As origens do mundo, da humanidade e do Afonso - IV / VII
Pois é,
"Deus disse: 'Que haja luzeiros no firmamento do céu para separar o dia e a noite; que eles sirvam de sinais, tanto para as festas quanto para os dias e os anos; que sejam luzeiros no firmamento do céu para iluminar a terra' e assim se fez. Deus fez os dois luzeiros maiores: o grande luzeiro para governar o dia e o pequeno luzeiro para governar a noite, e as estrelas. Deus os colocou no firmamento do céu para iluminar a terra, para governarem o dia e a noite, para separarem a luz e as trevas, e Deus viu que isso era bom. Houve uma tarde e uma manhã: quarto dia".
E se vamos falar em luzeiros, de Brasília são as minhas primeiras memórias. Tudo era novo: a vida e a cidade. Ambas recém inauguradas. Crescemos, por alguns anos, juntos. Vi tanques e canhões apontando para o prédio onde morava e tive que me esconder nos fundos do apartamento. Sutil maneira que os "salvadores da pátria" inventaram para impedir que alguns oficiais do exército se colocassem contra o movimento: ameaçar as famílias. Vi meu pai ser preso na Revolta dos Sargentos, em 1963. Ouvi tiros e vi os buracos nas paredes. Aprendi a andar de bicicleta; a ler e a escrever; quebrei o braço; ganhei, por bravura (fui ao dentista e não chorei), um travesseiro que me acompanhou por trinta e cinco anos; tomei chocolate (Toddy) pela primeira vez; a primeira paixãozinha e aprendi a pintar. Olha eu aí causando inveja no Picasso.
Foi em Brasília, também, que deixei de ver os luzeiros. Estavam montando os brinquedos da pracinha. Passei a tarde inteira olhando, encantado, para as soldas que estavam fazendo. Resultado: fiquei por uma semana sem enxergar. Cego. E, segundo o médico que me tratou, foi um verdadeiro milagre que tenha podido voltar a ver o grande luzeiro para governar o dia e o pequeno luzeiro para governar a noite, e as estrelas. Eu tinha que vê-los, pois houve uma tarde e uma manhã no meu quarto dia.