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segunda-feira, abril 25, 2005

III. Gasoso

Pois é,

Este é o terceiro post de uma série de seis:

I - Feira da Fruição, uma introdução.
II - Sólido, onde se explica o que são pessoas sólidas.
III - Gasoso, onde se explica o que são pessoas gasosas.
IV - Líquido, onde se explica o que são pessoas líquidas.
V - Equilíbrio, onde se explica como é possível ser equilibrado fluindo pelos três estados.
VI - Plasma, a morte.

Rola a tela e dá uma lida nos dois primeiros. Ajude um sólido/gasoso a tornar-se um líquido equilibrado, antes que vire plasma.

Ao contrário dos sólidos, o estado gasoso caracteriza-se por ter uma energia cinética maior que a energia potencial. É, também, um estado de desequilíbrio energético. Um gás expande-se num quase puro e incontrolável movimento, só parando se o colocarmos sob pressão em algum recipiente. E é isso que faz desse estado algo ruim, se aplicado como tipologia de ser humano.

Gasosos são aquelas pessoas que ocupam todo o espaço disponível, inclusive aquele que não é seu. Expandem-se sufocando os demais. As pessoas possessivas são gasosas. Tudo tem que ser delas. Os narcisistas são gasosos; os ciumentos também. Se o não é o símbolo do sólido, o dinheiro é o símbolo do estado gasoso. Tudo o dinheiro compra e quem tem dinheiro pensa que pode ter tudo, até as pessoas. Convenhamos, no entanto, que a pior espécie de gasoso é o gasoso pobre. Há uma espécie correlata, que é o gasoso novo rico: sonegou impostos ou superfaturou alguma obra pública (gasoso, dígno do nome, sabe bem que trabalhando ninguém fica rico). Anda sempre com um carro último ano (preferencialmente importado), mas está sendo processado porque não pagou as prestações (ou pior, entrou na Justiça questionando os juros e aí parou de pagar. Mas anda todo posudo nas ruas e vai à missa se confessar).

Gasosos são os jornalistas e os ligados aos meios de comunicação que pensam ser donos da verdade. Nem todos, é claro, mas parece ser um pré-requisito para ingresso em qualquer meio de comunicação de massa, a propriedade de ser gasoso. Dá um espaço no jornal, na televisão ou no rádio e pronto: qualquer idiota vira dono da verdade, se expande.

Gasosos gostam de vitrines. De preferência que eles estejam por trás, à vista dos demais. Gasosos são imperialistas por natureza, desde Alexandre até o Bush, além de todos os severinos soltos por aí. As guerras, apesar dos efeitos sólidos que deixam, são feitas por gasosos, que precisam se expandir. O capitalismo é gasoso; e a economia, ciência criada e desenvolvida para dar-lhe suporte e que justifica a miséria com base na escassez dos recursos, só pode ser gasosa.

Já comentei antes, que os relacionamentos acabam, via de regra, porque uma das pessoas é gasosa. Literalmente ocupa todo o espaço, anulando a outra. Homens, em relacionamentos, pelo geral são gasosos. Não que mulheres também não possam ser, mas ainda há uma predominância masculina nesse aspecto. A humanidade é gasosa. Está destruindo a natureza com sua expansão.

A inveja é gasosa. Os pecados capitais foram inventados para conter os gasosos. A Igreja Católica foi e ainda é gasosa (tem um padre aqui perto de casa que resolveu colocar um alto-falante na torre da Igreja. Resultado: tenho que ouvir a missa dele dentro da minha casa), apesar de se utilizar da fé e dos dogmas, que são sólidos, com arma de expansão. Importante notar que os gasosos sempre se utilizam de meios sólidos (armas, físicas ou psicológicas, são sólidas) para atingir seus objetivos. Os gasosos precisam do potencial destrutivo dos sólidos. Onde há um gasoso há um sólido por perto, e vice-versa. Nas organizações, ao lado do poder (sólido) sempre há um puxa-saco (gasoso).

Gasosos são pessoas, como esse padre, que ignoram que as demais têm seus direitos e que eles devem ser respeitados. Invadem todos os espaços como se somente eles existissem no mundo. Gasosos são fundamentalistas de qualquer espécie.

É por isso que viver muito tempo com pessoas gasosas nos desequilibra, pois, além de gastamos nossa energia com eles, eles nos roubam a que resta.

Gasosos são suicidas. Expandem-se tanto que acabam perdendo a identidade. Aí se matam. Literalmente ou figurativamente, como diz o verso "quem passou a vida em brancas nuvens e não viveu...". Esses são os gasosos: não vivem.