Estamos velhos, os que vivemos a ditadura. Três em um.
Pois é,
Primeiro:
Tive que juntar os comentários da Yvonne e do Tesco; da Luma e do Carlos (Nós por Nós ; Luz de Luma e Beco dos Bytes) e lê-los juntos, pois ficaria difícil responder um por um sem quebrar o pensamento. Assim que,
Tesco, aí reside o problema: essa contribuição tem sido muito mínima. Tão mínima que não chega a mudar nada. Repito o texto que coloquei como "ps"; o problema é muito mais de uma ética (ou moral) da nação do que de pequenas ações individuais em meio ao"mar de lama". Todo mundo diz que faz a sua parte. Mas, se realmente isso é verdade, por que os problemas não apenas não param, como aumentam?
Sim Luma, está na hora de criarmos não apenas uma nova democracia, mas um novo Estado. Um Estado ético. Vivemos num país cujo povo só sabe exigir seus direitos, mas que esquece que também é sujeito de deveres. Deveres individuais e, sobretudo, deveres sociais.
O post, Yvonne, é justamente por ver que a classe, que mais dá os ombros para segurar o país, está quieta; amortecida; adormecida; jogando pra cima da juventude a culpa por não sair às ruas com as "caras pintadas"; esperando que outros façam o que deveria fazer e reclamando na frente do Jornal Nacional, porque mais um estudante boçalzinho americano resolveu matar seus coleguinhas.
E quando teremos um povo sábio e bem informado, Luma, quando é mais fácil atirar a culpa de tudo nos aposentados e servidores públicos do que ir buscar os 160 bilhões em sonegação, contrabando e pirataria? E quando teremos um povo sábio e bem informado quando lhe empurram novelas "para sonhar com uma vida melhor" e ter sobre o que conversar no dia seguinte? E ter sobre o que conversar para esquecer a miséria de ganhar um, ou pouco mais de um, salário mínimo, isso se for abastado para tanto?
E já teve épocas, Carlos, em que acreditava que ter consciência em si, para depois partir para os demais, resolveria algum problema. Eis a questão: quando cada um adquire consciência de "si próprio", a maioria vai cuidar do que é seu.
Aprendi uma coisa desde cedo com a cinta do meu pai: a certeza da punição. Se fizesse, levava. É isso que falta nesse país e é isso que não cobramos: a certeza da punição.
Falta-nos culhões (que me perdoem as meninas) para sair às ruas. Falta-nos fazer o que fizeram na década de 60: sair para pedir o fim, seja o fim da "suposta" ou "verdadeira" bagunça, seja o fim da ditadura.
Sinto falta das músicas de protesto; dos Buarques, Caetanos, Vandrés e até do Gil! E dos Sabiás, das Rodas Vivas, e das Violas Enluaradas.
Falta-nos coragem. A mim também. Idolatramos a mesmice. Estamos velhos, os que vivemos a ditadura. Estão velhos os que lutaram contra a ditadura, seja com armas, seja com canções, seja com reuniões, e hoje são ministros, chefes de gabinetes, presidentes de partido, prefeitos. Estão velhos os que vieram logo após e acreditaram na Utopia da Nova República, numa utopia da esquerda, representada por um partido de intelectuais e revolucionários tão fisiologistas quanto aqueles contra os quais outrora lutavam! Que escolheram o único não intelectual para ser factível perante o povo. De exilados e revolucionários a governantes, e de governantes a senhores!
Esquecemos da história? Esquecemos que SEMPRE tem sido assim?
Escuto as músicas daquela época não mais como hinos que foram, mas como saudosas lembranças. Lembranças que nego a minha filha Fernanda e que certamente negarei à Clarissa. E nego porque sou de uma geração que calou e aceitou a migalha de ser "classe média". E que não esquece que é um dos poucos que podem escrever na internet, como se isso adiantasse de algo. CENTO E SETENTA MILHÕES DE BRASILEIROS NEM SABEM O QUE É ISSO!
O que fazer? Lembrar que temos DIGNIDADE!
Segundo:
Uma penitência. Recebi a visita da Tatiana. Faz tempo que visito o blog dela mas não deixo comentários. Sei lá, é um blog com poesias e tinha, na minha santa ignorância, que poesia a gente não comenta. Poesia, pra mim pelo menos, é algo meio mágico. E mágica a gente não comenta, apenas se encanta. E, às vezes, tenta fazer. Quem já não pegou um baralho, quando criança ou adolescente, e saiu por aí aplicando a mágica recém aprendida? Pois com a poesia deve ser a mesma coisa. Quem já não escreveu a sua? Na verdade, penso que erro ao dizer que poesia "é algo meio mágico". Poesia é inteiramente algo mágico. Talvez um simples "gostei, Tati", já fizesse bem ao coração dela. E não fui capaz de fazer isso.
Terceiro:
Nem sei porque fui me lembrar disso hoje. Num dos almoços semanais que tenho com a minha filha Fernanda, que tinha 14 anos na época (ano passado), ela me faz a seguinte pergunta:
- Pai, posso te fazer uma pergunta?
Fatal! Se fosse filho, estaria tranqüilo. Afinal, não há nada que um guri possa perguntar para um pai que ele já não tenha a resposta na ponta da língua. Mas era a filha. De certa forma, já havia me preparado para perguntas desse tipo. Coisas difíceis, é o que normalmente vêm por trás delas. E, via de regra, sobre sexo. Sobre isso já tinha lido todos os cânones tipo "Como falar de sexo com sua filha - guia de autoajuda para pais separados", "Homens querem sexo, mulheres querem a carteira", etc. Aprendi, também, que devemos fazer uma cara de tranqüilidade, que expressa segurança. Afinal, podia não ser sobre sexo. Vá que ela queria me dizer que começou a fumar, que já experimentou maconha, que queria me apresentar o namoradinho (putz, essa é velha, o ficante, animal!). Tomei um gole da cerveja e disse:
- Pode, minha filha.
- Pai, é díficil ser adulto?