CLARISSA
Lilypie Baby Ticker

segunda-feira, janeiro 31, 2005

Natascha

Pois é,

Conhecida como Naná. Nanazinha, nas horas mais carinhosas. Cheirava loló em casa, a gente dizia. Parecia. Quando voltamos de uma viagem, estava grávida. Dois meses depois pariu cinco filhotes. Um morreu “de parto”.

A natureza sabe o que faz. As fêmeas se percebem. Subiu na barriga da Kaya e começou a ronronar. Tu tá grávida, falei. Porque tu tá dizendo isso? Quem foi que ajudou a Naná a parir? Agora ela tá retribuindo.


Carta pra Aninha

Pois é,

Quanta indelicadeza. Esquecer logo a primeira leitora de fora dos pampas. Enfim, estamos ganhando o Brasil. E como os Farrapos, começamos por Santa Catarina. E começamos pela metrópole do único estado brasileiro que tem uma cidade do interior maior que a Capital. Deviam mudar a capital pra metrópole. Assim deixariam Floripa mais tranqüila para nós.

Aninha, férias de 30 dias (que o nosso amigo aquele não veja isso) a partir do dia 9. Como antes é o Carnaval, conto desde sexta.

Quem é o chato dos seis? Ora, o Luiz. Não conheço um único Luiz que não seja chato.

E quanto a confabular como o pimpolho? Isso é coisa dele. Como ainda não pode falar - e pelo que vejo saiu igualito ao pai, fala pelos cotovelos - fica mandando eu escrever. Depois que nascer vou mostrar pra ele e exigir que assine embaixo. Por enquanto sou mero porta voz (putz, depois eu vejo se tem hífem ou não!).

E vamos andando que ele tá chamando. Já vou, espera um pouco que eu tô escrevendo uma carta pra Aninha. Depois eu converso contigo.

Tem que ser assim. O piá tem que saber quem é que manda desde logo.

Férias

Pois é,

Cinco dias nos separam das férias. Quatro (in)úteis e um feriado.

Receita para deixar futuros papais felizes

Pois é,

Vá para a cozinha.

Mantenha o futuro papai afastado servindo a geladinha de quinze em quinze minutos. O suficiente para não esquentar ou para que ele não queira ir até a cozinha servir-se.

Faça uma surpresa. Vai ser difícil, pois o cheiro vai tomar conta da casa. Experimente fechar a porta, pode ser que funcione.

Coloque para cozinhar em fogo brando. Acrescente alguns beijos de vez em quando.

Na hora de servir diga que o bebê estava com vontade de comer aquele prato.

domingo, janeiro 30, 2005

Pequenos pensamentos ou, pensamentos de alguém ainda pequeno?

XIII.

Hehehe, papai esqueceu de pedir licença.

Diálogos uterinos

Chega pro lado! Sai tu, ora. Te esqueces que eu cheguei primeiro?

Um olhar diferente

Pois é,

Gravidez e mulher parecem conceitos únicos e excludentes do demais. Tá certo, afinal é na barriga das mulheres que o bebê está e cresce.

São elas que enjoam; são elas que engordam; são elas que gastam com roupas novas a cada semana; são elas que amamentam; são elas que sentem as dores do parto. Mas, será que só elas sentem a gravidez?

Medos, preocupar-se com a formação de um filho saudável e tantas outras coisas, nada disso pertence ao mundo masculino. Será que aos homens está reservado apenas o espaço de fornecedor de cromossomos? E depois, fornecedor da pensão?

Onde ficamos nós, os “reprodutores”, na mídia e na cabeça das mulheres? Na mídia, em lugar algum; na cabeça das mulheres nem Deus sabe. Não existimos. Gravidez é coisa de mulher e pronto! Homem não sente, não tem direito a medos e temores; não pode falar que deseja um filho saudável. Não pode sentir, enfim. (não vamos generalizar...)

“Chato, para com isso, já estás bem velhinho pressas coisas...”

O pior é que as mulheres acabam acreditando nisso e reservam aos homens o papel de coadjuvantes, meras instituições mantenedoras.

Lembro-me dos debates na especialização, em que o “feminino” e o “masculino” acabavam por ser definidos pelo ato de amamentar. O materno e o paterno tinham limites nas mamas, da mulher é claro.

