CLARISSA
Lilypie Baby Ticker

quinta-feira, junho 30, 2005

Abobrinhas

Pois é,

Hoje o dia é de abobrinhas. Pudera, tá uma cerração nessa cidade que literalmente não se enxerga um palmo adiante do nariz. E com diz o velho ditado, cerração que baixa, sol que raxa. Lá pelo meio dia ninguém agüenta o calor. E estamos no inverno. Essa cidade está insuportável com esse clima. Bons tempos, quando eu era criança e inverno era inverno, verão era verão. E ainda não existia o tal El Niño.

Hoje também é dia de fazer exame de sangue. Pô, doze horas sem comer é brabo! E espirometria e ergometria e, por enquanto, apenas PSA.

- Tá ficando velho, Afonso!
- Sai pra lá, Chato, que velho é teu pai!

Um dos trechos mais lindos da bíblia( Ecl, 3:1-8), um poema (e serve pra quem acha que não tem tempo pra nada):

"Há um momento para tudo e um tempo para todo propósito debaixo do céu.
Tempo de nascer,
e tempo de morrer;
tempo de plantar,
e tempo de arrancar a planta.
Tempo de matar,
e tempo de curar;
tempo de destruir,
e tempo de construir.
Tempo de chorar,
e tempo de rir;
tempo de gemer,
e tempo de bailar.
Tempo de atirar pedras,
e tempo de recolher pedras;
tempo de abraçar,
e tempo de se separar.
Tempo de buscar,
e tempo de perder;
tempo de guardar,
e tempo de jogar fora.
Tempo de rasgar,
e tempo de costurar;
tempo de calar,
e tempo de falar.
Tempo de amar,
e tempo de odiar;
tempo de guerra,
e tempo de paz."

terça-feira, junho 28, 2005

Fim de mês

Pois é,

Hoje é o pior dia do mês. E é, também, o dia que comemoramos, eu e a Kaya, 4 anos de conhecimento. Mas nem isso será capaz de me fazer suportar a cena noturna: chegarei em casa e lá estará ela debruçada sobre a mesa, a essas alturas tapada de papéis que sei serem contas e mais contas. É a tal da vida de casado. Como sou um homem moderno e, por isso mesmo, aceito a participação das mulheres na divisão das tarefas domésticas, deixei com ela a administração das contas do lar, além, é claro, das já tradicionais tarefas femininas. A mim cabem as tarefas mais pesadas: levantar móveis em dia de faxina e fazer o depósito na conta dela.

E a cena é sempre a mesma. Estarei aqui escrevendo, quando ela virá até aqui e colocará um papelzinho dobrado em cima do teclado. Mas não sem antes fazer um perguntinha prá lá de retórica: "estás sentado?" Começarei a tremer. Nem arriscarei uma resposta, também retórica, do tipo "sim", pois pode acontecer dela dizer: "então esse mês é melhor estares deitado". Aliás, já estou tremendo desde ontem, que nem peru. De véspera, pois já sabia que hoje era dia de pagamento.

Pensando bem, chamar de pagamento deve ter sido invenção de patrões reunidos em assembléia. Trabalho para pagar: pagar o governo que me paga (maior absurdo esse: eu trabalho pro Estado e ainda tenho que pagar por isso - tá na hora de acabar com IR de servidor público!), pagar as contas das compras, mais governo nas contas de luz, telefone, iptu e milhares de outras. É dia do pagamento porque nesse dia pago tudo. Pago, não, paga, pois é ela quem paga as contas, lembram?

Mês que vem me vingo: estou treinando um dos gatos para comer papel. Aí, quando ela soltar aquele monte de contas em cima da mesa, o gato vai lá e, disfarçadamente, nhac!, papa umas duas ou três. Comer papel ele até já está comendo, pois comecei o treinamento com papel higiênico, que é bem levinho... Só não consegui, ainda, fazê-lo escolher aquelas com valor mais alto. Tenho feito ele cheirar o papel dessas contas pra ver se ele identifica, mas parece que isso é mais pra cachorro. Enfim, vou continuar contando com a sorte, que, por sinal, não tem me ajudado muito nesse caso. O desgraçado até agora só comeu continha mixuruca.

Legal, depois de descobrir que mais uma vez estou (ou será que sou?) pelado, vamos fazer festinha de 4 anos. Depois não sabem porque os consultórios dos psi andam cheios de homens com problemas de... digamos... como direi?... é, é esse mesmo!

Ps: o tormento é tanto que já ia esquecendo. A história de ontem é do Malba Tahan, do livro "Lendas do Bom Rabi". Gostaram? Depois publico outras. Ele é muito bom. Pena que hoje em dia preferem badalar os tais de PCs e outras tantas p... [animal que chafurda na lama - "o" + trecho de uma ópera em que um cantor ou cantora se apresenta sozinho(a)].
Ps2: Esse Haloscan tá uma p...[idem ao anterior]. Nunca mostra o número certo de comentários. Será que existe algum sistema confiável? Esse já é o terceiro que experimento!

Vinho

Pois é,

Nessa época de frio e vinhos, uma pequena historinha:

"Preparava-se Noé para plantar a primeira vinha e eis que surge diante dele a figura negra e hedionda do Demônio.

- Que pretendes plantar aí? - Perguntou o Demônio.


- Uma vinha! - informou Noé, encarando com olhar sereno o seu insolente interrogante.


- E como são os frutos que esperas colher, meu velho? - inquiriu friamente o Demo.


- Ora - explicou o Patriarca de bom humor - são frutos deliciosos, sempre doces. Os homens poderão saboreá-los maduros e frescos ou secos e açucarados. Do caldo desse fruto poderá ser fabricado uma bebida - o vinho - de incomparável sabor. Essa bebeida levará alegria e inspiração aos corações dos mortais!


- Quero associar-me contigo no plantio dessa vinha! - propôs o Demônio com certo acinte na voz.


- Muito bem - concordou Noé - Trabalhemos juntos. Ficarás, desde já, encarregado de regar a terra.


E o Demônio, no desejo de agir pela maldade, regou a terra com o sangue de quatro animais tirados da Arca: o cordeiro, o leão, o porco e o macaco.

Em conseqüência desse capricho extravagante do Maligno aquele que se entrega ao vício degradante da embriaguez recorda, forçosamente, um dos quatro animais. Bem infelizes os que se deixam dominar pelo álcool! Tornam-se alguns sonolentos e inermes como um cordeiro; mostram-se outros exaltados e brutais como o leão; muitos, sob a ação perturbadora da bebida que os envenena, ficam estúpidos como um porco. E há, finalmente, aqueles que, depois dos primeiros goles, fazem trejeitos, dizem tolices e saracoteiam como macacos."

Alguém lembra de quem é essa história? Resposta amanhã, que agora vou curar a ressaca...

domingo, junho 26, 2005

Mulheres, e-mails e organizações

Pois é,

Convém lembrar do art. 2º do Código do Chato antes de ler este post.

Que me perdoem as mulheres, mas há uma incrível associação entre elas e mails com anexos contendo arquivos "pps", com mensagens do tipo "Você será feliz", "Jesus te cura", ou com bichinhos, florzinhas, texto enormes com musiquinhas ao fundo, exortando você a ser feliz, a dar a outra face ao fdp do teu colega que só te fode para pegar o teu lugar e o escambau. Simplesmente não olho, deleto. É pura perda de tempo. A Kaya já sabe bem o que pode ou não. E-cards também. Deleto. Esses dias minha filha me mandou um. Deletei. Dias mais tarde ela me telefona perguntando se eu havia gostado do cartão. Cartão? Que cartão? Tive que lembrá-la que não abro esse tipo de arquivo. Mensagens que as pessoas simplesmente reenviam com o " assunto" em inglês, também. Deleto. Só abro mail de gente conhecida e de quem, nos poucos segundos antes de deletar, eu consiga lembrar. Caso contrário, dança. Deleto.

É o único antivirus que funciona: não ser curioso. A curiosidade é arma das pessoas que mandam spam e virus. Sabem que boa parte das pessoas é curiosa e vai acabar abrindo. Depois que adotei essa simples regra, nunca mais tive problema de virus. Fotografias sim, estas podem me mandar. Há vários com fotos sensacionias da natureza. Como eu sei antes de deletar? Já avisei a maioria das mulheres que me mandam mails que fotografias pode. Assim não me incomodo. Os homens? Nunca recebi nada disso de um amigo. Homem não repassa as bobagens que recebe. Deles, só mulher pelada e sacanagem, que ninguém por aqui é santo.

Como toda regra, no entanto, vez por outra abro alguma exceção. Principalmente de pessoas (mulheres) que recentemente começaram a me mandar mails. Até que adquira alguma intimidade com elas - para poder dizer que não me mandem mais bobagens - vou abrindo. Muitos anos antes dessa febre se alastrar, e quando ainda era possível abrir mails com segurança, sem que estivesse lá dentro a minha salvação, recebi um mail com um texto que guardei:

As Três Peneiras

Olavo foi transferido de projeto. Logo no primeiro dia, para fazer média com o novo chefe, saiu-se com esta:

- Chefe, o senhor nem imagina o que me contaram a respeito do Silva. Disseram que ele...

Nem chegou a terminar a frase e Juliano, o chefe, apartou:

-Espere um pouco Olavo. O que vai me contar já passou pelo crivo das três peneiras?
- Peneiras? Que peneiras, chefe?
- A primeira, Olavo, é a da VERDADE. Você tem certeza de que esse fato é absolutamente verdadeiro?
- Não, não tenho. Como posso saber? O que sei foi o que me contaram. Mas eu acho que...

