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quarta-feira, julho 06, 2005

Textos - II

Pois é,

Se não tivesse dirigido minha vida pelo caminho que ela segue hoje, teria me dedicado às palavras e ao texto e suas regras. Lingüística, semiótica, teoria da comunicação, gramática; o estudo da linguagem é fascinante. Antes, talvez, estudaria piano. Não pertenço ao universo das pessoas que acha o português uma língua complicada. Ao contrário, penso que é bastante simples, os professores é que complicam; as pessoas é que complicam. Também não pertenço ao universo daqueles que querem petrificar a língua; dos que gostariam de retornar ao latim vulgar (embora ache importante seu estudo); dos que reclamam da linguagem utilizada na internet, o internetês. Sobre isso, aliás, ver o verbete "Lingüística" em http://pt.wikipwdia.org :

[...] As pessoas envolvidas nesses esforços de "descrição" e "regulamentação" têm sérias desavenças sobre como e por que razão a linguagem deve ser estudada. Esses dois grupos podem descrever o mesmo fenômeno de modos diferentes - em "linguagens" diferentes. Aquilo que para um grupo é "uso incorreto" para o outro é "uso idiossincrático" ou apenas simplesmente o uso de um subgrupo particular (que geralmente é menos poderoso socialmente do que o subgrupo social principal, que usa a mesma linguagem).
Em outro verbete, temos:

A linguagem diz respeito a um sistema constituído por elementos que podem ser gestos, sinais, sons, símbolos ou palavras, que são usados para representar conceitos de comunicação, idéias, significados e pensamentos. Nesta acepção, linguagem aproxima-se do conceito de língua. Numa outra acepção, linguagem refere-se à função cerebral que permite a qualquer ser humano adquirir e utilizar uma língua.
Sou dos que preferem uma língua viva, mutável, próxima do conceito de linguagem; uma língua que admite que idéias, significados, pensamentos e comunicação também são mutáveis.

Um texto é um sistema constituído por palavras escritas, sinais e símbolos, com o objetivo de comunicar idéias, significados e pensamentos. Talvez existam outras definições, mas prefiro ficar com essa. Sob a ótica desse conceito, o internetês é, sim, uma linguagem, uma quase língua, um dialeto. Até aí nada de mais, todos sabemos disso. O que é preocupante, é o fato de existirem pessoas que se colocam contra o internetês e chegam a tecer "elogiosos" comentários sobre as pessoas que se comunicam assim, como se a comunicação somente possa se dar em português ou nas línguas oficialmente reconhecidas pelas Academias.

O mais interessante, é que essas pessoas usam algumas centenas de palavras "novas" na língua portuguesa, para criticar o novo. Usam deletar, link e toda uma gama de palavras importadas e adaptadas ao clima, para dizer que "vc q tc?" não pode ser utilizado. Ora, como disse ontem, vamos olhar primeiro para a própria bunda.

O Gejfin, no comentário, disse que "acho que o segredo é entender que por mais que se use a palavra certa, é absolutamente impossível que a mensagem seja entendida tal como foi "idealizada" na mente do autor. Isso proque minha referência de uma simples "cadeira" pode ser completamente diferente de outra pessoa". Tomando a liberdade de discordar um pouquinho dele (devo ser gentil, né? Afinal ele é o síndico do condomínio), diria que a linguagem da internet tem introduzido a simplificação desse problema: objeto -> idéia do objeto -> representação do objeto -> palavra -> comunicação -> palavra -> representação diferente do objeto - idéia do objeto - objeto.

O que é diferente nessa cadeia é apenas a representação que fazemos do objeto. Ao simplificar a escrita, pela rapidez e economia de elementos, simplifica-se também, a representação do objeto. Assim, o internetês tem causado uma aproximação cada vez maior das representações possíveis de um objeto ou idéia que diferentes pessoas podem ter. E por quê? Porque não importa qual representação eu faça de "cadeira"; irá importar apenas que, do outro lado, há de chegar "cadeira". O que é, definitivamente, muito bom, pois também reduz o nível de ruído.

Esse tipo de comunicação, onde a representação do objeto é igual para o emissor e receptor da mensagem, é muita utilizada, por exemplo, na política: quando um político fala "mensalão", o outro sempre vai entender "$$$$$$". Nós é que ficamos imaginando que "mensalão" pode ser "cadeira".

Talvez estejamos iniciando um lento e gradual retorno para a língua original.