Dizer que um homem seria capaz de cuidar do filho, cuja mãe morrera no parto, era uma exceção e como tal deveria ser tratada. Nada mais do que a expressão do pré-conceito de que o homem não está preparado para a gravidez e para a paternidade.

Pai é para educar e colocar limites. Nada mais. Antigamente ainda tínhamos a reserva de mercado de sustentar a família. Hoje em dia nem essa reserva temos mais. Tiraram a reserva e, em compensação, nos deixaram nada.

Talvez esse seja um problema das “mulheres modernas”.

Escutei, ontem, essa ladainha toda. “Filho é da mulher”. “Homem pega suas coisas e vai embora”. “E ainda tem que brigar na Justiça pra conseguir que o FDP pague a pensão”.

Bem que dizem que as mulheres são mais machistas que os homens. Ou talvez a autora das frases nunca tenha estado de bem com a vida.

Dá pra pensar: em que medida as próprias mulheres (e falo daquelas que ainda podem pensar, não das milhões que passam fome pelo mundo afora), são impeditivas de uma maior participação dos homens? Não apenas por dizerem “isso é coisa de mãe, sai pra lá!”, mas quando não fazem nada para “mudar” a cabeça dos homens.

A mídia. A mídia poderia dar uma enorme contribuição para essa mudança, mas não faz nada nessa direção. É só bebê e mulher, além de vender roupas, móveis e tudo quanto seja petrecho imaginável. Acho que vou bancar uma revista só para pais, algo tipo “Paternidade – dicas úteis de como enfrentar”.

“Livre pensar é só pensar”, né?

Ainda mais num domingo modorrento como esse na Mui Leal e Valerosa cidade de Porto Alegre, em pleno V FSM.

sábado, janeiro 29, 2005

Indústria dos filhos

Pois é,

Foi-se o tempo em que ter filhos era apenas se agachar e deixá-los sair.

Estou quase por dizer que hoje em dia é proibido ter filhos. Inventa de não seguir as milhares de orientações que te dão e periga te internarem num hospício. Inventa de seguir e sei lá o que vai te acontecer. Até num hospício podem te internar. Um exemplo: na mesma revista (edições diferentes), Cláudia Bebê vemos:

Edição 505F, p. 83: “ Sabe aquela história de esfregar os mamilos com bucha? Esqueça! Dói e nem sempre evita as fissuras quando o bebê começa a mamar. Tem mais: a ginecologista Rita Sanchez afirma que o ato estimula a produção de oxitocina, hormônio que pode provocar contrações indejesadas.”

Poucas edições após, n, 511F, p. 87, lemos: “'Os mamilos precisam de uma preparação especial para ficarem fortes e resistentes às sugadas do bebê. “Enquanto as mamas devem ser hidratadas para que a pele não ceda ao aumento de tamanho e, conseqüentemente, fique livre de estrias, os bicos têm de se tornar calosos para não rachar nem ganhar fissuras', diz a doutora Carla Sallet. Esfregue diariamente o local com uma bucha vegetal, esponja ou toalha grossa." (negrito meu).

Claro que está escrito, lá no começo da revista, que ela não se responsabiliza por aquilo que seus colaboradores escrevem.

Tá certo. É o supra-sumo do capitalismo. Estou interessado em vender. O quê não importa.

Esse é um exemplo, dentre milhares de “opiniões dos sábios”. Vai num obstetra-gineco jovem e vais escutar: “os velhos médicos não se atualizaram nos novos conhecimentos e tecnologias. O bom, hoje em dia, é ....” Vai num mais antigo e vais escutar: “essa gurizada não sabe mais sentir o paciente. Não sabem mais fazer um diagnóstico se não tiverem milhares de exames e tecnologia a seu dispor”.

Da alimentação então, nem se fala. Consulta com um(a) nutricionista. Aliás, sugiro que consultes com várias. Só para ficar rindo quando chegar em casa. Cada uma vai dizer uma coisa diferente. Cada uma vai te apresentar uma tabela diferente para justificar que deves comer um boi por dia para teres proteínas, uma dúzia de frutas, dois ovos por dia e não sei quantos litros de leite desnatado. Fora as verduras, os ...