E, novamente, Olavo é interrompido pelo chefe:

- Então sua história já vazou a primeira peneira. Vamos então para a segunda peneira que é a da BONDADE. O que você vai me contar, gostaria que os outros também dissessem a seu respeito?
- Claro que não! Deus me livre, chefe - diz Olavo assustado.
- Então, continua o chefe, sua história vazou a segunda peneira. Vamos ver a terceira peneira, que é a da NECESSIDADE. Você acha mesmo necessário me contar esse fato ou mesmo passá-lo adiante?
- Não, chefe. Passando pelo crivo dessas peneiras vi que não sobrou nada do que eu iria contar - fala Olavo, supreendido.
- Pois é, Olavo. Já pensou como as pessoas seriam mais felizes se todos usassem essas peneiras? Diz o chefe sorrindo e continua:
- Da próxima vez em que surgir um boato por aí, submeta-o ao crivo dessas três peneiras: Verdade, Bondade e Necessidade, antes de obedecer ao impulso de passá-lo adiante, porque:

PESSOAS COMUNS FALAM SOBRE COISAS

PESSOAS MEDÍOCRES FALAM SOBRE PESSOAS

PESSOAS INTELIGENTES FALAM SOBRE IDÉIAS

O cotidiano da vida organizacional é assim: 70% das pessoas são comuns; 25% são medíocres e somente 5% costumam ter idéias. De outra banda, a consideração dada às pessoas é inversamente proporcional: crescem os medíocres (em geral viram chefes), depois os comuns e, por fim, quem realmente pode fazer algo é quase que desprezado, chamado de "maluco". Desses dizem: "lá vem fulano com mais uma das suas idéias...". Não me admira que as organizações, públicas ou privadas, sejam, quase sem exceção, uma bagunça só. E a prova é a quantidade de consultores (eu dentre eles) que tentam fazer algo por elas (nunca esquecendo que para estes também vale a estatística, ligeiramente diferente: 95% são picaretas e se limitam a reproduzir modelos americanos e 5% tem realmente boas idéias e resolvem os problemas).

A maioria preocupa-se apenas com as questões de processo. Claro, é mais fácil tentar organizar um processo (fluxo de trabalho, como as coisas são feitas) do que lidar com as pessoas, principalmente com chefias medíocres. Existem algumas presunções que deveriam definitivamente ser varridas do mundo do trabalho:

1. ter diploma de curso superior é garantia de ser melhor profissional. Primeira grande mentira: o que há de boçal formado por aí não está no gibi. Formar-se não é uma questão de inteligência ou de bom caráter, ou de ter a capacidade para ter boas idéias. Formar-se é apenas uma questão de persistência, mais nada. Com o nível dos cursos - e professores - do jeito que anda, qualquer mané se forma em Medicina, Direito, Psicologia, Engenharia e etctologia. Se a faculdade for paga, então, é como tirar doce de criança. E essas bestas acabam por virar chefes. Como só lhes sobra a competência da "relação interpessoal" (vulgarmente conhecida como "andar sempre perto do poder", isto é, do saco de algum graúdo), acabam crescendo na organização.

2. Ser chefe é ser dono da verdade. Outra grande mentira. Qual é o chefe que não pensa assim? Confunde "poder mandar" com "ser dono da verdade". Claro, fazem parte do grupo dos medíocres, não poderia ser diferente.

3. Amizade. Ser amigo do "homi" é sinônimo de competência. Essa é a pior das regras, principalmente nas instituições públicas. Vale aqui uma comparação: uma mulher bonita sempre estará acompanhada de outra(s) feia(s), ou ao menos não tão bonita. Qualquer um sabe disso. Assim também é nas organizações: um medíocre sempre terá ao seu lado outros mais medíocres ainda. Parece ser uma questão de sobrevivência: medo de perder o posto, no caso do trabalhador, e medo de perder a paquera, no caso das mulheres.

Por fim, há que se dizer: tudo, em uma organização, começa com e acaba nas pessoas. De nada adianta projetar o processo mais eficiente do mundo se colocarmos medíores para realizá-los. Há que se investir primeiro nas pessoas. Pena que o modelo americano, copiado à exaustão pelos brasileiros, é o inverso: primeiro a organização e seus processos (vide qualidade total e outras teorias), depois as pessoas. Mas isso é outro história, outro post.

sábado, junho 25, 2005

Esperança

Pois é,

Se há uma única coisa de positiva no dia da entrada do inverno, é que ele representa, na realidade, o fim da caminhada do Sol em direção ao Norte. A entrada do inverno significa que o Sol começa sua viagem de volta para nós. Dia após dia acompanho esta caminhada: vejo o Sol se pôr a cada dia um pouco mais tarde, até chegar ao momento de maior tristeza, que é quando entra o Verão, pois daí em diante ele começará a se afastar de nós. É isso: o inverno, apesar do frio, é a esperança de dias mais quentes, enquanto que o verão, apesar do calor, é a certeza de dias mais frios. Há uma grande diferença.

Simplesmente detesto frio. A minha imagem do inferno é a de um lugar absolutamente frio, muito diferente dessa que anda por aí, com fogo e calor. Se as almas ardem no inferno, quero ir para lá. Quem não vive por aqui, sequer imagina o que seja passar de dez a quinze dias seguidos a uma temperatura média de 1 a 5 graus, até menos na maioria das cidades desse estado. Muitas vezes acompanhados de um Minuano que simplesmente varre o RS de oeste a leste (caso alguém ainda não saiba, o Minuano é um vento característico que desce dos Andes em direção ao mar e que, no meio do caminho, junta-se com as frentes frias vindas da Antártida - já nasce frio nos Andes, o desgraçado, e ainda se junta com frentes frias, pqp!!!).

Turistas adoram frio porque ficam apenas poucos dias nele. Pra quem fica uma semana e nunca viu frio na vida, ah!, Gramado, Canela, Caxias do Sul, Veranópolis e outras, todas são lindas; a serra é linda no inverno. Não há o que se compare, nesse Brasil, com a paisagem da serra gaúcha, tanto no inverno quanto no verão. Que me perdoem os paulistas e cariocas que têm as suas.

Terra desgraçada, frio desgraçado. Tudo dói: a pele, as orelhas, o nariz, até os ossos!! Vinhos, queijos, lareira... tudo bobagem. Troco, com quem quiser, tudo isso por uma cervejinha numa praia a 30 ou mais graus o ano inteiro e ainda garanto, por um ano, o suprimento de queijos, vinhos e lenha pro vivente que topar a troca.

Tá certo, dizem que é o frio que desenvolve a humanidade, mas não vejo a hora de me mudar para qualquer lugar cuja temperatura mínima esteja sempre acima dos 27 graus. Não quero ser desenvolvido, só não quero frio. Minha única esperança é que o Sol está voltando...

quarta-feira, junho 22, 2005

Um ano de blog

Pois é,

- Chato?
-Sim, Afonso? Por onde andas?
- Estou viajando. Passei aqui, rapindinho, só pra te desejar felicidades por ter conseguido ficar um ano no ar!
- Ah! Não foi nada. Foi graças aos amigos que sempre vieram por aqui!
- Quando eu retornar, na sexta, a gente conversa com calma, tá?
- Tá, Afonso, e boa viagem.
- Feliz Aniversário. Tchau.

segunda-feira, junho 20, 2005

Da série: Faltam apenas dois dias - I

Pois é,

Errei as contas. A gente não conta o próprio dia, né?

Prosseguindo no uso dos pensamentos de Einstein como ponto de apoio para o conteúdo dos posts:

"O valor humano é determinado, em primeira linha, pelo grau e pelo sentido em que ele se libertou do seu ego".

Há um momento na vida em que descobrimos a finitude. Mais que uma descoberta, é um sentimento, uma posse da finitude. Ela toma conta definitivamente de nós. Percebemo-nos finitos. Para alguns isso só acontece na hora da morte mesma; outros, no entanto, são tomados pela finitude bem antes dessa data. Por vezes é uma situação de risco; em outras, vem pura e simplesmente. Não creio que haja um único fator determinante dessa posse. A morte de outras pessoas - entes queridos - não é suficiente, penso, para que as pessoas se apercebam da sua própria finitude. Com a palavra os especialistas, caso esteja enganado.

O importante é que, quando nos damos conta da finitude, vemos o quão inúteis são as coisas na nossa vida. A maioria das coisas que fazemos, temos ou pelas quais lutamos. E por quê? Porque normalmente levamos a vida achando que somos imortais, que só os outros morrem. Temos uma idéia apenas racional da finitude, da morte.

Quando, por razões diversas, me dei conta de que sou finito, a primeira coisa que fiz foi jogar tudo fora, ou quase tudo (tem algumas coisas que ainda não consegui me livrar, mas eu chego lá). Trocentos milhões de porcarias juntadas ao longo da vida. E pra quê? Ah! Pra que vejam, depois que eu morrer, que eu tinha isso e aquilo, que lia este e aquele autor, que gostava dessa ou daquela música. Para fazer valer meu ego depois da morte. Perpetuá-lo. Ora, não será pelos meus guardados que serei lembrado pelas minhas filhas ou pelas pessoas e, sim, pela intensidade da minha relação com elas; pelo que puder ensiná-las da vida, para que possam se utilizar disso nas suas, se quiserem.

É um processo o libertar-se do ego, um duro processo. É como eu disse em um comentário: desaprender é muito mais difícil que aprender. Libertar-se do ego, tomar posse da finitude é um desaprender. A posse da finitude é o desaprender a posse das coisas. Não que não as tenhamos, as coisas, mas passamos a ter o necessário e suficiente para uma vida digna e saudável, sem estresse, sem correrias, sem perda de tempo incomodando-se com coisas inúteis. A vida melhora em muito quando sabemos que ela acaba. Somos mais intensos naquilo que fazemos; fazemos mais coisas do que normalmente faríamos. Não perdemos a vida em frente a uma televisão vendo a vidaque eles querem que vejamos: passamos a dar mais valor ao nosso tempo. Passeamos mais, viajamos mais, tudo passa a ser mais. As coisas adquirem outro valor, a vida adquire outro valor. Passamos a pensar antes de nos colocarmos em situações que nos estressam. "Vale a pena?" passa a ser a pergunta fundamental. Tudo se torna passageiro, ou melhor, tudo é passageiro, nós é que não nos damos conta. E quando nos sabemos finitos, passamos a ver as coisas como passageiras que são. E me pergunto: vale a pena me incomodar com isso? Amanhã talvez nem exista! Assim, conseguimos fazer apenas as coisas que nos fazem bem, que nos tornam felizes, que realmente valham o esforço. Há muito tempo deixei de me incomodar com as coisas da vida. Se vejo que algo é potencialmente estressante, simplesmente evito. Poucas ainda podem vir a me tirar desse estado. A vida passa a fluir quando se torna finita.

Assim é este blog. Por essa razão disse que não sou dono do que escrevo. Foi uma das posses das quais me livrei. Tirando as pessoas que vivem de seus escritos, por meio da publicação de livros ou em outros meios, não vejo razão de "proteger" o que escrevo e coloco aqui. Respeito quem assim o faz, no entanto. Direito autoral? Perdemos esse direito quando vemos a finitude. Que diferença vai fazer se alguém vier aqui e copiar algo que achou interessante e publicar como se fora seu? Outros virão e pedirão e citarão a fonte, como foi o caso da Luma. É com esses que devo gastar minha intensidade de vida e não com os desonestos. A eles está, também, guardada a hora da morte. E saberão o que fizeram enquanto vivos forem, e viverão sem se dar conta de que são finitos. A vida é finita e dela sobra algo apenas etéreo, não material: a qualidade.

