CLARISSA
Lilypie Baby Ticker

sábado, junho 18, 2005

Da série: Faltam apenas cinco dias - I

Pois é,

Ando com Einstein na cabeça:

"O homem, como qualquer outro animal, é por natureza indolente. Se nada o estimula, mal se dedica a pensar e se comporta guiado apenas pelo hábito, como um autômato".

Esta semana comemoro um ano de "Chato". Quarta-feira, dia 22. Estou fazendo, portanto, um repensar sobre esse ano. Não é para pensar sobre blogs. Para isso vejam, por exemplo, o que escreveu Flávio Prada, no post "Um giro por aí". É um daqueles posts de dar inveja; uma inveja boa, é claro, de se ficar pensando: "putz, como eu queria ser capaz de escrever algo assim". Outros tantos também escreveram sobre o assunto: uns criticam, outros criticam os que criticam, há os indolentes, os que explicam e por aí vai. Sobre blogs, em si, já cheguei a uma conclusão: estão aí e pronto! Não me interessa se é moda ou não; se veio para ficar ou se vai evoluir para outra coisa. Importante mesmo, é que certas pessoas são indolentes, como disse o Einstein e como bem se aproveitou do conceito o Boaventura de Souza Santos quando faz sua "Crítica da Razão Indolente": "se o futuro é necessário e o que tiver que acontecer, acontece independentemente do que fizermos, é preferível não fazer nada, não cuidar de nada e gozar apenas o momento presente". Pessoas que criticam os blogs são apenas autômatos, indolentes.

Repenso apenas a minha participação nessa tal de blogosfera, ou "blogolândia", na expressão do Flávio. Para isso, peço licença ao Tiagón para reproduzir um comentário que ele deixou no post de ontem:

"E essa é uma característica do meio. O blog aproxima o processo mental da escrita, porque exige menos elaboração, cuidado, técnica, etc - não que não sejam importantes, mas eles se sobressaem nos que já tem essas características, ao invés de ficar com cara de dissertação de colégio. Os posts não-lineares que eu e o Gejfin gostamos de fazer, ou os fragmentados, cheios de informações ligadas pelo fio invisível da subconsciência - são textos "em processo", e não 'obras' acabadas. Também disso vamos chegar ao ponto que falávamos, no Milton, dia desses - do laço criado pelo texto. Não seria esse um dos motivos para conectarmos uns nas vidas dos outros? Basta a leitura e a afinidade; esse texto mais visceral, menos preparadamente social, encarrega-se de fazer uma conversa muitas vezes mais significativa, em níveis de raciocínio mais profundos..."

Aproximar o processo mental da escrita. Esse é um ponto que considero de extrema importância. Nosso sistema educacional foi idealizado para afastar a escrita do processo mental. Por essa razão a maioria das pessoas tem dificuldades de expressar, na escrita, aquilo que pensa. Não digo nenhuma novidade aqui. É-nos imposto, desde cedo, que escrever deve seguir os rígidos padrões da norma. Antes mesmo de aprendermos a pensar, aprendemos as regras da escrita. E isso transforma nossa maneira de pensar. Acabamos por condicionar nossa forma de pensar aos padrões da regra: pensamos em forma de gramática. E como as pessoas acabam por não aprender direito as regras (também, com tantas regras para aprender nesse tal de português, não me admira que poucos o dominem), acabam não se expressando direito. Pensam certo, mas expressam-se errado. E por quê? Porque não podem expressar seu pensamento tal qual ele é: sem regras. E aí entra a indolência dos que insistem na forma culta. A crítica que destrói qualquer tentativa de expressão e que ajuda a aumentar nossa autocrítica, que nos impede de publicar muita coisa. O que é a autocrítica senão a crítica dos nossos professores e pais?

Podemos verificar isso nos comentários. Quando alguém erra alguma palavra, imediatamente faz outro comentário corrigindo-a. Ora, todos sabemos que erros de digitação acontecem, ou mesmo erros de português. Alguém há de deletar o comentário simplesmente porque tem um erro?

"Não seria esse um dos motivos para conectarmos uns nas vidas dos outros? Basta a leitura e a afinidade; esse texto mais visceral, menos preparadamente social, encarrega-se de fazer uma conversa muitas vezes mais significativa, em níveis de raciocínio mais profundos..."

Essa parte do comentário é bárbara. O laço criado pelo texto. Ao aproximar o processo mental à escrita, criamos a conexão necessária. Deixamos de escrever para falar. Passamos a falar, nos blogs, como falamos em uma mesa de bar. E numa mesa de bar não somos "empolados" (nem poderíamos, depois de algumas brejas...) com os amigos. Não dizemos "querida, dê-me um ósculo", para a gata que queremos comer. Ou beijamos ou não. Senão também não comemos!

Não escrevemos num blog: simplesmente falamos, conversamos. Aqui é o lugar da fala e não o da escrita. Falamos em forma de poema, em forma de romance, de crônica, de monólogo, de análises literárias, futebolísticas, políticas, etc. É aqui, inclusive, que podemos falar sozinhos sem que ninguém nos chame de loucos. Não precisamos da desculpa "estou falando com meus botões", para disfarçar quando nos pegam.

E foi com essa idéia que enfrentei criar o blog. Falar. Por isso dizia, lá no início: "para dizer aqui o que não dá para dizer por aí. Porque se disser, vão me chamar de chato". Vivemos em meio ao discurso da regra. No trabalho somos obrigados a falar corretamente, sob pena de, inclusive, não sermos considerados "competentes". Aqui poderia simplesmente falar. Falar sem me preocupar com a forma. Falar sozinho ou com quem queira participar.

Acho que é isso que tenho feito nesse ano de blog: simplesmente falar.