CLARISSA
Lilypie Baby Ticker

sábado, abril 09, 2005

Confissões de um jovem de meia-idade

Pois é,

Tornei-me viciado na época que, talvez, pode ser a pior da vida para tornar-se viciado: a meia-idade. E não por culpa minha, mas por culpa da própria humanidade que não havia evoluído o suficiente ainda, ao tempo da minha juventude. Na minha juventude eu ainda não existia. Logo, não teria como tornar-me viciado em mim. É, é esse o meu vício. Descobri que estou viciado em mim. Na juventude os apelos são outros, os vícios são outros: cigarro, drogas, rock pauleira, dirigir em alta velocidade, os vícios da inconseqüência. Na minha juventude não existia internet e diário era diário mesmo: somente meninas consideradas bobinhas e tontas é que faziam o “meu querido diário”.

Na juventude o importante era a velocidade com que se ia de um lugar a outro; agora, o caminho tornou-se importante e, mais ainda, o chegar. Ando devagar, não corro mais. Afinal, só me resta mais meia-idade para aproveitar, seja lá o quanto isso possa significar, em termos de tempo.

O vício em mim tem seu lado difícil. É que ainda persiste um vício contra mim: o cigarro. É o elo que me resta da juventude, não a de espírito, que essa ainda possuo, mas a da inconseqüência.

A juventude de hoje pode viciar-se em si com tamanha facilidade que chega a espantar. E conta com a internet e os blogs para alimentar seu vício, coisa que eu não tinha. Milhares de blogs e fotologs transitam pela rede. Desde que comecei a escrever neste blog, entendi que o respeito ao autor, gostasse ou não gostasse do que havia lido, deveria ser a regra número um. São viciados em si, tanto quanto eu tornei-me viciado em mim. Não tenho o direito de criticá-los. Infelizmente parece não ser essa a regra geral para alguns. Não apenas por parte daqueles que escrevem nos comentários criticando os autores ou outros comentaristas, mas principalmente daqueles que sonham em ser eternos big brothers.

Enganam-se os que pensam que a raça humana é única e homogênea: há humanos e subumanos. E estes, por sua natureza peculiar, sempre tentarão destruir o que os humanos constroem. Nesse aspecto não fico preocupado. O vício em si sempre será mais forte. Depois que somos tomados pela necessidade diária de escrever ou de ler, não há quem nos impeça de saciar o vício, a não ser as CRTs1 espalhadas por aí, que, vez por outra, nos deixam sem comunicação (estas, sim, são as verdadeiras inimigas).

Tenho lido, nos blogs que costumo acompanhar, um crescente movimento pela manutenção da liberdade que os blogs realizam e simbolizam. Como disse, a mim não preocupa essa também crescente tentativa de cercear a livre manifestação. O vício será maior. A liberdade já demonstrou inúmeras vezes, ao longo da história, que sempre vence. E a cada vez que alguém tenta eliminar a liberdade de pessoas e povos, ela sempre volta mais forte. Não é necessário citar exemplos.

A liberdade é a essência da natureza. E se o homem regulou a liberdade, criando a responsabilidade, foi muito mais para punir quem da liberdade se utilizasse de maneira indevida. E a história sempre pune. Senão ela, a morte.

1 CRT, Companhia Riograndense de Telecomunicações, companhia estatal de telefonia do Rio Grande do Sul. Era uma merda e foi vendida para outra pior.

A foto é da obra Liberd, Pintura-objeto de Pedro Geraldo Escosteguy, col. Marília Escosteguy, Porto Alegre, sem data.