidade. Nada disso seria do conhecimento público não fosse a ATITUDE desses dois.

E o que fez Grafite ter essa atitude? O saber-se dígno enquanto ser humano que é. E dignidade é liberdade. Essa é a dignidade da pessoa humana escrita lá na Constituição. Dignidade que presupõe a liberdade de sentir e pensar e, principalmente, de agir, de ter ATITUDE.

Quando a liberdade e a dignidade se juntam com a atitude, acontece o que aconteceu. E não precisa ser negro para isso.