CLARISSA
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quarta-feira, abril 27, 2005

Premissa

Pois é,

É importante um esclarecimento que, propositadamente, deixei passar: a premissa que fundamenta tudo isso. Antes de descrever o líquido, no entanto, é necessário explicitá-la. Mesmo porque, pode ser má interpretada. Outro aviso: esse post não é um tratado de filosofia.

Já tratei dela por aqui, mesmo que superficialmente: o homem é mau por natureza. E por maldade entenda-se a potência para o agir primariamente destrutivo do homem. Se deixado no “estado de natureza”, o homem destrói a tudo e a todos. Teve e tem a oportunidade de construir com a natureza, mas a destrói constantemente. Há a corrente que defende o contrário, que o homem é bom por natureza. Respeito. Até porque são filósofos consagrados pela humanidade.

Algumas construções do homem objetivam colocar limites e estabelecer sanções para esse comportamento destrutivo. As religiões, a moral, o direito, a sociedade, o estado, tudo, no fim, serve para punir e conter a maldade do homem. Outras servem para potencializar, aumentar a capacidade destrutiva do homem. Assim a tecnologia, que primeiro mata, para depois ser aplicada com alguma finalidade boa. Alguém tem dúvida com relação a isso? Basta olhar em volta e veremos que o homem age primariamente levado pela maldade, pelo impulso de destruir.

Desnecessário fazer aqui uma lista das ações que justificam a premissa. Há que se olhar, no entanto, com olhos de líquido: sem hipocrisia. E sem generealizações, que não as estou fazendo (existem os líquidos que não se comportam assim, ao menos não sempre).

Olhar para dentro e admitir que, podendo, passamos o sinal vermelho; corremos para chegar na frente dos outros; gastamos duzentos reais com nossos bichinhos de estimação, mas somos incapazes de fazer alguma coisa - bem mais barata - por uma criança de rua e ainda inventamos, hipocritamente, que dar um real para uma criança é fomentar a vagabundagem do pai ou da mãe que pegam o dinheiro para beber - ou, o que é pior, dizemos que é dever do estado e não nosso; somos craques em jogar a culpa no estado. Afinal, pagamos impostos pra quê? Pra quê? Pra livrar nossa consciência da maldade que fazemos, pois hipocritamente esquecemos que estado não existe, que é uma abstração; o que existe são pessoas que trabalham e essas pessoas são más. São más porque colocam o interesse político acima do interesse comum e nós somos maus porque concordamos quando eles dizem que não há dinheiro para resolver o problema de 500 crianças de rua (POA), mas tem para fazer publicidade; tem para empregar seus parentes. Somos maus porque fingimos que não somos o estado.

Somos maus quando inventamos um Direito que diz que ao Judiciário não cabe interferir nas decisões do Executivo e, com base nisso, uma desembargadora lava as mãos dizendo que faz parte da discricionariedade da decisão administrativa não aplicar as verbas para construir abrigos para as crianças de rua. Querem mais maldade do que justificar a miséria com teorias jurídicas? (o caso é verídico). Lindo, mas as crianças continuam na rua. E ela e os políticos? Continuam faturando alto!!!

Já se fizeram a pergunta: porque, com milhares de ONG's, governos, iniciativas individuais e o escambau, a miséria ainda existe? É simples. É porque queremos apenas livrar nossa consciência.

Sou "sócio titular" de uma fundação que cuida de crianças. Recebi o balanço anual e dei uma olhada: nada menos que 70% da receita é gasta com pessoal. Ah, claro! A estrutura é importante. Paga-se um bom salário para alguém ajudar a manter uma criança na miséria, só que com mais educação e um pouco mais de comida. Mais tarde essa criança terá condições de "se virar" na vida; é o que dizem e depois dormem tranqüilos, pois o seu está garantido. Hipocrisia; maldade inerente ao ser humano. Descobri que ajudo um FDP a dormir tranqüilo e não crianças. Mas eu também durmo tranqüilo, fiz a minha parte.

Tá, deixa assim. Não preciso demonstrar que o homem é mau. Gostaria é que alguém me demonstrasse que o homem é bom. Mas por favor, sem filosofias e sem hipocrisia. A cada coisa boa que me apontarem, mostro outras cem que são más.

Repito só para não dar confusão: não estou generalizando o comportamento. Há pessoas que, como disse, conseguem equilibrar a natureza má com ações boas. E até superar.

É por essa razão que a “evolução” da humanidade dá-se sempre no sentido de superação dessa condição de maldade. Admitir que a natureza do homem seja má não impede que admitamos que seu agir possa ser bom, isto é, não destrutivo, pois significa o impulso em busca de se livrar dessa condição de mau. Não há porque confundir as duas coisas.

Isso é importante: há uma diferença entre a natureza má do homem e seu agir para o bem. É o que diferencia os sólidos e gasosos dos líquidos. É o que vai explicar o que chamo de equilíbrio, o saber transitar entre os três estados da vida.

É o que se segue.