CLARISSA
Lilypie Baby Ticker

domingo, junho 26, 2005

Mulheres, e-mails e organizações

Pois é,

Convém lembrar do art. 2º do Código do Chato antes de ler este post.

Que me perdoem as mulheres, mas há uma incrível associação entre elas e mails com anexos contendo arquivos "pps", com mensagens do tipo "Você será feliz", "Jesus te cura", ou com bichinhos, florzinhas, texto enormes com musiquinhas ao fundo, exortando você a ser feliz, a dar a outra face ao fdp do teu colega que só te fode para pegar o teu lugar e o escambau. Simplesmente não olho, deleto. É pura perda de tempo. A Kaya já sabe bem o que pode ou não. E-cards também. Deleto. Esses dias minha filha me mandou um. Deletei. Dias mais tarde ela me telefona perguntando se eu havia gostado do cartão. Cartão? Que cartão? Tive que lembrá-la que não abro esse tipo de arquivo. Mensagens que as pessoas simplesmente reenviam com o " assunto" em inglês, também. Deleto. Só abro mail de gente conhecida e de quem, nos poucos segundos antes de deletar, eu consiga lembrar. Caso contrário, dança. Deleto.

É o único antivirus que funciona: não ser curioso. A curiosidade é arma das pessoas que mandam spam e virus. Sabem que boa parte das pessoas é curiosa e vai acabar abrindo. Depois que adotei essa simples regra, nunca mais tive problema de virus. Fotografias sim, estas podem me mandar. Há vários com fotos sensacionias da natureza. Como eu sei antes de deletar? Já avisei a maioria das mulheres que me mandam mails que fotografias pode. Assim não me incomodo. Os homens? Nunca recebi nada disso de um amigo. Homem não repassa as bobagens que recebe. Deles, só mulher pelada e sacanagem, que ninguém por aqui é santo.

Como toda regra, no entanto, vez por outra abro alguma exceção. Principalmente de pessoas (mulheres) que recentemente começaram a me mandar mails. Até que adquira alguma intimidade com elas - para poder dizer que não me mandem mais bobagens - vou abrindo. Muitos anos antes dessa febre se alastrar, e quando ainda era possível abrir mails com segurança, sem que estivesse lá dentro a minha salvação, recebi um mail com um texto que guardei:

As Três Peneiras

Olavo foi transferido de projeto. Logo no primeiro dia, para fazer média com o novo chefe, saiu-se com esta:

- Chefe, o senhor nem imagina o que me contaram a respeito do Silva. Disseram que ele...

Nem chegou a terminar a frase e Juliano, o chefe, apartou:

-Espere um pouco Olavo. O que vai me contar já passou pelo crivo das três peneiras?
- Peneiras? Que peneiras, chefe?
- A primeira, Olavo, é a da VERDADE. Você tem certeza de que esse fato é absolutamente verdadeiro?
- Não, não tenho. Como posso saber? O que sei foi o que me contaram. Mas eu acho que...

E, novamente, Olavo é interrompido pelo chefe:

- Então sua história já vazou a primeira peneira. Vamos então para a segunda peneira que é a da BONDADE. O que você vai me contar, gostaria que os outros também dissessem a seu respeito?
- Claro que não! Deus me livre, chefe - diz Olavo assustado.
- Então, continua o chefe, sua história vazou a segunda peneira. Vamos ver a terceira peneira, que é a da NECESSIDADE. Você acha mesmo necessário me contar esse fato ou mesmo passá-lo adiante?
- Não, chefe. Passando pelo crivo dessas peneiras vi que não sobrou nada do que eu iria contar - fala Olavo, supreendido.
- Pois é, Olavo. Já pensou como as pessoas seriam mais felizes se todos usassem essas peneiras? Diz o chefe sorrindo e continua:
- Da próxima vez em que surgir um boato por aí, submeta-o ao crivo dessas três peneiras: Verdade, Bondade e Necessidade, antes de obedecer ao impulso de passá-lo adiante, porque:

PESSOAS COMUNS FALAM SOBRE COISAS

PESSOAS MEDÍOCRES FALAM SOBRE PESSOAS

PESSOAS INTELIGENTES FALAM SOBRE IDÉIAS

O cotidiano da vida organizacional é assim: 70% das pessoas são comuns; 25% são medíocres e somente 5% costumam ter idéias. De outra banda, a consideração dada às pessoas é inversamente proporcional: crescem os medíocres (em geral viram chefes), depois os comuns e, por fim, quem realmente pode fazer algo é quase que desprezado, chamado de "maluco". Desses dizem: "lá vem fulano com mais uma das suas idéias...". Não me admira que as organizações, públicas ou privadas, sejam, quase sem exceção, uma bagunça só. E a prova é a quantidade de consultores (eu dentre eles) que tentam fazer algo por elas (nunca esquecendo que para estes também vale a estatística, ligeiramente diferente: 95% são picaretas e se limitam a reproduzir modelos americanos e 5% tem realmente boas idéias e resolvem os problemas).

A maioria preocupa-se apenas com as questões de processo. Claro, é mais fácil tentar organizar um processo (fluxo de trabalho, como as coisas são feitas) do que lidar com as pessoas, principalmente com chefias medíocres. Existem algumas presunções que deveriam definitivamente ser varridas do mundo do trabalho:

1. ter diploma de curso superior é garantia de ser melhor profissional. Primeira grande mentira: o que há de boçal formado por aí não está no gibi. Formar-se não é uma questão de inteligência ou de bom caráter, ou de ter a capacidade para ter boas idéias. Formar-se é apenas uma questão de persistência, mais nada. Com o nível dos cursos - e professores - do jeito que anda, qualquer mané se forma em Medicina, Direito, Psicologia, Engenharia e etctologia. Se a faculdade for paga, então, é como tirar doce de criança. E essas bestas acabam por virar chefes. Como só lhes sobra a competência da "relação interpessoal" (vulgarmente conhecida como "andar sempre perto do poder", isto é, do saco de algum graúdo), acabam crescendo na organização.

2. Ser chefe é ser dono da verdade. Outra grande mentira. Qual é o chefe que não pensa assim? Confunde "poder mandar" com "ser dono da verdade". Claro, fazem parte do grupo dos medíocres, não poderia ser diferente.

3. Amizade. Ser amigo do "homi" é sinônimo de competência. Essa é a pior das regras, principalmente nas instituições públicas. Vale aqui uma comparação: uma mulher bonita sempre estará acompanhada de outra(s) feia(s), ou ao menos não tão bonita. Qualquer um sabe disso. Assim também é nas organizações: um medíocre sempre terá ao seu lado outros mais medíocres ainda. Parece ser uma questão de sobrevivência: medo de perder o posto, no caso do trabalhador, e medo de perder a paquera, no caso das mulheres.

Por fim, há que se dizer: tudo, em uma organização, começa com e acaba nas pessoas. De nada adianta projetar o processo mais eficiente do mundo se colocarmos medíores para realizá-los. Há que se investir primeiro nas pessoas. Pena que o modelo americano, copiado à exaustão pelos brasileiros, é o inverso: primeiro a organização e seus processos (vide qualidade total e outras teorias), depois as pessoas. Mas isso é outro história, outro post.