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domingo, abril 24, 2005

II. Sólidos

Pois é,

Este post é continuação do anterior.

O que é um sólido? Sólido é o estado da matéria que possui, grosso modo, pouca energia cinética (energia associada ao movimento). Os átomos de um sólido estão presos a estruturas (vide as pontes de hidrogênio da água) que não permitem, ou quase não permitem, o movimento. Se colocarmos a energia potencial (estática) ao lado da energia cinética (movimento), os sólidos caracterizam-se por possuir uma energia potencial maior que a energia cinética. Desequilíbrio energético. Os sólidos também se caracterizam por um volume e forma definidos e, via de regra, são resistentes à deformações.

Isso já nos diz tudo. Sólidos não são associados a movimento. Sólidos nos dão a idéia de estática. Uma estátua é sólida. Aos sólidos é mais fácil associar a idéia de massa, e massa, sob a ação da gravidade, vira peso. “Fulano é um pesado!”, não é o que se diz de alguém chato? (não como eu, claro). De alguém que não se move, que finca pé nas suas posições sem sequer admitir pensar em outras?

Sólidas são as pessoas que não conseguem “enxergar um palmo adiante do nariz!”. Claro, não conseguem se movimentar além desse palmo. Sólidas são as pessoas que têm fé, pois a fé é estática. A fé pressupõe dogmas e dogmas são contrários ao movimento. Os depressivos são sólidos, pois detestam movimento.

Nas organizações os sólidos são aquelas pessoas que sempre estão contra tudo, que acham que nada vai dar certo; que se opõem às propostas de mudanças. Sólidos adoram o poder e a hierarquia, pois são conceitos sinônimos de estática, de rigidez. Vivem em função disso. E são os piores tipos de sólidos nas organizações, pois ficam controlando todo mundo, verificando se não há gente se movimentando sem que eles saibam. Sólidos organizacionais são chefes que se preocupam com horário e não com a qualidade do trabalho. O trabalho acima do trabalhador.

A palavra não é a palavra sólida por excelência. É com ela que transformamos as crianças em seres sólidos: não faça isso, não faça aquilo; não pode isso, não pode aquilo. Pelo não impedimos o movimento, direcionamos as pessoas para o estático, para a rigidez, para serem sólidas.

A miséria do mundo deriva dos não’s ditos pelos sólidos: não é problema meu; não tenho culpa por isso; não ajudo. Apesar de palavras com a mesma origem, os sólidos não são solidários, pois ser solidário implica em movimentar-se em direção ao outro, coisa que os sólidos detestam.

Sólidos vivem no passado: “aprendi assim com minha mãe, que aprendeu com minha avó...”; “no meu tempo era melhor” e tantas outras expressões que vivemos escutando por aí. Sólidos são críticos. Criticam tudo, pois nada está de acordo com a sua rigidez. Sólidos adoram os pré-conceitos com os quais foram educados. Sólidos são contra; contra tudo que signifique o novo, o movimento.

A educação torna as pessoas sólidas e isso é o pior de tudo (vide Rubem Alves no post anterior). Depois de formados os sólidos, precisamos de muita força e energia para tirá-los dessa condição. Os sólidos nos fazem despender uma energia que bem poderia estar sendo aplicada em outras coisas. Os sólidos nos roubam essa energia. É por isso que viver muito tempo com pessoas sólidas nos desequilibra, pois gastamos nossa energia com eles.

Sólidos são hipertensos e morrem do coração.