O Abominável Homem-Internet
Pois é,
Tenho um amigo que me chama de Abominável Homem-Internet só porque eu vivo grudado nela. Não fico chateado com as pessoas quando elas têm razão a meu respeito. Vivo, sim, em função da internet. Pela internet sei mais de tudo, se comparada com os jornais ou com a televisão. Já fui assinante de jornal, a Zero Hora e o Correio do Povo, jornais do RS, e a Folha de São Paulo. Pela internet tenho acesso a todos ou quase todos os jornais do mundo, inclusive a estes citados. Como há muito já descobri que a fonte de todos eles é a mesma, e que os nossos sequer se dão ao trabalho de adaptar o texto, pra quê assiná-los? Bastaria ler um. E eles estão na internet. O acesso pela internet permite inclusive verificar quando os jornais locais distorcem as noticias internacionais. Quem parar para estudar a estrutura do texto das notícias, verifica logo que basta ler a manchete. Já vi textos que repetiam por três ou quatro vezes as mesmas frases. Por outro lado, a composição dos jornais, em termos de centímetros quadrados, deve andar assim, na média: 80% propaganda; 15% fotografias e apenas 5% de notícias. Dos 5% de notícias, limpando as repetições e as obviedades do texto, sobra algo em torno de 1%, ou seja, quase que só a manchete. Se levarmos em conta, ainda, o fato de que as notícias dos jornais são puro repeteco do que já deve ter passado na televisão, deu pros jornais. Nem mesmo os antigamente chamados "suplementos literários" se salvam. Voltados para um público "letrado" cada vez menor, menor também tem sido a qualidade. Tenho comigo várias coleções originais de jornais do final século XIX (de 1894 a 1901) e do século XX (do tempo da IIGG e da década de 80). É incrível a diferença. Alguém poderia alegar que os tempos são outros. Sim, os tempos são, mas a qualidade não teria razão de ser outra; e pior. Por fim, jornais são feitos de papel e papel são árvores derrubadas. Dou a minha contribuição para a preservação da natureza ao não comprar jornais.
A mesma análise pode ser feita para a televisão; sobra 1% útil, embora, nesse caso, até veja alguma utilidade para aquelas pessoas sem alternativas depois de certa idade. Mas se há algo que não consigo admitir é gente jovem (com menos de 65 anos) vendo novela. Recente estudo (depois eu procuro e cito a fonte) apontou que o brasileiro passa, em média, três horas por dia vendo televisão. Isso é um absurdo, se levarmos em conta a quantidade imensa de alternativas existentes hoje em dia. Não só na internet, mas na rua também. Aqui há aqueles que poderão defender as novelas, alegando que é cultura e que é o produto brasileiro por excelência. E o fazem por comparação aos enlatados americanos (expressão antiga, eu sei), alguns idolatrados até. No fundo, no fundo, as novelas têm apenas contribuído para a deformação da família. E o que dizer de deixar as crianças quase que o dia todo vendo desenhos? Aqui a coisa é pior. A pressão se dá quando te dizem: "vais deixar teu filho isolado da turminha? Todos vêem, menos ele. Olha o mal que fazes!" Pronto, e todos os pais cedem. Ontem vi um pai com a filha no colo e esta carregando um dos teletubies. Não adianta me dizer que são programas "cientificamente" preparados e adequados para criancinhas. São boçalizantes, isso sim.
Hoje sei do mundo pela internet. Recebo diversos informativos com tudo e de todas as áreas. Posso escolher o que ler. Leio blogs e neles encontro análises de quase todas as notícias. Com uma vantagem: são diversas opiniões e não apenas aquela que a mass media quer que eu leia. Tudo o que é bom e que os jornais e televisões não veiculam está na internet. As porcarias também, mas essas a gente aprende a identificar. Faço parte de 5 e-groups. Troco mensagens com gente de todo mundo. Graças a isso fui obrigado a aprimorar minhas outras línguas, que as tinha incipientes. Até basco, língua natal dos meus antepassados, estudo pela internet.
Sempre gostei de me comunicar com as pessoas (sou geminiano, lembram?). Bem antes do advento da internet, jogava xadrez postal. Para os mais jovens: antigamente as comunicações eram feitas por carta. As cartas eram enviadas pelo correio, esse mesmo que protagoniza mais um escândalo. Cheguei a jogar, ao mesmo tempo, com 50 pessoas de todo mundo. E cada carta era uma maravilha. Além dos lances, trocávamos conhecimento, fazíamos amizades. Hoje, tudo isso é possível pela internet.
Por que deixaria de ler blogs, de conversar pelo MSN, de visitar museus, de ler biografias, de ler as obras produzidas, de receber o carinho das pessoas e tantas outras coisas, para ficar em frente a uma tv vendo novela e jornal nacional (ou similares)?
De fato meu amigo tem razão: sou um Abominável Homem-Internet.