Neste repensar de um ano de blog, resta isso: a finitude da vida nos dá qualidade de vida.

sábado, junho 18, 2005

Da série: Faltam apenas cinco dias - I

Pois é,

Ando com Einstein na cabeça:

"O homem, como qualquer outro animal, é por natureza indolente. Se nada o estimula, mal se dedica a pensar e se comporta guiado apenas pelo hábito, como um autômato".

Esta semana comemoro um ano de "Chato". Quarta-feira, dia 22. Estou fazendo, portanto, um repensar sobre esse ano. Não é para pensar sobre blogs. Para isso vejam, por exemplo, o que escreveu Flávio Prada, no post "Um giro por aí". É um daqueles posts de dar inveja; uma inveja boa, é claro, de se ficar pensando: "putz, como eu queria ser capaz de escrever algo assim". Outros tantos também escreveram sobre o assunto: uns criticam, outros criticam os que criticam, há os indolentes, os que explicam e por aí vai. Sobre blogs, em si, já cheguei a uma conclusão: estão aí e pronto! Não me interessa se é moda ou não; se veio para ficar ou se vai evoluir para outra coisa. Importante mesmo, é que certas pessoas são indolentes, como disse o Einstein e como bem se aproveitou do conceito o Boaventura de Souza Santos quando faz sua "Crítica da Razão Indolente": "se o futuro é necessário e o que tiver que acontecer, acontece independentemente do que fizermos, é preferível não fazer nada, não cuidar de nada e gozar apenas o momento presente". Pessoas que criticam os blogs são apenas autômatos, indolentes.

Repenso apenas a minha participação nessa tal de blogosfera, ou "blogolândia", na expressão do Flávio. Para isso, peço licença ao Tiagón para reproduzir um comentário que ele deixou no post de ontem:

"E essa é uma característica do meio. O blog aproxima o processo mental da escrita, porque exige menos elaboração, cuidado, técnica, etc - não que não sejam importantes, mas eles se sobressaem nos que já tem essas características, ao invés de ficar com cara de dissertação de colégio. Os posts não-lineares que eu e o Gejfin gostamos de fazer, ou os fragmentados, cheios de informações ligadas pelo fio invisível da subconsciência - são textos "em processo", e não 'obras' acabadas. Também disso vamos chegar ao ponto que falávamos, no Milton, dia desses - do laço criado pelo texto. Não seria esse um dos motivos para conectarmos uns nas vidas dos outros? Basta a leitura e a afinidade; esse texto mais visceral, menos preparadamente social, encarrega-se de fazer uma conversa muitas vezes mais significativa, em níveis de raciocínio mais profundos..."

Aproximar o processo mental da escrita. Esse é um ponto que considero de extrema importância. Nosso sistema educacional foi idealizado para afastar a escrita do processo mental. Por essa razão a maioria das pessoas tem dificuldades de expressar, na escrita, aquilo que pensa. Não digo nenhuma novidade aqui. É-nos imposto, desde cedo, que escrever deve seguir os rígidos padrões da norma. Antes mesmo de aprendermos a pensar, aprendemos as regras da escrita. E isso transforma nossa maneira de pensar. Acabamos por condicionar nossa forma de pensar aos padrões da regra: pensamos em forma de gramática. E como as pessoas acabam por não aprender direito as regras (também, com tantas regras para aprender nesse tal de português, não me admira que poucos o dominem), acabam não se expressando direito. Pensam certo, mas expressam-se errado. E por quê? Porque não podem expressar seu pensamento tal qual ele é: sem regras. E aí entra a indolência dos que insistem na forma culta. A crítica que destrói qualquer tentativa de expressão e que ajuda a aumentar nossa autocrítica, que nos impede de publicar muita coisa. O que é a autocrítica senão a crítica dos nossos professores e pais?

Podemos verificar isso nos comentários. Quando alguém erra alguma palavra, imediatamente faz outro comentário corrigindo-a. Ora, todos sabemos que erros de digitação acontecem, ou mesmo erros de português. Alguém há de deletar o comentário simplesmente porque tem um erro?

"Não seria esse um dos motivos para conectarmos uns nas vidas dos outros? Basta a leitura e a afinidade; esse texto mais visceral, menos preparadamente social, encarrega-se de fazer uma conversa muitas vezes mais significativa, em níveis de raciocínio mais profundos..."

Essa parte do comentário é bárbara. O laço criado pelo texto. Ao aproximar o processo mental à escrita, criamos a conexão necessária. Deixamos de escrever para falar. Passamos a falar, nos blogs, como falamos em uma mesa de bar. E numa mesa de bar não somos "empolados" (nem poderíamos, depois de algumas brejas...) com os amigos. Não dizemos "querida, dê-me um ósculo", para a gata que queremos comer. Ou beijamos ou não. Senão também não comemos!

Não escrevemos num blog: simplesmente falamos, conversamos. Aqui é o lugar da fala e não o da escrita. Falamos em forma de poema, em forma de romance, de crônica, de monólogo, de análises literárias, futebolísticas, políticas, etc. É aqui, inclusive, que podemos falar sozinhos sem que ninguém nos chame de loucos. Não precisamos da desculpa "estou falando com meus botões", para disfarçar quando nos pegam.

E foi com essa idéia que enfrentei criar o blog. Falar. Por isso dizia, lá no início: "para dizer aqui o que não dá para dizer por aí. Porque se disser, vão me chamar de chato". Vivemos em meio ao discurso da regra. No trabalho somos obrigados a falar corretamente, sob pena de, inclusive, não sermos considerados "competentes". Aqui poderia simplesmente falar. Falar sem me preocupar com a forma. Falar sozinho ou com quem queira participar.

Acho que é isso que tenho feito nesse ano de blog: simplesmente falar.

sexta-feira, junho 17, 2005

Da série: Faltam apenas seis dias - I

Pois é,

Este post é inspirado em outro pensamento de Einstein:

"Penso noventa e nove vezes e nada descubro; deixo de pensar, mergulho em profundo silêncio - e eis que a verdade se me revela".

Escrever no blog mudou completamente a minha maneira de escrever. Não propriamente a forma ou o conteúdo, mas o jeito. Normalmente, quando escrevo alguma coisa, mesmo que de conteúdo técnico, costumo colocar "embaixo do travesseiro" e ver o que acontece no dia seguinte. Invariavelmente surgem novas idéias ou, até mesmo, aquela idéia que estava faltando, a inspiração. É o que fala o Einstein. O meu silêncio é a paciência e saber que sou assim. Por vezes penso que teria alguma chance de escrever algo "literário", pois acredito que construir histórias envolve muita paciência, eternas revisões, coragem para não rasgar tudo no meio do caminho e coragem para ir até o fim. De certa forma deve ser por isso que alguns blogueiros não postem diariamente. Devem deixar seus posts embaixo de alguma coisa, fermentando; ou até que digam "ei, tira esse travesseiro de cima de mim e me publica duma vez!"

Num blog de posts diários não há tempo para "amadurecer", acho. Não que não existam excelentes blogs diários; sem dúvida que existem, mas falo de mim. Tenho, em realidade, pouquíssimo tempo para escrever. Infelizmente (e felizmente para o bolso dos meus leitores contribuintes que pagam meu salário - observem que não há vírgula depois de "contribuintes" e antes do "que": isso significa que temos uma oração subordinada adjetiva restritiva, isto é, nem todos os contribuintes pagam o meu salário. Se assim o fosse, eu estaria feliz em Paris!) não tenho acesso a blogs no trabalho. Restam-me apenas, uma meia hora, pela manhã, e outra hora e meia, pela noite. Sim, pois à noite ainda tenho os afazeres domésticos, aos quais sou submetido impiedosamente por uma mulher grávida. Dessa hora e meia noturna, ainda gasto algo como uma para ler os demais blogs e deixar comentários (ou não).

Assim, é impossível para mim, num blog diário, colocar os posts no armário. Este, por exemplo, saiu assim, de supetão, direto no editor do blogspot. (foi o caso da rima anterior - azar, vai ficar). Putz, minha meia hora noturna acabou. Por sorte só publico no dia seguinte, pela manhã. Ainda há um tempinho de mudar alguma coisa, depois que eu "mergulhar em profundo silêncio".

PS matinal: queria deixar registrado o fato do Milton Ribeiro ter se inspirado, não bem em uma sugestão, mas numa pergunta que lhe fiz, para escrever o excelente post introdutório sobre música erudita. E agradecer, também, pela menção. Milton: a Clarissa manda dizer que gostou de ter sido chamada de "Princesa".

quinta-feira, junho 16, 2005

Formatura

Pois é,

Fui orador da minha turma de Administração. Nem sei porque acordei me lembrando disso. Talvez porque esse ano estejamos comemorando o Annus Mirabilis de Einstein e eu tenha começado e desenvolvido o meu discurso em torno deste pensamento dele:

"Não basta ensinar ao homem uma especialiadade. Porque se tornará assim uma máquina utilizável e não uma personalidade. É necessário que adquira um sentimento, um senso prático daquilo que vale a pena ser empreendido, daquilo que é belo e moralmente correto".

O discurso evoluiu para uma análise de como nossas escolas e principalmente nossas universidades são fábricas geradoras de máquinas. Talvez por isso, pela falta do ensinamento do que é belo e "moralmente correto", tantas coisas estejam acontecendo nesse país.

Acho que taí a razão pela qual acordei lembrando do meu discurso, feito ainda no milênio passado.

quarta-feira, junho 15, 2005

Cair ou não cair no conto?

Pois é,

Terrível o mundo que vivemos, quando sequer podemos confiar em quem nos pára na rua para pedir uma ajuda. Vá que a pessoa simplesmente queira saber um endereço, onde fica uma rua, uma loja, etc. Costumamos desviar, fugir. Eu, por exemplo, ante a mera intenção de se aproximarem de mim, já saio dizendo “não” com a cabeça e com as mãos. E ainda me dou ao displante de agradecer. Não sei ao quê, mas agradeço. Mas peraí! A pessoa não veio me oferecer algo; ao contrário, veio pedir!

