Velsos mau euscritos.
Pois é,
Cartaz
Pedro Geraldo Escosteguy, 1967
Col. Marília Escosteguy, Porto Alegre.
Todo mundo se mete de pato a ganso, por que eu não poderia também? Fiquei com a frase na cabeça: quero beber de ti a cântaros. Isso merece um poema. Maldita incompetência poética. Fosse outro e o poema teria saido completo. Comigo não. Até sei o que gostaria de dizer. Mas daí a colocar isso em forma de versos... dói. Admiro gente que tem essa capacidade. Eu tenho que escolher as palavras, compor os versos, ver se era exatamente o que queria dizer, ver se não ficou coisa de adolescente (nenhum preconceito), primária, bobinho, apagar, reescrever tantas vezes, que às vezes cansa. Sem falar na tentação da rima: com rima ou sem rima? E sem falar no pior de tudo: a crítica. A começar pela interna. Até sair algo que eu mesmo não critique, demora. O que dirá da crítica dos outros.
- Afonso?
- Quié, Chato?
- Desiste!
- Por quê?
- Poesia não é pra ti. Tu pensas que esses versinhos aí vão fazer de ti um poeta?
- Mas eu não quero ser poeta. Só quero escrever. Passar coisas pras pessoas. A forma não importa.
- Importa sim, Afonso. Poesia é coisa séria.
- Qué saber de uma coisa, Chato?
- O quê?
- Vai...
Quero beber de ti a cântaros,
da mesma forma
como bebes a vida.
- Uau! Viste, Chato? Devo ter começado bem. Gostei.
E ao te beber,
quero que te sintas
possuída,
- Uhhh! Supimpa!!! Fala agora, Chato, vai. Diz que eu não levo jeito, diz!
da mesma forma
como em ti,
te possui nosso filho.
Até vou repetir...
E ao te beber quero te sintas possuída,
da mesma forma como em ti, te possui nosso filho.
Quero beber de ti a cântaros,
mas aos poucos,
sabor por sabor.
- Olha, Chato, que linda contraposição: beber a cântaros aos poucos. Querer tudo, mas pouco a pouco, para poder saborear...
Tocar, na tempestade,
um pingo de cada vez.
- Queres prazer maior, Chato, do que conseguir tocar em apenas um pingo em meio a uma tempestade? Tentar entender, pingo a pingo, a essência da mulher?
Quero beber de ti a cântaros.
Quero ser egoísta,
não importa.
- Afonso!!!
- Sim, Kaya?
- Surtaste de vez, né?
- Surtei!