Parece que a Medicina e correlatas esqueceram o bom senso. Na ânsia de vender os produtos dos fabricantes que deixam canetinhas bonitas pra eles, esqueceram que, apesar da “pós-modernidade”, as mães ainda devem saber do que precisam.

Tá, é um problema social. Na miséria em que vive a maioria das mulheres brasileiras, é muito melhor empurrar uma tabela americana do que deixá-las parir mais um subnutrido.

Sem generalizações é claro. Ainda existe gente séria na área.

Por que escrevo isso? Porque não é essa gente toda que escuta a mulher, cheia de dúvidas sobre o que fazer, e que se vê, diante de tanta besteira escrita e dita por aí, angustiada. Somos nós, os futuros pais e atuais companheiros. Não é reclamação, só uma constatação.

Uma medicina a cada médico. Bons tempos em que bastava se agachar...

Três sonhos

Pois é,

Três sonhos eu tenho: tocar piano, escrever e falar menos. Já descobri que dois não vou conseguir. Meus dedos já estão suficientemente duros para aprender piano. Além do mais, tenho um certo problema de coordenação motora: não consigo chupar cana e assobiar ao mesmo tempo. Só se fosse “de ouvido”. Falar menos é ainda mais difícil. As bocas parecem que se reproduzem. Além da própria, tem os cotovelos. Como só tenho duas mãos, tapar três bocas fica impossível.

Restou tentar escrever. Tá, sem comentários!

Diálogos uterinos

Pois é,

Enquanto não sabemos, parece que estão a brincar com a gente. Hoje pela manhã ouvi algo que parecia ser um diálogo. Não sei, pode ser brincadeira dele.

Daqui a uma semana vão nos descobrir, Afonso Henrique! Fica fria, Clarissa. Qual é o problema? É que vai estragar a surpresa! Bom, eles querem assim, não podemos fazer nada. Quem sabe eu me escondo atrás de ti? Pra quê? Ora pra quê! Pra brincar com eles.

sexta-feira, janeiro 28, 2005

Pequenos pensamentos ou, pensamentos de alguém ainda pequeno?

X.

Papai devia falar menos. Também gosto de dormir.

XI.
Mamãe está feliz hoje. Não falou pra ninguém. Eu sei.

XII.

Ganhei um par de meias. Quero ver se depois vão me dar uma Ferrari.

quinta-feira, janeiro 27, 2005

Pequenos pensamentos ou, pensamentos de alguém ainda pequeno?

VII.

Pena que o tempo esvai-se, como é do seu temperamento. Ainda bem que tempo é o que mais tenho atualmente.

VIII.
Ouvi uma conversa entre eles. “Temos que pedir licença pra ele. Afinal, a casinha agora é dele”. “A casinha é dele, mas a servidão não”, respondeu mamãe. Ela tem cada uma...

IX.

Mamãe já está pensando em comprar roupas novas, mais adequadas. Bem que ela faz. Vou dar a ela um presentinho: vai ter a barriguinha mais linda do mundo.

quarta-feira, janeiro 26, 2005

Pequenos pensamentos ou, pensamentos de alguém ainda pequeno?

IV.

Seguidamente me perguntam como é estar aqui dentro. A mesma coisa que aí fora. Aqui, a gente espera pra nascer. Aí, vocês esperam pra morrer. A mesma coisa.

V.

Não reclamem. Não tenho mais nada pra fazer. Esperem... Daqui a pouco começo a chutar.

VI.

Antes de vir pra cá me deram dois livros. O primeiro, todo escrito, era pra decorar. O segundo, vazio, seria para copiar tudo que estava no primeiro, depois que eu nascer. Já me disseram: ninguém consegue.

terça-feira, janeiro 25, 2005

Pequenos pensamentos ou, pensamentos de alguém ainda pequeno?

I.

Não sei quando resolvi voltar. Acho que foi quando papai e mamãe pararam de discutir de que sexo eu seria. Papai queria uma menina e mamãe um menino. Não adiantava discutir. Não iam saber mesmo. Afinal, a decisão é só minha. E agora eles vão ter que esperar um tempão pra saber. Até lá, vou ficar dando risadas das trapalhadas que eles fazem com os nomes que escolheram.