Acho que de tantas que levamos, acabamos calejados, pra não dizer insensíveis. E se de fato alguém estiver precisando de algo? E de um algo que esteja ao nosso alcance dar?? Uma simples informação, ou até mesmo dinheiro. Não! Se pediu dinheiro é para comprar bebida. E ainda chamamos, mentalmente, a pessoa de “vagabunda, podia muito bem estar trabalhando”! Se for criança, pior ainda, nem olhamos, pois imaginamos que tem algum adulto por trás que vai ficar com o dinheiro.

Pois de um tempo para cá resolvi adotar a seguinte postura: não importa o que a pessoa vai fazer com o dinheiro; importa o que ela vai me dar em troca como história, para me convencer. Assim, estarei, não dando uma esmola, mas remunerando um artista.

Conforme o nível da lorota e a encenação feita, leva ou não. Isso acaba eliminando os pedintes “puros”, aqueles que a gente sabe que são para a bebida, pois não têm a mínima imaginação. Por outro lado, abre a possibilidade de ouvir alguém que possa estar mesmo precisando de ajuda e, com isso, livramos nossa alma do inferno. Claro que temos os mentirosos e bons artistas, mas a estes, o que dou, dou como remuneração pelo espetáculo. Enfim, é muito difícil a situação que vivemos.

Há pouco fui levar o lixo. Quando acabava de fechar a porta do prédio, um rapaz, bem vestido e numa abordagem absolutamente tranqüila (mesmo porque eu já estava atrás das grades. Ops, eu atrás das grades para me sentir tranqüilo? Putz) pediu: “Meu senhor, posso ter um minuto da sua atenção?” A vontade inicial era me fazer de surdo e deixar o cara ali. Azar, mais um, menos um não vai fazer diferença.

Parece, no entanto, que eu devo ter um luminoso piscante na testa, com os dizeres: “vai nesse que dá”. Sempre sou escolhido pelos pedintes. Fazer o quê? Parei e escutei. Uma linda história com todos os elementos típicos da malandragem:

- foi assaltado e levaram tudo;
- estava atrás de um amigo que morava por ali, mas o amigo não se encontrava em casa, o que lhe deixara na rua;
- morava em outra cidade;
- tinha uma mãe com 74 anos e não queria telefonar avisando que fora assaltado, para não assustá-la, coitadinha.
- precisava pegar o ônibus pra voltar para a sua cidade (aí eles declinam o valor; geralmente um valor factível, a depender da cara do interlocutor) e só precisava do dinheiro da passagem;
- Importante esse elemento, por ser novo: disse que me pagaria no outro dia, assim que chegasse na cidade dele. Que se eu desse um número de conta bancária ele faria o depósito. Jurava que faria.
- Por fim, dizia-se temente a Deus e que Deus me daria todas as graças se eu o ajudasse naquela hora difícil.

O mais importante de tudo e que me fez dar algum dinheiro foi: (1) tudo isso num português absolutamente correto, impecável, concordâncias perfeitas e, (2) a forma como se expressava, parecia acostumado a discursos; articulado, com construções frasais pausadas nos momentos certos; ênfases quando necessárias, mas sem exageros que poderiam parecer teatrinho barato. O cara é um artista. Paguei pelos cinco minutos de espetáculo.

Mas, e se fosse verdade?

terça-feira, junho 14, 2005

Tipo microconto

Pois é,

Acabou a nicotina; as idéias também!

segunda-feira, junho 13, 2005

Sete gatinhos e uma bruxa!

Pois é,

Quem vem por aqui sabe que temos seis gatos. Tá bom, tá bom, já escutei essa frase milhões de vezes: "e o que vocês farão com os gatos quando a Clarissa nascer? Vão dá-los?" Que nada, vão ficar onde estão. Cada presente que ganhamos mostramos pra eles, fazemos eles cheirarem, deixamos que deitem por cima, que participem, que se sintam "maninhos" da Clarissa. E serão. Crescerão junto com ela. Abrimos o armário dela e deixamos que eles entrem. Brincam, cheiram, até dormem ali. Vai ser tudo lavado mesmo!

Estou aqui a imaginar o dia que a Clarissa começar a engatinhar. Nada mais justo o termo nessa casa: engatinhar. Serão sete pela casa: cinco gatinhos e duas gatinhas (a Naná e a Clarissa). Aliás, azar o deles, os gatos de verdade! A primeira coisa que vou ensinar para a Clarissa é como se puxa o rabo de um gato sem que eles miem. Ei, ei!!!!! Calma lá os defensores da natureza e dos gatos desvalidos. Não estou dizendo que vou ensinar a dar nó de marinheiro nos rabos dos gatos. É apenas um nózinho carinhoso, talvez um nózinho retórico...(me aguardem, heheheh).

Cresci ouvindo uma lenda famíliar: quando eu era criança, costumava pegar os gatos da chácara de um tio e jogá-los na sanga que passava nos fundos do terreno. Claro que não me lembro disso. Mas até hoje dizem que eu era terrível com os gatos e que jogá-los na sanga era o de menos.

O pior de tudo é que, mesmo com todos esses anos, ainda não aprendi nada da vida. Há coisas que nem pra mulher a gente conta (Atenção leitores com vontade de casar: não acreditem nesse papo de que entre casais não há segredos). Caí na besteira de contar para Kaya que iria ensinar a Clarissa, assim que ela começasse a engatinhar, como se puxa o rabo de um gato.

Estou jurado de morte!

sábado, junho 11, 2005

A resposta

Pois é,

A resposta que dei para minha filha, quando ela me perguntou se era difícil ser adulto foi:

Tudo depende de como as pessoas resolvem levar a vida. E existem duas maneiras: uma boa e uma ruim.

Para te explicar a maneira boa, vamos pegar um filme. Para se fazer um filme são necessários (de forma simplificada, é claro) um produtor, um roteirista, um diretor, um ator e várias outras pessoas.

O produtor é quem banca o filme, paga todo mundo, sustenta. O roteirista é a pessoa que escreve a história, que diz como começa e como termina, se o final vai ser feliz ou não. O diretor é quem dirige o filme, é quem diz como o ator deve representar a cena, com ele deve viver. O ator, por óbvio, é quem vive, são as pessoas. As demais são coadjuvantes, fazem cenários, carregam coisas...

Podes escolher ser qualquer uma delas. A maioria das pessoas, no entanto, escolhe ser apenas ator da sua própria vida e deixa que outros as sustentem; que outros escrevam o que vai acontecer; que outros mandem nelas. Alguns passam a vida apenas pra lá e cá carregando coisas, montando o cenário para que os outros possam viver. Passam a vida como coadjuvantes da própria vida.

Para que ser adulto não seja difícil, minha filha, não seja apenas a atriz do teu filme, seja também a produtora da tua vida: estuda e seja uma profissional competente, capaz de ganhar o quanto necessites para tudo aquilo que queiras. Mesmo nesse país de dificuldades, sempre é possível, para quem é bom naquilo que faz, conseguir o que quiser. Uns têm trabalho, outros têm uma profissão. Escolha ter uma profissão. Mas para isso há uma única condição: quem tem uma profissão tem amor por aquilo que faz e nunca se cansa de fazer. Quem tem trabalho, trabalha das oito às dezoito; quem tem uma profissão se dedica a ela 24 horas por dia, por todos os dias.

Mas só produzir não adianta. Escreve a tua própria vida, faz teu próprio roteiro. Não deixa que ninguém determine o que vai te acontecer. Não deixa que te façam triste; te afasta das coisas ruins; escolhe os caminhos que te façam feliz. Escreve a tua vida a cada dia. Escreva nele teus princípios, aqueles dos quais jamais deves abrir mão. Não faças do teu roteiro uma ilusão. Escreva trechos de tristeza e sofrimento, tanto quanto os de alegria e prazer. A felicidade, minha filha, não é ser feliz; a felicidade é poder ser triste na tristeza e alegre na alegria; é estar vivo para isso e poder sentir tudo o que o mundo nos dá para sentir.

Mas não basta só isso. Dirija a tua própria vida. Há quem diga que na vida existem os que mandam e os que cumprem ordens. Escolha não ser mandada, mas também não escolha mandar nos outros. Dirige apenas a tua própria vida. Não deixa que ninguém determine como deves levar a vida; te afasta dos homens que queiram te dizer o quê fazer ou o quê não fazer; não tenhas medo de ficar sozinha.

Atua teu próprio papel, aquele do roteiro que escreveste e que estás dirigindo. Aprende a diferença entre ser um bom ator ou um mau ator: os bons, minha filha, vivem a verdade dos seus papéis. Chora, quando tiveres que chorar; e ria com prazer, quando tiveres que rir. Não representa diversos papéis: seja apenas um, tu mesma, sempre. E aprenda que os outros também vivem seus próprios roteiros, seus filmes. Evita criticar a vida das pessoas.

Ninguém vive sozinho, minha filha. Traga sempre contigo aquelas pessoas que farão o cenário do teu filme e as trate com carinho e respeito. Algumas delas poderão fazer os efeitos especiais da tua vida, ou os cenários mais simples, necessários para as cenas em que queiras apenas descansar. São teus amigos.

Não luta contra o mundo, mas também não deixa o mundo te levar. Seja dona da tua própria vida. E acima de tudo, mas de tudo mesmo, cuida do teu corpo. Faça dele um corpo sempre saudável. É ele que te leva e só com ele poderás realizar teus sonhos. Essa é a maneira boa.

A essas alturas já tinha gente das mesas vizinhas espichando os ouvidos. Parei para tomar mais um gole da cerveja que estava esquentando, ao que ela falou: “Nem precisa me dizer como é a maneira ruim, pai!”

Só depois, quando cheguei em casa é que me dei conta de que, afinal, não havia respondido se é fácil ou não ser adulto. Liguei pra ela e disse: minha filha, não é difícil ser adulto e quem sabe um dia te explique o que tudo isso tem a ver com ser líquido.

sexta-feira, junho 10, 2005

Motivação

Pois é,

Como Administrador, trabalho diariamente com as questões de motivação. Como motivar as pessoas (ou não desmotivá-las) para a realização das suas tarefas diárias. Possivelmente todos já conheçam as teorias e técnicas tradicionais sobre o assunto, desde Maslow até os mais recentes. Quem trabalha já deve ter passado por diversos tipos de testes avaliando a sua motivação e outros fatores. É do Dalai-Lama, no entanto, que vem algo que pode se constituir em um grande desafio para empresas e/ou instituições públicas1:

"Ao analisar os antídotos para a ansiedade, o Dalai-Lama oferece duas soluções, cada uma atuando num nível diferente. A primeira envolve um combate enérgico à preocupação e ruminação crônica, através da aplicação de um pensamento neutralizador: relembrando-nos de que se o problema tiver uma solução, não há necessidade de preocupação. Se ele não tiver solução, também não faz sentido nos preocuparmos.

