Definhar
Pois é,
Não, não foi um sonho. Fui a Passo Fundo e acabo de retornar. O post anterior foi uma descrição real da viagem. A paisagem de quem segue por essa estrada é realmente uma das mais bonitas que esse estado possui. O que trago de lá? Saudade. Saudade disso daqui. De ler os blogs aí do lado. No hotel onde estava só havia um computador e, mesmo assim, conectado a uma linha discada e num desses provedores gratuitos. Há muitos anos não sei o que é isso. Nem tentei acessar. Fiquei com medo de ter um acesso de fúria e quebrar o computador. Coitado, nem culpa tinha e eu ainda teria um prejuízo.
Apesar de não ser vendedor, tenho viajado muito pelo interior do Rio Grande do Sul. Esses dias, lendo um post do Gejfin sobre Pelotas, lembrei-me das vezes em que lá estive e fico triste de ver como a nossa metade sul anda. Passo Fundo, por exemplo, é uma cidade em franco progresso, quase cosmopolita. É uma cidade cheia de juventude (e aí começam as minhas dúdivas: muitas outras cidades têm, também, universidades. Até mesmo Pelotas. Porque uma cidade progride e outra não?), muitos edifícios novos e outros tantos sendo construídos; trânsito intenso até altas horas da noite; bares, restaurentes, cinemas (coisa que a maioria das cidades do interior já não possui mais). Diversos eventos culturais agitam a cidade; alguns até nacionais/internacionais, como é o caso da Congresso de Literatura promovido pela Universidade de Passo Fundo (UPF). Por esses dias que estive lá, acontecia o Congresso Gaúcho da AGERT (Associação Riograndende de Emissoras de Rádio e Televisão). Enfim, uma cidade que se torna polo. Cresce e vive, ao contrário das cidades da metade sul.
Pelotas, Rio Grande, Bagé, Livramento, Uruguaiana, só para falar das maiores, estão simplesmente decadentes. Nos últimos doze meses fui, no minimo, duas vezes a cada uma delas. E a cada vez fico mais triste com a tristeza das cidades. É esse o sentimento que dá ao chegar. Não é o fato de os prédios estarem caindo aos pedaços por falta de cuidado pela municipalidade; é o povo que está triste. Os prédios e casas particulares também caem aos pedaços. Parece que as pessoas não sentem mais prazer em ao menos pintar suas casas. Tenho escrito sobre algumas palavras. E para esse caso só encontro uma: definhar. As cidades e pessoas da metade sul definham; se acabam, esvaem-se. E porquê?
Sem análises sociológicas (embora explique muita coisa) de que a pecuária os tornou assim e de que a metade norte, colonizado por italianos e alemães, fez da indústria (no sentido de produção, trabalho) o mote do seu progresso. Há algo mais entre a metade sul e a norte do que ousa sonhar a minha vã filosofia. E o que explica o descaso de décadas do governo do estado para com a metade sul? (Aqui podemos vislumbrar algo: a metade sul sempre achou que o governo deveria solucionar seus problemas, enquanto que a metade norte sempre foi a luta por suas próprias pernas e mãos).
A verdade, quer queiram alguns ou não, é só uma: hoje temos dois Rio Grande do Sul, o Rio Grande do Sul do Sul e o Rio Grande do Sul do Norte. Um miserável e decadente, onde apenas alguns poucos donos de terras ainda sobrevivem da pecuária e do arroz; outro, rico e progressista, onde muitos conseguem trabalho, outros são empreendedores. Vá explicar!
É triste ver a tristeza das gentes da metade sul.