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terça-feira, julho 12, 2005

O mal do século XXI

Alois Alzheimer, médico que emprestou o nome à doença
Pois é,

Pouca saúde, muita saúva,
os problemas do Brasil são.

As crises políticas ou institucionais passam. Sempre existiram e sempre vão existir. É da natureza humana, tanto quanto o é o terrorismo, seja ele de grupos ou o de Estado (atualmente praticado pelos EUA e seus aliados), buscar a destruição. O que não se poderia deixar passar é o estado da sáude pública em um país como o Brasil, cuja população está envelhecendo.


"Uma, em cada 10 pessoas maiores de 80 anos será portadora da Doença de Alzheimer a cada ano que passa. A mesma probabilidade vale para 1 a cada 100 pessoas maiores de 70 e 1 a cada 1000 pessoas maiores de 60 anos. Esta é a avaliação de 1999, feita pela Federação Espanhola de Associações de Familiares de Enfermos de Alzheimer (AFAF) A Doença de Alzheimer acomete de 8 a 15% da população com mais de 65 anos (Ritchie & Kildea, 1995).

Existem atualmente em todo o mundo entre 17 e 25 milhões de pessoas com a Doença de Alzheimer, o que representa 70% do conjunto das doenças que afetam a população geriátrica. Assim, a Doença de Alzheimer é a terceira causa de morte nos países desenvolvidos, perdendo apenas para as doenças cardiovasculares e para o câncer. Os pacientes de Alzheimer já são quatro milhões, nos Estados Unidos. No Brasil, não há dados precisos, mas estima-se que a confusão mental atinge por volta de meio milhão de idosos.

Talvez a atual e grande importância da Doença de Alzheimer e outros estados demenciais se deva às estatísticas epidemiológicas que se têm sobre eles, as quais mostram uma prevalência de Demência em maiores de 65 anos em torno de 6-10%. Para o mesmo grupo etário, a prevalência da Depressão se situa em patamares ligeiramente menores, porém, com a mesma magnitude. (para quem quiser saber detalhes da doença, continue lendo aqui)".

O Alzheimer é uma doença muito triste, se vista pelo prisma de quem está de fora. Ela é conhecida como uma doença muito mais da família do que do próprio portador. Este sequer nota que está com a doença, pois literalmente vai se apagando ao longo do tempo. Minha mãe tem Alzheimer há dez anos, o que já pode ser considerado um recorde de duração, pois em geral as pessoas morrem entre três a sete anos depois de feito o diagnóstico.

Acompanho o apagar de uma vida desde que notei os primeiros sintomas. Por isso é triste. É triste ver uma pessoa, ativa durante 70 anos, de repente começar a desaparecer a ponto de sequer reconhecer os filhos. A minha já não me reconhece. É triste ver alguém independente passar a depender dos outros para as coisas mais básicas da vida humana. É triste ter que trocar fraldas em quem te trocou as fraldas. Não faço isso, pois sequer teria coragem. E aí entra a questão da saúde pública.

Temos condições de manter enfermeiras 24 por 7 ao lado dela. Isso é uma exceção. Talvez uns 5% apenas, dos números dados no artigo que reproduzi, tenham condições de fazer isso. O resto? Nem imagino como fazem. O Alzheimer ainda não tem cura. O máximo que se pode fazer é tentar diminuir a velocidade com que a doença destrói o cérebro das pessoas e retardar a morte. E sabem como? Com um coquetel de remédios que custam uma verdadeira fortuna. Somente um deles custa mais que o salário mínimo. Sem contar fraldas, roupas, alimentação...

Como não tem cura, o indicado é simplesmente manter um pouco da dignidade do paciente e tentar proporcionar-lhe uma morte o mais tranqüila possível, quando esta se aproximar de fato. Para fazer isso gasta-se mais de três mil reais por mês. E quem não tem sequer um salário mínimo? As estatísticas estão aí: o Alzheimer é a doença da velhice e o país está ficando velho e os velhos desse país são pobres.

Devem morrer à mingua, pois, se já não é fácil acompanhar a doença mesmo tendo recursos, o que dirá sem tê-los. As famílias simplesmente devem "jogar" seus velhos nos asilos de mendicidade (alguns se autodenominam de clínicas de geriatria, mas não passam de depósitos de pessoas, pela maneira como as tratam. Recentemente a esposa de um primo morreu numa clínica - considerada boa - simplesmente porque as enfermeiras não viram que ela estava morrendo!!!). E o país não faz absolutamente nada para prever essa catástrofe pública. Teremos, em breve tempo, mais um problema seríssimo. Currupção passa e pode diminuir se tratada; Alzheimer não!

É triste ver alguém se apagando e morrer sem sequer lembrar-se de quem era; sem sequer lembrar da vida que teve; das coisas que realizou; dos filhos que colocou no mundo; das alegrias e tristezas; de tudo aquilo que contribuiu para o mundo. Não sei o que se passa no íntimo, naquele mais escondido recanto da alma dela: se lá saberá disso tudo que está lhe acontecendo. Por isso é que cada vez mais me convenço que a única coisa que levamos daqui é isso que poderá estar escondido até mesmo de nós, mas que levamos seja lá para onde for.

O resto? Passa!

A foto é de Alois Alzheimer, médico estudioso que pela primeira vez relatou as caracteríscas da doença que hoje leva seu nome.