II.

O que vou ser nessa vida? Agora, que ainda lembro, não posso contar. E depois que nascer, terei esquecido, como todos esquecem.

III.

Aqui dentro tem suas vantagens. Tirei o dia para não pensar. Em nada. Nada tem sido tudo. Nada, tem sido tudo. Aqui dentro.

segunda-feira, janeiro 24, 2005

De pragas e poesias

Pois é,

Ia começar a escrever o diário do bebê (é melhor chamá-lo assim, enquanto não sabemos o que vai ser). Confesso que não gosto (com todo pai ou mãe) dessa angústia de não saber logo o sexo. Facilitaria se já soubéssemos, desde logo, o sexo.

Bons tempos virão, com a engenharia genética, em que poderemos determinar o sexo: mulher em cima: menina; mulher em baixo: menino. Não sei o que vai ser das outras posições, se é que existem!

Mas voltando ao assunto, fiquei feliz, confesso, em receber uma mensagem da Ana. Pessoa que admiro. Conheci, primeiro, virtualmente. Depois, presencialmente. De gente assim que o "admirável mundo novo" vai precisar. Dela, do Leandro, do Diego, do Bob (do Bob não, pois já está velho... é da minha geração), da Jú, da Aninha e de tantos outros que a internet nos colocou na vida...

Coisas que a gente não explica. Sente-se apenas. E é bom sentir isso. Sentir apenas pelo sentir, sem explicações racionais...

Mas ia falar de pragas. Não é que, recém terminou de ser concebido e mamãe Kaya já está a rogar-lhe praga? Imaginem, disse que o bebê há de ser colorado (para quem não é do Brasil, colorado é como são chamados os horríveis torcedores do Internacional, aquilo que tentam dizer que é um time de futebol). Praga maior não há!

Ainda bem que o anjo que o proteje é forte. Não há de deixar que isso aconteça. Por via das dúvidas, tomarei minhas precauções. A partir da oitava semana, quando começar a formar seu aparelho auditivo, passarei a cantar, todos os dias, "Até a pé...". Assim, não há de ter dúvidas quando nascer.

Estamos iniciando a sexta semana. Tem apenas 4,00mm. Dá pra imaginar? Segundo li dos entendidos, começam a se formar os bracinhos e as perninhas. Pequenos tocos ainda, a indicar que um dia serão fortes. Que seja! Bracinhos que logo, logo, estarão a abraçar e também a se defender; perninhas a correr pela casa atrás dos gatos.

Coitados dos gatos. Se o rebento puxar ao pai, estão ralados. Dizem que quando eu era criança, costumava pegar os gatos dos meus tios e jogar na sanga que existe nos fundos da chácara deles. Sanga = riacho. Termos gauchescos (continuo com a pretensão de ser lido por mais gente que os meus quatro leitores. Todos de Porto Alegre.)

Não posso contestar. Sou revel. Mas, se o Afonso Henrique ou a Clarissa resolverem fazer o mesmo, garanto que vou ajudar (acabo de comprar a minha sentença de morte com mamãe Kaya).

E por falar nela, passa bem. Afora estar permanentemente cansada. Dizem que é normal. Eu também acho natural ter que fazer tudo em casa (bricaderinha, viu, Kaya!)

Mas também falei, no título, de poesias.

Pedro Geraldo Escosteguy, além de primo, era artista plástico e poeta, e também escritor. Fez parte do Grupo Quixote, que Raimundo Faoro, no "Correio do Povo" de 26 de março de 1983, bem determinou sua característica: "o inconformismo e suas contradições".

Pedro Geraldo escreveu "Anticontos". Segundo sua própria definição, Anticonto é um "raconto antidiscursivo, antidescritivo e antiprosaico". Não sei o que é um "raconto". Não me perguntem.

É dele o "Anticonto" que reproduzo (editado pela Editoraufsm, sob a coordenação de Soraya Patrícia Rossi Bragança, a partir do Acervo Literário de Pedro Geraldo Escosteguy, gerido pelo Centro de Memória Literária do Programa de Pós-Graduação em Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - ALPGE:

"TRÊS HORAS DA TARDE + MORMAÇO

Três horas da tarde + mormaço.
Indiscutivelmente verão de janeiro invadindo a cidade pequena
crescida entre dois braços de poeira.