O segundo antídoto é uma solução de alcance mais amplo. Ele envolve a transformação da nossa motivação fundamental. Há um contraste interessante entre o enfoque do Dalai-Lama quanto à motivação humana e o da psicologia e da ciência ocidental. Como examinamos anteriormente, pesquisadores que estudam a motivação humana investigam os motivos humanos normais, analisando tanto as necessidades e impulsos instintivos quanto os adquiridos. Nesse nível, o Dalai-Lama concentrou-se em desenvolver e usar impulsos adquiridos para melhorar nosso "entusiasmo e determinação". Sob alguns aspectos, isso é semelhante à opinião de muitos "especialistas em motivação" do Ocidente, que também procuram de modo convencional reforçar nosso entusiasmo e determinação no sentido de realizar objetivos. No entanto, a diferença é que o Dalai-Lama provura forjar a determinação e o entusiasmo com o objetivo de que nos dediquemos a comportamentos mais salutares e eliminemos traços mentais negativos, em vez de dar ênfase ao êxito em alcançar o sucesso material, o dinheiro ou o poder. E talvez a diferença mais surpreendente seja a seguinte: ao passo que os "especialistas em motivação" estão ocupados insuflando as chamas de motivos já existentes para o sucesso material, e que os teóricos ocidentais dedicam sua atenção total a categorizar os padrões das motivações humanas, o interesse primordial do Dalai-Lama pela motivação humana reside em reformular e mudar nossa motivação fundamental por uma motivação voltada para a compaixão e a benevolência."

Como motivar os trabalhadores nesse paradigma de compaixão e benevolência e mostrar a eles que ainda poderão realizar seus objetivos, num país como o Brasil atual?

1" A Arte da Felicidade, Um Manual para a Vida". Sua Santidade, o Dalai-Lama e Howard C. Cutler.

quinta-feira, junho 09, 2005

Abandono

Pois é,

Aos dez anos abandonei a religião. Compreendi que a religião nada mais era que uma estrutura de poder. Muito mais do que ajudar as pessoas a compreenderem o mundo, as religiões serviam apenas para explorá-las a pretexto da fé. É assim até hoje e será para sempre.

Aos vinte anos abandonei o futebol. Compreendi que o futebol também era uma estrutura de poder. Muito mais do que um lazer para as pessoas, ou um "trabalho" dígno para os jogadores, o futebol servia apenas para enriquecer os cartolas e a imprensa, à custa de alguns jogadores "eleitos" como craques para serem notícia. E notícia até por razões em nada ligadas ao futebol. É assim até hoje e será para sempre.

Aos trinta anos abandonei a vida de solteiro e compreendi que o casamento era uma estrutura de poder. Muito mais que multiplicar, era dividir; pois é dividindo que o poder se mantém. É assim até hoje e só espero que não seja assim para sempre.

Ao quarenta anos abandonei a política. Compreendi algo que já sabia desde os dez: que a política nada mais é do que uma estrutura de poder. Muito mais do que serem representantes do povo para fazerem as leis ou executarem as ações necessárias para que tivéssemos um povo com dignidade, a política serve apenas a si mesma e àqueles que dela participam. É assim até hoje e será para sempre.

Quanto me falta para tentar não abandonar o Homem?

quarta-feira, junho 08, 2005

Despedida

Pois é,

Amanhã, quinta-feira, certamente não terei tempo de postar algo por aqui. Estarei providenciando o necessário para um ano de viagem. Passaporte, malas, deixando as coisas todas nos seus devidos lugares, providenciando pagamentos e acerando como irei fazer para pagá-las.
Vou comprar, também, um daqueles celulares que tiram fotos e mandam direto pra internet. Daí O Chato passará a ter fotos diárias dos lugares por onde estiver. O Chato passará a ser um blog de viagem.
Desembarco direto na França. Quero primeiro conhecer a terra dos meu antepassados, o País Basco. Vou comprar um carro e fazer toda a viagem assim, sem pressa, conhecendo as cidadezinhas do interior. Depois passo a fronteira e vou para porção basca espanhola. Sempre pelo interior. As capitais, Madri, Paris, Lisboa ficam pra depois.
Dali sigo para a Grécia, Egito, Israel. É, um roteiro tipo livro de História Universal, pelo menos do tipo que eu estudei.
Depois, com calma, a gente vai escolhendo o restante do roteiro. Afinal, um ano é bastante tempo pra se conhecer o mundo.
Ah! Quase me esqueço: a primeira coisa que farei amanhã será passar na CEF para pegar o prêmio da mega-sena que vou ganhar hoje à noite.

terça-feira, junho 07, 2005

Estamos velhos, os que vivemos a ditadura. Três em um.

Pois é,

Primeiro:

Tive que juntar os comentários da Yvonne e do Tesco; da Luma e do Carlos (Nós por Nós ; Luz de Luma e Beco dos Bytes) e lê-los juntos, pois ficaria difícil responder um por um sem quebrar o pensamento. Assim que,

Tesco, aí reside o problema: essa contribuição tem sido muito mínima. Tão mínima que não chega a mudar nada. Repito o texto que coloquei como "ps"; o problema é muito mais de uma ética (ou moral) da nação do que de pequenas ações individuais em meio ao"mar de lama". Todo mundo diz que faz a sua parte. Mas, se realmente isso é verdade, por que os problemas não apenas não param, como aumentam?

Sim Luma, está na hora de criarmos não apenas uma nova democracia, mas um novo Estado. Um Estado ético. Vivemos num país cujo povo só sabe exigir seus direitos, mas que esquece que também é sujeito de deveres. Deveres individuais e, sobretudo, deveres sociais.

O post, Yvonne, é justamente por ver que a classe, que mais dá os ombros para segurar o país, está quieta; amortecida; adormecida; jogando pra cima da juventude a culpa por não sair às ruas com as "caras pintadas"; esperando que outros façam o que deveria fazer e reclamando na frente do Jornal Nacional, porque mais um estudante boçalzinho americano resolveu matar seus coleguinhas.

E quando teremos um povo sábio e bem informado, Luma, quando é mais fácil atirar a culpa de tudo nos aposentados e servidores públicos do que ir buscar os 160 bilhões em sonegação, contrabando e pirataria? E quando teremos um povo sábio e bem informado quando lhe empurram novelas "para sonhar com uma vida melhor" e ter sobre o que conversar no dia seguinte? E ter sobre o que conversar para esquecer a miséria de ganhar um, ou pouco mais de um, salário mínimo, isso se for abastado para tanto?

E já teve épocas, Carlos, em que acreditava que ter consciência em si, para depois partir para os demais, resolveria algum problema. Eis a questão: quando cada um adquire consciência de "si próprio", a maioria vai cuidar do que é seu.

Aprendi uma coisa desde cedo com a cinta do meu pai: a certeza da punição. Se fizesse, levava. É isso que falta nesse país e é isso que não cobramos: a certeza da punição.

Falta-nos culhões (que me perdoem as meninas) para sair às ruas. Falta-nos fazer o que fizeram na década de 60: sair para pedir o fim, seja o fim da "suposta" ou "verdadeira" bagunça, seja o fim da ditadura.

Sinto falta das músicas de protesto; dos Buarques, Caetanos, Vandrés e até do Gil! E dos Sabiás, das Rodas Vivas, e das Violas Enluaradas.

Falta-nos coragem. A mim também. Idolatramos a mesmice. Estamos velhos, os que vivemos a ditadura. Estão velhos os que lutaram contra a ditadura, seja com armas, seja com canções, seja com reuniões, e hoje são ministros, chefes de gabinetes, presidentes de partido, prefeitos. Estão velhos os que vieram logo após e acreditaram na Utopia da Nova República, numa utopia da esquerda, representada por um partido de intelectuais e revolucionários tão fisiologistas quanto aqueles contra os quais outrora lutavam! Que escolheram o único não intelectual para ser factível perante o povo. De exilados e revolucionários a governantes, e de governantes a senhores!

Esquecemos da história? Esquecemos que SEMPRE tem sido assim?

Escuto as músicas daquela época não mais como hinos que foram, mas como saudosas lembranças. Lembranças que nego a minha filha Fernanda e que certamente negarei à Clarissa. E nego porque sou de uma geração que calou e aceitou a migalha de ser "classe média". E que não esquece que é um dos poucos que podem escrever na internet, como se isso adiantasse de algo. CENTO E SETENTA MILHÕES DE BRASILEIROS NEM SABEM O QUE É ISSO!

O que fazer? Lembrar que temos DIGNIDADE!

Segundo:

Uma penitência. Recebi a visita da Tatiana. Faz tempo que visito o blog dela mas não deixo comentários. Sei lá, é um blog com poesias e tinha, na minha santa ignorância, que poesia a gente não comenta. Poesia, pra mim pelo menos, é algo meio mágico. E mágica a gente não comenta, apenas se encanta. E, às vezes, tenta fazer. Quem já não pegou um baralho, quando criança ou adolescente, e saiu por aí aplicando a mágica recém aprendida? Pois com a poesia deve ser a mesma coisa. Quem já não escreveu a sua? Na verdade, penso que erro ao dizer que poesia "é algo meio mágico". Poesia é inteiramente algo mágico. Talvez um simples "gostei, Tati", já fizesse bem ao coração dela. E não fui capaz de fazer isso.

Terceiro:

Nem sei porque fui me lembrar disso hoje. Num dos almoços semanais que tenho com a minha filha Fernanda, que tinha 14 anos na época (ano passado), ela me faz a seguinte pergunta:

- Pai, posso te fazer uma pergunta?

Fatal! Se fosse filho, estaria tranqüilo. Afinal, não há nada que um guri possa perguntar para um pai que ele já não tenha a resposta na ponta da língua. Mas era a filha. De certa forma, já havia me preparado para perguntas desse tipo. Coisas difíceis, é o que normalmente vêm por trás delas. E, via de regra, sobre sexo. Sobre isso já tinha lido todos os cânones tipo "Como falar de sexo com sua filha - guia de autoajuda para pais separados", "Homens querem sexo, mulheres querem a carteira", etc. Aprendi, também, que devemos fazer uma cara de tranqüilidade, que expressa segurança. Afinal, podia não ser sobre sexo. Vá que ela queria me dizer que começou a fumar, que já experimentou maconha, que queria me apresentar o namoradinho (putz, essa é velha, o ficante, animal!). Tomei um gole da cerveja e disse:

- Pode, minha filha.

