Confissões de um jovem de meia-idade
Pois é,
Tornei-me viciado na época que, talvez, pode ser a pior da vida para tornar-se viciado: a meia-idade. E não por culpa minha, mas por culpa da própria humanidade que não havia evoluído o suficiente ainda, ao tempo da minha juventude. Na minha juventude eu ainda não existia. Logo, não teria como tornar-me viciado em mim. É, é esse o meu vício. Descobri que estou viciado em mim. Na juventude os apelos são outros, os vícios são outros: cigarro, drogas, rock pauleira, dirigir em alta velocidade, os vícios da inconseqüência. Na minha juventude não existia internet e diário era diário mesmo: somente meninas consideradas bobinhas e tontas é que faziam o “meu querido diário”.
Na juventude o importante era a velocidade com que se ia de um lugar a outro; agora, o caminho tornou-se importante e, mais ainda, o chegar. Ando devagar, não corro mais. Afinal, só me resta mais meia-idade para aproveitar, seja lá o quanto isso possa significar, em termos de tempo.
O vício em mim tem seu lado difícil. É que ainda persiste um vício contra mim: o cigarro. É o elo que me resta da juventude, não a de espírito, que essa ainda possuo, mas a da inconseqüência.
A juventude de hoje pode viciar-se em si com tamanha facilidade que chega a espantar. E conta com a internet e os blogs para alimentar seu vício, coisa que eu não tinha. Milhares de blogs e fotologs transitam pela rede. Desde que comecei a escrever neste blog, entendi que o respeito ao autor, gostasse ou não gostasse do que havia lido, deveria ser a regra número um. São viciados em si, tanto quanto eu tornei-me viciado em mim. Não tenho o direito de criticá-los. Infelizmente parece não ser essa a regra geral para alguns. Não apenas por parte daqueles que escrevem nos comentários criticando os autores ou outros comentaristas, mas principalmente daqueles que sonham em ser eternos big brothers.
Enganam-se os que pensam que a raça humana é única e homogênea: há humanos e subumanos. E estes, por sua natureza peculiar, sempre tentarão destruir o que os humanos constroem. Nesse aspecto não fico preocupado. O vício em si sempre será mais forte. Depois que somos tomados pela necessidade diária de escrever ou de ler, não há quem nos impeça de saciar o vício, a não ser as CRTs1 espalhadas por aí, que, vez por outra, nos deixam sem comunicação (estas, sim, são as verdadeiras inimigas).

A liberdade é a essência da natureza. E se o homem regulou a liberdade, criando a responsabilidade, foi muito mais para punir quem da liberdade se utilizasse de maneira indevida. E a história sempre pune. Senão ela, a morte.
1 CRT, Companhia Riograndense de Telecomunicações, companhia estatal de telefonia do Rio Grande do Sul. Era uma merda e foi vendida para outra pior.
A foto é da obra Liberd, Pintura-objeto de Pedro Geraldo Escosteguy, col. Marília Escosteguy, Porto Alegre, sem data.