Casario.
Poeira.
Casario.

Àrvores tontas de sede. Nuvem azul insuflada de palha.
Solaço.
Do lado da venda vem um ruído de martelo. No silêncio da
sesta cantam cigarras.
Jornal amassado caído perto do banco. Chaleira quente. Cuia com erva lavada.

Calor.
Calor.
Folhas imóveis.

Doquinha pulou do catre e pôs o rosto na janela sem vidro.
Rosto de sesta. Cabelo amassado.

Os olhos
os olhos
os olhos da Doquinha.

- tu não vai pro campo?
- o cavalo tá assoleado.
- não vem chuva?
- a seca tá braba.
Era assim a vida dali.

Catre.
Cavalo.
Mate.

E agora, três da tarde + mormaço.
A moça pegou num balde e foi ao poço.
Roldana gemeu.

Água suja.
Água feia.

Voltou de balde cheio.
- qué água?
- não. Água dá mais sede.
O cavalo relinchou na ponta da soga.
Relinchou uma égua zaina que pastava no terreno baldio.

Estava voltando a hora da vida.

Venâncio pegou os arreios quentes.
- vou indo.
- trais querosene da venda.
Era assim. E disso nasceu um filho.

Do mormaço."

bjs

domingo, janeiro 23, 2005

Afonso Henrique ou Clarissa?

Pois é,

Um dos dois anda por aí. Por aí, não! Na barriga da Kaya, que é bem melhor que aqui fora. Enfim, depois de alguns meses com as famosas "uma tentativa e duas desistências", quase que diárias, o(a) danadinho(a) resolveu dizer ao que veio. E eu, que já era chato, vou ficar mais ainda.

Andava meio parado com o blog. Já tinha lido que isso é natural no começo. As trinta horas foram pro saco. Alías, acho que já tinham ido bem antes... Um dia eu volto, quando tiver tempo. Sim, pois agora, com mais um pra cuidar até nascer, o tempo vai ficar escasso. Assim que, o blog vai ser aquela babaquice de "o diário do bebê". Vou tentar intercalar algumas coisas interessantes (se é que posso dizer isso das coisas que escrevo), pois senão logo, logo, vocês (tem alguém aí?) me abandonam.

Como diz a poesia do Jayme Caetano Braun: "Talvez quem ouça não me creia...", mas desde sábado, dia 15 de janeiro de 2005, eu já sabia. A Kaya relutava em aceitar o fato. "Prefiro esperar pelo exame que vou fazer segunda-feira", dizia ela, durante todo o final de semana.

Pois que seja. Segunda-feira, 17 de janeiro de 2005 às 15 horas. Resultado do exame Beta HCG: 533,0 mUI/ml. Pra bom entendedor isso quer dizer cinco semanas.

Ah! Esqueci de contar que já no domingo havia comprado o primeiro pacote de fraldas. Não preciso nem dizer a cara que a Kaya fez quando cheguei em casa com o pacote. Na segunda, depois do resultado, só me restou dizer: viu! Eu tinha razão! Bem bobo, é claro!

A semana passou tranqüila, apesar de alguns leves enjôos e rearranjos corporais. É, minha barriga também cresce. Mas nessa eu dou um jeito. Na dela não tem como... hehehehe...

A Kaya quer um menino. Todo mundo diz que vai ser menino. A mana Fernanda quer um maninho, tá tri feliz. No começo eu queria menina. Afinal, meninos são muito pentelhos, ao menos mais que as meninas. Que seja. AFONSO HENRIQUE. Afonso porque é lindo (e é meu). Henrique também (além de ser o nome do bisavô). Afonso Henrique mais ainda. CLARISSA. A filha de Clara. A Kaya é Clara. Logo, CLARISSA. Lindo, como linda ela será se vier menina. Ambos serão queridos e amados se vierem, seja um seja outra, ou até se vierem juntos. A Kaya tem gêmeos na família, portanto, a possibilidade não é nem um pouco remota.