- Pai, é díficil ser adulto?

segunda-feira, junho 06, 2005

Pinturas

Pois é,



Na sexta-feira fomos fazer mais uma ecografia. Tudo normal, a Clarissa cresce tranqüila. Hoje à tarde, a Kaya me chama no escritório. Quando entro, ela estava sentada olhando as "fotos" da ecografia. Olhei para ela e vi uma expressão de encantamento. Me emocionei, porque bem início ela tinha ficado um pouco chateada por não ter sido um menino. Ela queria menino e eu menina.

Há uma que mostra o perfil. A Kaya passava a mão como se estivesse passando na própria Clarissa, com todo carinho. Foi identificando o nariz, a boca, os olhinhos, a testa... "a testa é igual a tua, Afonso". Eu acho que o nariz também, disse pra ela.

- Não, o nariz é igual ao meu. A forma da cabeça é que é igual a tua.
- Ah! Menos mal. Então vai puxar a mim, vai ser inteligente.

domingo, junho 05, 2005

Um post irado!

Pois é,

Tô de saco cheio desse negócio de todo mundo ficar falando em democracia. Que diferença existe para a ditadura que tivemos? Para os tempos de Colônia ou do Império? Uma única coisa: todo mundo pode falar o que quiser. Definem democracia como se democracia fosse apenas liberdade de expressão. E nisso a mass media é exemplar. Ontem lendo um blog (e não vou dizer qual) a autora defendia a idéia de que blogs não eram democráticos porque pouquíssima gente tinha acesso a internet e, por conseqüência, aos blogs. Ótimo, se democracia é acesso, então não temos democracia porra nenhuma.

Quarenta por cento da população vive abaixo da linha da miséria; passa fome. Não tem acesso à comida. Enquanto isso todo mundo continua roubando o país e dizendo que isso é democracia. E os jornais e tvs só sabem reclamar que não existe democracia quando a Justiça bloqueia algum programa ou alguma reportagem.

Somos um povo hipócrita, sujo e egoísta. Roubamos de nós mesmos. Sempre corremos para chegar na frente dos outros. Aprendemos a respeitar apenas "os nossos". Aos outros devemos pisar, pular por cima, senão eles fazem isso com a gente. Não é assim que aprendemos a viver? Não é assim que ensinamos aos filhos a forma de sobreviver na selva? Mate antes que te matem! Não seja o único joãozinho do passo certo!

Somos mesquinhos e discricionários. Rimos dos outros a todo momento. Dizemos que aceitamos a diferença, mas na hora que a filha chegar em casa com o namorado negro é que eu quero ver. E a coisa é tão pior, que se o filho chegar com a namorada negra ou com "aquela mulata", todo mundo vai adorar: o pai terá realizado, através do filho, o desejo insatisfeito de trepar com uma negra maravilhosa. Rimos dos gays, nos damos ao luxo de ser a favor ou contra. A favor ou contra do quê? Da existência de um ser humano? Quem somos para nos arvorarmos o direito de julgar a vida de outra pessoa? Essa é a nossa sociedade que quer se dizer democrática.

Já vi muito FDP tomando hóstia na Igreja. Deve ter ido pedir perdão por ter sonegado impostos. Por ter colocado os empregados na rua, alegando a crise. Certamente para não perder o estilo de vida que leva. Hipocrisia, pura hipocrisia.

Existem mais ONGs tentando resolver os problemas do que problemas existentes. Não entendo como, com tanta ONG cuidando de crianças, ainda existem crianças na rua. Safadeza pura. Já disse aqui que faço parte de uma ONG (conhecidíssima país afora) que gasta 70% da contribuição que recebe com a folha de pagamento. FsDP. Vou sair. Só acredito no voluntariado e na solidariedade gratuita. Vivemos num mundo e num país podres. Cada vez mais podres.

Tá na hora de parar com essa hipocrisia de que temos democracia nesse país. Talvez aí consigamos, realmente, lutar para construí-la.

PS às 20:00h: Escrevi este post pela manhã. Agora, encontrei o seguinte artigo, do qual tirei alguns trechos:

O país da transgressão
Escândalos de corrupção reacendem debate sobre valores éticos dos brasileiros e relação entre público e privado numa nação marcada pela desigualdade

ALEXANDRE ELMI, para Zero Hora

"As cenas de corrupção explícita nos Correios podem não levar à CPI. Mas a reincidência de casos e deslizes éticos pelo menos desperta o debate sobre o que aconteceu com a honestidade no Brasil. Golpes milionários, sumiço de dinheiro público e barganhas políticas são apenas a face mais escandalosa da transgressão no país. O dia-a-dia do brasileiro - por menosprezo às leis, falta de consciência ou até mesmo tática de sobrevivência - não deixa de ser um festival de burla às regras.

Não se trata de comparar os R$ 3 mil que o ex-diretor do Departamento de Contratação e Administração dos Correios Maurício Marinho coloca no bolso sem pudor à malandragem de estacionar o carro em lugar proibido, mesmo sabendo que não se pode. Quem tenta entender o Brasil liga os dois tropeços pelo lado do desprezo com o que é público, endemia da qual o país não consegue se livrar."

[...]

"Ao cruzar a fronteira do ilícito, os dribles diários em obstáculos legais trazem prejuízos ao país, como ocorre com a trinca sonegação-contrabando-pirataria, que subtrai dos cofres públicos R$ 160 bilhões por ano."

[...]

"O trânsito é o lugar por excelência onde se expressa a compulsão do brasileiro pelo desrespeito às regras. O diretor-técnico do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), João Batista Hoffmeister, pesquisou abordagens de infratores feitas pela Polícia Rodoviária Estadual. Ao final do trabalho, fez uma descoberta surpreendente: 82,35% sabiam que estavam infringindo a lei e confessaram a negligência no momento da autuação."

A reportagem toda está aqui.

Podem dizer que meu post realmente estava irado. Mas não sou só eu.

E não esqueçam do art. 2º do Código do Chato. Última vez que aviso!

O Abominável Homem-Internet

Pois é,

Tenho um amigo que me chama de Abominável Homem-Internet só porque eu vivo grudado nela. Não fico chateado com as pessoas quando elas têm razão a meu respeito. Vivo, sim, em função da internet. Pela internet sei mais de tudo, se comparada com os jornais ou com a televisão. Já fui assinante de jornal, a Zero Hora e o Correio do Povo, jornais do RS, e a Folha de São Paulo. Pela internet tenho acesso a todos ou quase todos os jornais do mundo, inclusive a estes citados. Como há muito já descobri que a fonte de todos eles é a mesma, e que os nossos sequer se dão ao trabalho de adaptar o texto, pra quê assiná-los? Bastaria ler um. E eles estão na internet. O acesso pela internet permite inclusive verificar quando os jornais locais distorcem as noticias internacionais. Quem parar para estudar a estrutura do texto das notícias, verifica logo que basta ler a manchete. Já vi textos que repetiam por três ou quatro vezes as mesmas frases. Por outro lado, a composição dos jornais, em termos de centímetros quadrados, deve andar assim, na média: 80% propaganda; 15% fotografias e apenas 5% de notícias. Dos 5% de notícias, limpando as repetições e as obviedades do texto, sobra algo em torno de 1%, ou seja, quase que só a manchete. Se levarmos em conta, ainda, o fato de que as notícias dos jornais são puro repeteco do que já deve ter passado na televisão, deu pros jornais. Nem mesmo os antigamente chamados "suplementos literários" se salvam. Voltados para um público "letrado" cada vez menor, menor também tem sido a qualidade. Tenho comigo várias coleções originais de jornais do final século XIX (de 1894 a 1901) e do século XX (do tempo da IIGG e da década de 80). É incrível a diferença. Alguém poderia alegar que os tempos são outros. Sim, os tempos são, mas a qualidade não teria razão de ser outra; e pior. Por fim, jornais são feitos de papel e papel são árvores derrubadas. Dou a minha contribuição para a preservação da natureza ao não comprar jornais.

A mesma análise pode ser feita para a televisão; sobra 1% útil, embora, nesse caso, até veja alguma utilidade para aquelas pessoas sem alternativas depois de certa idade. Mas se há algo que não consigo admitir é gente jovem (com menos de 65 anos) vendo novela. Recente estudo (depois eu procuro e cito a fonte) apontou que o brasileiro passa, em média, três horas por dia vendo televisão. Isso é um absurdo, se levarmos em conta a quantidade imensa de alternativas existentes hoje em dia. Não só na internet, mas na rua também. Aqui há aqueles que poderão defender as novelas, alegando que é cultura e que é o produto brasileiro por excelência. E o fazem por comparação aos enlatados americanos (expressão antiga, eu sei), alguns idolatrados até. No fundo, no fundo, as novelas têm apenas contribuído para a deformação da família. E o que dizer de deixar as crianças quase que o dia todo vendo desenhos? Aqui a coisa é pior. A pressão se dá quando te dizem: "vais deixar teu filho isolado da turminha? Todos vêem, menos ele. Olha o mal que fazes!" Pronto, e todos os pais cedem. Ontem vi um pai com a filha no colo e esta carregando um dos teletubies. Não adianta me dizer que são programas "cientificamente" preparados e adequados para criancinhas. São boçalizantes, isso sim.

Hoje sei do mundo pela internet. Recebo diversos informativos com tudo e de todas as áreas. Posso escolher o que ler. Leio blogs e neles encontro análises de quase todas as notícias. Com uma vantagem: são diversas opiniões e não apenas aquela que a mass media quer que eu leia. Tudo o que é bom e que os jornais e televisões não veiculam está na internet. As porcarias também, mas essas a gente aprende a identificar. Faço parte de 5 e-groups. Troco mensagens com gente de todo mundo. Graças a isso fui obrigado a aprimorar minhas outras línguas, que as tinha incipientes. Até basco, língua natal dos meus antepassados, estudo pela internet.

Sempre gostei de me comunicar com as pessoas (sou geminiano, lembram?). Bem antes do advento da internet, jogava xadrez postal. Para os mais jovens: antigamente as comunicações eram feitas por carta. As cartas eram enviadas pelo correio, esse mesmo que protagoniza mais um escândalo. Cheguei a jogar, ao mesmo tempo, com 50 pessoas de todo mundo. E cada carta era uma maravilha. Além dos lances, trocávamos conhecimento, fazíamos amizades. Hoje, tudo isso é possível pela internet.

