CLARISSA
Lilypie Baby Ticker

quinta-feira, março 24, 2005

Mulher: a natureza é sábia!

Pois é,

Cá, de fora, fico imaginando a coragem que é carregar um filho na barriga durante nove meses. Uma angústia que começa bem antes e se faz sentir em cada um dos segundos desses nove meses. Nem mesmo dormindo há descanso.

Tudo começa com a expectativa da gravidez. Estou? Não estou? Qualquer movimento corporal é motivo de angústia. Hoje acordei com dor na perna, será? E a angústia vai até o fatídico dia da menstruação. É amanhã. Amanhã vamos saber se deu certo. Só que, depois de amanhã, ainda tem o depois-de-amanhã. Ih, atrasou. Vai ver é porque ando meio tensa. Amanhã vamos ver. E depois de depois-de-amanhã ainda tem o depois-de-depois-de-amanhã, e assim a angústia vai tomando corpo, o corpo da mulher.

E no quarto dia de atraso a angústia é total. Me leva no laboratório, não agüento mais. Não sinto a mesma angústia. Os homens não sentem a mesma angústia. Também desejamos, mas é diferente. É light. Filho é da mulher. É algo inexplicável. Só pode ser a natureza. Esse sentimento de completude que o filho dá para a mulher. Homem que não tem filho, traduz isso numa racionalidade qualquer. A mulher? Fica capenga, falta-lhe um pedaço. O homem procria, a mulher cria.

E vem o resultado do exame. Angústia. Será que deu? Deu. Começa - ou continua de outra forma - uma nova angústia. Será normal? Não adianta argumentar com estatísticas, dizendo que 99% dos filhotes humanos nascem normais. É diferente. Nesse momento tudo muda. Não sei como, mas percebo que muda. Não vi nada nesse mundo que se compare a expressão de uma mulher ao saber - definitivamente - que está grávida. Vejo apenas o que está por fora, a expressão. Imagino que deva ser algo parecido com poder enfiar a cara no paraíso e dar uma espiadinha.

Será que se eu respirar vai fazer mal pro nenê? Só falta dizerem isso. Dizem de tudo. O médico, a nutricionista, a colega que já teve filho, e o pior, quem não teve filho e fala mais ainda. E a angústia aumenta, na mesma medida que a felicidade. Não sei como são, já disse. O que será essa mistura de angústia e felicidade a todo momento? Ai! O que foi? Senti um estirão aqui na barriga, será alguma coisa? Deixa assim, teu corpo está se ajeitando. Até falo, mas da boca pra fora, pois não é na minha barriga. Não sou eu quem dorme preocupado com o lado certo para dormir. Fico com medo de apertar o nenê se dormir de barriga pra baixo. Deixa de ser boba, ele se acomoda aí. Viro pro lado e sigo dormindo. Ela? Segue acordada, meio feliz, meio angustiada. Não sei o que é isso.

Exames, cuidado com a alimentação, não pode fumar nem beber. Não sei o que é isso. Preciso de roupas novas. Não sei o que é isso, minhas calças continuam entrando normal.

- pinta os cabelos! Tem uns fios brancos aparecendo.
- Ainda bem que falaste nisso. Não agüento mais me olhar no espelho e não poder pintar. O Dr. P.... disse que eu não podia. Pode fazer mal pro bebê.

Não sei o que é isso. Abandonar as vaidades. Ver-se todo dia abrindo mão de toda ginástica praticada por anos pra manter "aquele corpinho". Talvez até deixar de ser chamada de gostosa na rua. Angústia. Mas a felicidade...

Será menino? Será menina? Não importa, basta que seja saudável. Claro, mas faz diferença pra mulher? Não sei. Que desejos, que sonhos terá para um menino? Que desejos, que sonhos terá para uma menina? Não sei. Imagino que cada segundo desses nove meses deve estar preenchido dessa angústia misturada com felicidade.

Mexeu, mexeu! Que legal, eu digo. Não sei o que é isso. Nunca alguém me chutou por dentro. Só imagino a angustia misturada com felicidade: será que se mexeu porque não está bem, ou porque está bem!?

Eu passo a mão na barriga e racionalizo que ali está meu filho(a). Ela passa a mão na barriga e imagino que milhões de coisas devem acontecer. Não sei o que é isso. Aqui de fora sinto uma coisa. Ela sente milhões. Angústia e felicidade entre elas.

E não sei se é angústia. Imagino. Talvez eu sinta angústia por não saber, ou não sentir, o que ela sente, o que ela sabe.

Mulher é algo mais do que aquilo que tem no meio das pernas. Cá, de fora, só me resta dar a mão. Acarinhar. Abraçar. Afagar. Escutar. Apoiar. Fazê-la sentir que mãe e mulher não são incompatíveis, mesmo porque, deve ser mais uma das angústias: será que ele deixou de ter tesão por mim? (talvez ela não saiba que mulher grávida dá tesão). E mais uma das felicidades: não importa, agora eu tenho ele.

Talvez um abraço bem apertado, aconchegante. Isso eu posso fazer. Isso eu sei o que é. Convidá-la pra chorar. E dizer...

desculpa, eu tô aqui fora. Não sei o que é isso.

Esse post é dedicado a Kaya. Por sentir coisas que eu não sinto. Por ser mulher.