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quarta-feira, março 23, 2005

Feriadão, Páscoa e natureza humana.

Pois é,

Por conta de uma desrratização que será realizada amanhã, quinta-feira (ou hoje, se alguém estiver lendo na quinta) meu feriadão de Páscoa inicia agora. O post anterior era sobre a minha revolta contra os maus tratos que dois imbecis esféricos (pra quem nunca ouviu a expressão, imbecil esférico é aquela pessoa que, por qualquer ângulo que se olhe, será sempre um imbecil) estavam impondo a três filhotes de dog alemão, aqui no meu prédio. Pois o de hoje começa por falar de uma matança de animais que será realizada dentro dos mais regulares preceitos inventados pela humanidade.

A Páscoa cristã, pelo que me lembro das aulinhas de catequese preparatórias da primeira comunhão (sim, porque depois disso, só entro em igrejas por dois motivos: turismo cultural e missa de sétimo dia), tinha, ou tem ainda sei lá, um significado de sacrifício. Jesus teria morrido na cruz para carregar consigo, lá para o céu, os pecados do mundo.

A partir daí passei a entender o mundo e as pessoas como sendo naturalmente maus. Se assim não fosse, porque o sacrifício? Se não estou enganado, ocorre o mesmo em todas as religiões e filosofias religiosas do mundo: para atingir o céu, o nirvana, o ... devemos apenas nos livrar do pecado, do desejo, do ... Sendo como é, jamais o homem atingirá a perfeição.

Ora, se como sou não mereço o céu, a perfeição ou estar sentado ao lado direito de Deus é porque sou mau e devo me transformar para chegar lá. Expiar, reencarnar, tantas vezes - ou apenas uma - até que melhore; até que tire de mim o que resta da maldade original, com a qual nasci, cresci e vivo com ela.

Antes que alguém fale, um aviso: Não faço o gênero de discutir, com base em achologia, com gente que é especialista no assunto. Especialista é especialista. Respeito, fez por onde chegar onde chegou. O que aqui vai é mera achologia. Não pretendo estar embasado em conhecimentos de filosofia ou seja lá o que for. É apenas o que eu acho, observo, penso. Portanto, aos especialistas em todo e qualquer tipo de "logias": covardia não vale! Eu uso óculos e não se bate em gente que usa óculos!

Tivemos, a Aninha e alguns colegas da Especialização em Psicologia Organizacional, juntamente com a professora, um debate sobre a natureza humana. Eu cá, eles lá. Eu, defendendo que o homem é mau por natureza. Eles, o contrário. Não chegamos a um termo satisfatório, mesmo porque, por razões alheias a nossa vontade, fomos obrigados a interromper o debate. E, claro, jamais chegaríamos...

A idéia do "estado de natureza" não é nova. Hobbes já a havia utilizado para justificar o segundo exemplar de "contrato de adesão" da história, aquele que fazíamos com o soberano (o primeiro foi imposto por Iahweh na forma das "alianças": ou assina ou afogo todo mundo!). Os ventos soprados da "renascença", que acabaram embalando o iluminismo, fizeram com que alguns pensadores adaptassem o contrato ao tempo. De um contrato de adesão, passamos a assinar um "contrato social". Não mudou nada. Se antes jogávamos em Deus a culpa de sermos maus, passamos a culpar o soberano pelas nossas atitudes; não tendo o soberano resolvido a contento o problema - ao contrário, só piorou - passamos a jogar a culpa da nossa maldade nos semelhantes, encarnados, agora, nessa figura esquisita chamada Estado.

E por vezes confundimos o viver em sociedade com não sermos maus. Pensamos que atos de caridade e solidariedade - e mesmo o agir dentro da moral, com base na ética - são da natureza boa do ser humano e não da tentativa de deixar de ser mau. E aceitar que o homem é mau por natureza não implica em desconsiderar o agir pelo bem, que por vezes nos sucede. E esse é o ponto: ações pelo bem são exceções que podem nos levar a uma transformação. Mas o fato de praticarmos essas ações não nos torna bons por natureza.

O que é a ética, a moral, a religião, a própria sociedade, senão a imposição de normas para evitar qua a natureza má do homem prevaleça? E tem adiantado? Acabaram as guerras? Acabaram as mortes nas ruas e estradas brasileiras? Aquele cara que te sacaneia no trabalho desapareceu? Gente que dá choque em animais sequer nasce mais? Os Bushs; os Aiatolás; os terroristas; os milicos; os políticos; os que furam o sinal; os que resolvem se matar e andam a milhão com o automóvel e, via de regra, acabam matando os outros; gente que estupra crianças de dois anos; dois bilhões e trezentos milhões de pessoas que passam fome no mundo porque o resto "é bom" por natureza; as quatro milhões que morrem de fome, porque o resto "é bom" por natureza...

Ontem, vendo um programa numa rede americana, a "host" dizia: "quase dez bilhões de dolares foram doados para as vítimas do tsunami que atingiu a Indonésia. Desses, dois bilhões foram doados pelo povo e pelo governo americano. Pesquisa recente mostrou que a imagem dos EUA, para aquele povo, mudou." É, os homens são bons por natureza.

Se agir com maldade fosse a exceção, o mundo seria diferente.