Por que deixaria de ler blogs, de conversar pelo MSN, de visitar museus, de ler biografias, de ler as obras produzidas, de receber o carinho das pessoas e tantas outras coisas, para ficar em frente a uma tv vendo novela e jornal nacional (ou similares)?

De fato meu amigo tem razão: sou um Abominável Homem-Internet.

sábado, junho 04, 2005

Morte na blogosfera

Pois é,

E se eu, ou outro blogueiro qualquer, morrer de uma hora pra outra, como todo mundo vai ficar sabendo? Será que vão ficar vindo aqui e olhando o mesmo post por duas, três ou mais semanas, até desconfiar que algo aconteceu? O mais provável é que se pense em depressão, ou mesmo que desisti do blog e, num gesto que me tornaria um ser abjeto, não avisaria que desisti? Mas, e se tiver morrido? E se alguém souber, iria colocar no seu blog um post avisando que o Chato morreu? E como seria esse post?

"Meus caros amigos, sinto informar que o Chato se foi. Ainda bem, assim Deus há de ver o que fez, pois ele certamente deve por estar lá, falando pelos cotovelos, do mesmo jeito que escrevia sem parar no blog. Desnecessário dizer que não precisam ir lá postar comentários. Afinal, ele não vai poder ler."

Ou então,

"Queridos, que pena sinto hoje. Descobri, três semanas depois do fato, que o Chato morreu. É, mórrrreuuuu! Não tem post avisando, mas, mesmo assim, vão lá no blog dele e deixem comentários. Não se preocupem, ele dizia acreditar em vida após a morte. Assim que, certamente irá ler."

Ou, ainda,

"Tão jovem ainda, com a vida pela frente. Deixa mulher e filhas, além de seis gatos. Deixa uma filha que o amava mais que a tudo. Privada do convívio diário por uma separação dos pais, vê-se, agora, privada dos telefonemas, dos almoços semanais, dos papos no MSN, dos pequenos conselhos e orientações. Deixa, ainda, outra filha por nascer. Reserva a ela, a vida, uma vida de fotografias. Talvez uma vida de leitura dos escritos do pai. Talvez possa ver o blog e sentir o quanto o pai a esperava; o quanto contava os dias para seu nascimento. Restarão, a ela, apenas as lembranças da mãe, que as contará como historinhas de ninar. A mulher terá dele o fruto para consolar-se; para lembrar-lhe, a cada noite, que é possível, sim, ser feliz. Deixo aqui a suave recordação das vezes em que li seus posts e pude sentir que havia vida por trás das palavras".

Os comentários, então, ficaria rondando feito fantasma até poder lê-los:

"Seu danadinho. Então vais embora e nem me avisas? bjs e espero que sejas feliz no teu novo endereço: www.céu.com.br. Sim, .br, pois Deus é brasileiro. beijos"

"kkkkkkkk, o cara é um palhaço mesmo. Pensa que eu vou acreditar que ele morreu. Podia pelo menos ser mais criativo. Essa é velha, kkkkkkk"

"Chato, estejas onde estiveres, que Deus guarde tua alma."

"Oi, primeira vez que venho aqui. Achei super legal a tua morte. Não esquece de visitar o meu blog, tá? Botei um link lá. bjinhos".

"Ih, morre e nem nos avisa? FDP, isso sim!"

"Era líquido; virou gasoso!"

"Espero que tenham tocado Bach no enterro!"

"Putz, logo agora que descobri o blog dele".

"Ai, se ele morasse em São Paulo, eu não deixava ele morrer..."

"Não esquece de mandar um mail com teu novo endereço. Depois eu respondo, tá?"

Alguém já soube de uma morte na blogosfera e como ela foi comunicada?

Como se constói uma nova pessoa?

Pois é,

Hoje inicia-se a Grande Guerra. Até então eram apenas escaramuças, pequenos atos de guerrilha que nada resolviam e só causavam enfraquecimento. E o enfraquecimento de um aumentava a força do outro. Ontem, no entanto, o mais fraco ganhou uma primeira batalha: admitiu, finalmente, que é o lado mais fraco. E como lado mais fraco, admitiu, também, que precisa de ajuda. São meus dois lados. Um, forte e poderoso, busca destruir. Atiça a preguiça, a acomodação, o hábito pernicioso, o vício. O outro, fraco e impotente depois de trinta e cinco anos de mandos e desmandos do forte. Não havia mais o que fazer para salvar o fraco.

Fui a um psiquiatra. Sozinho sou muito fraco para vencer o vício. Não sei fazer como muitos que simplesmente param e pronto! Preciso de ajuda. Ganhei a primeira batalha. Mas essa pode ser considerada fácil frente a pior delas, e que ainda está por vir: construir uma nova pessoa.

Depois de trinta e cinco anos fumando, quem sou eu sem cigarro? O que eu vou fazer? Para a dependência química temos os remédios, e ele os deu em alta dosagem. São necessários, por pior que sejam os efeitos colaterais e psicológicos (tem até tarja preta no coquetel). Pra vencer esta guerra só com uma bomba atômica. Paliativos não resolveriam. Ou mato, ou morro! Eu pedi. Sou fraco, preciso deles. Serão temporários, eu sei.

Minha vida hoje gira em torno do cigarro. Devo mudá-la. E devo encontrar uma outra vida, uma vida sem cigarro. E daí o medo; o medo de não conseguir ser saudável. Como alguém que desde os treze anos não é saudável poderá sê-lo? E meus hábitos? E o cigarrinho matinal tomando chimarrão? Que farei ao acordar amanhã? E na segunda- feira? E nos outros dias pelos próximos dias do resto da minha vida? Talvez eu viva mais uns trinta anos sem fumar! Já pensou? Vou dirigir sem o cigarro. E nas viagens, onde o cigarro até me ajuda a não dormir, distrai? E os posts, que os escrevo a custa de quase uma carteira, sentado em frente ao computador?

Faço as contas: se fumo algo em torno de 30 cigarros por dia e cada cigarro dura, em média, 10 minutos, isso siginifica que passo cinco horas do meu dia fumando. Tirando as horas que durmo e outras em que não posso fumar, isso representa mais de 60% das minhas horas úteis. Isso significa que tenho que me reconstruir em mais de 60%. Não me sei sem cigarro.

Essa é a grande batalha dessa Grande Guerra. Fazer-me! Criar-me praticamente do zero! Não sei como se faz e isso assusta, dá medo!

Diz a bula de um dos remédios:

Reações Adversas

Gerais: febre, dor torácica, astenia (perda ou diminuição da força física, Houaiss)
Cardiovasculares: taquicardia, vasodilatação, hipotensão postural, elevação da pressão arterial (severa em alguns casos), "fogacho" e síncope (perda dos sentidos devido à deficiência de irrigação sangüínea no encéfalo, Houaiss)
Sistema nervoso central: convulsões, insônia, tremor, disturbios de concentração, cefaléia, tontura, depressão, confusão, alucinações, agitação, ansiedade, irritabilidade, hostilidade e despersonalização.
Endócrinas e metabólicas: anorexia e perda de peso.
Gastrointestinais: "secura" na boca, disturbios gastrointestinais que incluem náuseas, vômitos, dor abdominal e constipação.
Pele/hipersensibilidade: um monte, três linhas só disso, terminado com uma tal de Síndrome de Stevens-Johnson, que, como toda síndrome, deve ser porrada.

Algo me diz que eu não deveria ter lido essa bula. Tô morto!

Tem uma coisa que diz ali, que é bom salientar: "irritabilidade, hostililidade e despersonalização". Portanto, se esse Chato começar a xingar todo mundo, dar pontapés na tela de quem aparecer por aqui, fiquem sabendo que me "despersonalizei" por causa do remédio. Não terei sido eu. Tenham paciência.

Não será fácil e dá medo fazer-me outro. Um outro que será saudável; que fará exercícios e que irá respirar; que dormirá tranqüilo e que subirá escadas com facilidade; que irá saborear com mais prazer ainda as comidas da Kaya. E por falar nela, e se a Kaya não gostar desse novo Chato? Por via das dúvidas, fiz com que recordasse que havia jurado "na saúde e na doença; na alegria e na tristeza".

Ainda não acredito em mim mesmo. É o forte atuando, minando minha vontade de fraco. Mas assim como ele me dominou silenciosa e sorrateiramente nos últimos trinta e cinco anos, vou fazer o mesmo. Vou derrotá-lo sem que ele me veja. Assim meu eu fraco espera!

Minha filha Fernanda pede, há mais de dez anos, que eu pare de fumar. Nunca tive coragem de fazer isso por ela. Faço agora, por ela e pela Clarissa. Elas merecem ser adultas e compartilhar do pai.

sexta-feira, junho 03, 2005

The Day After

Pois é,

Não sei se coloco os agradecimentos aqui, no início, ou ao final. Se colocar aqui, periga ninguém ir até o fim, pois já leu o que interessava (a não ser os meus, deixa ver..., putz, todo mundo diz que só tem seis ou sete leitores fiéis, então, vá lá, a não ser os meus 1354 leitores); se colocar no fim, periga ninguém chegar até lá, a não ser os meus 1353 leitores.

- Afonso?

- Sim,Chato?

- Disseste que eram 1354 e agora falas em 1353?

- Pois é, um já desistiu!

- E agora?

- Talvez eu devesse começar com um pouco dos agradecimentos; depois faço um miolo de abobrinhas e termino com o restante dos agradecimentos. O que achas?

- Sei não, hein! Teus leitores ainda são meio instáveis. Tirando 3, acho que os outros 1350 não vão até o fim. Eu, se fosse tu, começava por agradecer a esses três que deixaram mensagens lindas.

- Mas é difícil, Chato. Olha lá nos comentários: teve o Milton Ribeiro que nunca tinha aparecido por aqui. Pô, o cara é "o cara", escreve pra caramba. E o Tesco, então, amissíssimo das meninas do Nós por Nós (a Yvonne, a Viva, a Lise) também nunca tinha vindo aqui. Não posso deixar as meninas de fora do início. São tão queridas. A Yvonne tá sempre por aqui dando uma olhadinha e deixando comentários carinhosos. Já sei: começo pelas mulheres e deixo os homens pro final!

- Sei lá, Afonso. Vai por mim e deixa todo mundo pro final.

