CLARISSA
Lilypie Baby Ticker

segunda-feira, maio 16, 2005

De como fazer um dia ter 30 horas - III

Pois é,

- Afonso?
- Sim, Kaya?
- Tá dando aqui na TV que amanhã vai chover em Sidney.
- PQP! Como é que eu vou fazer agora? Pra ir a Passo Fundo sempre passo por Sidney. E lá tem aquela maldita entrada que sempre alaga quando chove.
- Por que não vais por Paris, então? Aqui tá dizendo que lá só vai estar nublado.
- Putz, o caminho é um pouco maior, mas sem chuva até que dá pra correr um pouco mais.

Esta é uma seqüência de dois (na realidade um) post lá de julho do ano passado, onde comecei a descrever algo que as pessoas sempre me perguntavam (lá na pós, tb): "Afonso, como consegues fazer tantas coisas? Até parece que teu dia tem trinta horas!" Daí nasceu a promessa (principalmente para o Diego) de escrever sobre o assunto. Como bom geminiano e portador de TDHA, que sou, tenho o salutar hábito de começar e quase nunca terminar as coisas, ao menos quando as pessoas estão esperando.

Pois nesse momento tipo "cheguei no paraíso e ninguém me avisou" que ando, lembrei-me de como consegui chegar até aqui e de como meu dia ainda tem 30 horas. Se vale pra outros? Não sei. O Chato não é medico; logo, não prescreve.

A moral é simples: se conseguir economizar seis horas por dia, terei 30 ao final, certo? (24+6=30, se ainda me lembro!)

Recordando, para os que não leram e para os que estão com a justíssima preguiça de clicar lá no "atacado", a regra número zero dizia: seja egoísta. Pense sempre, mas sempre mesmo, primeiro em você. A regra zero nos diz, basicamente, que perdemos tempo demais com as pessoas. Temos que ser seletivos com as pessoas que nos ocupam. O egoísmo, aqui, assume um caráter positivo, de preservação. Economizamos muito tempo, durante o dia, se selecionarmos as pessoas para as quais daremos nossa atenção.

O corolário da regra zero é: diga não sempre que puder.

Agora vamos à regra número um: desligue a TV e cancele as assinaturas de jornais.

Jornais só falam daquilo que você já sabe. Não esqueça:

1. jornais são feitos de madrugada, com as notícias do dia anterior que eles vêem na TV;
2. quando se dão conta de algo "novo" e lançam uma edição extra, você já sabe de tudo;
3. jornais só servem para colocar gasolina nas BMW, Mercedes e outros brinquedinhos dos donos dos jornais. Enquanto você mora num barraco, eles moram em mansões e não estão nem aí pras notícias do mundo. Não dá tempo, estão circulando... e você, babaca, perdendo seu tempo. E salários para os jornalistas, reporteres e outras espécies que por lá gravitam;
4. jornais não te informam, apenas te formam como eles querem. (Ah, Afonso, pára com isso, vai. E como vou saber o que acontece no mundo? Pra eles, o que acontece no mundo é o que eles querem que seja o mundo e seus acontecimentos. Faça como eles: selecione.)

Não devia dar esse aviso, mas convém dar uma olhadinha no art. 2º e seu parágrafo único do Código do Chato.

Televisão. Livre-se dela. Há dezenove anos tomei a decisão de não mais ver televisão. Fiz com ela o que não faço com o cigarro: larguei. E essa é a causa principal da minha felicidade de lá pra cá.

Vocês não imaginam o quanto a gente fica feliz quando se torna um ignorante do mundo mostrado pelas redes de tv. E calculem quanto tempo sobra. Só na tv dá pra economizar umas duas horas e meia por dia.

TV é isso aí, te mostra o tempo em Sidney e Paris. Tá certo, tem gente que vai pra Sidney e ... faz alguma diferença saber qual o tempo que vai fazer? Faça chuva ou faça sol, o babaca vai estar lá de qualquer jeito. Mas não, precisa perder tempo vendo o tempo na televisão. Amanhã tenho que estar de qualquer jeito em Passo Fundo. Vai fazer alguma diferença eu perder meu tempo com a loira dizendo: "Afonso, amor querido, vai devagar, pois aqui no mapa mostra que vai chover no Vale do Taquari e te quero de volta na sexta-feira, inteirinho pra escrever nesse teu blog maravilhoso. Plim, plim." Tá certo, eu preciso dela pra me dizer como andar com chuva numa estrada que conheço de olhos fechados! (eu não disse que ando de olhos fechados nela, certo?)

Desculpe se alguém por aqui trabalha em/ou gosta de TV. Quer ganhar tempo na vida? Até pode continuar trabalhando lá, mas quando chegar em casa não liga a TV.

Ninguém em sã consciência precisa de jornais ou tv para saber o que anda acontecendo. Pensa bem, sempre tem aqueles colegas que passam o dia inteiro comentando sobre as novelas, as notícias e tudo o mais. E de graça.

Um causo verídico. Onze de setembro. Não precisa dizer o ano. Dormi pra mais da conta. Fui trabalhar só na parte da tarde. Quando chego no trabalho qual a primeira pergunta que me fazem? "Aí, Afonso, chegou o fim do mundo?" Como conheço os bois que eu lavo, nem dei bola. A conversa continuou e acabei sabendo, tim-tim por tim-tim, tudo sobre as TT. Mesmo que não quisesse ficaria sabendo.

A pergunta é: mudou minha vida ficar sabendo "online" o que estava acontecendo? Sou mais, ou menos, hoje, por ter sabido dos atentados três horas mais tarde que meus colegas e o resto do mundo? Milhões de outros exemplos poderiam ser citados, mas só teriam o efeito de tornar mais chato o assunto.

Isso nos leva ao corolário da regra número um:

A quantidade e a velocidade de propagação das informações é tão grande, hoje em dia, que não mais precisamos correr até elas; elas vêm sozinhas até nós.

Resumindo, por hoje:

Regra n.º 0: Seja egoísta. Selecione as pessoas para as quais você dará seu tempo;
Regra n.º 1: Desligue a TV e pare de ler jornais.

Bueno, só nessa duas primeiras regras já conseguimos algo com umas quatro horas por dia de economia.

Amanhã, de fato, viajo para Passo Fundo via Paris. Afinal, agora eu sei que está chovendo em Sidney. Se puder - e garanto que vou me esforçar - escrevo de lá.

(- Afonso?
- Sim, Chato?
- Nesse outro canal diz que numa cidadezinha americana um adolescente matou cinco coleguinhas de escola com uma bazuca!
- Fica tranqüilo, Chato, dessa vez não vou passar por lá!).