Vamos ver se a data se confirma: previsão para 22 de setembro, duas semanas a menos ou duas a mais.

Vovô Achyles foi o primeiro a dar um presentinho. Fez questão de ser o primeiro. Tá bem bobo o véio (ele não vai ler mesmo). A dinda Gisele (já tem fila de gente querendo ser dinda e dindo) também já encheu de presentinhos. Deu até uma pantufinha como os dizeres "Sou da Dinda". Boba ela, não?!!

Bueno, agora vou lavar a louça, que mamãe Kaya precisa descançar. Papai Afonso vai começar a vida de "dono de casa".

Somos seis

Somos seis, é o que diz minha mulher.

O Luiz, o Afonso, o Eu Mesmo, o Comigo Mesmo, o Zumbi e
o Universo. Cada qual com suas manias. Tem um que só a
física quântica consegue explicar, pois só sabemos da
existência dele pelos efeitos que causa nos outros,
particularmente no Luiz.

Luiz e Comigo Mesmo passam o tempo inteiro conversando.
Daí que conseguimos deduzir a existência de Comigo
Mesmo.

"Tá falando com quem?!!", berra de lá a mulher. Comigo
Mesmo, responde o Luiz. É sempre assim. Um a sombra do
outro.

Do Luiz ela diz que não gosta. É rigoroso, cheio de nove
horas e não-me-toques. Tudo no seu lugar e na sua hora.
Lei é lei, ordem é ordem e ambas foram feitas para serem
cumpridas. É de pouca conversa, mas Comigo Mesmo
consegue arrancar verdadeiros discursos dele. Já os
peguei, certa feita, numa cena hilária: um mandando o
outro calar a boca. Só pararam quando Eu Mesmo
interrompeu dizendo que assim acordariam o Zumbi.

O Zumbi é o embaixador plenipotenciário de todos os
demais. É convocado quando a turma não quer saber de
sair da cama. "Acorda Zumbi e vai trabalhar, que hoje
não saio daqui nem pra buscar uma SKOL na geladeira!!!",
dizem os preguiçosos. Coitado, passa o dia como se
estivesse em outro mundo. O que não deve ser boa coisa
para os que são obrigados a passar o dia com ele. Por
sorte não é muito comum ele aparecer, pois parece que os
demais fazem uma escala. Assim, sempre tem um que acaba
leventando e cumprindo com a vida.

Mas falei de Eu Mesmo, né? Pois Eu Mesmo é o mais
maniático de todos. Egocentrista, acha que tudo existe
por causa dele. Quando alguém pergunta "quem fez isso?",
Eu Mesmo, responde ele. Só fica quieto quando se
apercebe, a tempo, de que o resultado do feito não foi
bom. O que é muito raro - ele se aperceber - pois
rapidinho em dar respostas como é, sempre acaba metendo
as mãos pelos pés. Quem escreveu errado isso? Eu Mesmo.

Ah! Mas temos algo de bom! Isso mesmo. Temos o Universo,
que pensa que é a encarnação da perfeição. Sempre tem
razão, em tudo o que diz e faz. Os outros só existem por
um descuido. O Universo é cheio de paciência, pois tem
que aturar as coisas sem razão que os outros dizem. Onde
chega, preenche todo o espaço. Também, não fora assim e
não seria chamado de Universo.

Em meio a seus irmãos vive e convive o Afonso. É ate um
bom sujeito. Cidadão, trabalhador, pai de família,
esposo amantíssimo (essa foi soprada pelo Luiz, que
dentre outras coisas adora expressões empoladas). Tem lá
suas manias, algumas aprendidas com Eu Mesmo; de quando
em vez ("cala a boca, Luiz!". Eu não tinha razão? Esses
dois vivem brigando!!) escorrega e se aventura a achar
que tem razão. O Universo tem muita influência sobre o
Afonso. Mas é esforçado e, por isso, não se dá muito bem
com o Zumbi. Adora ajudar os outros. Sempre que pode ou
mesmo quando não pode.

Somos seis, diz a minha mulher. Só não sei se fico com
pena dela ou se a felicito. Afinal, não é todos os dias
que se casa com o Afonso e se leva mais cinco de brinde.