- E o que eu faço com o Gejfin e com o Tiagón? Sacanagem, pô! Os caras dão a maior força e eu faço isso com eles? Nananinanão! Se tiver que agradecer no início eles estarão lá. E tem mais: a Luma, imagina, a Luma até colocou lá no blog dela que estou de aniversário! Logo ela! Não, não vai ficar pro fim, decidido. A monica! Ela até me chamou de danadinho. Que coisa linda, viste, Chato?!!! A ti ela não chama assim: fica no início. A Diana, que começou a nos visitar diariamente. A Ana, querida, que me mandou um e-card maravilhoso... impossível.

- Ih! cara, pelo jeito só vais deixar pro final o Darth e o Edu...

- Não posso. O Edu? Não dá. Esse tem que ficar no início, já é teu fiel companheiro, Chato. O Darth também, tá sempre por aqui, cara legal, é outro que sempre conta as histórias da vida dele. Viste? Só aí já tem mais de três!

- Queres saber de uma coisa, Afonso?

- O quê?

- Assim tu consegues ser mais chato que eu! Faz o que achares melhor. Depois não vem aqui pedir colinho. Eu bem que te avisei!

- Tá, já sei o que vou fazer. Vou escrever o nome de cada um em um pedaço de papel. Dobro e coloco num chapéu. Tiro os três que ficarão no início. Os outros ficam pra depois das abobrinhas. Tá bom assim pra ti, Chato?

- Afonso, não estás esquecendo de alguém?

- Não. Tô com a janela dos comentários aberta. Peguei todo mundo que veio aqui até a meia-noite.

- A Kaya, Afonso, a Kaya. Não esquece que ela disse que vem sempre mas não deixa comentários...

- E eu não sei?!! E como é que foi que eu acordei ontem, lembra?

- Sei lá, Afonso. Eu saí antes!

------ Início da abobrinha ---------

Não são os sonhos, ou ter objetivos, o que nos motiva. Isso é balela de marketeiro americano e de publicitário pra vender. Pra vender qualquer porcaria mundo afora, além, é claro, de filmes de Hollywood e novelas da Globo.

Só há uma coisa, que não esteja dentro da própria pessoa, que é capaz de motivá-la: outra pessoa. E dentro dessa outra pessoa, só uma coisa é capaz de motivar: a verdade.

------ fim da abobrinha ----------

A ti, Chato, meu muito obrigado. Serás o primeiro da lista. Não fosse por ti eu não estaria recebendo todo esse carinho. Carinho que é a verdade das pessoas; verdade que motiva. Ninguém precisaria vir até aqui. Quem vem, vem porque gosta; quem não vem, ou veio e não gostou, ou nunca veio: todos verdadeiros.

Sou gente. Gosto de que gostem de mim. Atire a primeira pedra quem pensa que pode viver sem o "gostar" das pessoas. Passei o dia esperando a hora de voltar para casa e ver os comentários. Não dos 1352 (mais um foi embora, putz, quase no finzinho), mas de vocês, que fizeram eu me sentir feliz.

Beijos!

quinta-feira, junho 02, 2005

As origens do mundo, da humanidade e do Afonso - VII / VII. Finalmente, ufa!

Pois é,

"Deus concluiu no sétimo dia a obra que fizera, e Deus viu que isso era bom. E no sétimo dia descansou".

Putz, se nem eu agüento mais, que dirá ele. Mas, enfim, no sétimo dia eu nasci. Dois de junho. E Deus viu que isso era bom, e disse:



Para os que vieram na festa, trouxe um bolinho. Quem vai querer uma fatia?




Entrem, entrem. Tragam as crianças. Hoje teremos palhaço para elas. Vejam, até faz mágica:
Chapéuzinhos pra todo mundo. Vamos, coloquem e divirtam-se.

E, enquanto eu sopro as velinhas, podem cantar "parabéns a você ..."

Mas não saiam sem levar uma lembrancinha:

Levem, tem bastante por aqui:

Gifs do site http://www.animadissimo.hpg.ig.com.br

quarta-feira, junho 01, 2005

As origens do mundo, da humanidade e do Afonso - VI / VII

Pois é,

Um PAS (post ante scriptum, se é que isso existe): acabo de chegar do aniversário do Gejfin. Presentes, dentre os inúmeros desconhecidos, os grandes mestres: Thiagón, Milton Ribeiro e o Diego.

Apesar de ser o aniversário do Gejfin, sinti-me homenageado por poder estar presente junto a eles. Grande Gejfin. Grande pessoa. Como era aniversário, fiquei devendo o embate sobre os líquidos. Meu presente é te dizer que sou feliz por ter te conhecido. E por dizer aqui, em público, que muito já cresci por tua culpa!.

"Mas continuemos, como diria Honório Lemos" (dito gauchesco). Estamos quase no fim. Só mais um pouquim! (Sorry, Gejfin, mas tem coisas que não consigo contar em posts curtos. Quem sabe um dia eu aprenda).

"Deus, disse: 'Façamos o homem à nossa imagem, como nossa semelhança, e que eles dominem sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todas as feras e todos os répteis que rastejam sobre a terra'.

Deus criou o homem à sua imagem,
à imagem de Deus ele o criou,
homem e mulher ele os criou.

Deus os abençoou e lhes disse: 'Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a; dominai sobre os peixes do mar, as aves do céu e todos os animais que rastejam sobre a terra.' Deus disse: 'Eu vou dou todas as ervas que dão semente, que estão sobre toda a superfície da terra, e todas as árvores que dão frutos que dão semente: isso será vosso alimento. A todas as feras, a todas as aves do céu, a tudo o que rasteja sobre a terra e que é animado de vida, eu dou como alimento toda a verdura das plantas' e assim se fez. Deus viu tudo o que tinha feito: e era muito bom. Houve uma tarde e uma manhã: sexto dia
."

Multipliquei-me, em estrita obediência ao Senhor. Quanto ao domínio sobre a terra? Bom, se nem a minha mulher domino, que dirá o resto!

Vi minha filha antes dela nascer. Aliás, antes de ser concebida. Certo dia estávamos sentados na sala de estar, eu e a mãe dela, quando, ao olhar para seu rosto, vi algo que me surpreendeu: havia outro rosto ali. Saltei assustado! Ainda tentei convesar e explicar o que tinha visto. Claro que ela riu: "que bobagem é essa, Luiz (ela me chamava de Luiz, nome que detesto até hoje), não tem mais ninguém aqui!". Um ano depois vi qual rosto era. Ela havia se mostrado para mim, como a dizer: "tu serás meu pai, eu te escolhi!". Linda, como lindos são todos os filhos.

Um mês antes da data prevista para o nascimento, o gineco-obstetra resolveu fazer uma especialização na Itália. "Fiquem tranqüilos. Tem um colega que vai seguir com todas as minhas pacientes como se fosse eu". Oito meses nos acompanhando e, na última hora, resolveu "sartar fora do barco". (Ah, o mundo dá voltas. Não é que hoje - quinze anos passados, fomos recomendados para fazer um exame com um médico e, advinha qual era o médico?).

Não existe essa de alguém fazer as coisas como eu faria. Só eu faço como eu faço. [pequeno aparte que tenho que contar: a Kaya foi deitar. Fui lá dar boa noite. Encostei o rosto na barriga dela. Advinhem? A Clarissa deu dois pontapés em mim! Ela sabe quem eu sou! "Sai,Chato, sai. Eu quero dormir! rsrsr].

Ficamos sem médico. Tudo bem, falei. Na hora a gente vai para o hospital e dá um jeito. Dito e feito. Terça-feira, 6 de março de 1990, uma semana passada da data prevista. Duas da tarde e, "Afonso, tem uma coisa diferente saindo..." Pega o que der e vamos pro hospital, falei e já saí correndo pro carro. Chegando lá, conversa daqui, conversa dali; paguei o "por fora", mesmo tendo convênio e ficamos esperando.

Cinco e meia da tarde, tudo pronto. Eu, vestido a caráter, com a câmara nas mãos. Tinha que filmar. Afinal, a primeira vez a gente nunca esquece, desde que filme!

Corta daqui; corta dali, e corta a perna da miha filha. Incompetente no corte, era também incompetente no resto. Parada cárdiorespiratória. Eu filmando sem poder fazer nada. Colocam minha filha nas mãos de quem, na hora, eu achava que era o pediátra. Nada. Aperta daqui, dali, respiração boca-a-boca e nada... Colocam num respiradouro artificial. Eu filmando. Talvez tenha aprendido, com meu pai (post anterior) a impassividade diante da morte.

Novamente não sabia o que fazer. Pela segunda vez tive que mentir sobre a morte. Voltei para a sala de parto e disse para a mãe: "está tudo bem, fica tranqüila". Repeti o que haviam me ensinado quando tinha quinze anos. Subi para o quarto e fiquei sozinho. Dessa vez não agüentei. Liguei para meu irmão: "vem pra cá que a Fernanda nasceu e ... não sei o que houve!". Uma hora depois ele chegou, tazendo minha mãe.

Não tive coragem. Pedi a ele que fosse lá ver o que realmente tinha acontecido. Todas as noites havia conversado com ela. Ela me avisou que nasceria. Eu a esperava, mais que a tudo. Mas a vida é cíclica e nos ensina. Meu irmão olhou para mim e disse: "Seja homem! Vai lá e vê tu mesmo o que aconteceu!". De "homenzinho da casa", virei "homem da casa". De ter beijado meu pai morto, teria que, talvez, beijar minha filha morta!.

Talvez tenha revivido o que meus pais sentiram quando minha irmã morreu aos onze meses. Desci, degrau por degrau, com vontade de subir, de fugir. Encontrei a enfermeira e ela, vendo minha expressão, falou, antes de qualquer pergunta minha:" está viva; mal, mas está viva!". E vive, e viverá todos os dias que lhe tenham sido dados.

Depois de algumas peripécias, que não vêm ao caso, consegui levar minha filha para um hospital que tinha UTI neonatal (descobri que o hospital, onde ela nasceu, não tinha UTI, mas isso é outra istória).

Ali, pela primeira vez, depois de cinco dias, finalmente toquei na minha filha. E pude beijá-la: não morta, mas viva.

A vida talvez tenha me tornado incapaz de entendê-la. Mas, ali, eu recuperei minhã manhã perdida. E multipliquei-me, conforme o mandamento. E vi que isso era bom. E tive, novamente, uma tarde e uma manhã, no meu sexto dia.